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Transcrição:

FEITO PGT/CCR/PP/Nº 17461/2012 DO Origem: PRT 11ª Região Interessado 1: Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA Interessados 2: Marcelo Dantas Interessado 3: Ministério Público do Trabalho Assuntos: Trabalho Análogo ao de Escravo / Tráfico de Trabalhadores e Trabalho Indígena Procuradora oficiante: Jaqueline Coutinho Silva DENÚNCIA QUE NOTICIA TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS AS DE ESCRAVO. A gravidade dos fatos alegados na denúncia e a necessária defesa dos princípios que regem a dignidade da pessoa humana e da valorização do trabalho, aconselham, in casu, a não homologação da proposta arquivatória, diante da ausência, nos autos, de mais apurada investigação da irregularidade imputada ao denunciado. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado com gênese em ofício encaminhado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ao Ministério Público do Trabalho, noticiando a realização de operação na Região de Apuí / AM, 1

em que constatada a existência de trabalhadores em condições análogas de escravo. Narra o referido ofício, verbis: Cumprimentando-lhe cordialmente considerando que estamos realizando Operação de Fiscalização na região de Apui/AM, informo que durante uma abordagem foram flagranteados 20 trabalhadores recrutados para praticarem desmatamento ilegal em localidade com acesso pela rodovia BR- 230 (Tranzamazônica), 80 km após a cidade de Apuí/AM, sentido Apuí-AM Jacaré Acaenga PA. Segundo o coordenador da operação, os trabalhadores encontram-se em situação análoga ao trabalho escravo. Diante do exposto, caso esta Procuradoria pretenda realizar diligência na região, colocamos nossa equipe à disposição para esclarecimentos e ação conjunta, se pertinente grifos nossos. Solicitadas novas informações ao denunciante, a fim de que fornecesse mais detalhes acerca dos fatos noticiados, o Ibama encaminhou novo ofício, aduzindo, verbis: (...) Todos os envolvidos que foram encontrados pelo Ibama e Polícia Militar foram encaminhados à delegacia de policia civil no município de Apuí, onde foram coletados depoimentos e contou com a presença do Gerente Executivo do Ibama em Humaitá e a Promotora de Justiça de Apuí. Cabe informar-lhe que o acusado como mandante do desmatamento e responsável por contratar os 15 homens para realizar o desmatamento, já foi identificado em março do ano de 2011 e multado por destruir floresta. Encaminho em anexo copia dos processos administrativos abertos para apurar o caso. 2

Através de denúncias recebidas na semana passada, no Ibama, fomos informado que houve novo recrutamento para completar o desmatamento na fazenda. O Ibama já está em contao com o setor de fiscalização do TEM par articular nova operação grifos nossos. Às fls. 14/15 e 22/50 constam os depoimentos prestados perante a autoridade policial pelos envolvidos na operação realizada pelo Ibama. Em seguida, a i. Procuradora do Trabalho oficiante promoveu o arquivamento do procedimento (fls. 122/124), sob os seguintes fundamentos, verbis: (...) Em 20.06.2012, o Ibama informou (fl. 11) que todos os envolvidos que foram encontrados pelo Ibama e Policia Militar foram encaminhados à delegacia de polícia civil do município de Apuí, onde foram coletados depoimentos, na presença da promotora de justiça e do gerente executivo do Ibama. Destacou, ainda, que o mandante do desmatamento e responsável pela contratação dos trabalhadores já havia sido identificado desde 2011. Por fim, acrescentou ter recebido denúncia de que novo recrutamento estaria acontecendo para completar o desmatamento local. (...) Os depoimentos dos 12 (doze) trabalhadores e os demais documentos juntados revelam que o recrutamento dos obreiros está, de fato, ocorrendo no estado do Pará, nos municípios de Itaituba e Novo Progresso, por intermédio de um Sr. Chamado Luizão e a mando de um Sr. De nome Marcelo Dantas, para realização de desmatamento para criação de pastagem. 3

