UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina Morgana G. Martins Krieger Resenha American Review of Public Administration.



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Transcrição:

UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina Escola Superior de Administração e Gerência Centro de Ciências da Administração e Sócio-Econômicas Mestrado Profissional Gestão da Co-Produção do Bem Público Fundamentos de Co-Produção do Bem Público Profa. Paula Schommer Prof. José Francisco Salm Morgana G. Martins Krieger Resenha ROBERTS, N. Public Deliberation in an age of direct citizen participation. American Review of Public Administration. V. 34, n.4, p. 315-353, dec 2004. Ao escrever este artigo, Nancy Roberts almeja apresentar a realidade das iniciativas de participação social nos Estados Unidos, e caracterizá-las como positivas ou negativas, realizando análises destas conclusões para dar bases à formação de mais ou novas teorias sobre participação direta. A autora parte do princípio de que a participação dos cidadãos é a pedra fundamental da democracia, mas que esta apresenta alguns dilemas quanto à sua aplicação. A democracia participativa hoje demonstra ser não somente desejável, mas também viável, visto que os cidadãos possuem maior conhecimento e habilidade para participar do processo decisório público, por isto devem ser encontrados meios de dissolver os dilemas. Depois de percorrer o campo histórico e conceitual de participação, a autora define seu próprio conceito: participação do cidadão é definida como o processo pelo qual os membros da sociedade que não possuem cargo administrativo no governo dividem poder com oficiais públicos, com o objetivo de fazer decisões substantivas e agir em prol da comunidade. Levantando os aspectos positivos da participação - entre eles o fato de ser um processo educativo, de desenvolvimento e integrativo, e também levantando os aspectos negativos - como

a ingenuidade do processo, a consideração de que parte do falso pressuposto de que os cidadãos pensam no bem como e de que o processo participatório toma tempo e conhecimento hoje não existentes, a autora chega aos dilemas encontrados atualmente na efetivação da participação direta. É interessante notar que neste momento a autora dialoga com as diferentes escolas da administração pública, apresentando argumento de cada uma delas. Os argumentos a favor da participação popular são característicos do Novo Serviço Público partindo do pressuposto de que a cidadania está conectada com a capacidade do indivíduo de influenciar o sistema político, o processo de participação é considerado um processo de aprendizado que emancipa os indivíduos e que os torna parte integrante do processo político. Já os argumentos contrários à participação advêm da Velha Administração Pública, da Public Choice e da Nova Gestão Pública. Estas escolas levantam principalmente a falta de eficiência em colocar o cidadão como participante ativo de um processo de deliberação política e que esta participação coletiva se dá somente por objetivos particulares (auto-interesses), e a existência de uma ética da responsabilidade. A participação também é influenciada pelo sistema que rege o governo e os papeis que são esperados dos cidadãos e dos administradores dentro de cada um destes quadros. Estes sistemas partem desde os autoritários, passam pelas estruturas representativas e administrativas, até chegar a um sistema que se baseia no aprendizado social. É relevante apontar que os sistemas que têm maior possibilidade participação são aqueles que possuem aspectos da multidimensionalidade humana, trazida por Guerreiro Ramos a sociedade é multicêntrica, o homem se empenha em atividades substantivas e o sistema de governo é capaz de fomentar estas políticas. Ainda, a autora levanta como principal meio de alcançar a participação verdadeira dos cidadãos o processo de deliberação política, formando um julgamento público frente aos problemas severos/riscos que atingem os indivíduos. E equiparando à Arendt, este julgamento público certamente vai contra a massificação social, visto que promove o diálogo. Neste diálogo há a revelação da identidade pessoal do sujeito, deixando-se interligar à teia social que o faz humano e político, livre dentro do conceito de esfera pública liberdade de ação.

Concluindo, Roberts afirma que estamos chegando a uma era de participação direta, que esta permeia todas as esferas públicas e que novas formas estão surgindo mas que ainda há tensões. Estas tensões, importante mencionar, são passíveis de deixarem de existir se nos adaptarmos a elas, e isto pode ser garantido com a adaptação completa ao Novo Serviço Público, como apresentado por Denhardt. Outline do artigo Objetivo do artigo: documentar e descrever experimentos sociais de participação direta e em como eles se enquadram no que já foi produzido de literatura sobre o assunto até então; e interpretar os resultados desses experimentos sociais, a fim de construir melhor teoria sobre participação direta. Desafios e dilemas da participação direta a. Definição da participação Legal, Ética substantiva; b. Histórico da Participação Direta: cidades-estado da Grécia, história Norte-Americana; 2 mudanças: 1) máximo envolvimento de minorias e dos pobres; 2) passa de participação obrigatória para participação recomendada (mesmo que isto não tenha se dado na prática); c. Quem deveria gerenciar o sistema e como? Nos Estados Unidos: elite eleita representativamente. d. Ambivalências do sistema: i. Aspectos positivos: 1. Desenvolve capacidades humanas; 2. O processo é educativo e gera um ciclo virtuoso de participação e de pensamentos sobre o bem-comum; 3. O processo é integrador e terapêutico, fazendo com que as pessoas não se alienem e aumentando o senso de pertencimento; 4. Legitima as decisões, gerando estabilidade no sistema; 5. Participação é liberdade, visto que o cidadão é o seu próprio mestre; 6. É um instrumento que garante a democracia para todos, servindo como um mecanismo para aqueles que não tem poder desafiar aqueles que o têm. 7. A participação é realista, visto que não há mais como governar um país sem participação.

ii. Aspectos negativos: 1. Participação é baseada na falsa noção de que o homem padrão é benevolente, tem espírito democrático e deseja o bem comum, e por não ser assim, a sociedade precisa de um grupo de pessoas para governá-la; 2. A participação direta é ineficiente, sendo muito devagar e consumindo muitos recursos; 3. Participação é politicamente ingênua, tendo a oligarquia como uma necessidade orgânica da sociedade; 4. Não é realista, visto que precisa de habilidades, recursos, dinheiro e tempo que a maioria das pessoas não possuem; 5. A participação direta é desruptiva para o sistema, visto que pode causar conflitos políticos, destrutivos da estabilidade social, causadores de baixa auto-estima, alienação e desconfiança, e ainda não assegura o prevalecimento do bem público. 6. Participação direta é perigosa e pode levar ao extremismo. e. Dilemas da participação direta: i. Dilema do tamanho; ii. Dilema dos grupos excluídos ou oprimidos; iii. Dilema do Risco; iv. Dilema da tecnologia e expertise; v. Dilema do tempo e crise; vi. Dilema do bem comum. Teoria administrativa e participação direta Qual o papel do cidadão em uma sociedade democrática? O papel do cidadão tem relação mútua com o papel do administrador, devendo haver compatibilidade mútua entre seus papeis. Quando um se altera, o outro também deveria se alterar, mas não é assim que acontece, visto que a mudança não acontece de maneira organizada. Estamos atravessando um momento de mudanças devido a forças externas, alterando o papel esperado da administração pública, e a participação está dentro deste processo, visto que ela coloca os termos e condições para a cidadania e para a visão do papel do administrador. Modelos de Administração Pública e os Papéis dos Cidadãos e Administradores:

1. Cidadão como sujeito, em um sistema autoritário em que o administrador funciona como link direto entre o povo e uma força reguladora maior (religião ou política); 2. Cidadão como eleitor, gerando envolvimento partidário e contribuição política. Neste modelo os administradores são accountable a seus eleitores; 3. Cidadãos como clientes em um Estado administrativo, tem como valor maior a eficiência maior resultado a menor custo administradores são profissionais selecionados e promovidos com base em competências e méritos boas decisões públicas dependem de planejamento e gestão fiscal centralizada, e o povo não tem conhecimento técnico suficiente para isto; 4. Cidadão como grupo de interesse que advoga em um sistema pluralista, sendo que a democracia é mais bem alcançada através de ação coletiva. Como cada grupo atua em um interesse específico, com o amplo mandato, os grupos podem exercer controle entre si para chegar ao bem maior. A função administrativa do governo é organizar estes grupos para que todos tenham acesso igual ao sistema; 5. Cidadão como consumidor/cliente em uma economia política/mercado, neste modelo prevalece o individualismo e a busca de auto-interesse. A confiança do consumidor frente à política é a mesma que a de um cliente frente ao mercado. Há separação entre direção e serviços do poder público. Os serviços públicos podem ser divididos com outros setores da sociedade, gerando um sistema mais complexo e gestão de redes; 6. Cidadão como voluntário co-produtor na sociedade civil, e o foco reside nesta. Há possibilidade de dois papeis para o engajamento cívico: a) voluntário em atividades não pagas e b) co-produção gerada através de cooperação entre cidadão e administradores para reformular e entregar serviços públicos em maior quantidade e qualidade; 7. Cidadão como co-aprendiz em um processo de aprendizagem social, que leva a novas soluções, geradas através de colaboração entre cidadãos, oficiais públicos e empregados. Traz a perspectiva do diálogo apresentada por Hanna Arendt e Guerreiro Ramos. O governo é facilitador do processo de aprendizado objetivo.` Arenas de Participação Direta A participação pode ocorrer em todos os níveis governamentais, mas são mais evidentes localmente. Possui importante papel em todos os estágios da política pública. Sempre há tensão entre experts e cidadãos, dominam de acordo com o maior grau de profissionalização gera muita separação e falta de envolvimento, piora quando os técnicos não têm visão do todo, principalmente das minorias. O poder deve ser redistribuído. Quanto maior a dissatisfação entre cidadãos, maior a necessidade de participação direta.

