TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Décima Oitava Câmara Cível Agravante: WAGNER JACINTO DA ROCHA Agravado: DANIEL FERREIRA DE MEDEIROS MORGADO Relator: Desembargador Jorge Luiz Habib AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE IMISSÃO NA POSSE. IMÓVEL. FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DEFERIDA. PLEITO DE SUSPENSÃO DO PROCESSO. INDEFERIMENTO. Decisão agravada que deferiu pleito de antecipação de tutela, para ser autor imediatamente imitido na posse do imóvel. A propriedade do agravado se baseia em justo título. O contrato de compra e venda que celebrou com Caixa Econômica Federal (CEF) tendo por objeto o imóvel objeto da demanda está a produzir seus efeitos jurídicos, não se podendo tolher o exercício dos direitos do autor em relação ao bem. Hipótese em que, comprovada a aquisição da propriedade pelo autor o que no caso com a certidão do registro de imóveis, é de ser deferida a liminar, independentemente de qualquer outro requisito A decisão que deferiu a liminar é de manifesta plausibilidade; o agravante estava inadimplente com financiamento quando da execução extrajudicial promovida pelo banco, credor fiduciário e as alegações de que a propriedade do bem foi consolidada em nome da CEF sem a observância das exigências contidas na Lei nº 9.514/97 não restaram evidenciadas nestes autos, não podendo servir de suporte a indicar a necessidade de suspensão da imissão liminar na posse já determinada. Recurso a que se nega seguimento na forma do artigo 557, caput do Código de Processo Civil. DECISÃO Fls. 72/73. Recebo como agravo interno e reconsidero a decisão de fl. 70, pois o documento ali tido por ausente se encontra no incide 01 do anexo 01. recurso. Defiro o pedido de gratuidade de justiça e passo à apreciação do 1
Trata-se de agravo de instrumento interposto da decisão reproduzida no índice eletrônico nº 01 do anexo 01, proferido nos autos da ação de imissão na posse de imóvel movida pelo agravado, pela qual foi deferido o pedido de antecipação de tutela para ser autor imediatamente imitido na posse. Alega o agravante que adquiriu o imóvel objeto da lide por financiamento junto à Caixa Econômica Federal (CEF) regido pela Lei 9514/97; que o bem começou a apresentar vários problemas em 2008, tendo apresentado reclamações junto à CEF, sem que tivesse resposta; que houve desmoronamento parcial do imóvel por utilização de materiais inadequados na construção, evento não coberto pelo seguro previsto no contrato, com evidente favorecimento da CEF. Assim, se viu impedido de cumprir com as contraprestações contratadas, com o fim de que a CEF tomasse as providências junto ao seguro e reforma das partes defeituosas do imóvel, o que ainda não ocorreu. Aduz que a CEF desrespeitou os art. 26 e 27 da Lei 9514/97, não tendo notificado o fiduciante para purgar a mora, sendo nulos os atos por ela praticados. Afirma que propôs ação na Justiça Federal justamente discutindo tais pontos dentre outras questões atinentes ao contrato, visando à anulação do leilão. Requer a atribuição de efeito suspensivo ao recurso e seu provimento ao final, determinando-se que o processo permaneça suspenso até o trânsito em julgado da ação anulatória de leilão extrajudicial que ajuizou na Justiça Federal em face da Caixa Econômica Federal. Contrarrazões ás fls. 20/22. Informações ao juízo a quo à fl. 52. É o relatório. Passo a decidir. Na origem, cuida-se de ação de imissão de posse de imóvel proposta pelo agravado em face do agravante. Como causa de pedir, alega que arrematou o imóvel em leilão promovida pela Caixa Econômica Federal, que executou extrajudicialmente o contrato de financiamento imobiliário na forma do Decreto- Lei nº 70/66 em face do devedor fiduciante/mutuário, possuindo em seu nome a escritura de compra e venda devidamente registrada. Pela decisão agravada foi deferida a antecipação de tutela, determinando-se a expedição de mandado de imissão na posse, devendo, primeiramente, ser notificado o ocupante do imóvel para desocupação voluntária em 15 (quinze) dias. A propriedade do agravado se baseia em justo título. O contrato de compra e venda que celebrou com CEF tendo por objeto o mesmo imóvel da ação 2