Por outro lado, o Relatório de Fiscalização de fls. 62/63 registra que desde 2011 está acontecendo desmatamento em terra públicas, em áreas de floresta especial de preservação, a mando do Sr. Marcelo Dantas, CPF nº942.384.481-20, residente à Av. João Ateles da Silva, nº286, Centro, Novo Progresso/PA, CEP 69.193-000, o qual chegou a ser autuado em 06.05.2011 por destruir 2520219 hectares de floresta amazônica. (...) Verifica-se, pois que os fatos em apreço dizem respeito à ocorrência de crime, demandando, por conseguinte, ajuizamento de ação na esfera penal. Nota-se que o Ministério Público do Estado do Amazonas já está ciente da situação (fl. 11, 70, 115). Não há nos autos noticia de ciência do Ministério Público do Estado do Pará, que se entende conveniente. Por outro lado, a ordem jurídica somente confere validade ao contratto que tenha objeto lícito e o contrato de trabalho não foge essa regra. No caso em apreço, as atividades exercidas pelos trabalhadores encontrados pelo Ibama caracterizam-se como crime e/ou concorrem diretamente para a atividade criminosa. Frisa-se, por oportuno que vários dos trabalhadores ouvidos declararam, inclusive, conhecer a ilicitude da sua conduta. Nesse quadro, considerando que o ordenamento jurídico pátrio nega qualquer repercussão de caráter trabalhista quando se trata de relação cujo objeto é a prática de ato ilícito e tendo em conta, ainda, que, nos termos do art. 83 da Lei Complementar nº75/93, as atribuições do Ministério Público do Trabalho são exercidas perante a Justiça do Trabalho, entende-se não ser o caso de continuidade das investigações, já não haveria qualquer utilidade do ponto de vista trabalhista. Por fim, entende-se conveniente a ciência do Ministério Público do Estado do Pará e a remessa de cópia dos autos à Procuradoria Regional do Trabalho da 8ª Região, para o caso de entender cabível alguma atuação quando ao aliciamento que está ocorrendo nos municípios de Itaituba e Novo Progresso, 4

respeitada, por óbvio, a independência funcional dos respectivos membros Em seguida, sobrevem aos autos oficio encaminhado pelo i. Procurador do Trabalho, Dr. Vitor Bauer Ferreira de Souza, lotado na Procuradoria do Trabalho no município de Santarém/PA, informando que a representação encaminhada àquela PTM pela i. Colega oficiante neste procedimento, a partir de cópia integral dos autos, foi indeferida liminarmente, consoante fls. 133/135. autos a esta Relatora. Por distribuição deste feito no CCR/MPT, vieram os É o relatório. VOTO - FUNDAMENTAÇÃO A matéria versada nestes autos mostra-se sumamente relevante às missões e metas prioritárias institucionais que cabem ao Ministério Público do Trabalho, já que relacionada à denúncia de ocorrência de manutenção de trabalhadores em condições análogas as de escravo, o que reclama, sobremaneira, a atenção deste Parquet laboral. 5

Data maxima venia dos argumentos esposados pela i. Colega oficiante, entende-se não ser a hipótese, ao menos neste momento, de encerramento das investigações. Analisando detidamente a promoção de arquivamento de fls. 122/124, verifica-se que o encerramento do procedimento baseou-se no caráter de ilícito penal dos fatos atribuídos à investigada. Segundo a d. Colega proponente, os trabalhadores recrutados pelo senhor Marcelo Dantas para a atividade de desmatação de área florestal declararam perante a autoridade policial que tinham ciência da ilicitude de suas condutas, e, ainda, segundo a promoção de fls. 122/124, teriam contribuído ou exercido diretamente a atividade criminosa prevista no art. 38 da Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais) 1. Todavia, pelas razões a seguir expostas não se comunga, neste voto, de tal conclusão. Compulsando os autos, observa-se que após a juntada dos depoimentos prestados pelos obreiros na Polícia Civil do Estado do Amazonas, a i. Procuradora oficiante, sem o empreendimento de qualquer outra diligência, promoveu o arquivamento do expediente sob os argumentos já acima delimitados. A situação versada na peça de ingresso, 1 Lei nº9.605/98. Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. 6

portanto, não foi analisada com mais afinco, restringindo-se o Órgão Ministerial oficiante à leitura das peças oriundas da autoridade policial. Com efeito, os fatos noticiados na denúncia (existência de trabalhadores em condições análogas as de escravo), infelizmente, constituem situação corriqueira havida nos estados da região norte do Brasil. A atividade de desmatamento, rotineiramente, está associada ao recrutamento de trabalhadores em outros estados do país, mediante falsas promessas de recebimento de significativas quantias pelos serviços que seriam prestados. A situação descrita nos presentes autos, ao menos neste primeiro momento, não aparenta ser diferente. De fato, por meio de fiscalização empreendida pelo Ibama foi constatada a existência de cerca de 20 trabalhadores em provável situação análoga à de escravo, isolados em localidade afastada de centros urbanos e alojados de forma precária e degradante em meio à floresta amazônica. Nesse sentido a Orientação nº 04 da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conaete): Condições degradantes de trabalho são as que configuram desprezo à dignidade da pessoa humana, pelo descumprimento dos direitos fundamentais do trabalhador, em especial os referentes à higiene, saúde, segurança, moradia, repouso, alimentação ou outros relacionados a direitos da 7

