O Ensino religioso nas escolas Públicas Scates Dias¹ Humberto Resumo O presente artigo tem como finalidade abordar a questão do ensino religioso nas escolas. Através de uma pesquisa bibliográfica procuraremos entender os prós e os contras na avaliação deste importante assunto. O objetivo deste artigo é mostrar as diferentes linhas de pensamento do tema em questão. Foi avaliado também a importância do aspecto religioso como um componente essencial para o desenvolvimento social, cognitivo, emocional e moral das pessoas. Sugerimos que este assunto continue sendo tema de futuras discussões e pesquisas. Palavras-chave: Ensino religioso; linhas de pensamento; desenvolvimento pessoal; Escola; Introdução O objetivo deste trabalho é comparar as diferentes concepções sobre a importância ou não do Ensino Religioso nas escolas públicas do nosso país. Para tal Estudaremos os pensamentos de vários autores. Não há dúvidas que o Ensino Religioso tem sua importância no desenvolvimento integral do ser humano haja vista a religiosidade inerente ao ser humano. A busca pelo transcendente, pelo sagrado é algo que fascina e apaixona o homem desde sua remota história. Mas será de fato relevante o Ensino Religioso nas escolas públicas? Este ensino tem maior abrangência nas escolas ou nas igrejas? Está o Estado de fato preparado para esta tarefa tão espiritual? Olhando do ponto de vista religioso, o ser humano precisa ter contato com o sagrado
com o intuito de se aperfeiçoar nos relacionamentos interpessoais. Qual o valor da fé para o ser humano? 1 Concluinte do curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião: Educação/Ensino Religioso da Universidade Presidente Antônio Carlos UNIPAC Uberlândia. Rousseau vai dizer a respeito da fé: que os verdadeiros deveres da Religião são independentes das instituições humanas, que um coração justo é o verdadeiro tempo da divindade, que em todos os países e em todas as seitas, amar a Deus acima de tudo e o próximo como a si mesmo é o resumo da lei, que não há religião que dispense os deveres da moral, que não há outros verdadeiramente essenciais a não ser estes e que o culto interior é o primeiro desses deveres e que sem a fé, nenhuma verdadeira virtude existe. (ROUSSEAU, 1967, p.632) Em se tratando de crianças e adolescentes como será que esta fé lhes será transmitida? Será a escola a principal responsável para tal? Temos sempre entendido que o maior responsável por esta tarefa tão relevante é a família. Já se disse que a educação vem de berço e isto sem dúvida se aplica a valores éticos e morais. Hoje presenciamos as famílias em crise e os mentores das crianças não são mais os pais mas em grande escala, a televisão. A educação se ressente da falta de respeito e da indisciplina dos alunos e hoje apela para o Ensino Religioso como uma disciplina que reacenda os valores humanos. O Estado vê a necessidade da educação religiosa, no entanto, não sabe como colocá-la em prática. Vemos então uma realidade despreparada do Estado para com esta necessidade, não deixando de destacar que ninguém pode negar a complexidade e seriedade desta questão. Tendo em vista que o Ensino religioso em sua essência tem como finalidade o ensino da ética, dos valores morais e facilitar o desenvolvimento dos relacionamentos entre os indivíduos, muitas vezes o que tem acontecido nas escolas é uma ação monopolista e proselitista. Com base nisto nos perguntamos, será que o Ensino religioso nas escolas públicas foi uma conquista? Ou seria uma troca de papeis: escola/igreja,
ciência/religião? Se o papel do Ensino Religioso é ensinar religiosidade, será que há como ser neutro nestas questões tão pessoais? A Ética e o ensino religioso É necessário superar as errôneas e muitas vezes limitadas definições de ética e propor uma ética da consciência e da liberdade em lugar da ética da lei e da obrigação. Segundo Catão: Toda religião comporta uma ética e toda ética desemboca numa religião, na mesma medida em que a ética se orienta pelo sentido do transcendente da vida humana" (Catão, p. 63). Na raiz da Ética, como contempla o Ensino Religioso, está a busca da Transcendência que dá sentido à vida, que proporciona a plena realização do ser humano pessoal e social. Comparação das diferentes linhas de pensamento Avaliaremos a seguir as diferentes linhas de pensamento sobre o Ensino Religioso nas escolas públicas do Brasil: A concepção confessional. A concepção fenomenológica. A concepção transreligiosa. A concepção contra o Ensino Religioso nas escolas públicas. Concepção Confessional Esta concepção ganhou sua maior expressão nos escritos de Francisco Catão que diz: No fundo do coração de todos os humanos, com no cerne de todas as comunidades humanas e, por conseguinte, de toda cultura e de toda sociedade, há uma exigência de se posicionar em face do que dá sentido à vida (1995, p.7). Religioso. Catão propõe a leitura da Bíblia com atividade pedagógica de Ensino
A Bíblia é a base do Ensino Religioso, como, aliás, de toda a educação religiosa, como expressão da religiosidade objetiva mais profunda da humanidade, religiosidade estrutural, presente em toda expressão religiosa, qualquer que seja a cultura ou a idade do educando (1995, p.11) Catão afirma que a interdisciplinaridade do Ensino Religioso é favorável; um projeto educativo que se encaminhe na linha da interdisciplinaridade pode oferecer uma pista satisfatória para a integração do Ensino Religioso com outras matérias na vida escolar (1995, p.14). A respeito do perfil do professor de Ensino Religioso, Catão coloca que este profissional deve ser uma pessoa religiosa, que viva a fé e tenha conhecimento da Bíblia para ensiná-la ( 1995, p.14) Catão apresenta que o ensino Religioso deva ser confessional apesar de nos últimos anos apontar também para aspectos da visão fenomenológica para o Ensino Religioso. Concepção Fenomenológica O Ensino Religioso como fenomenologia da religião é a concepção mais aceita pelos professores de E.R. do Brasil. Tem sua fundamentação no trabalho da FONAPER (Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso) criado em 1995. Esta concepção parte dos fenômenos religiosos (fatos, testemunhos, documentos) e estuda especificamente o seu sentido, sua significação para o ser humano. A fenomenologia da religião é uma classe de análise que vai dos testemunhos até sua fonte geradora (CROATTO, 2001, p.9). Ele ainda afirma que a tarefa do fenomenólogo é a de decifrar o sentido profundo de cada hierofania (manifestação do sagrado), de descrever sua morfologia e sua topologia para entender seu significado, ou seja, como o sagrado é vivido na hierofania. (CROATTO, 2001, P.57). Segundo esta concepção, o símbolo, o mito, o rito, a doutrina, a ética e os textos sagrados são formas de se recriar a experiência religiosa.