Mecanismos de participação direta Métodos convencionais de participação somente englobam uma pequena parcela dos cidadãos, e geralmente acontece somente como passagem unilateral de informação. Mas estes mecanismos podem ser analisados através de outras perspectivas, com a participação individual, a participação em grupos, em grandes grupos ou, ainda, a cyberdemocracia. Como podemos conseguir ter um processo de participação direta mais abrangente e ainda ser um ato deliberativo que gera julgamento público e não opinião pública? O julgamento público é mais difícil de ser alcançado em um grande número de pessoas. Além dos mecanismos e do alcance dos mesmos, o processo em si também é importante, visto que dá garantia e legitimidade aos mecanismos em si. Avaliações da participação direta Duas questões principais: 1. Como aliar o papel do cidadão com a participação esperada do mesmo; 2. O avaliador deve tentar se manter neutro no processo, não deixando o seu conceito de participação influenciar no resultado da avaliação: a análise deve ser feita em cima do modelo administrativo proposto. Caso da Philadelphia, Caso da California. Os casos práticos indicam que o processo de democracia direta efetivo e autêntico requer diálogos e deliberação, e as barreiras a esta participação requer um processo de aprendizado construído sobre empoderamento e educação dos cidadãos, reeducação dos administradores, e ativando estruturas administrativas e processos que permitam interação entre cidadãos e administração. Os cidadãos se tornam mais ativos quando estão insatisfeitos com algo. Construindo teorias de participação direta A participação direta ainda é um campo bastante novo, com muitos estudos de caso, mas com poucos cortes transversais para formular uma teoria. Há duas possibilidades: a) diminuir a complexidade das estruturas de participação e b) desenvolver regras empíricas baseadas em teoria normativa. Mesmo estas duas aproximações requerem mais testes de campo em diferentes contextos.

Ainda, teorias podem ser baseadas quanto ao nível de análise, se é em nível micro, meso ou macro. Conclusão Participação direta é permeada por toda a estrutura governamental, e as formas de participação direta estão aumentando ainda mais. Porém, ainda há tensão. Dilemas 1) Dilema do tamanho a tecnologia está criando formas revolucionárias de participação. Por exemplo: a reconstrução do World Trade Center; 2) Dilema dos grupos excluídos ou oprimidos pode aumentar devido ao uso de tecnologias a que estas pessoas não possuem acesso, mas há possibilidades de evitar esta exclusão desde que o governo possua um papel ativo nesta inserção; 3) Dilema do risco riscos trazidos pela tecnologia podem ser conversados com a população através de participação direta, tendo como possível solução a consciência crítica como processo de aprendizado; 4) Dilema da tecnologia e da experiência ainda há uma batalha entre tecnocracia e democracia, mesmo que os processos de deliberação estejam unindo cidadãos com experts; 5) Dilema do tempo é resolvido quando outras variáveis como impacto, eficácia e aprendizado social são colocados na fórmula. Ainda, problemas severos, mesmo que demandem mais tempo em processos democráticos participativos, exigem a participação para não se transformarem em futuras crises; 6) O dilema do bem comum algumas iniciativas geram o julgamento comum, através da formação de espaços públicos para discussão. Próximos Passos A participação direta, mesmo vista como necessária, é ainda um ideal que está sendo seguido. A prática encontra-se em contínua busca de novas formas e técnicas que nos permitam estar diretamente engajados na criação de espaço público para aprendizado. A diferença entre o estado ideal de participação e a realidade nos dá energia para continuar seguindo com o processo. Há dois caminhos: acompanhar e avaliar práticas inovadoras; construção de novas teorias. A prática sempre deve vir junto com distribuição de poder fim do dilema da expertise, fim do dilema dos grupos minoritários.

A grande discussão ainda remete a quando a participação direta deve ser utilizada, visto que não pode ser incluída em todos os atos públicos a autora considera que pelo menos os problemas severos devem ter suas soluções baseadas em valor e não somente em aspectos técnicos.