personalidade, decorrentes de situação de sujeição que, por qualquer razão, torne irrelevante a vontade do trabalhador. Ora pelos elementos contidos nos autos não há como se afirmar que situação encontrada pelo Ibama na área de desmatamento restrinja-se a um ilícito penal. Se, por um lado, alguns obreiros tenham declarado perante a autoridade policial sua ciência de que é crime a derrubada sem autorização do órgão competente, por outro lado, não lhes foi indagado se tinham conhecimento de que as atividades em específico e no local da prestação laboral que desempenhavam não estavam devidamente permitidas, não podendo se inferir, dessa forma, que tais trabalhadores tivessem a real ciência e dimensão do provável ilegal desmatamento. Ademais, a só ação ou trabalho de desmatamento não constitui ilícito por si só, sendo-o apenas nos casos previstos na Lei nº9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), razão pela qual, de plano, não é recomendável afirmar-se constituir o ilícito denunciado como de caráter puramente penal ou criminal. Outrossim, os depoimentos prestados no âmbito policial não são lineares, havendo contradições e lacunas até então não esclarecidas (Haveria cerceamento de liberdade? Estariam os trabalhadores em dívida com o aliciador? As condições de trabalho seriam degradantes e 8

colocariam em risco suas integridades física e psíquica?) razão pela qual o encerramento do presente procedimento com supedâneo somente em tal documentação revela-se medida prematura, sobretudo em razão da importância dos bens jurídicos em cheque a dignidade, a liberdade e a própria vida do trabalhador. Ainda assim, cabe salientar a definição trazida pelo Código Penal Brasileiro do crime previsto em seu artigo 149: Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: Pena. reclusão de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. 1º Nas mesmas penas incorre que: I. cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; II. mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. 2º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido: I. contra criança ou adolescente; II. por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. Ou seja, o ordenamento jurídico pátrio não limita a definição de situação análoga à de escravo a um suposto cerceamento de liberdade ou retenção de documentos, sendo suficiente para sua 9

caracterização a existência de um ambiente de trabalho degradante ou uma jornada exaustiva. Destaque-se, ainda, que o próprio denunciante informou haver identificado e autuado o responsável pela contratação dos trabalhadores, havendo notícia de que um novo recrutamento estaria prestes a ocorrer, motivo pelo qual se ofereceu para, caso pertinente entendesse o i. Órgão Ministerial oficiante, atuação em ação conjunta com o Ministério Público do Trabalho, o que encontra total respaldo na Orientação nº01 da CONAETE: Os Membros do Ministério Público do Trabalho, quando participarem de operações para erradicação do trabalho escravo, deverão atuar de forma coordenada com os demais parceiros, realizando prévia reunião com os representantes dos demais órgãos para definição das prioridades, da forma de abordagem, das atribuições, da divulgação de informações e demais procedimentos a serem adotados na operação. Por conseguinte, o encerramento do presente procedimento, sem o devido aprofundamento investigatório dos ilícitos nele denunciados, em sua inteireza e complexidade, demonstra ser medida descabida e precipitada, não havendo como se homologar a promoção de fls. 122/124. Por último, ressalte-se que o recrutamento de trabalhadores em regiões distintas daquela onde serão prestados os 10

serviços, não constitui, por si só, ilícito laboral, sendo certo que, em casos como o dos presentes autos (redução de trabalhadores à condição análoga a de escravo) possui o aliciamento viés instrumental, consubstanciando-se o dano coletivo somente quando da efetiva prestação de serviços de forma indigna e degradante. Nesse diapasão, ao contrário do afirmado pelo d. Órgão oficiante, considerando o disposto no art. 2ª da Lei da Ação Civil Pública 2 e tendo em vista que o dano coletivo, caso comprovado, teria efetivamente ocorrido no âmbito da PRT 11ª Região, justificar-se-ia, portanto, o ajuizamento de eventual ação civil pública naquela localidade, razão pela qual se impõe o prosseguimento das investigações. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de NÃO HOMOLOGAR o arquivamento proposto pela Exma. Procuradora do Trabalho, Dra. Jaqueline Coutinho Silva, às fls. 122/124 do presente expediente administrativo, determinando o retorno dos autos à origem para regular processamento. Deixo, no entanto, de aplicar o 2 Lei nº7347/85 Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa. 11

inciso II, do 4º, do art. 10 da Resolução CSMPT nº69/07, devendo a designação atender às práticas da Regional. processamento. Retornem os autos à origem para regular Brasília, 14 de dezembro de 2012. VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR RELATORA ffpam 12