PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

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1 Origem:PAJ 0995/2011 PRT/15ª Região Interessado 1: PRT/15ª Região Interessado 2: MPT Assunto: Conflito negativo de competência entre membros da PRT/15ª Região EMENTA: Conflito negativo de atribuições. Prevenção. Órgão agente e órgão interveniente. Aplicação da praxe regional. Caso que não enseja a aplicação analógica do art. 11 da Res. 69/2007-CSMPT. Pela atribuição da suscitada. I - RELATÓRIO Trata-se de conflito negativo de atribuições entre a Exmª Procuradora do Trabalho, Dra. Cláudia Marques Oliveira (suscitante), e a Exmª Procuradora do Trabalho, Dra. Eleonora Bordini Coca (suscitada), ambas lotadas na sede da PRT/15ª Região. O cerne do presente conflito negativo é o Procedimento de Acompanhamento da ACP 276/2010 (autuado como PAJ 0995/2011), a qual foi ajuizada pelo Sindicato do Comércio dos Empregados de Campinas e Região em face do Condomínio Shopping Center Galeria. Objetiva a referida ACP que o réu se abstenha de cobrar dos comerciários, seus representantes, ou daqueles que trabalham nas suas dependências, pela utilização de seus estacionamentos para veículos e motocicletas. A Exmª Juíza do Trabalho da 10ª VT de Campinas, Dra. Roberta Confetti Gatsios Amstalden, tendo em vista a natureza da pretensão discutida naqueles autos, determinou a intimação do MPT para que se manifestasse quanto ao interesse de ingressar no feito. Os autos foram distribuídos à Dra. Eleonora Bordini Coca, para análise de eventual prevenção com o IC 711/2010, havendo a referida Procuradora entendido pela desnecessidade de ingresso do MPT na referida ação na qualidade de parte. Determinou, todavia, a submissão do feito à Coordenação, para análise da necessidade de redistribuição aleatória para atuação como custos legis. Assim se posicionou à fl. 463-v: Considerando o arquivamento do IC 711/2010, não verifico necessidade/conveniência do ingresso do MPT na ACP 276/2011, 1

2 promovida pelo Sindicato da categoria profissional, na finalidade de parte. Submeto à análise da Coordenação, a necessidade de distribuição aleatória por aplicação analógica do artigo 11 da Res. 68. Os autos foram então redistribuídos à Dra. Cláudia Marques Oliveira, que os devolveu à Coordenação, considerando as regras de prevenção vigentes. O feito foi a mim distribuído como Relatora (fl. 470) e, em 22 de junho do corrente prolatei o despacho-diligência de fl. 471, para observância do art. 3º, 2º da Res. 69/2007. Os autos retornaram à Regional e foi colacionada às fls. 474/477 certidão da Secretária da Coordenação na qual informa dentre outros tópicos que o feito foi distribuído à Dra. Eleonora Bordini Coca para análise de prevenção com o PP 711/2010, em razão deste procedimento ter sido arquivado a menos de 6 meses (abril/2011) e por se tratar da mesma matéria (cobrança de estacionamento dos empregados). Informa, ainda, que por equívoco a Secretaria não se atentou à parte final do despacho da Dra. Eleonora, que submetia à Coordenação a análise acerca da necessidade de distribuição aleatória do feito. A Secretaria procedeu à imediata redistribuição dos autos, sem submissão à Coordenação. Em despacho de fls. 482/483, a Dra. Cláudia Marques Oliveira (suscitante) fundamenta: Diante da determinação da CCR de converter o julgamento em diligência, esclareço que reafirmo minha convicção de que, pelos usos e costumes vigentes na Regional que são públicos e notórios, sendo de conhecimento de todos os Procuradores que aqui atuam -, em consonância com as regras estabelecidas pelas Resoluções 69 e 86, do CSMPT, pelo princípio do promotor natural e pelo princípio constitucional da eficiência é prevento para atuar como custos legis o Procurador que atua/atuou como órgão agente, em se tratando do mesmo objeto, até em vista do disposto no art. 5º, 1º, da Lei 7347/85, in verbis: 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei. 2

