Educação Ambiental: Implantação em uma Escola de Surfe

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Transcrição:

Educação Ambiental: Implantação em uma Escola de Surfe Irapajy da Silva Caetano¹, Luciano Mazzucca da Gama¹, Walter Barrella². ¹Aluno do Curso de Mestrado em Ecologia na Universidade Santa Cecília, Santos, BR. Email: pajy1@ig.com.br ²Professor do Curso de Mestrado em Ecologia na Universidade Santa Cecília, Santos, BR. Resumo O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de como utilizar uma escola de surfe para promover a educação ambiental. O local escolhido foi a Escola Radical de Surfe localizada na praia da Pompéia em Santos SP, com uma média de 1600 alunos por ano, onde atende crianças, adolescentes, adultos, terceira idade e pessoas com necessidades especiais. Considerando a escola de surfe como possível local para aprender sobre meio ambiente e ecologia (temas geradores), os professores durante seis meses se propuseram a uma vez por semana, iniciar ou terminar a aula, apresentando e discutindo com o grupo de alunos cinco eixos temáticos (poluição, animais marinhos, canais da cidade de Santos, previsão de ondas e clima) de forma crítica, emancipatória e prazerosa. As aulas ocorreram com a turma o período matutino de janeiro a julho de 2014. O principal objetivo da Escola Radical de Surfe é ensinar a cultura deste esporte milenar e as nuances das várias formas de se divertir deslizando uma onda. Competição, lazer e recreação fazem parte deste contexto educacional, cultural e esportivo. Apesar das turmas serem heterogêneas com idade variando entre 5 e 75 anos, ao final do sexto mês todos já viam a praia e o mar de forma diferente do início de sua aprendizagem. Palavras chaves: Educação Ambiental, Surfe, Educação Física, Praia. An Environmental Educational program in a Surfing School Abstract The objective of this study is to report the experience of using a surfing school to promote environmental education. The venue was the Radical Surf School located on the beach of Pompeii in Santos - SP, with an average of 1,600 students per year, which serves children, adolescents, adults, seniors and people with special needs. Considering the surf school as a possible place to learn about the environment and ecology (generator themes), teachers for six months proposed to once a week, start or end the class, presenting and discussing with the group of five themes students (pollution, marine animals, canals of the city of Santos, wave forecast and climate) critically, emancipatory and enjoyable. Classes took place with the class the morning period from January to July 2014. The main objective of Surfing Radical School is to teach the culture of this ancient sport and the nuances of the various ways to have fun slipping a wave. Competition, leisure and recreation are part of this educational, cultural and sporting context. Although the classes are heterogeneous aged between 5 and 75 years, at the end of the sixth month everyone already saw the beach and the sea differently from the beginning of their learning. Key words: Environmental Education, Surfing, Physical Education, Beach. Metodologia de Ensino em Ecologia de Campo Página 103

