42 - As Escolas a Tempo Inteiro na Região Autónoma da Madeira: O redesenhar do ensino no 1º Ciclo através de um novo modelo educativo



Documentos relacionados
AS ESCOLAS A TEMPO INTEIRO NA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA: O redesenhar do ensino no 1º ciclo através de um novo modelo educativo

LEGISLAÇÃO IMPORTANTE

2008 Concelho de Ourique

Cursos Profissionais - nível Curso Técnico de Turismo Ambiental e Rural

Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos Dr. Horácio Bento de Gouveia Ano Lectivo 20 /20. AVALIAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO Despacho Normativo nº50/2005

CONTRIBUTOS PARA UMA AVALIAÇÃO DA GESTÃO FLEXÍVEL DO CURRÍCULO NO ENSINO DAS CIÊNCIAS FÍSICAS E NATURAIS NO 3º CICLO

Projecto Curricular de Escola Ano Lectivo 2009/2010 ANEXO VI

Projecto Educativo. de Escola

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS MÃES D ÁGUA

CAI RELATÓRIO DE AUTO-AVALIAÇÃO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS MOSTEIRO E CÁVADO

CAI RELATÓRIO DE AUTO-AVALIAÇÃO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS MOSTEIRO E CÁVADO

PLANO DO DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS

Plano de Acção 2006/2007. Rede Social Concelho da Lourinhã

CIÊNCIA, CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DO 1º CICLO

MODELO DE AUTO-AVALIAÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR - INSTRUMENTO PEDAGÓGICO DE MELHORIA CONTÍNUA

Decreto-Lei Nº 6/2001 de 18 de Janeiro - Novos currículos do ensino básico

REGULAMENTO DA ORGANIZAÇÃO E CONCESSÃO TRANSPORTES ESCOLARES NOTA JUSTIFICATIVA

ORGANIZAÇÃO E GESTÃO CURRICULAR DO AGRUPAMENTO 2013/2014

A distribuição do Homem no espaço insular madeirense no início do século XXI

Agrupamento de Escolas Fontes Pereira de Melo

EDUCAÇÃO ESPECIAL RESPOSTAS EDUCATIVAS

RECOMENDAÇÕES N.º 3/CCAP/2008

AUTO-AVALIAÇÃO DO AGRUPAMENTO SEGUNDO O MODELO CAF AUTO-AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO AGRUPAMENTO

Abril de Relatório de Avaliação do Workshop Para Prescrever a Prescrição. Ano Letivo 2013/2014. Gabinete de Apoio ao Tutorado

A Taxa de Insucesso Escolar verificada no Concelho, revela-se bastante elevada quando comparada com a registada a nível nacional. De referir também,

Plano de Articulação Curricular

REFERENTES E LEMENTOS CONSTITUTIVOS C RITÉRIOS I NDICADORES. Oferta formativa. . Projecto de Auto-avaliação da Escola Secundária de Alberto Sampaio

REGIMENTO DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE VILA FLOR

REGULAMENTO Artigo 1.º Criação do curso Artigo 2.º Objectivos Artigo 3.º Condições de acesso Artigo 4.º Critérios de selecção

PROJECTO FUNDAMENTAÇÃO

REGULAMENTO DAS FÉRIAS DESPORTIVAS DA JUNTA DE FREGUESIA DE PARANHOS

PROGRAMA ACOMPANHAMENTO. Jardins de Infância da Rede Privada Instituições Particulares de Solidariedade Social RELATÓRIO DO JARDIM DE INFÂNCIA

GUIÃO PARA A ELABORAÇÃO DO PROJECTO CURRICULAR DE AGRUPAMENTO

Planeamento. Avaliação

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE REAL REGULAMENTO OFERTAS EDUCATIVAS ALTERNATIVAS AO ENSINO REGULAR ANEXO II

Operacionalização na Escola Secundária Alfredo dos Reis Silveira

Objectivos, Orientações Estratégicas e Medidas para a Educação e Formação

Plano de Estudos. Cidade da Matola República de Moçambique

Coordenador do desporto Escolar: Prof. Carlos Fonseca

Convite: Natal no Frei 3º CICLO. Num Externato de orientação

Caso Específico do Concelho de São Vicente

Agrupamento de Escolas de Alhandra, Sobralinho e S.º João dos Montes. Projeto Educativo do Agrupamento Apresentação para Divulgação