que tramita na Justiça Federal está a produzir seus efeitos jurídicos, não se podendo tolher o exercício dos direitos do autor em relação ao bem, sendo inoponível ao agravado a posse exercida pelo agravante. Em caso como o sub examen, comprovada a aquisição da propriedade pelo autor o que na espécie se fez com a certidão do registro de imóveis, é de ser deferida a liminar, independentemente de qualquer outro requisito. Neste sentido, veja decisão do E. Superior Tribunal de Justiça: Execução pelo Decreto-Lei nº 70/66. Imissão liminar. Arrematação. Arrematação. 1. Viola o art. 37, 2º, do Código de Processo Civil a decisão que nega a imissão liminar na posse para aguardar o julgamento de mérito da ação. 2. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 603.565/RS, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/06/2005) Assim também já decidiu esta Corte Estadual, confira-se: Direito processual civil. Demanda de imissão na posse de imóvel adquirido em leilão extrajudicial realizado sob a égide do disposto no Decreto-Lei nº 70/1966. Recepção deste diploma pela Constituição da República de 1988. Precedentes do STF. Pendência de julgamento, no STF, de RE em que se discute a constitucionalidade do Decreto-Lei nº 70/1966, já tendo sido proferidos cinco votos (dois pelo desprovimento e três pelo provimento do recurso), tendo sido o julgamento suspenso por um pedido de vista. Impossibilidade de antecipar-se a superação do precedente (anticipatory overruling) sem que haja uma sinalização do STF de que a jurisprudência consolidada daquela Corte será ultrapassada. Medida liminar que configura verdadeira tutela de evidência. Prescindibilidade de qualquer outro requisito que não a demonstração de que a carta de arrematação foi registrada junto à matrícula do imóvel. Liminar deferida e que deve ser confirmada. Recurso a que se nega provimento liminarmente. (AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 0065690-20.2013.8.19.0000, Rel. DES. ALEXANDRE CAMARA - Julgamento: 22/01/2014 - SEGUNDA CAMARA CIVEL) A decisão que deferiu a liminar não merece censura, pois que presentes os requisitos para o deferimento da medida; o próprio recorrente confessa sua inadimplência com financiamento quando da execução extrajudicial promovida pelo banco, credor fiduciário. As alegações de que a propriedade do bem foi consolidada em nome da Caixa Econômica Federal sem a observância das exigências contidas na Lei nº 9.514/97 não restaram evidenciadas nestes autos, 3
não podendo servir de suporte a indicar a necessidade de suspensão da reintegração liminar da posse já determinada. Observe-se que na ação ajuizada pelo agravante em face da CEF para fins de anular o leilão do imóvel foi distribuída em maio de 2013 e foi indeferido o pedido de antecipação de tutela para suspender a execução extrajudicial e, por conseguinte, o leilão do imóvel objeto desta demanda. Acerca do tema, colaciono precedentes desta Corte: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE AJUIZADA POR ARREMATANTE DO BEM. DECISÃO QUE DETERMINA A DESOCUPAÇÃO VOLUNTÁRIA DO IMÓVEL NO PRAZO DE 15 DIAS. RECURSO DO RÉU, OCUPANTE DO IMÓVEL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO CONHECIDO EIS QUE NÃO CABE RECURSO CONTRA DECISÃO QUE INDEFERE EFEITO SUSPENSIVO A AGRAVO DE INSTRUMENTO. SUMULA 245 TJ/RJ. PRECEDENTE. DESCABE A PRETENDIDA SUSPENSÃO DO FEITO, AO ARGUMENTO DE TER SIDO PROPOSTA AÇÃO PERANTE A JUSTIÇA FEDERAL, PORQUANTO A RELAÇÃO JURÍDICA HAVIDA ENTRE O EX- MUTUÁRIO E A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL É ESTRANHA AO PRESENTE FEITO, SENDO INOPONÍVEL À AUTORA, ORA AGRAVADA, INEXISTINDO CONEXÃO, A AFASTAR A ALEGADA PREJUDICIALIDADE EXTERNA. INADIMPLÊNCIA DO CONTRATO DE FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO. EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL PREVISTA NO DEC-LEI 70/66, CUJA CONSTITUCIONALIDADE TEM SIDO RECONHECIDA PELO EXCELSO PRETÓRIO. (AgRg no RE nº 513.546/SP). ADJUDICAÇÃO DO IMÓVEL PELA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. POSTERIOR ALIENAÇÃO DO IMÓVEL EM FAVOR DA AGRAVADA. CERTIDÃO DO RGI COMPROVANDO O JUSTO TÍTULO DE PROPRIEDADE DA AGRAVADA-ADQUIRENTE. O TERCEIRO DE BOA-FÉ ADQUIRENTE DO IMÓVEL NÃO PODE SER PREJUDICADO POR QUESTÕES QUE ENVOLVEM O AGENTE FINANCEIRO E O INADIMPLENTE DO CONTRATO DE FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO. RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO, NA FORMA DO ARTIGO 557, CAPUT, DO CPC (AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0002091-73.2014.8.19.0000, Rel. DES. MARCO AURELIO BEZERRA DE MELO - Julgamento: 20/02/2014 - DECIMA SEXTA CAMARA CIVEL) Agravo de Instrumento. Decisão liminar de imissão na posse em desfavor dos ora agravantes, possuidores do imóvel. Propriedade do agravado sobre o bem, levado a leilão em razão do inadimplemento do financiamento imobiliário contratado pelos agravantes perante a Caixa Econômica Federal. Incidência do art. 1.228, caput, do Código Civil e do art. 37 do Decreto Lei nº 70/66. Configurados os requisitos à imissão liminar na posse. Precedentes deste 4
Tribunal. Negado seguimento ao recurso, na forma do art. 557, caput, do Código de Processo Civil. (AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 0068275-45.2013.8.19.0000, Rel. DES. CLAUDIA TELLES DE MENEZES - Julgamento: 22/01/2014 - SEGUNDA CAMARA CIVEL) PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE IMISSÃO NA POSSE. MÚTUO IMOBILIÁRIO. INADIMPLÊNCIA. IMÓVEL RETOMADO PELA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. VENDA AO AGRAVADO. ADQUIRENTE DE BOA-FÉ. DECISÃO QUE CONCEDE A POSSE À ADQUIRENTE DO IMÓVEL RETOMADO PELO CREDOR HIPOTECÁRIO. Agravantes que mantinham "contrato de gaveta" com os mutuários originais, deixando de comunicar a Caixa Econômica Federal a transferência do imóvel. Impossibilidade do agente financeiro proceder a intimação pessoal dos Agravantes dos atos executórios e expropriatórios. Terceiro de boa-fé adquirente do imóvel não pode ser prejudicado por questões que envolvem o agente financeiro, o inadimplente do contrato de financiamento imobiliário e terceiros. Precedentes desta E. Corte. Manutenção da decisão recorrida. Recurso manifestamente improcedente a que se nega seguimento na forma do artigo 557 caput do Código de Processo Civil. (AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 0045585-22.2013.8.19.0000, Rel. DES. MARILIA DE CASTRO NEVES - Julgamento: 24/10/2013 - VIGESIMA CAMARA CIVEL) Agravo de Instrumento. Imissão na posse. Deferimento de liminar. Adquirente de imóvel vendido pela Caixa Econômica Federal. Título registrado no RGI. Alegação de existência de lide em andamento versando sobre a titularidade do imóvel que, por si só, não inibe a imissão do novo proprietário na posse do apartamento. O terceiro de boa-fé adquirente do imóvel não pode ser prejudicado por questões que envolvem o agente financeiro e o inadimplente do contrato de financiamento imobiliário. Precedentes do TJRJ. Nego Provimento ao recurso. (AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 0031485-62.2013.8.19.0000, Rel. DES. CARLOS EDUARDO MOREIRA SILVA - Julgamento: 17/07/2013 - VIGESIMA SEGUNDA CAMARA CIVEL) Manifesta a improcedência do recurso. Por todo o exposto, nos termos do disposto no artigo 557, caput do Código de Processo Civil, nego seguimento ao recurso. Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2014. Desembargador Jorge Luiz Habib Relator 5