3 Como esclarece o Exmº Coordenador da CODIN, em seu despacho exarado após a decisão da CCR, não se trata, s.m.j., de aplicação do art. 11 da Res. 69/2007-CSMPT.(...) Os autos retornaram à suscitada, Dra. Eleonora Bordini Coca, que assim se posicionou (fls. 487/488): Como Vossa Excelência poderá verificar, a Regional possui regras de análise de conexão relacionadas ao recebimento de representações ou denúncias, conforme atesta a ata de fls. 478/480. Aqui, a conexão que se analisa diz respeito a um procedimento arquivado pelo Ministério Público e uma ação judicial proposta por outro legitimado. Com a devida vênia às razões expostas às folhas 482/483, devemos lembrar que a análise de conexão deságua em uma distribuição dirigida, que só pode ser aceita se não houver quebra do princípio do Promotor Natural. A meu ver, andou bem a Resolução 69 do Egrégio Conselho Superior, em seu artigo 11, ao impedir que o procurador que arquivou o Procedimento ou Inquérito atue como custos legis na hipótese de ausência de homologação do arquivamento. Mas e quando ocorre a homologação? Podemos encaminhar a Ação Civil proposta pelo sindicato, por exemplo, para o Membro que arquivou o Inquérito? Qual a eficiência dessa medida? Auxiliar o parecer de improcedência? Devemos lembrar que à mesma razão aplica-se o mesmo direito. Aquele que arquiva um Inquérito Civil ou Procedimento Preparatório tenha havido a homologação ou não certamente, não vislumbrou ofensa a interesses coletivos ou difusos que justificasse o ajuizamento de ação civil pública. Se outro legitimado pensa de maneira diversa, é lícito que ingresse em juízo e que receba um Juiz Natural que julgue seu caso e também um Promotor Natural que analise suas razões. Admitir que aquele que arquivou a investigação possa trabalhar no feito, exarando parecer, é permitir que a ação civil inicie-se em franca desvantagem, pois, pelo menos o Promotor (que não é o natural) já se posicionou contra a demanda coletiva. Assim, vejam o perigo de se aceitar posicionamento adotado neste caso. Os sindicatos ao lado do MPT, são os que mais ingressam com ações civis na Justiça do Trabalho representam os empregadores que entendem incorretos para esta Instituição. Nós, enquanto Ministério Público, chegamos à conclusão de que não há lesão coletiva. Os sindicatos vão 3

4 ao Judiciário e o parecer já está pronto: novamente, pela improcedência. Data vênia, essa postura fere o princípio do Promotor Natural e desprestigia a defesa coletiva de outros colegitimados. Em resumo, entendo que não existe amparo legal nem ético em se determinar a distribuição dirigida de uma ação civil pública para o Membro do MP que arquivou uma investigação. (...) (grifos no original) O feito foi encaminhado a este Gabinete em 09 de agosto do corrente. É o relatório. II ADMISSIBILIDADE Atendido o disposto no art. 3º da Res. 69/2007 do CSMPT, recebo o presente conflito negativo de atribuições com fulcro no art. 103, VI, da LC 75/93. III FUNDAMENTAÇÃO Primeiramente, registro que parte do despacho-diligência por mim prolatado à fl. 471 restou descumprido, já que as páginas dos autos continuam sem a devida numeração. Feita a ressalva anterior, passo à análise do cerne do procedimento, cujo contexto fático merece ser bem delineado. No âmbito da PRT/15ª Região foi instaurado o PP 711/2010, a partir de notícia de jornal noticiando que o Shopping Galeria, situado em Campinas, passaria a cobrar estacionamento dos trabalhadores de seu complexo comercial. O feito foi distribuído à Dra. Eleonora Bordini Coca, que propôs o seu arquivamento em razão do sindicato da categoria (Sindicato do Comércio dos Empregados de Campinas, Paulínia e Valinhos) ter ajuizado ACP em defesa dos interesses dos trabalhadores. A promoção de arquivamento foi homologada pela CCR (autos apensos). 4