Introdução Segundo o Caderno Semes 3 (PMS, 1996) o primeiro registro de surfe foi feito pelo Capitão da Marinha Britânica, James Cook, em 1778 no Havaí. Eram indígenas, conhecidos como polinésios e, de acordo com Cook, deslizavam sobre as ondas e eram eméritos marinheiros, pescadores e entendiam de todo ambiente a sua volta. Faz parte da cultura do surfe descrever o ambiente, pois a todo o momento surfistas precisam prever e tomar decisões como medidas de segurança e diversão. Encontros frequentes com seres marinhos fazem parte dessa atividade física. Isso cria curiosidade, busca de saberes, e nesses momentos em uma escola de surfe o professor tem a possibilidade de instigar os alunos com informações que geram mais curiosidade e conhecimento. A esse respeito Paulo Freire (1996) cita que O exercício da curiosidade a faz mais criticamente curiosa, mais metodicamente perseguidora do seu objeto. Quanto mais a curiosidade espontânea se intensifica, mas, sobretudo, se rigoriza, tanto mais epistemológica ela vai se tornando. Carvalho (2008), na tentativa de trazer à luz a educação ambiental ao território urbano, fala da amplitude que considera qualquer tipo de desequilíbrio biossocial, seja este relacionado a problemas ambientais físicos propriamente ditos: poluição, redução da biodiversidade, queimadas e desertificação; sejam estes referentes a problemas sociais, tais como: a fome, a miséria e/ou qualquer tipo de injustiça social. A partir destas ideias ecológicas, o aluno de surfe orientado por seus professores pode perceber e atuar no ambiente ao qual este inserido, de forma educacional, social, histórico cultural, política e ideológica (CARVALHO 2008, FREIRE 1981,1996). Além desses fatos os praticantes de surfe podem ficar horas dentro d água e compreender informações sobre o que está ocorrendo no seu ambiente de prática esportiva, portanto podem auxiliar no desenvolvimento de atitudes que visem preservar e ensinar sobre o ambiente ao qual exploram. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de como utilizar uma escola de surfe para promover a educação ambiental. Material e Métodos Após um curso com biólogos e discussões entre o próprio grupo docente da Escola Radical de Surfe, na época composta por três professores de Educação Física, os Metodologia de Ensino em Ecologia de Campo Página 104

professores durante seis meses se propuseram uma vez por semana antes de iniciar a aula ou termina-la, ensinar e discutir com o grupo de alunos cinco eixos temáticos de forma crítica, emancipatória e prazerosa. O grupo de professores escolheu como tema gerador (FREIRE 1981) Ecologia e Meio Ambiente com cinco eixos temáticos: poluição, animais marinhos, canais da cidade de Santos, previsão de ondas e clima. Todos os eixos temáticos são correlacionados num entendimento único do ambiente e ecologia da praia da Pompéia e da própria cidade de Santos/SP. Para a realização desta proposta de ensino, as aulas de educação ambiental eram realizadas preferencialmente nos dias de poucas ondas, antes do aquecimento ou ao final da aula prática de surfe, quando o grupo permanecia em média dez minutos, conversando sobre alguns dos eixos temáticos que tivessem sentido naquele dia. A aplicação dos eixos temáticos não tinha dias fixos, pois o ambiente das aulas é aberto e dinâmico. Para os dias com mau tempo (raios, ventanias e chuva forte) ocorreram aulas em ambientes fechados (dentro da escola de surfe), com imagens, vídeos sobre a natureza e histórias da cidade de Santos/SP. Foram escolhidos 60 alunos correspondentes a turma de Surfing (Esporte que surfa em pé) e Bodyboarding (Esporte que surfa deitado) do período matutino com idades variando entre 5 e 75 anos. A avaliação qualitativa foi realizada de forma indireta, no início de cada aula os alunos falavam o que sabiam do assunto proposto naquele dia e, a partir daquele ponto, o eixo temático escolhido era iniciado, tudo era registrado. A cada construção de conhecimento realizada pelo grupo de alunos, eram acrescentadas mais informações e debates sobre o tema. Os professores discutiam entre si depois de cada aula realizada, visando modificar ou ampliar assuntos de conflito. O material utilizado nas aulas a céu aberto foi máquina fotográfica, balde, lupa, pinça, pá, copo de plástico transparente e sugador de areia. Na Tabela 1 são apresentadas algumas possibilidades trabalhadas com os alunos respeitando os eixos temáticos e tomando cuidado para conectar os assuntos à atividade de surfe. Tabela1: Eixos temáticos divididos de acordo com a disponibilidade das ondas. Eixos Exemplos de assuntos abordados Exemplos de assuntos Metodologia de Ensino em Ecologia de Campo Página 105

