MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

Transcrição

1 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA Nº 1981/ PGGB RECURDO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO Nº /DF AGRTE : PÉ DE FERRO CALÇADOS E ARTEFATOS DE COURO LTDA. AGRDO : UNIÃO ADVOGADO: PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL : RODRIGO OTÁVIO ACCETE BELINTANI : NELSON WILIANS FRATONI RODRIGUES RELATOR : MINISTRO CELSO DE MELLO - SEGUNDA TURMA Recurso extraordinário com agravo. Recurso que não ataca os fundamentos da decisão agravada. Súmula 283/STF. Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que julga recurso especial, se a questão constitucional não tem origem no STJ. Análise da violação ao art. 5º, LXIX, da CF e aos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Impossibilidade. Negativa de prestação jurisdicional. Inocorrência. Parecer pelo não conhecimento do agravo. A empresa agravante impetrou mandado de segurança contra ato que lhe exigiu o recolhimento de contribuição social previdenciária sobre os valores pagos nos 15 primeiros dias de afastamento de funcionário por motivo de doença, bem como sobre os montantes pagos a título de licença maternidade, férias e adicional de férias (terço constitucional). Apontou como autoridade coatora o Secretário da Receita Federal.

2 A sentença extinguiu o feito, sem resolução de mérito, reconhecendo a ilegitimidade passiva da autoridade tida como coatora. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região confirmou a sentença extintiva, ressaltando que o ato coator foi praticado pelo Delegado da Receita Federal do Brasil com atribuições sobre o domicílio fiscal da impetrante (Franca/SP) e que, muito embora o Secretário da Receita Federal seja o dirigente máximo do órgão de arrecadação federal, é certo que, stricto sensu, não tem poderes para desfazer o ato atacado (fl. 125, e-stj). Rejeitados os embargos de declaração, a empresa interpôs recurso especial, sustentando a legitimidade passiva do Secretário da Receita Federal com base nos arts. 1º, 2º, 3º e 7º da Lei nº /07, no art. 1º e incisos do regimento interno da Receita Federal, bem como no art. 109, 2º, da CF. Não admitido o recurso na origem, houve agravo de instrumento. A Primeira Turma do STJ manteve a decisão monocrática que negara provimento ao agravo, em acórdão com a seguinte ementa: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. SECRETÁRIO DA RECEITA FEDERAL. ILEGITIMIDADE. 1. A jurisprudência de ambas as Turmas que compõem a Primeira Seção desta Corte é no sentido de que o Secretário da Receita Federal é parte ilegítima para figurar no polo passivo do Mandado de Segurança impetrado com o fim de evitar o recolhimento de contribuições previdenciárias, uma vez que é o Delegado da Receita Federal do Brasil da jurisdição competente a autoridade coatora responsável pela arrecadação, cobrança e fiscalização de tais tributos. 2. Agravo regimental não provido. (fl. 221, e-stj) Rejeitados os embargos de declaração opostos na sequência, a empresa interpôs recurso extraordinário, alegando ofensa aos arts. 5º, LIV, LV e LXIX, 93, IX, e 109, 2º, todos da CF. 2

3 A decisão agora agravada negou seguimento ao extraordinário porque estaria prejudicada a alegação de violação ao art. 93, IX, da CF, nos termos do art. 543-B, 3º, do CPC, em virtude da decisão proferida pelo STF no julgamento da repercussão geral reconhecida no AI (DJe ). Entendeu, ademais, que o exame das ofensas aos arts. 5º, LXIX, e 109, 2º, da CF e aos princípios da inafastabilidade de jurisdição, do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa demandaria a interpretação de normas infraconstitucionais. O agravo insiste no conhecimento e provimento do extraordinário. - II - O agravo não atacou ponto-a-ponto e frontalmente os fundamentos da decisão agravada, bastando-se com a transcrição das razões do extraordinário. A incidência da Súmula 283/STF é suficiente para que o agravo não prospere. Nesse sentido: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DOS FUNDAMENTOS SUFICIENTES DA DECISÃO AGRAVADA. MERA TRANSCRIÇÃO LITERAL DAS RAZÕES APRESENTADAS NA PEÇA DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 283 DO STF. AGRAVO IMPROVIDO. I Inviável o agravo regimental quando o recorrente, limitandose a transcrever as razões apresentadas na peça do extraordinário, não desenvolve fundamentação própria destinada a infirmar os fundamentos articulados na decisão monocrática que inadmitiu o recurso. Incide, na espécie, a Súmula 283 desta Corte. II Agravo regimental improvido. (RE AgR, rel. o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe ) (grifei) 3

4 De todo modo, o extraordinário não comportaria seguimento, pois somente cabe o apelo extremo contra acórdão proferido no julgamento do recurso especial se a questão constitucional surgir originariamente no STJ. Confira-se, nesse sentido, recente precedente do STF: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. TRIBUTÁRIO. (...) ADMISSIBILIDADE DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO DE ACÓRDÃO EM RECURSO ESPECIAL. QUESTÃO CONSTITUCIONAL QUE DEVE SURGIR ORIGINARIAMENTE NO STJ. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. ( ) V A admissibilidade do recurso extraordinário interposto de julgamento de recurso especial pressupõe que a questão constitucional tenha surgido originariamente no STJ, quando do julgamento do Resp. VI Agravo regimental a que se nega provimento. (ARE AgR, rel. o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe ) (grifei) No caso dos autos, a violação ao art. 109, 2º, da CF, foi suscitada na apelação, mas a empresa não interpôs recurso extraordinário contra o acórdão do Tribunal Regional que confirmou a sentença extintiva. Nesse ponto, portanto, consumou-se a preclusão. As demais violações apontadas no extraordinário, por sua vez, ainda que tenham surgido no julgamento do recurso especial, não impressionam. As alegações de ofensa aos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, bem como ao art. 5º, LXIX, não prescindem da interpretação de normas infraconstitucionais, carecendo de questão constitucional direta, apta para a abertura da instância extraordinária. Assim é a jurisprudência do Supremo Tribunal: 4

5 AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. TRIBUTÁRIO. ( ) NECESSIDADE DE EXAME PRÉVIO DE NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS PARA VERIFICAR OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. OFENSA REFLEXA. (...) ( ) II Inviável o recurso extraordinário por ofensa aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, se, para concluir nesse sentido, for necessário o exame prévio de normas infraconstitucionais. (ARE AgR, rel. o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe ) (grifei) Por fim, não há violação ao art. 93, IX, da CF, apenas porque o acórdão recorrido não realizou o exame detalhado de cada um dos argumentos da recorrente. A jurisprudência do STF, sedimentada em repercussão geral (Tema 339), é firme no sentido de que o art. 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão (AI QO-RG, rel. o Ministro Gilmar Mendes, Plenário, DJe ). Por essas razões, o parecer é pelo não conhecimento do agravo. Brasília, 18 de agosto de Paulo Gustavo Gonet Branco Subprocurador-Geral da República 5