5 A referida ACP (nº ) foi distribuída à 10ª Vara do Trabalho de Campinas, cuja Juíza, Dra. Roberta Confetti Gatsios Amstalden, tendo em vista a natureza da pretensão discutida, determinou a intimação do MPT para que se manifestasse quanto ao interesse de ingressar no feito. O Procedimento de Acompanhamento Judicial da ACP foi autuado como PAJ /5, e constitui-se o cerne do presente conflito. Os autos do PAJ /5 foram distribuídos à Dra. Eleonora Bordini Coca, a qual entendeu que considerando o arquivamento do IC 711/2010 não haveria necessidade e ou conveniência do ingresso do MPT na ACP 276/2011. Determinou à submissão dos autos à Coordenação, para fins de análise da necessidade de redistribuição aleatória (fl. 463-v). O feito foi imediatamente redistribuído à Dra. Cláudia Marques Oliveira, que o devolveu à Coordenação, considerando as regras de prevenção vigentes. Entendo que assiste razão à suscitante, Dra. Cláudia Marques Oliveira. A certidão de fls. 474/477, da lavra da Analista Processual e Secretária da Coordenação, Sra. Alice Almeida Leite Torres afirma que a rotina da Secretaria quanto ao recebimento de autos judiciais de ACP é sempre a mesma, seja na hipótese do MPT intervir como litisconsorte, seja na hipótese de intervir como custos legis. Senão vejamos: 3)Os conceitos de conexão/pertinência temática trazidos pela Resolução nº 86/2009 e a ordem de consulta delineada em reunião do 1º grau são utilizados pela Regional para verificação de prevenção do Procurador oficiante no inquérito com relação aos judiciais nos casos correlatos. O procedimento assentado na Regional é a consulta de prevenção/conexão nas hipóteses de ações civis públicas ajuizadas por sindicatos dos trabalhadores;... 7)Cumpre informar que a rotina de secretaria ora narrada quanto ao recebimento dos judiciais das ações civis públicas propostas por sindicatos dos trabalhadores é a mesma seja na hipótese do MPT intervir como litisconsorte ou custos legis, ou seja, tramitação pelo sistema MPT Digital Codin. 5

6 Em outras palavras, a análise dos casos de prevenção (conexão/pertinência temática), delineados pela Res. 86/2009- CSMPT, faz-se tanto na qualidade de órgão agente, como na qualidade de órgão interveniente. Como já havia alertado a Procuradora suscitante, pelos usos e costumes vigentes na PRT/15ª Região, é prevento para atuar como custos legis o Procurador que atua/atuou como órgão agente, em se tratando do mesmo objeto. A certidão de fls. 474/477 esclareceu ainda que, com relação ao caso específico destes autos - ACP nº , proposta pelo sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Campinas em desfavor do Shopping Galleria após a autuação de Representação (PAJ /5), foi realizada consulta ao PP 711/2010, presidido pela Dra. Eleonora Bordini Coca, e, verificando que se tratava do mesmo tema (cobrança de estacionamento dos empregados) e que o arquivamento havia ocorrido há menos de 6 meses, o feito foi a ela distribuído. O que fez a Secretaria da PRT/15ª Região foi utilizar a prática adotada na Regional, que observa as regras da Res. 86/2009-CSMPT (prevenção por conexão ou por aproximação temática) também para a distribuição de procedimentos na qualidade de fiscal da lei (custos legis). Como já se posicionou esta Câmara de Coordenação e Revisão em diversas oportunidades, entendo que se deve privilegiar a praxe adotada pela Regional, já que não contraria os dispositivos da Res. 86/2009-CSMPT. Ao contrário, utiliza-os como parâmetros também para os casos de atuação como custos legis (Precedentes da CCR 11325/ ª Reunião Ordinária, de 26/10/2010, Relatora: Dra. Lucinea Alves Ocampos; CCR 11404/ ª Reunião Ordinária, de 28/09/2010, Relatora: Dra. Maria Aparecida Gugel; CCR 13537/ ª Reunião Ordinária, de 26/11/2010, Relatora: Dra. Lucinea Alves Ocampos). A Dra. Eleonora Bordini Coca (suscitada) sustenta, ainda, que inexiste amparo legal e ético em se determinar a distribuição dirigida de uma ação civil pública para o Membro do MP que arquivou uma investigação. Seria o caso de se aplicar, analogicamente, o art. 11 da Res. 69/2007-CSMPT, que assim dispõe: Art. 11. Não oficiará nos autos do inquérito civil, do procedimento preparatório ou da ação civil pública o órgão responsável pela promoção de arquivamento não 6

