Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO Gabinete do Desembargador Federal Geraldo Apoliano RELATÓRIO

Transcrição

1 RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): Cuida -se de Apelação Cível ajuizada por Maria Liduína Souza da Silva, em face de sentença que, nos autos de Ação Ordinária, julgou improcedente o pedido formulado, no sentido de obter provimento jurisdicional que deferisse à Autora o reconhecimento do direito à pensão de servidor público aposentado pelo Ministério dos Transportes, por ser filha legítima e sucessora do mesmo. Segundo a Apelante, os argumentos esposados pela União em sua peça contestatória são muito frágeis, pois contrariam um direito já confirmado por este egrégio Tribunal e pelo colendo Supremo Tribunal Federal. Porfiou a Apelada, nas contra-razões, pelo não acolhimento da pretensão da Autora, em virtude de o genitor da mesma ter falecido na vigência da Lei nº 8.112/90. Sustenta, ainda, que a Recorrente não é amparada pelo Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, pois não é menor de 21 anos e tampouco é inválida. Os autos foram a mim redistribuídos em razão da aposentadoria do Desembargador Relator. É o relatório.

2 VOTO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): Compulsando os autos, verifico que a sentença, submetida a este Tribunal por força da Apelação, deve ser mantida. Cumpre que se examine, para o deslinde da controvérsia, qual a Legislação que deve ser aplicada ao caso em comento. Conquanto o genitor da Recorrente, o Sr. Antônio Inácio da Silva, tenha se aposentado sobre a égide da Lei nº 1.711/52, o mesmo faleceu na data de 20 de outubro de 1996, quando já estava em vigor a Lei nº 8.112/90. Ora, o direito à pensão nasce no momento do óbito do instituidor e é regido pela Lei vigorante à época do falecimento tempus regit actum. Com efeito, a jurisprudência pátria tem entendido, de modo pacífico, que a pensão deve ser regida pelas normas em vigor quando do óbito do servidor. Na espécie, o falecimento do pai da Apelante aconteceu quando já estava em vigor a Lei nº 8.112/90. Ao elencar os beneficiários da pensão por morte do servidor estatutário, tal diploma legal, ao se reportar aos filhos ou enteados do mesmo, apenas fez alusão aos menores de 21 (vinte e um) anos de idade e aos inválidos. A demandante nasceu em junho de 1959, não sendo, portanto, menor de 21 (vinte e um) anos. Também não é inválida. O fato gerador da pensão é o falecimento do servidor. Até então, não se poderia falar em direito adquirido ao benefício. Ocorre que, da ocorrência do óbito, houve substancial modificação nas normas de regência; o novo ato normativo não mais contemplou as filhas não inválidas, e as maiores de idade, do rol de beneficiários da pensão em tela.

3 No caso sob enfoque, o que havia era mera expectativa de direito. O direito somente se consolidaria advindo o óbito; e a outorga do favor ora buscado, teria de ser regida pela legislação em vigor ao tempo do instante do falecimento. A suplicante alega que o seu genitor se aposentou, na época em que vigorava a Lei nº 1.711/52. Acontece que não se está a discutir aqui, a questão da aposentadoria do funcionário, que preenchera os requisitos legalmente estipulados conforme as normas então vigentes. Não se emprestou efeito retroativo à Lei nº 8.112/90, mas, tãosomente, aplicou-se a mesma, legitimamente, quanto a fatos ocorridos quando ela já estava em vigor. Destaque-se que o artigo 217, II, a, da citada Lei nº 8.112/90, que instituiu o novo Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Federais, textualmente, se reportou, ao tratar das pensões temporárias, apenas, aos filhos ou enteados, até 21 (vinte e um) anos de idade, ou, se inválidos, enquanto durar a invalidez. Tais requisitos legais não foram, a toda evidência, atendidos pela Apelante. Registro significativos precedentes jurisprudenciais sobre a matéria: PENSÃO ESTATUTÁRIA - REVERSÃO - FILHA MAIOR E SOLTEIRA - INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO. Filha maior e solteira, plenamente capaz, não faz jus à reversão de aposentadoria percebida por sua mãe, falecida já na vigência da Lei 8.112, que não contempla tal possibilidade. Ademais, beneficiar filhas solteiras e maiores, plenamente aptas para o trabalho, com percebimento previdenciário, é anacronismo que a sociedade não tem como custear, e não quer custear, além de implicar tratamento privilegiado, incompatível com a Lei Maior. Sentença mantida. (Tribunal Regional Federal da 2ª Região Apelação em Mandado de Segurança nº Relator: Desembargador Guilherme Couto julgado em 09 de fevereiro de 1999 publicado no Diário da Justiça da União em 09 de março de 1999)

4 ADMINISTRATIVO - PEDIDO DE PENSÃO DEIXADA POR SERVIDOR PÚBLICO FALECIDO - FILHA SOLTEIRA MAIOR DE 21 ANOS. 1 - O art. 5, I, da CF/88 acabou com o tratamento diferenciado que o inciso II, art. 5, da Lei 3.378/58 dava nos casos de pensão temporária. 2 - Não se há de falar em direito adquirido, visto que, à época do falecimento do pai da autora, o ordenamento jurídico não comportava o tipo de privilégio pretendido. 3 - Apelação improvida. (TRF 2ª Região AMS nº Relator: Juiz Rogério Carvalho julgado em 22/06/98 publicado no DJU em 16/09/99) A instituição de pensão temporária para a filha solteira de servidor somente se justificava em um contexto histórico onde não havia o acesso da mulher ao mercado de trabalho, época em que se acreditava que, apenas através do casamento, ela poderia garantir o seu sustento, após o óbito de seu genitor. Obviamente, tal contexto não mais prevalece na atualidade, sendo, no meu entender, impertinente a subsistência de benefícios desta natureza. Entendo, pois, que, de fato, a pretensão da ora Apelante esbarra em ausência de previsão legal. Isto posto, nego provimento à Apelação. É como voto.

5 APTE ADV/PROC APDO RELATOR : MARIA LIDUINA SOUSA DA SILVA : FRANCISCO DE ASSIS GOMES MARTINS E OUTROS : UNIÃO : DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO EMENTA ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. FILHA MAIOR DE IDADE, NÃO INVÁLIDA. NORMAS EM VIGOR NA DATA DO ÓBITO. INEXISTÊNCIA DE VULNERAÇÃO A DIREITO ADQUIRIDO. LEI Nº 8.112/ Consoante entendimento jurisprudencial (AMS nº in DJU , AMS nº in DJU 16/09/99) a pensão deve ser regida pelas normas em vigor quando do óbito do servidor, ocorrido depois da edição da Lei nº 8.112/90, que contemplou a concessão do benefício, em caráter temporário, tão-somente aos filhos ou enteados menores de 21 (vinte e um) anos de idade ou inválidos, situações em que não se enquadra a Apelante. 2. Apelação improvida. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas. Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à Apelação, nos termos do relatório, voto do Desembargador Relator e notas taquigráficas constantes nos autos, que passam a integrar o presente julgado. Custas, como de lei. Recife (PE), 11 de março de 2004 (data do julgamento). Desembargador Federal Geraldo Apoliano Relator.