Regulamento Interno do Departamento de Sistemas de Informação. Escola Superior de Ciências Empresariais Instituto Politécnico de Setúbal

Câmara Municipal de Mealhada

GESTÃO DO CURRÍCULO: ENSINO DO INGLÊS NO 1.º e 2.º CICLOS DO ENSINO BÁSICO

Análise comparativa: linhas de convergência e divergência

Agrupamento de Escolas Dr. Bissaya Barreto Castanheira de Pera. Plano. Estudos. Desenvolvimento. Currículo

AGENDA DAS VISITAS AGRUPAMENTOS

Governação dos laboratórios: papel da regulação

anexo 1 Diagnóstico AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA

JORNAL OFICIAL Sexta-feira, 27 de setembro de 2013

EDITAL MESTRADO EM ANÁLISES CLÍNICAS E SAÚDE PÚBLICA ESPECIALIZAÇÃO DE HEMATOLOGIA E IMUNOLOGIA CLÍNICO LABORATORIAL. (Edição )

DECRETO-LEI 3/ de Janeiro

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS. Proposta de Lei n.º 18/XII. Exposição de Motivos

Protocolo relativo a Estágio Curricular

EDUCAÇÃO ESPECIAL RESPOSTAS EDUCATIVAS

(AEN 2001) Sede na Escola EB 2,3 de Nogueira - Braga (1994)

ENQUADRAMENTO DO VOLUNTARIADO NA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

REGULAMENTO DO SERVIÇO DE APOIO À FAMÍLIA

Despacho n.º 22/SEEI/96, de 20 de Abril de (Publicado no DR, II Série, n.º 140, de 19 de Junho de 1996)

DESAFIOS DA PROFISSÃO DOCENTE

8096/15 jnt/pbp/ms 1 DG E - 1 C

(AEC) no 1º Ciclo de Ensino Básico do Concelho de Oeiras. César Madureira Helena Alexandre Madalena Antunes Miguel Rodrigues

CIRCULAR N.º 5/2001, de 6 de Novembro. Esclarecimentos sobre o Despacho Normativo N.º 30/2001

PROJECTO PROMED /2012. A função formativa da avaliação externa. Guião de apresentação de práticas PROMED

Ocupação Plena dos Tempos Escolares PLANO ANUAL 2009/2010. prof. [Escolher a data] 1 Projecto Educativo

Assim: Nos termos da alínea g) do artigo 199.º da Constituição, o Conselho de Ministros resolve:

Briefing Laboral # 18 1

Reflexão sobre 4 anos de Direcção da Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora

LINHAS ORIENTADORAS DA AÇÃO SOCIAL ESCOLAR 2018/19

A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO ENSINO BÁSICO

GESTÃO DO CURRÍCULO: ENSINO DO INGLÊS NO 1.º e 2.º CICLOS DO ENSINO BÁSICO

Perfil Profissional de Treinador

JORNAL OFICIAL Quarta-feira, 14 de Agosto de 2002

Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores

Resultados-Chave Relatório de Bolonha do ISCTE-IUL (2010/2011)

CRITÉRIOS DE QUALIFICAÇÃO DE PESSOAL DOCENTE PARA A ACREDITAÇÃO DE CICLOS DE ESTUDOS

Emitente: CONSELHO DIRECTIVO. Norma Regulamentar N.º 21/2002-R. Data: 28/11/2002. Assunto:

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS MONSENHOR ELÍSIO ARAÚJO

GRUPO 4 MOBILIDADE E TRANSPORTES

Escola em Debate A Violência e a Indisciplina na Escola Programa de Tutorias

Portaria n.º 1458/2009. de 31 de Dezembro

GESTÃO DO CURRÍCULO: ENSINO DO INGLÊS NO 1.º e 2.º CICLOS DO ENSINO BÁSICO

Município da Samba - Província de Luanda

Divisão Municipal de Cultura, Educação e Turismo :: Câmara Municipal de Benavente. Grau de Ensino Estabelecimentos Turmas N.

