Biometria ultrassónica vs biometria de coerência óptica com o Lenstar LS 900



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Transcrição:

Oftalmologia - Vol. 37: pp.161-166 Artigo de Revisão Biometria ultrassónica vs biometria de coerência óptica com o Lenstar LS 900 Raquel Almeida 1,7, José Guilherme Monteiro 2,7, Gil Calvão Santos 3,7, Patrícia Neves 4,7, Raquel Leitão 4,7, M. Conceição Manso 5, José Salgado Borges 6,7 1 Interna Complementar de Oftalmologia; 2 Consultor do Serviço de Oftalmologia; 3 Assistente Hospitalar de Oftalmologia; 4 Técnica de Ortóptica; 5 Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa, Porto; 6 Director de Serviço; 7 Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga. RESUMO Introdução: O objectivo deste estudo foi determinar se existe concordância entre um novo biómetro de coerência óptica e a biometria ultrassónica na realização da biometria e cálculo da potência da lente intraocular (LIO) para cirurgia de catarata. Métodos: Estudaram-se 201 olhos de 109 doentes programados para cirurgia de catarata. Realizou-se biometria ultrassónica (US) de contacto com o OcuScan RxP e biometria de coerência óptica (OPT) com o Lenstar LS 900. Compararam-se (teste t para medidas repetidas e análise de Bland-Altman) os valores de comprimento axial (CA), profundidade da câmara anterior (PCA) e potência da LIO, calculada pela fórmula SRK/T, medidos pelos dois aparelhos. Resultados: Os valores do CA foram de 23,18 ± 0,59 mm com a OPT e de 23,00 ± 0,57 mm com a US (p <0,001). Para a PCA os valores foram de 3,21 ± 0,39 mm e de 3,13 ± 0,34 mm (p <0,001) com a OPT e US, respectivamente. A potência da LIO foi de 22,30 ± 1,49 D com a OPT e de 22,73 ± 1,34 D com a US (p <0,001). Conclusão: Nos últimos anos houve um aumento da exigência no que concerne à precisão do cálculo da potência da LIO, quer para a cirurgia de catarata, quer para a implanto-refractiva. Os resultados obtidos com a biometria OPT e a US estão correlacionados. Terá todo o interesse veri- Palavras-chave Biometria; Catarata; Lente intraocular; Lenstar LS 900. ABSTRACT Introduction: The aim of this study was to verify the agreement between the new optical coherence biometer Lenstar LS 900 and ultrasound biometry, when used for biometry and intraocular lens (LIO) power calculation for cataract surgery. Methods: 201 eyes of 109 patients scheduled for cataract surgery were evaluated. Applanation ultrasound biometry (US) was performed with the OcuScan RxP and optical coherence biometry (OPT) with the Lenstar LS 900. The axial length (CA), anterior chamber depth (PCA) and LIO power, calculated by SRK/T formula, obtained by the two devices were compared (paired sample t test and Bland-Altman analysis). Results: The values of CA were 23.18 ± 0.59 mm with the OPT and 23.00 ± 0.57 mm with the US (p < 0.001). For PCA the values were 3.21 ± 0.39 mm and 3.13 ± 0.34 mm (p < 0.001), Vol. 37 - Nº 3 - Julho-Setembro 2013 161