Temáticos Poluição Animais marinhos Canais Previsão de ondas Clima em dias com poucas ondas ou sem ondas: Pellets; Bitucas de cigarros; Lacre de latas; Tampinhas; Siris; Moluscos; Cracas; Função dos canais; Histórias dos canais santistas; Visitar sites de previsão de ondas; Formação das ondas. Visitar sites de previsão do tempo; Tipos de nuvens. abordados em dias com ondas: Plásticos; Embalagens; Madeiras; Óleo. Águas vivas; Golfinhos; Tubarão; Tartarugas; Peixes. Caminhadas e exercícios próximos aos canais. Confirmar previsão de ondas; Realizar gráficos de ondas. Ventos predominantes; Rosa dos ventos. Resultados e Discussão Todas as aulas realizadas foram registradas com o intuito de aprimorar os conhecimentos ministrados em aula que ocorreram no período de 14 de janeiro a 16 de julho. Foram colocadas em prática 25 aulas, sendo que os eixos poluição e animais marinhos ocorreram em 56% do total de aulas. A possível explicação está no fato de o ambiente dinâmico facilitar a vivência desses assuntos na prática. Na Figura 1 são apresentadas as frequências de aplicação dos cinco eixos temáticos durante as aulas. Metodologia de Ensino em Ecologia de Campo Página 106

35 30 25 % 20 15 10 5 0 Poluição Animais marinhos Canais Previsão de ondas Clima Figura 1: Frequências (%) de aplicação dos cinco eixos temáticos durante as aulas de surfe na praia da Pompéia, Santos, SP. Em nossa avaliação qualitativa todos os alunos que participaram aumentaram seu autoconhecimento sobre os temas abordados, pois a cada nova discussão havia a possibilidade de explorar mais dos assuntos. Como não existe interrupção entre os eixos temáticos os alunos já faziam perguntas que relacionavam o ambiente natural com o ambiente produzido pelo homem. Os eixos poluição e animais marinhos foram os mais discutidos nas aulas, possivelmente por ser visível a quantidade de plásticos e outros poluentes e pelo material biológico despertar a curiosidade e interesse pelos alunos em todos os momentos. A presença de animais que não eram percebidos pelos alunos, como moluscos e crustáceos, foi discutida em muitas conversas entre alunos e professores. A aplicação dos eixos previsão de ondas e clima foi realizada com menor frequência que os eixos poluição e animais marinhos, entretanto foi muito utilizado para prática de surfe pelos alunos, sendo observado pelos professores em sua rotina de aula. O eixo temático canais foi o menos discutido nas aulas, possivelmente pelo fato atípico de menos chuvas no período e, assim, as comportas dos canais foram poucas vezes abertas e não dispersaram poluentes de seu interior, ocasionando poucos debates sobre o assunto. Metodologia de Ensino em Ecologia de Campo Página 107

Conclusão A experiência da implantação da educação ambiental em uma escola de surfe foi um desafio que gerou importantes discussões sobre as relações entre atividade física e meio ambiente, temas que necessitam de grande atenção em nossa sociedade, especialmente nos dias atuais. Os assuntos iniciados a partir do conhecimento dos alunos, respeitando a individualidade, facilitaram avaliar e perceber as mudanças de comportamento em relação à praia e a consciência ambiental. Essa avaliação qualitativa e indireta foi uma boa estratégia e opção para a educação ambiental na praia. Outro fator considerando positivo foi a aplicação das atividades propostas sem nenhum prejuízo ao desenvolvimento da prática de surfe pelos alunos. Agradecimentos A Leonardo Zanzine e Carolina Leite professores da Escola Radical de Surfe pelo esforço e comprometimento na execução das aulas. Referências Bibliográficas CARVALHO, Vilson Sérgio. Educação Ambiental Urbana. Rio de Janeiro: WAK, 2008. FREIRE, PAULO. Ação cultural para a liberdade. 5ª ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1981. (O Mundo, Hoje, v. 10). FREIRE, PAULO. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa / Paulo Freire. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura). PMS - PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTOS, SEMES. A História do Surfe em Santos. Santos, SP: Prodesan Gráfica, 1996. Metodologia de Ensino em Ecologia de Campo Página 108