7 homologado pela Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho. Salvo melhor juízo, entendo que ao caso não se aplica ainda que analogicamente o entendimento acima. Senão vejamos. A suscitada propôs o arquivamento do feito com fulcro em um único fundamento: o ajuizamento de ação civil pública pelo Sindicato da categoria, restando assim tutelados os direitos da categoria. Assim se posicionou, in verbis: Atendendo à notificação do Ministério Público, o Sindicato dos Empregados no Comércio de Campinas, Paulínia e Valinhos, informou, no dia 25 de janeiro de 2011, não ter ingressado com qualquer medida judicial tratando da cobrança de estacionamento. Entretanto, em 22 de fevereiro de 2011, foi proposta ação civil pública pela entidade sindical, requerendo a antecipação dos efeitos da tutela, a qual foi concedida, a fim de que o Shopping se abstenha de cobrar dos comerciários pela utilização de seu estacionamento. Diante disso, considerando que o Sindicato assumiu a tutela dos interesses da categoria, o que resultou na perda do objeto do procedimento em questão, promovo o arquivamento do presente procedimento preparatório (...) grifo nosso. Na 186ª Reunião Ordinária (28/04/2011), a CCR com fulcro na fundamentação expendida pela Dra. Eleonora Bordini Coca homologou o arquivamento do feito, nos termos do voto da Relatora, Dra. Evany de Oliveira Selva. Ao contrário do que alega a Dra. Eleonora Bordini Coca, o promotor natural ou seja, a própria suscitada não se posicionou contra a demanda coletiva. Apenas arquivou o feito porque o sindicato da categoria já teria assumido a tutela dos interesses da categoria, sendo despicienda a continuidade das investigações pelo MPT. Não há, a meu ver, uma diversidade de entendimentos (entre MPT e sindicato da categoria) que tornariam inviável a 7

8 distribuição dirigida. Ao que me parece, ambos trilham o mesmo caminho, qual seja, o da defesa dos direitos dos trabalhadores. Como bem dito pelo Coordenador de 1º Grau da PRT/15ª Região, Dr. Nei Messias Vieira, não houve juízo de mérito, motivo pelo qual não há suporte para aplicação do art. 11 da Res. 69/2007-CSMPT (fl. 481). A hipótese prevista no dispositivo acima é distinta, pois exige a divergência de entendimento entre o membro oficiante (que arquiva o feito) e a CCR (que não homologa o arquivamento, e determina o prosseguimento das investigações). Não é, todavia, o que ocorre nos autos do ICP 711/2010. Com fulcro na fundamentação antes expendida, decido pela atribuição da Dra. Eleonora Bordini Coca (suscitada) para oficiar nos autos do PAJ /5. IV - CONCLUSÃO Com base na fundamentação supra, recebo o conflito negativo e decido pela atribuição da Dra. Eleonora Bordini Coca (suscitada). Dê-se ciência aos membros suscitante e suscitado, ao Coordenador do 1º Grau e ainda ao Procurador-Chefe da PRT/15ª Região. Brasília/DF, 17 de agosto de Lucinea Alves Ocampos Membro da CCR - Relatora 8