PUBLICADO EM SESSÃO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL ACÓRDÃO N 193 (15.09.98) RECURSO ORDINÁRIO N 193 - CLASSE 27 a - TOCANTINS (Palmas). Relator: Ministro Edson Vidigal. Recorrente: Coligação "Tocantins para Todos" (PMDB/PC do B/PPS/PSD), por seus Delegados. Recorrido: José Eduardo Siqueira Campos e outro. Advogados: Drs. Leonardo Fregonesi Júnior, José Perdiz de Jesus e outros. RECURSO ORDINÁRIO. TITULAR DE CARGO ELETIVO. RENÚNCIA. PARENTES. CANDIDATURA. IMPUGNAÇÃO. 1. Renunciando o Governador nos seis meses anteriores ao pleito eleitoral, permite-se aos parentes o direito de concorrer, no território de jurisdição do titular afastado, a cargos diversos do que este ocupava. 2. Recurso a que se nega provimento. Vistos, etc, Acordam os Ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos termos das notas taquigráficas em anexo, que ficam fazendo parte integrante desta decisão. Sala de Sessões do Tribunal Superior Eleitoral. Brasília, 15 de setembro de 1998. Ministro MIMAR GALVÃO, Presidente Ministro EDSON VIDIGAL, Relator /ICMJ.
RO n 193-TO. 2 RELATÓRIO O SENHOR MINISTRO EDSON VIDIGAL: Senhor Presidente, a Coligação "Tocantins Para Todos" impugnou o pedido de registro de José Eduardo de Siqueira Campos, candidato ao cargo de Senador, e de Thelma Menezes Siqueira Campos, candidato ao cargo de primeiro suplente de Senador, por considerá-los inelegíveis, a teor da Constituição Federal, Art. 14, 7 o, posto que são filhos do ex-governador José Wilson Siqueira Campos. O Pleno do TRE-TO negou provimento à impugnação. O Acórdão foi resumido nesta Ementa: "REGISTRO DE CANDIDATURA. IMPUGNAÇÃO. PARENTE DE GOVERNADOR QUE RENUNCIA 06 MESES ANTES DO PLEITO. CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE PARA OUTROS CARGOS. CONHECIMENTO. IMPROVIMENTO. Havendo a renúncia do Governador nos 06 (seis) meses anteriores ao Pleito, conforme faculta o 6 o da Constituição Federal, é permitido aos parentes o direito de concorrer, no território de jurisdição do titular que se afasta, a cargo diversos do que este ocupava ( 7 o, art. 14, CF). Unânime." Daí a interposição deste Recurso Ordinário. Após discorrer sobre os dispositivos constitucionais relativos a ineiegibilidade de parentes, desde a Carta de 1891 até a atual, a Coligação "Tocantins Para Todos" sustenta que o Acórdão recorrido afrontou a CF, Art. 14, 7 o, uma vez que a renúncia de José Wilson Siqueira Campos ao governo estadual teve o único objetivo espúrio de, burlando a lei de regência, viabilizar as candidaturas de seus filhos. Contra-razões às fls. 120/8.
RO n 193-TO. 3 do recurso. A Procuradoria-Geral da República é pelo não provimento Relatei. VOTO O SENHOR MINISTRO EDSON VIDIGAL (Relator); Senhor Presidente, a questão já foi abordada, por ocasião do julgamento do Recurso Ordinário n 192, do qual fui relator. Naquela oportunidade, então me manifestei: "Carlos Maximiliano ensina: 'Entenda-se bem: na obrigação de decidir sempre, não se compreende a prerrogativa do juiz - de substituir o legislador, em parte, como pretende a escola de Kantorowicz. Se a lei não contém explícita, nem implícita decisão sobre o caso, o magistrado declara que, perante o Direito vigente o litigante não tem ação (...) Quanta dúvida resolve, num relâmpago, aquela síntese expressiva - interpretam-se restritivamente as disposições derrogatórias do Direito comum!(.) O seu intento é tirar da regra tudo o que na mesma se contém, nem mais, nem menos.(...) o brocardo sintetiza o dever de aplicar o conceito excepcional só à espécie que ele exprime, nada acrescido, nem suprimido ao que a norma encerra, observada a mesma, portanto, em toda a sua plenitude'" (Hermenêutica e Aplicação do Direito, Forense, 11 a Ed., Pags. 52/235 e 236). A inelegibilidade diz respeito a um estado jurídico negativo consubstanciado na impossibilidade de um cidadão ser votado num processo eleitoral. Destarte, por determinar restrições aos direitos políticos do cidadão, as normas que definem facttispecies de inelegibilidade devem ser analisadas de forma restritiva.