Critérios Gerais de Avaliação 2º e 3º ciclos

GESTÃO DO CURRÍCULO: ENSINO DO INGLÊS NO 1.º e 2.º CICLOS DO ENSINO BÁSICO

Agrupamento de Escolas de Muralhas do Minho, Valença PLANO ESTRATÉGICO PARA O ANO LETIVO

4 de Setembro 2012 Direito Fiscal

Melhorar as aprendizagens e consolidar conhecimentos. Colmatar as dificuldades ao nível da compreensão oral e escrita.

Identificação das necessidades dos utilizadores 2007

DESPACHO NORMATIVO Nº 24/2000

Desencadeia motivações profundas, onde os comportamentos são mais importantes que o produto final;

AVISO N.º 5/2015 ESTÁGIOS PEPAL, 5.ª EDIÇÃO

PLANO DE OCUPAÇÃO INTEGRAL DOS TEMPOS ESCOLARES

ENSINO ARTÍSTICO ESPECIALIZADO modelo articulado CURSO BÁSICO DE MÚSICA

Reivindicações apresentadas por Dirigentes do SIPPEB que estão em contacto com os professores nas escolas. Aposentação na Monodocência

EDUCAÇÃO ESPECIAL RESPOSTAS EDUCATIVAS

Plano de Ações de Melhoria

Transcrição:

42 - As Escolas a Tempo Inteiro na Região Autónoma da Madeira: O redesenhar do ensino no 1º Ciclo através de um novo modelo educativo Alice Mendonça António V. Bento (Universidade da Madeira) 1. Implementação Embora a criação das Escolas a Tempo Inteiro no espaço nacional seja entendida como uma iniciativa recente por parte da Região Autónoma da Madeira, o facto é que esta modalidade educativa já se efectivava desde a década de 60, num colégio privado do Funchal. Com efeito, o Colégio Infante D. Henrique disponibilizava esse modelo de ensino, mas essa oferta diferenciada era paga e por consequência, discriminatória. A observação circunstanciada da realidade nos estabelecimentos de educação do 1.º Ciclo do Ensino Básico na Região Autónoma da Madeira, num total de 264 edifícios, ao longo de todo o ano lectivo de 1993/94, demonstrou a necessidade de evoluir para um outro regime escolar, mais ajustável em função da realidade social e suprindo simultaneamente as necessidades familiares. Após esta avaliação dos estabelecimentos, algumas escolas iniciaram o funcionamento a Tempo Inteiro desde o ano lectivo 1994/95, a fim de colmatarem necessidades pontuais. Contudo o enquadramento legal desta modalidade escolar surgiu alguns anos depois, em 1998, após esta implementação inicial e a recolha dos respectivos feedbacks. 1

Tabela 1. Evolução e Taxa de Cobertura das Escolas a Tempo Inteiro, nos diferentes concelhos da Madeira (1995-2000) Concelhos 1995/96 1996/97 1997/98 1998/99 1999/2000 Calheta Câmara de Lobos Nºalunos 130 337 490 454 436 % cobertura 15.3 40.9 64.4 63.1 62.9 Nºalunos 114 131 312 295 875 % cobertura 3.4 4.0 9.8 9.3 28.2 Funchal Nºalunos 280 299 1601 1922 2245 % cobertura 5.7 6.2 33.9 42.0 51.0 Machico Nºalunos 100 96 603 573 890 % cobertura 7.0 6.9 47.0 45.8 75.8 Ponta do Sol Porto Moniz Nºalunos 91 89 135 134 233 % cobertura 14.0 14.1 21.3 21.9 38.8 Nºalunos 0 0 0 55 131 % cobertura 0.0 0.0 0.0 34.8 84.0 Porto Santo Nºalunos 65 60 150 208 201 % cobertura 22.3 23.5 64.0 100.0 100.0 Ribeira Brava Nºalunos 0 201 222 224 279 % cobertura 0.0 19.6 22.7 23.8 30.4 Santa Cruz Nºalunos 0 0 0 519 849 % cobertura 0.0 0.0 0.0 40.5 66.2 Santana Nºalunos 122 209 185 265 290 % cobertura 22.5 44.6 43.7 63.2 75.3 São Vicente Nºalunos 199 203 227 294 181 % cobertura 43.4 46.3 48.9 73.3 93.2 Fonte: Direcção Regional de Planeamento e Recursos Educativos 2

