MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA



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Transcrição:

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA Nº 83/2012 - PGGB RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 606629/MG RECTE : EMPRESA UNIDA MANSUR E FILHOS LTDA. RECDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ADVOGADOS : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA : RICARDO CALAZANS MARQUES : CHRISTOFER CUNHA MANSUR : RICARDO DE CASTRO PEREIRA RELATOR : MINISTRO DIAS TOFFOLI Transporte público coletivo interestadual. Idoso. Gratuidade. Art. 40 do Estatuto do Idoso. Desnecessidade de prévia indicação da fonte de custeio para a imediata fruição do benefício. O Ministério Público Federal em Minas Gerais ajuizou ação civil pública contra Empresa Unida Mansur e Filhos Ltda, pretendendo o imediato cumprimento do disposto nos incisos I e II do art. 40 da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso). As normas garantem a gratuidade do transporte coletivo

interestadual e descontos para idosos de baixa renda. Eis os termos do art. 40: Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual observar-se-á, nos termos da legislação específica: I a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois) saláriosmínimos; II desconto de 50% (cinquenta por cento), no mínimo, no valor das passagens, para os idosos que excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos. Parágrafo único. Caberá aos órgãos competentes definir os mecanismos e os critérios para o exercício dos direitos previstos nos incisos I e II. A sentença indeferiu o pleito, em nome do princípio do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos com a Administração e por entender que o benefício somente poderia ser fruído depois de o legislador cogitar da fonte do seu custeio. O Tribunal Regional Federal da Primeira Região deu provimento ao recurso do parquet, afirmando que a gratuidade e o desconto nos transportes coletivos públicos interestaduais, no caso, prescindem da indicação da fonte de custeio. Esta a ementa do julgado: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. TRANSPORTE COLETIVO INTERESTADUAL DE PASSAGEIROS. ESTATUTO DO IDOSO. GRATUIDADE E DESCONTO NO PREÇO DA PASSAGEM. DIREITO FUNDAMENTAL SOCIAL. EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO. GARANTIA PRÓPRIA DE CONTRATO CELEBRADO MEDIANTE LICITAÇÃO. FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO ADMINISTRATIVO. 1. Dispõe a Constituição, no art. 5º, 2º, que os direitos expressos não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. 2. A lei pode estender os direitos fundamentais sociais expressamente previstos na Constituição, aplicando os princípios constitucionais pertinentes, assim como fez ao estabelecer "benefício tarifário" para os idosos no transporte coletivo interestadual de passageiros. 3. O reequilíbrio econômico-financeiro é um direito de categoria inferior e, por isso, não se pode antepô-lo ao direito fundamental dos idosos ao transporte coletivo gratuito ou incentivado. 4. As limitações administrativas, dentro de limites razoáveis, estão

implícitas na função social da propriedade ("lato sensu"). Exigir compensação sempre que a lei restringe a potencial exploração econômica seria compelir o Estado a regular mediante compra, regime evidentemente impraticável. 5. Não houve limitação desproporcional, em nome da função social do contrato administrativo de prestação de serviço público de transporte coletivo de passageiros (cuja finalidade é assegurar o direito fundamental de ir e vir), aos interesses econômicos em causa. 6. Apelação e remessa oficial a que se dá provimento (fl. 350) O recurso extraordinário da empresa alega que a ausência de previsão da fonte de custeio do benefício contraria o disposto no 5º do art. 195 da Constituição Federal. Argumenta que a decisão recorrida terminou por impôr apenas às prestadoras de serviço de transporte interestadual de passageiros um dever que haveria de ser compartilhado com o Estado, a sociedade e a família, conforme disposto no art. 230 da Constituição de 1988. - II - O Supremo Tribunal Federal registra precedente abrangendo aspectos que estão postos em debate nestes autos. No SS 3052 AgR (rel. o Ministro Gilmar Mendes, DJ 12.3.1020), suspendeu-se decisão que havia desobrigado integrantes da Associação Brasileira das Empresas de Transportes Terrestres de Passageiros (ABRATI) de transportar idosos em linhas interestaduais, gratuitamente ou com desconto. Estava em foco, então, a autoaplicabilidade do art. 40, I e II, do Estatuto do Idoso, ante o disposto no art. 195, 5º, da Constituição e à vista da garantia do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos administrativos. A discussão, portanto, guarda analogia com a espécie. É certo que o juízo formulado na Suspensão de Segurança, por sua natureza, não se presume tão aprofundado como o que se realiza em outros feitos da competência da Corte. De toda sorte, naquele julgado, foram formuladas considerações com embasamento suficiente para orientar a solução devida deste extraordinário. No julgado da relatoria do Ministro Gilmar Mendes, recordou-se que o Tribunal já julgara ser autoaplicável o art. 39 do Estatuto do Idoso.

