ATUAÇÃO DO TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS E LÍNGUA PORTUGUESA NO CONTEXTO EDUCACIONAL Elenay Maciel Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Maurício Loubet Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Práticas Pedagógicas Inclusivas Palavras-chave: Surdo; Tradutor e intérprete; Ensino regular. 1. Introdução O transcurso histórico aponta que a ação de tradutores é um ato muito antigo. Nesse sentido, Pagura (2003) afirma que a atuação desses protagonistas ocorreu, primeiramente, com a interpretação de um hieróglifo egípcio do terceiro milênio antes de Cristo. Após esse advento, segundo o referido autor, as práticas relacionadas à tradução e interpretação foram propagadas com o passar dos anos, principalmente, nos eventos decorrentes da Primeira e da Segunda Guerra Mundial. Naquele contexto, as traduções e interpretações apresentadas pelo autor correspondiam às línguas orais, auditivas e escritas: língua inglesa, francesa, alemã, russa entre outras. Com isso, percebe-se, na época mencionada, a inexistência de atuantes na área da tradução e interpretação das línguas sinalizadas: Língua Brasileira de Sinais (Libras), Língua de Sinais Boliviana (LSB) Língua de Sinais Americana (ASL) entre outras, fenômeno talvez relacionado à possível ausência de divulgação/sistematização dessas línguas. Os surdos, como protagonistas da sua própria história, compõem inúmeros contextos sociais e produções do conhecimento científico. Com a participação ativa desses sujeitos, faz-
se necessária a intervenção comunicativa de profissionais que executem tradução e interpretação dos enunciados produzidos em língua de sinais e em línguas orais auditivas. Ao observarmos o desenvolvimento cronológico do arsenal legislativo que objetiva a garantia dos direitos da comunidade surda, constatamos significativas conquistas: 1) a Lei 10.098/2000, entre suas atribuições, garante por parte do poder público a implementação na formação de profissionais tradutores e intérpretes para favorecer qualquer comunicação (Brasil, 2000); 2) a Lei 10.436/2002 reconhece a Libras como meio de comunicação e expressão da comunidade surda (BRASIL, 2002); 3) o decreto 5.626/2005 regulamenta, a Lei 10.436 e, entre suas atribuições, assegura o atendimento dos surdos por meio de tradutores e intérpretes de Libras e língua portuguesa; 4) a Lei 12.319/2010 regulamenta a profissionalização do tradutor e intérprete de Libras. Partindo dessas premissas, constata-se que o tradutor e intérprete de Libras e língua portuguesa possibilita a inclusão dos alunos por meio das interações linguísticas com os ouvintes. Esta pesquisa, de base bibliográfica, objetiva analisar a atuação desse profissional no âmbito educacional. Para tanto, recorre-se à leitura de livros e artigos, publicados entre 2005 e 2008 que discorrem sobre o desenvolvimento da arte de traduzir e interpretar na sala de aula inclusiva. 2. Desenvolvimento No contexto educacional, os tradutores e intérpretes poderão desenvolver suas atividades profissionais em diferentes ocasiões: na educação infantil, ensino fundamental, médio e superior. Por isso, faz-se necessário que o referido profissional adeque seu nível linguístico ao do aluno, ou seja, selecione os enunciados sinalizados de maneira que sejam compreendidos pelo aluno surdo. Tendo em vista que a profissionalização dos tradutores e intérpretes foi regulamentada recentemente, despontam, assim, alguns questionamentos pertinentes a sua atuação: Qual a função desses profissionais: ensinar, interpretar e/ou tutorar os alunos surdos?
Inúmeras são as circunstâncias nas quais os aprendizes surdos perguntam, comentam e discutem com o tradutor e intérprete e não com o professor. Quando tais ocasiões ocorrem, é indispensável à presença do professor, pois, sempre que o tradutor e intérprete explana as dúvidas e dificuldades dos alunos surdos, ele se distancia da sua função; pois, conforme Quadros (2004), o profissional destacado deve mediar a comunicação em sala de aula entre os presentes. Assim, quando o aluno surdo interage somente com o tradutor e intérprete, há um rompimento do elo comunicativo entre aluno surdo e o professor. O tradutor não deve distanciar o professor e o aluno, mas sim estabelecer vínculos comunicativos em sinais e orais para uni-los. Nesse sentido, Felietaz (2008) esclarece que o papel do tradutor e intérprete necessita ser bem definido, pois os professores, diversas vezes, incumbem esse mediador, além de traduzir e interpretar, de explicar os conteúdos. Nesse caso, o professor se esquiva da sua função de ensinar o aluno surdo ao responsabilizar o tradutor e intérprete por essa função. Quadros (2004), acerca do que foi citado, afirma ser antiético exigir que o intérprete tutore alunos surdos em qualquer circunstância ou realizar atividades que não façam parte de suas atribuições (p. 28). Nesse polêmico panorama, Lacerda (2005) defende que ensinar língua de sinais, atuar como educador frente às dificuldades do aprendiz e intervir com relação ao comportamento do aluno surdo ocasiona a separação do papel do tradutor. Não devemos supor que o tradutor e intérprete de Libras é o profissional que apenas traduz e interpreta de forma mecânica e maçante os conhecimentos transmitidos pelo docente; pelo contrário, o intérprete necessita estar em consonância com o professor, inteirando-se previamente do que será ensinando ao aluno surdo, direcionando as dúvidas e questionamentos para o docente, buscando aprimoramentos teóricos e práticos, o que resultará na melhoria da qualidade do seu trabalho. É representativo esclarecer que o tradutor e intérprete não está a serviço exclusivamente para as interações entre o aluno surdo e o professor, mas, inclusive, entre aluno surdo e aluno ouvinte.
3. Conclusões A partir das análises dos referenciais bibliográficos, constata-se que a presença do tradutor e intérprete de Libras e língua portuguesa nas escolas regulares é fundamental para contribuir no processo inclusivo entre as pessoas que não se comunicam pela mesma língua. Ainda que o amparo legal a esse profissional esteja estabelecido, observa-se a necessidade de oportunizar ressignificações relacionadas às suas reais funções. Para tanto, é primordial que as secretarias de educação estaduais e municipais implantem formações continuadas para difundir, aos envolvidos nos fazeres educacionais, as atribuições do tradutor e intérprete. O ponto inicial a ser desenvolvido é elucidar os papéis desse profissional que, até então, era desconhecido e atípico, com direcionamentos pertinentes aos seus direitos e deveres. Fazse necessário também esclarecer o papel do professor, do tradutor e intérprete; promover o bom desenvolvimento no relacionamento interpessoal entre alunos (surdos e ouvintes), tradutores intérpretes e professores; estabelecer os limites da tradução e interpretação, ações que oportunizariam um melhor desempenho do profissional cuja atuação foi analisada. As reflexões elencadas nesse artigo apontam a importância de serem fomentados estudos que englobam questões da inclusão do aluno surdo, no contexto escolar, mediante o tradutor e intérprete de Libras, na premissa de investigar como esse encadeamento está sendo implementado e de analisar suas consequências para o desempenho de tal mediador. Referências BRASIL. Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e da outras providencias. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 20 de fev 2016.
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