A análise da Tabela 1 é elucidativa do impacto desta modalidade escolar no público-alvo, mediante a apreciação do progressivo crescimento da sua taxa de cobertura. No ano lectivo inicial, 1995/96, apenas se encontravam excluídos desta modalidade, os concelhos de Porto Moniz, Ribeira Brava e Santa Cruz. No ano lectivo seguinte, a sua implementação estendeu-se até ao concelho de Ribeira Brava e em 1998/99 esta modalidade, já devidamente regulamentada, foi também introduzida nos Municípios de Santana e Porto Moniz. Independentemente do ano lectivo de implementação das ETIs em cada concelho, o alargamento da sua taxa de cobertura foi notório embora o ano inicial se tenha pautado por valores reduzidos decorrentes quer da inovação traduzida, quer do desconhecimento da população face a esta modalidade de ensino. No entanto, a ilha de Porto Santo destacou-se do total regional a partir de 1998/99 devido ao facto de a sua taxa de cobertura ascender a 100,0 %, o que parece compreensível se atendermos quer ao reduzido volume do contingente escolar quer ainda à inexistência de barreiras geográficas ao nível da orografia. Quanto a Porto Moniz, embora com uma implementação de ETIs tardia, a sua expansão foi significativa pois em 1999/2000 beneficiava de uma taxa de cobertura de 84,0 %. Inversamente, Câmara de Lobos, onde esta modalidade foi implementada nas escolas desde 1995/96, manifestou durante este período um alargamento pouco significativo pois em 1999/2000 a sua taxa de cobertura não atingia os 30,0 %. Além de Câmara de Lobos, também Ribeira Brava e Ponta do Sol apresentavam no último ano em estudo, os valores mais reduzidos da Região. No extremo oposto, encontramos os concelhos de Porto Santo, São Vicente e Porto Moniz com as taxas de cobertura da Rede de ETIs mais elevadas do Arquipélago, respectivamente 100,0 %, 93,2 % e 84,0 %. De facto, este acréscimo verificado desde o ano inicial tornou premente a criação de um dispositivo legal que estabelecesse as disposições de funcionamento e permitisse o pleno alargamento desta modalidade de Ensino. Por outro lado, o constante ampliação desta modalidade de ensino e a numerosa adesão, vieram atestar o seu sucesso enquanto modelo escolar. Deste modo, em 1998, a Portaria n.º133 de 31 de Agosto, publicada no Jornal Oficial da Região determinou o regime de criação e funcionamento das Escolas a Tempo Inteiro, 1 como forma de proporcionar uma resposta às necessidades educativas actuais a todos, sendo por isso suportado por recursos disponíveis ao nível educativo. A portaria nº 110/2002, de 14 de Agosto reformulou a anterior e determinou: a) Inclusão das actividades de Ocupação de Tempos Livres (OTL); b) Colocação de dois professores por turma (número de docentes de AEC e OTL igual ao número de docentes de AC; c) Criação de uma bolsa de substituição de pessoal não docente afecta às Delegações Escolares; 1 Designadas por ETIs. 3