O art. 39 da Lei nº 10.741/2003, que repete os termos do art. 230, 2º, da Constituição, refere-se à gratuidade do transporte público coletivo urbano nesse ponto sendo de abrangência mais restrita do que o preceito relevante para esta causa, que cogita de transporte interestadual (ainda que apenas tratando do idoso com a característica da baixa renda). A análise, porém, do direito a gratuidade do transporte e a sua conexão com a dignidade do idoso faz do magistério da Corte na ADI 3768 (rel. a Ministra Cármen Lúcia, DJ 26.10.2007) premissa importante para o enfrentamento do tema da gratuidade aos idosos de baixa renda em transportes coletivos terrestres interestaduais. Cabe recordar que o STF, na ação direta, proclamou que a gratuidade de transporte para o idoso transluz um direito fundamental, indispensável para a efetiva fruição do direito de locomoção, capaz de viabilizar a concretização de sua dignidade e de seu bem-estar, acrescentando que a relevância desse direito como instrumento para esse fim superior torna-o insuscetível de condicionamento posto pelo princípio da reserva do possível. Lecionou, a propósito, a Ministra Cármen Lúcia, referindo-se à reserva do possível e ao princípio do mínimo existencial: Aquele princípio haverá de se compatibilizar com a garantia do mínimo existencial, sobre o qual disse, em outra ocasião, ser 'o conjunto das condições primárias sóciopolíticas, materiais e psicológicas sem as quais não se dotam e conteúdo próprio os direitos assegurados constitucionalmente, em especial aqueles que se referem aos fundamentais individuais e sociais que garantem que o princípio da dignidade humana dota-se de conteúdo determinável (conquanto não determinado abstratamente na norma constitucional que o expressa), de vinculabilidade em relação aos poderes públicos, que não podem atuar no sentido de lhe negar a existência ou de não lhe assegurar a efetivação, de densidade que lhe concede conteúdo específico sem o qual não se pode afastar o Estado. Esses elementos foram considerados no voto do Ministro Gilmar Mendes, que colheu a adesão do Plenário no julgamento do SS 3052 AgR. O Ministro Gilmar Mendes observou, no que importa para esta causa e na linha do que então sustentara a Procuradoria-Geral da República, que suposto prejuízo ou desequilíbrio de custos na equação da prestação de serviços concedidos pode ser eventualmente

superado, a partir da autuação da própria Administração, ou desta em conjunto com as prestadoras do serviço (...). Tem-se, portanto, que o Supremo Tribunal Federal considera o direito de gratuidade de transporte para os idosos uma das incumbências da cidadania para com os anciãos, com vistas a viabilizar-lhes direitos essenciais à promoção da sua dignidade. Da mesma forma, a Corte entende que a concessão da gratuidade pelo legislador prescinde de prévia deliberação legislativa sobre fonte de custeio; antes, basta a possibilidade da recomposição do equilíbrio econômico-financeiro, se for o caso. Diante dessas premissas, não se há de ver na decisão tomada pelo Tribunal Regional Federal ofensa aos dispositivos da Lei Maior dados por infringidos. Não se há de perder de vista, ainda, que as concessões de serviço de transporte se dão no contexto de um regime de direito público, que acolhe a legislação em vigor como condição de prestação do serviço inclusive no que tange aos casos de gratuidade preestabelecidos no Estatuto do Idoso. O desfecho da causa como proposto não é colidente com o art. 230, caput, da Constituição, que não impõe uma divisão de responsabilidades em partes iguais entre as entidades a que se refere para cada ato de amparo da pessoa idosa. O parecer, assim, é pelo desprovimento do recurso extraordinário. Brasília, 5 de setembro de 2012. Paulo Gustavo Gonet Branco Subprocurador-Geral da República