Megaeventos esportivos: cidade, cultura e desenvolvimento sustentável GILMAR MASCARENHAS (Programa de Pós-Graduação em Geografia/UERJ) IV Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Recife, 15 a 19 de agosto de 2011
Para debater a cultura Otília Arantes (2000) : negócio das imagens como nova fronteira de acumulação capitalista, um verdadeiro culturalismo de mercado. Frederic Jameson (2000) salienta esta integração crescente entre a estética e a produção de mercadorias, dentre estas, a própria cidade.
We need to remove this people (...) In the city we only need people who are able to pay (...) when we develop the city we ll make it expensive. There s no other way. (Pronunciamento do conselheiro municipal de Johanesburgo sobre resistência cidadã à política de remoção de populações pobres da área que circunda o Estádio Ellis Park, remodelado para a Copa do Mundo. Benit-Gbaffou, 2009, p.209). We don't want the World Cup because these people come with their own rules and in the end it's the locals that suffer. (Eviction fighter Lewellyn Wilters, - membro de uma das familias removidas para construção de estacionamento na Cidade do Cabo - BBC News, 2 de junho de 2010)
Cidade do Cabo e o novo estádio Green Point
Como chegamos a este ponto? (origens e metamorfoses do esporte ) Valores: o iluminismo e o cristianismo muscular (mens sana in corpore sano) Codificação e institucionalização das práticas esportivas (clubes, escolas, universidades) O esporte, controle social e subjetivação capitalista O espetáculo esportivo é mercadoria e lazer urbano: nascem os grandes estádios O lado romântico do ideário olímpico: ecumenismo e amadorismo
A trajetória de formação da aliança mídia-negócios-esporte 1932: primeira vila olímpica 1950: a Copa no Brasil 1963: Pan-americanos em São Paulo 1974 FIFA e 1980 COI: a virada O marketing no esporte Os contratos televisivos
O modelo Barcelona 1992: distribuição espacial das instalações (Jean-Pierre AUGUSTIN, 1996)
BARCELONA 1992: um mito? Respeito ao Plano Diretor pós-franquismo: principio do equilíbrio urbano Tentativa de suprir carências locais de infra- estrutura esportiva Expansão do sistema metroviário para a periferia metropolitana
Rio de Janeiro: Opinião pública sobre o Pan2007 variação temporal: julho/2007, novembro/2007 e maio/2008. (237 entrevistados) 100% 95% 90% 85% 80% 75% 70% 65% 60% 55% 50% 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Excelente Bom Regular Ruim Péssimo Julho (durante os jogos) Novem bro (4 m eses depois) M aio de 2008
Pan 2007: algumas lições para o futuro Vila Pan-americana (Barra da Tijuca): construtora Agenco, com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), inteiramente destinado à classe média alta, zona de fronteira de expansão especulativa, área de terreno turfoso encareceu a obra e exige monitoramento constante. Marina da Glória (aterro do Flamengo): projeto privado em parque público tombado previa edificações que contrariavam a preservação paisagística; atuação dos movimentos sociais junto ao IPHAN e Ministério público impediram tal intervenção
Outros problemas Estágio Olímpico João Havelange Engenhão (Engenho de Dentro): padrão construtivo internacional, porém de elevado custo; suscita dúvidas quanto ao uso futuro, e apresenta problemas de acessibilidade. O Centro de Formação de Talentos não será construído. Estádio de Remo (Lagoa), demolição parcial do estádio de 1951, tombado pelo patrimônio estadual, projeto privado de implantação de shopping e cinemas, finalmente embargado judicialmente em outubro/2007. Retomado recentemente, em conflito com associação de moradores
Santo domingo 2003: balanço dos legados
Santo Domingo 2003: consolidando a cidade segregada
África do Sul 2010 A entrada do continente africano no mapa das copas: dívida histórica e a estratégia da FIFA A primeira no hemisfério sul desde 1978, a primeira na periferia mundial desde 1986. Os movimentos sociais e a repressão política Remoções de comunidades 8 cidades-sedes, 9 estádios (5 construídos e 4 reformados) superdimensionados e ao custo de 4 bilhões de dólares. Legado urbanístico excludente: Bus Rapid Transit (BRT) O fracasso turístico
Brasil 2014: Insustentabilidade econômica e questão cultural Risco: o Pan-2007 produziu na cidade do Rio de Janeiro instalações esportivas de padrão internacional, porém mal geridas e pouco utilizadas. Além de gasto público exorbitante Novos estádios: metade das cidades (Natal, Cuiabá, Manaus, Belém, Recife e Brasília) não possui clube na primeira divisão do campeonato brasileiro. Quase 100% investimento público. Insustentabilidade econômica. o Plano de Mobilidade Urbana prevê a aplicação de 40 bilhões de reais nas cidades-sede, criando ou ampliando linhas de metrô e BRTs, mas sem qualquer consulta popular, e promovendo remoções forçadas.
O CASO DE RECIFE Há lugar para mais um estádio na cidade? Os três principais clubes (resistência cultural pernambucana), abandonarão seus estádios, identidade e patrimônio histórico? Produziremos um elefante branco?
Rio de Janeiro 2016: perspectivas Concentração na Barra da Tijuca (ainda...) Inserção autoritária e elitista na zona portuária O subúrbio como representação Ausência de transparência e de canais democráticos Ressuscita a remoção de favelas
Circo sem pão: os excluídos da festa, e sua resistência A festa milionária Elefantes-brancos Cidade de exceção (Vainer, 2011) Remoções em massa Histórico e dimensão planetária das resistências
ANDRANOVICH, G., BURBANK, M. e HEYNG, C. Olympic cities: lessons learned from Mega-Event Politics. Journal of Urban Affairs, v.23, n.2, pp. 113-131, 2001. HARVEY, David. Do gerenciamento ao empresariamento: a transformação da administração urbana no capitalismo tardio. In: Espaço & Debates, nº 36, 1996, pp. 48-64. MASCARENHAS, G. O ideário urbanístico em torno do olimpismo. Barcelona (1992) e Rio de Janeiro (2007): Os limites de uma apropriação. In: PEREIRA, E. (org.) Planejamento Urbano no Brasil: conceitos diálogos e práticas. Xapecó: Argos, 2008. PRAICHEUX. J. Pour une lecture géopolitique de la performance olympique. In:, MATHIEU, D., ERRAIS,B. Géopolitique du Sport.Besançon: Université de Franche-Comte, 1990. SCHEKER, L.O. Los Panamericanos em rojo. Santo Domingo: Punto Mágico, 2003.
MUITO OBRIGADO! gilmasc2001@yahoo.com.br