d) Dispensa total da componente lectiva do(a) Director(a) com isenção de horário; e) Atribuição de um suplemento remuneratório ao Director. 2. Funcionamento Desde o início deste projecto que se verificou que a sua viabilidade, com sucesso e eficácia, apenas seria exequível se o regime de funcionamento fosse cruzado, ou seja, com metade das turmas em actividades lectivas de manhã e as restantes à tarde. Assim, a efectivação deste modelo, onde os alunos do 1º ciclo permanecem na escola durante todo o dia, pressupõe que as Actividades de Complemento Curricular e Extra Curricular se realizem em dois períodos diários, em regime de alternância. Ou seja, metade do número de turmas da escola funciona com Actividades Curriculares no turno da manhã e Actividades de Complemento Curricular e Extra Curricular à tarde e vice-versa. 2 As actividades de Ocupação de Tempos Livres foram ainda incluídas, com intuito de evitar tempos sem ocupação. A plena efectivação desta medida pressupôs ainda a necessidade de colocação de mais pessoal docente de forma a assegurar o funcionamento de todas estas actividades nos estabelecimentos de ensino, com técnicos educativos devidamente qualificados. Contudo, este novo modelo educativo acabou por se transfigurar simultaneamente numa medida de combate ao desemprego dos docentes deste nível de ensino. Este último aspecto encontra reforço na determinação de que os directores das ETIs podem exercer as suas funções com dispensa total da componente lectiva, de modo a garantir a plena concretização e o bom desempenho deste modelo escolar. Deliberouse ainda a atribuição de um suplemento remuneratório ao Director. Além da reorganização de recursos ao nível de pessoal também as instalações e os equipamentos foram alvo de modificações. Deste modo, a reformulação da Rede Escolar apresentou-se igualmente como uma necessidade e neste sentido procedeu-se ao encerramento de escolas diminutas, ao redimensionamento de outras e ainda a novas construções escolares. Para os alunos permanecerem na escola durante dois turnos, foi ainda essencial garantir a alimentação mediante o fornecimento de refeições. Conjuntamente, criaram-se circuitos de transportes locais, com base em viaturas de clubes e associações. 2.1. Base Funcional A determinação funcional de uma Escola a Tempo Inteiro é o funcionamento cruzado ou turno duplo que permite a actividade da escola das 8.15 às 18.15. Cada sala de actividades lectivas é utilizada apenas por duas turmas, uma de manhã e outra à tarde. A outra metade das salas é decorada, equipada e orientada para 2 Artigo 3º da Portaria nº 133/98 da Secretaria Regional de Educação, publicada no Jornal Oficial da Região Autónoma da Madeira, Série I, nº 55, 14 de Agosto de 1998. 4

actividades variadas de modo a permitir aos alunos uma alteração de ambiente entre as actividades lectivas e as restantes, o que reduz o impacto do número de horas que permanecem na escola. Foram criados espaços para Tecnologias de Informação e Comunicação, Biblioteca, Estudo, Inglês, Música, Desporto e Artes Plásticas. Cada Escola a Tempo Inteiro possui dois professores por turma. Metade dos professores enquadram as actividades lectivas e outra metade as actividades de enriquecimento e Ocupação de Tempos Livres. Todos os docentes, quer leccionem actividades lectivas quer actividades de enriquecimento, continuam a beneficiar de horários completos, contagem de tempo de carreira e efectividade nos quadros. Têm presença activa no Conselho Escolar e colaboram no Projecto da Escola. 3. Objectivos A criação deste regime de ETI apontou como objectivos prioritários, atender às necessidades educativas básicas e, simultaneamente, contribuir para a formação integral das crianças, com vista a melhorar o seu sucesso escolar. Para a concretização deste modelo escolar estabeleceu-se que, além das actividades curriculares, funcionariam actividades de complemento curricular e ainda actividades extra curriculares, fixadas de acordo com os meios sócio-culturais e as reais necessidades educativas. Ou seja, destaca-se a preocupação deste modelo persistir enquanto unidade orgânica não descontextualizada do meio sócio-economico-cultural, onde se inserir. 3 A implementação das ETIs encontra-se subjacente a uma preocupação com o sucesso escolar, na medida em que se tentam suprir possíveis défices a nível familiar, quer mediante a ocupação dos tempos livres das crianças quer no acompanhamento e desenvolvimento das actividades curriculares e extra-curriculares. Por outro lado, a componente de Estudo Acompanhado tem a vantagem de possibilitar aos alunos a realização dos trabalhos de casa, assim como a consolidação dos conhecimentos. À escola compete oferecer alternativas às famílias que, por opção ou impossibilidade real não possam estar mais tempo com as suas crianças. Desta forma evita-se que as crianças transitem para Ateliers de Tempos Livres, que além de dispendiosos, possuem habitualmente indivíduos sem qualificação pedagógica a ocuparse delas. Evita-se ainda que as crianças fiquem sós em espaços temporais vazios que propiciam a alternativa para comportamentos desviantes. Ao permanecer na escola as crianças estão ocupadas, acompanhadas por técnicos responsáveis e têm a possibilidade de desenvolver inúmeras competências e actividades relacionadas com o lazer. 3 Portaria nº 133/98 da Secretaria Regional de Educação, publicada no Jornal Oficial da Região Autónoma da Madeira, Série I, nº 55, 14 de Agosto de 1998. 5