Concepção Transreligiosa O Ensino Religioso nesta concepção parte do princípio do Conhecimento transdisciplinar que surge como uma leitura sociológica que visa reencontrar a unidade do conhecimento. Tem como características a desregulamentação das realidades religiosas, a superação da posse de Deus, o pluralismo inclusive religioso e aponta para o valor da vida e do planeta. A transreligiosidade não teria um lugar específico, nesta ou naquela religião, mas seu lugar é um lugar sem lugar, que se situa num outro nível de realidade. Talvez possamos lembrar que no Ensino Religioso, não se trata de saber se Deus, o Transcendente, deve ser adorado nesta ou naquela religião, mas antes em espírito e em verdade (LIMA,2003, p.87). Concepção contrária ao Ensino Religioso A concepção contrária ao Ensino Religioso nas escolas públicas tem seu início no Brasil a partir da implantação do Regime Republicano (1890-1930). Hoje, dentre os maiores manifestantes desta linha de pensamento encontramos a Sociedade da Terra Redonda (STR), organização não governamental brasileira que encontra sua maior forma de expressão no site www.strbrasil.com.br. Esta ideologia prima pela secularização da sociedade, ou seja a separação total entre Estado e Igreja, o reconhecimento da ciência como única forma de explicar a realidade e a concepção do Estado laico. Seus objetivos principais são: defender os direitos dos ateus da sociedade, advogar pela total e completa separação entre o Estado(governo) e religião e divulgar e promover o método científico, o pensamento crítico e as realizações e os avanços da ciência.
Um dos seus autores, Daniel Sottomaior, demonstra que muitos dos conteúdos elencados para o Ensino Religioso já fazem parte de outras disciplinas(história, Sociologia). Então ele questiona se há necessidade de uma matéria específica se não for para doutrinação. O autor acredita que o Estado deveria engavetar a idéia de Ensino Religioso nas escolas públicas (Daniel Sottomaior, em 01/9/2001). Newton Brito publicou seu artigo em 11/5/2001 sob o título: Contra o Ensino Religioso nas escolas públicas: Em favor do Estado Laico. O autor acredita que o Ensino Religioso seria um instrumento de religiosos para alcançar o poder e implementar sua visão fundamentalista religiosa estatal. Para esta linha de pensamento, se a lei regulamenta o Ensino Religioso nas escolas públicas, esta deve tornar obrigatório que o ateísmo seja tratado em pé de igualdade com o tema das diferentes religiões, e que estas devem ser tratadas apenas do ponto de vista histórico ou informativo. Considerações finais Desde os primórdios da civilização humana se evidencia no ser humano um comportamento claramente religioso independente da cultura, da língua, do nível intelectual e material, além de outros. Esta religiosidade é tão diversa em suas manifestações que soa estranho querer trazer isto para uma sala de aula. Por exemplo, ainda não se conseguiu definir um conteúdo mínimo que agrade a todas as vertentes religiosas. Pesa também o fato de que dificilmente alguém falará de religião sem ser tendencioso. E se formos falar de professores que não tem respaldo ético e comportamental para falar de religião? Além do mais, dois outros fatores deveriam ser levados em conta. Primeiro: o Estado não está habilitado a desempenhar esta função. Não é tarefa do estado ensinar religião. O nosso País é um estado laico. Segundo: desde séculos passados, sabe-se que a Igreja Católica monopolizou o ensino religioso nas escolas públicas. Por quê? Porque esta é a forma mais fácil de se fazer adeptos, ou seja, influenciando-os enquanto ainda são crianças. E mais, sem custo algum. Todos os cidadãos, mesmo os não católicos pago um ensino que eles não concordam. Isto não se parece nada coma verdadeira democracia.
Bibliografia ROUSSEAU, Jean-Jacques. Euvres Completes. Vol. 4. Paris. Gallimard, 1967. CATÃO, Francisco. O fenômeno religioso. São Paulo, Editora Letras e Letras, 1995. CROATTO, José Severino. As linguagens da experiência religiosa: uma introdução à fenomenologia da religião. São Paulo: Edições Paulinas, 2001. LIMA, Maria Cristina. Deus é maior. São Paulo: PUC, pós graduação em Ciências da Religião, 2003. SOTTOMAIOR, Daniel. Ensino Religioso nas Escolas: qual deus? www.strbrasil.com.br/libertas/ensino. htm acesso em 18/02/2009.BRITO, Newton. Contra o ensino Religioso nas Escolas públicas: em defesa do Estado laico. www.strbrasil.com.br/libertas/escolas. htm acesso em 18/02/2009.