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Transcrição:

PROCESSO PGT/CCR/ICP/Nº 6788/2013 ORIGEM: PTM DE CABO FRIO (PRT DA 1ª REGIÂO) PROCURADOR OFICIANTE: DRA. FLÁVIA VEIGA BAULER INTERESSADO 1: SIGILOSO INTERESSADO 2: CASA DE ARTES MACHADINHA ASSUNTOS: Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (07.); Temas Gerais (09.04 09.14.) INQUERITO CIVIL. COMUNIDADE QUILOMBOLA. ATIVIDADES CULTURAIS. Diante das informações prestadas pelo Municipio e pelo Conselho Tutelar homologa-se a promoção de arquivamento. Trata-se de comunidade tradicional, que teve reconhecida por decreto municipal a propriedade definitiva das terras ocupadas. As atividades desenvolvidas na investigada visam preservar a cultura específica. I RELATÓRIO O Órgão oficiante arquivou o presente inquérito civil com fulcro no Precedente nº 12 do CSMPT, porque certificado pelo Conselho Tutelar local não haver a ocorrência de trabalho infantil na investigada, conforme noticiado na denúncia, como também porque as atividades da investigada destinam-se à comunidade quilombola para apresentar as manifestações da sua cultura (fls. 39/42). 1

É, em síntese, o relatório. II VOTO O presente inquérito civil foi instaurado em face da investigada para averiguação de possível descumprimento de direitos trabalhistas e das normas de proteção à criança e ao adolescente relativamente ao trabalho, constantes da denúncia sigilosa, do teor seguinte, verbis: A Casa da Machadinha, funciona como restaurantes nos finais de semana empregando 25 mulheres e menores sem nenhuma garantia trabalhista. As pessoas recebem apenas 25 reais de diária, pagas pela prefeitura que gasta 2 milhões de reais ano para manter a cultura viva na cidade. Para onde vai tanto dinheiro? As pessoas que lá trabalham ainda vivem uma espécie de escravidão moderna. Ou aceitam o que a prefeitura paga ou nada. É possível uma fiscalização? É passível de condenação ou pelo menos serem obrigados a acertarem a vida das pessoas e assinarem as carteiras delas? (fl. 03) O Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo do Município de Quissamã prestou os esclarecimentos de fls. 13/14, em que sobressai que a Casa de Artes Machadinha é um espaço destinado para a comunidade quilombola apresentar as manifestações da cultura local, representada através da culinária, danças típicas e artesanato para turistas e visitantes do Complexo Cultural Fazenda Machadinha, e que, no local, a comunidade vende refeições, artesanato e cobra pelas apresentações das danças típicas e, ainda, que o valor é rateado entre os participantes. 2

Esclarece, outrossim, que cabe à Prefeitura apenas as despesas de conservação, limpeza e manutenção do prédio Casa de Artes Machadinha pertencente ao patrimônio municipal, sendo mantido pela prefeitura um servidor municipal para o apoio e verificação das atividades da comunidade quanto ao bom uso do prédio e de seus equipamentos. Consta, ademais, a informação de que a Prefeitura encaminhou solicitação à OCBRJ SESCOOP/RJ para a implementação e formalização da cooperativa da comunidade Machadinha (fl. 15), que está em andamento. A sua vez, o Conselho Tutelar de Quissamã, pelo ofício de fl. 29, informou não restar constatado no local o trabalho de pessoas com idade inferior a dezoito anos. Por oportuno, registro que a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Estado do Rio de Janeiro encaminhou ao Parquet solicitação do chefe local da fiscalização no sentido de oficiar ao MPT a fim de combinar data para ação conjunta, conforme despacho de fl. 04 (fl. 48). Observo que referido ofício foi juntado aos autos após a promoção de arquivamento, embora tenha sido protocolizado na Regional em data anterior (fl. 47). A respeito, posicionou-se o Órgão oficiante, verbis: Ora, além de não atender ao ofício requisitório, a Superintendência considera que esse órgão ministerial deveria se dirigir à Quissamã, município distante da sede da PTM cerca de 300 km, para cumprir uma atribuição que é da Fiscalização do Trabalho. Como é sabido, o MPT não possui atribuição para fiscalizar e, nas vezes em que realiza diligências, o faz no intuito de garantir a efetividade de direitos que se encontram sobejamente ameaçados. Não é o caso dos autos, considerando que o 3

Conselho Tutelar de Quissamã esteve presente na localidade e certificou a não ocorrência de trabalho infantil Em que pese a manifestação do Órgão oficiante, observo que à fl. 12 dos presentes autos consta despacho seu em que determina que se oficie o MTE, solicitando ação conjunta com o MPT para fiscalização da localidade, em Quissamã, se possível combinando data para viabilizar o meu comparecimento, considerando a denúncia de ausência de registro de empregados, situação de trabalho infantil e condições análogas às de escravo. E, nesse sentido, foi oficiado àquele órgão do Ministério do Trabalho e Emprego (fl. 23). Considerando esse contexto, nada mais fez a Superintendência local do Trabalho e Emprego do que atender à solicitação do Parquet. Se, após as investigações, o Órgão oficiante entendeu não mais haver razão para a ação conjunta solicitada, isso é outra questão, circunstância que, aliás, deve ser esclarecida àquele órgão. A respeito da pendência da fiscalização solicitada, esta Câmara de Coordenação e Revisão tem posicionamento firme no sentido de que, nesse caso, não cabe o arquivamento do processo, uma vez que o resultado da fiscalização empreendida poderá apontar em sentido contrário, a demonstrar a necessidade da continuidade da ação ministerial. No entanto, na situação sob análise, considerando as informações do Conselho Tutelar, bem como as informações prestadas pela autoridade municipal, com notícia de tratativas para a organização de uma cooperativa da comunidade em questão, entendo esclarecidas as circunstâncias de criação e 4

manutenção da Casa de Artes Machadinha, não restando evidenciada irregularidade trabalhista a ensejar a atuação ministerial. Esclareça-se, por oportuno, que as informações prestadas pelo Município compatibilizam-se com o fato de se estar diante de uma comunidade tradicional alcançada pela Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, instituída pelo Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Conforme o art. 3º de referido Decreto, compreende-se por Povos e Comunidades Tradicionais os grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. Nessas condições, se inserem as comunidades dos quilombolas. De outro lado, a Política Nacional em questão estabelece em seu art. 1º que as ações e atividades voltadas para o alcance dos objetivos da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais deverão ocorrer de forma intersetorial, integrada, coordenada, sistemática, sendo um dos seus objetivos implantar infra-estrtura adequada às realidades sócio-culturais e demandas dos povos e comunidades tradicionais (art. 3º, inciso III). Diante desse contexto, homologo o arquivamento do feito. 5

III CONCLUSÃO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Isto posto, homologo a promoção de arquivamento encaminhada. Brasília, 21 de junho de 2013. Eliane Araque dos Santos Relatora 6