4. Implicações deste modelo educativo Como já foi referido anteriormente, as Escolas a Tempo Inteiro (ETIs) tiveram o seu início oficial no ano lectivo de 1995-1996 em 10 escolas da Região Autónoma da Madeira. Existem hoje 93 escolas a funcionar com o modelo ETI. O estudo mais abrangente que se conhece sobre as ETIs na Região Autónoma da Madeira (RAM) é um projecto de avaliação realizado entre 2002 e 2004 e que foi coordenado por Lúcia Fernandes. É neste relatório que nos vamos basear para apresentar algumas perspectivas, implicações, vantagens e desvantagens deste modelo educativo. Esse estudo sobre a avaliação das ETI apresentava os seguintes objectivos específicos: a) acompanhar a implementação da Portaria nº 110/2002, de 14 de Agosto 4 ; b) Identificar as práticas utilizadas ao nível administrativo e pedagógico; c) Identificar as dificuldades subjacentes ao funcionamento das ETIs; d) Aferir o grau de satisfação da comunidade educativa relativamente ao funcionamento do regime de ETI. Esta análise incidiu sobre as 69 escolas oficiais a funcionar com o modelo ETI até ao ano lectivo de 2002-2003, envolvendo 69 Direcções de Escolas, 11 Autarquias, 11 Delegações Escolares, 69 Ligas/Associações de Pais, 320 docentes, 214 funcionários, 945 crianças e 945 Encarregados de Educação. Como instrumentos de recolha de dados foram usados questionários, entrevistas e observações. 4.1. Resultados do estudo a) Pessoal docente e não docente: Por um lado, concluiu-se que havia um sentimento generalizado de realização profissional no pessoal docente, embora os docentes que leccionavam as AEC e a OTL denotassem falta de realização nas suas funções e pouca valorização por parte dos pais e encarregados de educação. Salientou-se ainda a falta de uma concertação conjunta entre os docentes das AEC e das OTL na elaboração dos PCT. Por outro lado, o pessoal não docente referiu que se sentia mais valorizado pelo(a) Director(a) e colegas do que pelos docentes e pelos alunos. Ainda em relação a estes, verificou-se a inexistência de formação que correspondesse às necessidades e exigências de trabalho nas ETIs. b) Alunos: A carga horária das AEC e OTL tem como especificidade o facto de não ser diferenciada. 4 Portaria nº 110/2002, da Secretaria Regional de Educação, publicada no Jornal Oficial da Região Autónoma da Madeira, Série I, nº 93 de 14 de Agosto. 6

Neste contexto verificou-se um paradoxo; embora a maioria dos alunos referisse que gostaria de ir para casa mais cedo, revelava-se satisfeita com o modelo de Escola a Tempo Inteiro e expressou interesse na frequência de todas as componentes: Curriculares, Extra Curriculares e de Ocupação dos Tempos Livres. É de realçar que todas estas actividades, além de constituírem um complemento à Actividade Curricular, detêm um papel importante na aquisição de saberes e competências que complementam as Actividades Extra Curriculares, extrapolando ainda os seus objectivos. Ou seja, permitem aos alunos diversificar as suas aprendizagens. Como aspectos menos favoráveis, a maioria dos Directores dos Estabelecimentos de Ensino, indicou que o facto de os alunos passarem muitas horas na escola propicia o aumento dos casos de indisciplina. Foi ainda referido o cansaço das crianças, sobretudo no turno da tarde, naquelas que tinham as Actividades Curriculares após o almoço. c) Outros Agentes Educativos: A maioria dos Encarregados de Educação declararam estar satisfeitos com o modelo da Escola a Tempo Inteiro pois permitia-lhes desenvolver uma actividade profissional, seguros de que a escola propiciava aos seus educandos uma ocupação assegurada por profissionais educativos, a par com uma formação integral. Acrescentaram ainda estar disponíveis e participar regularmente nas reuniões promovidas no contexto escolar. Por sua vez, as Autarquias consideraram que as ETIs constituíam um apoio social, ao nível do acompanhamento das crianças durante o período laboral dos Encarregados de Educação. Este foi, aliás, o factor apontado como o mais benéfico deste modelo de ensino, apresentando-se assim como uma importante medida de apoio às famílias. 5. Conclusões: De acordo com as conclusões da Avaliação das ETIs, realizada entre 2002 e 2004, o modelo das Escolas a Tempo Inteiro está a atingir os objectivos inicialmente propostos. Assim, o apoio à família, manifesta-se desde a atribuição de refeições, à concessão de transporte escolar, sem descurar, naturalmente, a finalidade educativa da própria escola - a educação integral dos seus alunos. Assim, as carências de ordem económica e social são minimizadas pela resposta às necessidades básicas: alimentação, transporte e recursos físicos básicos. O modelo ETI vai de encontro às necessidades sociais da Família dos tempos actuais pois impulsiona a criação de condições que contribuem para a igualdade de oportunidades de acesso e sucesso escolares mediante a superação de desigualdades económicas, sociais e culturais. Contudo, existem alguns aspectos menos positivos que devem ser repensados: o tempo excessivo que as crianças passam na escola ou a hiperescolarização da vida das crianças (Cosme e Trindade, 2007, p.17), o cansaço demonstrado pelos alunos e a indisciplina acrescida. 7

Consideramos que a superação destes aspectos se viabilizará através do envolvimento dos Encarregados de Educação no processo educativo, de modo a que estes possam, conjuntamente com os docentes tomar decisões mais acertadas relativamente à frequência das AEC e OTL pelos seus educandos. BIBLIOGRAFIA COSME, Ariana e TRINDADE, Rui (2007). Escola a tempo inteiro: Escola para que te quero?. Porto: Profedições. FERNANDES, Lúcia (Coord.) (2004). Avaliação do Regime de Escola a Tempo Inteiro. Secretaria Regional da Educação: Funchal (Policopiado). MENDONÇA, Alice (2007), A Problemática do Insucesso Escolar a Escolaridade Obrigatória no Arquipélago da Madeira em Finais do Século XX, Tese de Doutoramento apresentada à Universidade da Madeira, Funchal: Universidade da Madeira (policopiado). MENDONÇA, ALICE, (2009). O Insucesso Escolar: Políticas Educativas e Práticas Sociais - Um Estudo de Caso sobre o Arquipélago da Madeira. Lisboa: Edições Pedago. FONTES Direcção Geral de Planeamento e Recursos Educativos : Taxa de Cobertura das Escolas a Tempo Inteiro (ETI) (1995-2001) Lista de Escolas Reordenamento da Rede Regional Escolar Geografia da Rede Escolar: Novas Escolas por Ano de Inauguração (> 1978) Documento Orientador das Escolas a Tempo Inteiro LEGISLAÇÃO Constituição da República Portuguesa, 1976. Decreto-Lei nº 301/93 de 31 de Agosto. 8

Decreto Legislativo Regional n.º 17/98/M publicado no Diário da República I Série A, nº 188 de 17-8-1988. Despacho 22/SEEI/96 publicado no Diário da República II Série, nº 140 de 19-6- 1996. Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma da Madeira, 1999. Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei nº 46/86, de 14 de Outubro, com alterações introduzidas pelo nº 115/97, de 19 de Setembro. Portaria nº 133/98 da Secretaria Regional de Educação, publicada no Jornal Oficial da Região Autónoma da Madeira, Série I, nº 55, 14 de Agosto de 1998. Portaria nº 110/2002 da Secretaria Regional de Educação, publicada no Jornal Oficial da Região Autónoma da Madeira, Série I, nº 93, 14 de Agosto de 2002. SÍTIOS DA INTERNET http://www01.madeira-edu.pt/drpre/redefiles/redeescolar.htm (acedido em 20 de Janeiro 2009) http://www.madeira-edu.pt/drpre/escolaatempointeiro/tabid/529/default.aspx (acedido em 20 de Janeiro 2009) 9