RO n 193-TO. 4 A boa hermenêutica não deixa quaisquer arestas interpretativas em sentido contrário. No tema, José Afonso da Silva entende que: "O princípio que prevalece é o da plenitude do gozo dos direitos políticos positivos, de votar e ser votado. A pertinência desses direitos ao indivíduo, como vimos, é que o erige em cidadão. Sua privação ou a restrição do seu exercício configura exceção àquele princípio. Por conseguinte, a interpretação das nonvas constitucionais ou complementares relativas aos direitos políticos deve tender a maior compreensão do princípio, deve dirigir-se ao favorecimento do direito de votar e de ser votado, enquanto as regras de privação e restrição hão de entender-se nos limites mais estreitos de sua expressão verbal, segundo as boas regras de henvenêutica."' (Curso de Direito Constitucional Positivo, Malheiros, 14 a edição, p. 364). A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), art. 21, 1, consagra o seguinte princípio: "Toda pessoa tem direito de participar no Governo de seu país, diretamente ou por meio de representantes livremente escolhidos." Reza o nosso Código Eleitoral, logo no seu art. 3 o : "Qualquer cidadão pode pretender investidura em cargo eletivo, respeitadas as condições constitucionais e legais de elegibilidade e incompatibilidade." Ao interpretarmos as normas eleitorais, devemos, pois, ter sempre em mente uma visão voltada para a plenitude do exercício dos direitos políticos do cidadão. A restrição a esse direito deve ser compreendida sempre como exceção e, portanto, claramente definida na legislação de regência. Esclarece Tito Costa: "A regra geral é a elegibilidade. Qualquer cidadão, em principio, desde que esteja no pleno exercicio de seus direitos políticos, é elegível para qualquer cargo público, atendidas as exigências ou restrições legais."
RO n 193-TO. 5 Neste caso, entende a Coligação recorrente que o Acórdão recorrido afrontou a CF, Art. 14, 7 o, que assim determina: " 7 o. São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afíns, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição." Neste caso, os recorridos, candidatos ao Senado e à Suplência, são filhos de ex-governador de Estado. Diante da renúncia de Siqueira Campos, não há se falar na inelegibilidade de seus filhos, candidatos ao cargo de Senador e a sua 1 a Suplente, vez que os membros desta Corte, ao interpretar o art. 14, 7 o, da Lei Magna, assim concluíram: "(...) O cônjuge e parentes a que se refere o art. 14, 7 o, da Constituição, podem concorrer, no "território de jurisdição" do titular, desde que este renuncie até seis meses antes do pleito. 5. A emenda Constitucional n 16, de 04.06.97, que alterou a redação do 5 o do art. 14, da Constituição, em nada modificou a compreensão do 7 do referido art. 14." (Resolução/TSE n 20.114, Rei. Min. Néri da Silveira, DJ de 03.06.98). Pelo que, nego provimento ao recurso. É o voto.
RO n 193-TO. 6 EXTRATO DA ATA RO n 193 - TO. Relator: Ministro Edson Vidigal. Recorrente: Coligação "Tocantins para Todos" (PMDB/PC do B/PPS/PSD), por seus Delegados. Recorrido: José Eduardo Siqueira Campos e outro (Adv s: Drs. Leonardo Fregonesi Júnior, José Perdiz de Jesus e outros). Usaram da palavra, pelo Recorrente, o Dr. Gastão de Bem e pelo Recorrido, o Dr. José Perdiz de Jesus. Decisão: O Tribunal negou provimento ao Recurso. Unânime. Presidência do Exmo. Sr. Ministro limar Galvão. Presentes os Srs. Ministros Maurício Corrêa, Sydney Sanches, Eduardo Ribeiro, Edson Vidigal, Eduardo Alckmin, Costa Porto e o Dr. Geraldo Brindeiro, Procurador-Geral Eleitoral. SESSÃO DE 15.09.98. /mos.