Raquel Almeida, José Guilherme Monteiro, Gil Calvão Santos, Patrícia Neves, Raquel Leitão, M. Conceição Manso, José Salgado Borges respectively with the OPT and the US. The LIO power was 22.30 ± 1.49 D with the OPT and 22.73 ± 1.34 D with the US (p < 0.001). Conclusion: In recent years there has been an increased requirement for accuracy in LIO power calculation, either for cataract and implanto-refractive surgeries. The results obtained with the OPT and the US biometers are correlated. It will be of interest to verify, after surgery, which of the methods gives the smaller error. Key-words Biometry, cataract, intraocular lens, Lenstar LS 900. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas a cirurgia de catarata evoluiu graças ao progresso da tecnologia, materiais utilizados e aperfeiçoamento da técnica cirúrgica. Actualmente, este procedimento curativo também tem um intuito refractivo, cujo sucesso depende do rigor da biometria. A biometria ultrassónica, ainda hoje considerada por muitos como goldstandard, é comparada com novos instrumentos, que utilizam diferentes princípios de funcionamento e cujo rigor e concordância podem e devem ser avaliados. 1,8 cia óptica do Lenstar LS 900 (Haag-Streit Ag, Köniz/ Switzerland) usa um díodo superluminescente com comprimento de onda de 820 nm 4. Neste aparelho, as refracções das diferentes estruturas oculares como córnea, cristalino e retina, são interferometricamente combinadas com valores de referência. O sinal de interferência da ção do Lenstar é baseada em física óptica, com determinados padrões ópticos bem determinados, cuja tecnologia, índices de refracção e algoritmos de software utilizados, 11. Com apenas um exame, que dura cerca de 20 segundos, obtêm-se parâmetros como a espessura central da córnea (ECC), a profundidade da câmara anterior (PCA), a espessura do cristalino (EC), o comprimento axial (CA) e a queratometria poder dióptrico da córnea no meridiano mais plano (K1), no meridiano mais curvo (K2) e posição do meridiano mais curvo (AXIS). Assim, este método acrescenta muitos dados aos obtidos pela biometria convencional, os quais podem ser imediatamente usados para calcular a potência da lente intraocular (LIO) usando fórmulas com múltiplas variáveis 2,7. O objectivo deste trabalho foi comparar os valores de PCA, CA e potência da LIO, medidos por um novo método de coerência óptica e pelo tradicional ultrassom em modo A. MATERIAL E MÉTODOS Este estudo envolveu 201 olhos de 109 doentes programados para cirurgia de catarata, que realizaram biometria entre Junho e Agosto de 2012, no Serviço de Oftalmologia do Hospital de S. Sebastião, do Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga. Os doentes foram distribuídos de forma aleatória pelas técnicas de ortóptica, que os avaliaram seguindo as recomendações dos fabricantes dos dois aparelhos. A biometria de coerência óptica foi realizada em primeiro lugar, usando o Lenstar LS 900 (Haag-Streit Ag, Köniz/ Switzerland). Para a determinação por este aparelho medição para assegurar que todas as leituras fossem feitas automaticamente detectadas, assegurando-se assim que apenas as boas medições fossem utilizadas. Na biometria ultrassónica foi usado o OcuScan RxP (Alcon, Fort Worth, EUA) e os valores de queratometria foram medidos em separado pelo queratómetro Tonoref II (Nidek, Gomagori, Japão). O protocolo de biometria com ultrassom incluiu a instilação de uma gota de anestésico tópico (oxibuprocaina a 0.4%) cerca de dois minutos antes do exame. Não foram incluídos no estudo os doentes em que a biometria indicava potência da LIO inferior a 18 ou superior a 25 dioptrias (D). Foram também excluídos os doentes corneana ou retiniana, catarata densa, trémulo ou incapacidade de posicionamento adequado. O valor de potência da LIO foi calculado pela fórmula SRK/T com constante A de 119,20 ou 119,10 para a OPT e US, respectivamente. Usaram-se os valores correspondentes ao erro refractivo mais próximo da emetropia ou o primeiro valor negativo. do CA e da PCA foram introduzidos numa folha de cálculo Excel e a análise estatística foi feita com SPSS (vs.20.0). Calcularam-se as médias e respectivos desvios-padrão, medianas e respectivos percentis 25 e 75. A comparação de 162 Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia

médias para as variáveis medidas sob dois métodos diferentes foi realizada pelo teste t para medidas repetidas (paired p ciente de Spearman. A concordância entre os valores obtidos pelos dois aparelhos foi observada através do método de Bland-Altman e calculada através da correlação intraclasse (intraclass correlation, ICC). RESULTADOS Estudaram-se 201 olhos de 109 doentes, 37 do sexo masculino e 72 do sexo feminino. A média das idades foi de 73,11 ± 7,80 anos. Os valores do CA foram de 23,18 ± 0,59 mm com a OPT e de 23,00 ± 0,57 mm com a US (p <0,001). Para a PCA os valores foram de 3,21 ± 0,39 mm e de 3,13 ± 0,34 mm (p <0,001) com a OTP e US, respectivamente. A potência da LIO foi de 22,30 ± 1,49 D com a OPT e de 22,73 ± 1,34 D com a US (p <0,001) (quadro 1). Os valores determinados por ambos os aparelhos estão <0,001) no que diz respeito ao CA e PCA, assim como em relação à potência da LIO, com valores de r de Spearman de, respectivamente, 0.947, 0.919, e 0.863 (quadro 2). A análise de Bland-Altman foi usada para avaliar a con- mediu essa concordância (quadro 2). Graf. 1 Distribuição de observações de potência da lente intraocular, profundidade da câmara anterior e comprimento axial medidos com biometria ultrassónica e de coerência óptica. DISCUSSÃO O interesse do estudo comparativo dos dois aparelhos e de funcionamento nos dois casos. Na biometria ultrassónica há contacto entre a sonda e um ponto corneano que se pretende que corresponda ao eixo óptico, que pode ser difícil de determinar se os componentes oculares não forem paralelos, enquanto na biometria de coerência óptica não há 10. Por esta razão, o segundo método é mais susceptível de ser alterado por problemas do doente, seja a existência de trémulo Tabela 1 Estatísticas para potência da lente intraocular, profundidade da câmara anterior e comprimento axial medidos com biometria ultrassónica e de coerência óptica. Variáveis n Média (± DP) Mediana (P25 - P75) Min - Max p* LIO US 201 22,73 (± 1,34) 23 (22-23,8) 19,5-25 LIO OPT 201 22,30 (± 1,49) 22,5 (21,5-23,5) 18,5-27,5 PCA US 201 3,13 (± 0,34) 3,1 (2,9-3,3) 2,5-4,4 PCA OPT 201 3,21 (± 0,39) 3,2 (2,9-3,4) 2,5-5,8 CA US 201 23,00 (± 0,57) 23 (22,6-23,5) 21,5-24,2 CA OPT 201 23,18 (± 0,59) 23,2 (22,7-23,7) 21,5-24,3 * teste t para medidas repetidas (paired sample t test) CA, comprimento axial; LIO, lente intraocular; OPT, biometria de coerência óptica; PCA, profundidade da câmara anterior; US, biometria ultrassónica. <0,001 <0,001 <0,001 Tabela 2 Correlação r Spearman p Intra-Class Correlation IC 95% ICC p LIO US vs LIO OPT 0,863 <0,001 0,894 0,786-0,939 <0,001 PCA US vs PCA OPT 0,919 <0,001 0,921 0,869-0,949 <0,001 CA US vs CA OPT 0,947 <0,001 0,943 0,696-0,978 <0,001 CA, comprimento axial; LIO, lente intraocular; OPT, biometria de coerência óptica; PCA, profundidade da câmara anterior; US, biometria ultrassónica. Vol. 37 - Nº 3 - Julho-Setembro 2013 163

Raquel Almeida, José Guilherme Monteiro, Gil Calvão Santos, Patrícia Neves, Raquel Leitão, M. Conceição Manso, José Salgado Borges Grafs. 2 e 3 Correlação linear (à esquerda) e análise de Bland-Altman (à direita) da potência da lente intraocular medida por biometria ultrassónica e de coerência óptica. Grafs. 4 e 5 Correlação linear (à esquerda) e análise de Bland-Altman (à direita) da profundidade da câmara anterior medida por biometria ultrassónica e de coerência óptica. Grafs. 6 e 7 Correlação linear (à esquerda) e análise de Bland-Altman (à direita) do comprimento axial medido por biometria ultrassónica e de coerência óptica. 164 Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia

ou impossibilidade de manter a imobilidade, seja por alte- patologia corneana, glaucoma ou degenerescência macular. Por outro lado, há também diferença entre o que é medido por cada aparelho enquanto o US mede o comprimento axial do vértice da córnea à membrana limitante interna da retina ao longo do eixo óptico, o OPT mede a distância até ao epitélio pigmentar da retina ao longo do eixo visual. Mas é preciso não esquecer que o método US, obrigando ao contacto da sonda com a córnea, é susceptível de alterar o comprimento axial por indentação da córnea, o que não sucede com o OPT. dos meios ópticos. Entretanto, a indentação corneana pode levar a comprimentos axiais falsamente curtos, o contacto do transdutor com o olho do doente comporta um risco não desprezível de infecção e a introdução manual dos valores de queratometria pode introduzir um erro. O método óptico é mais agradável para o doente, como demonstrado no estudo de Connors et al. em que a maioria dos doentes preferiu um exame de não-contacto 3. Além disso, com este método obtém-se mais informação, com a vantagem adicional de ser num tempo único com um único aparelho. Neste estudo observou-se que tanto os valores do CA como os da PCA foram mais elevados com a OPT, com que está de acordo com o que foi anteriormente referido em relação ao modo de medição de cada um dos aparelhos e à possibilidade de algum grau de indentação corneana pelo método de contacto. Esta diferença estatisticamente - os dois aparelhos 2 de 0.894, 0.921 e 0.943 respectivamente para a potência da LIO, PCA e CA, revelam uma forte correlação entre os valores medidos pelos dois métodos. A análise de Bland- -Altman, que é um melhor examinador de modelos de discordância entre medições do que o valor obtido pelo índice de correlação intraclasse, está de acordo. Estes resultados estão de acordo com outros estudos de comparação da biometria US com a OPT 5,9,12,13. Na prática clinica, tem-se assistido nos últimos anos a um aumento da exigência no que concerne à precisão e rigor do cálculo da potência da LIO, quer para a cirurgia de catarata, quer para a implanto-refractiva. Quando existem diferentes formas de medir a mesma variável, tem interesse saber em que medida os vários métodos são concordantes e até que ponto podem ser usados de forma indistinta 6. Quando comparado com a biometria ultrassónica, a biometria de baixa coerência óptica com o Lenstar LS 900 demonstrou alta reprodutibilidade relativamente ao CA, PCA e cálculo da potência da LIO. Terá todo o interesse obtém o menor erro refractivo. REFERÊNCIAS robserver repeatability of ocular components measurement in cataract eyes using a new optical low coherence 2011; 249: 83-87 - sound biometry on intraocular lens power calculation. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol 2011; 249: 69-75 3. Connors R 3rd, Boseman P 3rd, Olson RJ. Accuracy and reproducibility of biometry using partial coherence interferometry. J Cataract Refract Surg 2002; 28: 235-238 4. Cruysberg LP, Doors M, Verbakel F, Berendschot TT, De Brabander J, Nuijts RM. Evaluation of the Lenstar LS 900 non-contact biometer. Br J Ophthalmol 2010; 94: 106-110 5. Holzer MP, Mamusa M, Auffarth GU. Accuracy of a new partial coherence interferometry analyser for biometric measurements. Br J Ophthalmol 2009; 93: 807-810 6. Jasvinder S, Khang TF, Sarinder KK, Loo VP, Subrayan V. Agreement analysis of LENSTAR with other techniques of biometry. Eye (Lond) 2011; 25: 717-724 - ned using noncontact optical biometers LenStar LS 900 and IOL Master V.5. Klin Oczna 2011; 113: 47-51 8. Leaming DV. Practice styles and preferences of ASCRS members--2003 survey. J Cataract Refract Surg 2004; 30: 892-900 9. Lege BA, Haigis W. Laser interference biometry versus ultrasound biometry in certain clinical conditions. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol 2004; 242: 8-12 10. Olsen T. Calculation of intraocular lens power: a review. Acta Ophthalmol Scand 2007; 85: 472-485 11. Rohrer K, Frueh BE, Wälti R, Clemetson IA, Tappeiner C, Goldblum D. Comparison and evaluation of ocular biometry using a new noncontact optical low-coherence Vol. 37 - Nº 3 - Julho-Setembro 2013 165

Raquel Almeida, José Guilherme Monteiro, Gil Calvão Santos, Patrícia Neves, Raquel Leitão, M. Conceição Manso, José Salgado Borges 12. Santodomingo-Rubido J, Mallen EA, Gilmartin B, Wolffsohn JS. A new non-contact optical device for ocular biometry. Br J Ophthalmol 2002; 86: 458-462 13. Tappeiner C, Rohrer K, Frueh BE, Waelti R, Goldblum D. Clinical comparison of biometry using the non-con- 900) and contact ultrasound biometer (Tomey AL-3000) in cataract eyes. Br J Ophthalmol 2010; 94: 666-667 Os autores não têm qualquer interesse comercial nos equipamentos descritos. CONTACTO Raquel Sofia Ribeiro Almeida Casa da Quintã, nº 659 4815-426 - Caldas de Vizela raquelribeiroalmeida@gmail.com 166 Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia