Janeiro 2012 Perspectivas para a balança comercial da Argentina: a forte seca que atinge a Argentina poderá reduzir as exportações de commodities e aumentar a importação de energia, com reflexos importantes sobre a meta de superávit estabelecida para 2012. [pág. 02] Criação da Secretaria de Comércio Exterior: vinculada ao Ministério de Economia, a nova Secretaria é chefiada por Beatriz Paglieri. Dentre outras competências, o órgão se tornou responsável por temas de defesa comercial e pelo controle das licenças não automáticas. [pág. 02] Comércio bilateral em números: em 2011, a corrente de comércio entre Brasil e Argentina registrou recorde de US$ 39,6 bilhões, com superávit de US$ 5,8 bilhões para o Brasil. Apresentam-se, ainda, indicadores sobre a composição da pauta e os principais produtos no fluxo de comércio bilateral. [pág. 03] Escalada do protecionismo: o cenário internacional e os problemas internos enfrentados pela Argentina apontam para o agravamento das restrições comerciais e para a escalada do protecionismo no país em 2012. [pág. 04-05] Declaração jurada antecipada de importação (DJAI): a partir de 1º de fevereiro, a Receita Federal argentina (AFIP) passará a exigir informações prévias sobre todas as importações de bens para consumo. Estima-se que 79% das exportações brasileiras poderão ser afetadas pela nova medida. [pág. 04] Licenças não automáticas: Consulta realizada pela FIESP indica o aumento no acúmulo de licenças pendentes relacionadas a diversos setores exportadores brasileiros. Em alguns casos, registram-se atrasos superiores a 250 dias. [pág. 04] 1
Panorama Econômico da Argentina A expectativa para o início do segundo mandato da Presidente Kirchner, reeleita em outubro de 2011, com mais de 53% dos votos, é de continuidade da política econômica. A provável queda da safra agrícola, decorrente das secas que castigam a Argentina, deverá afetar as exportações de commodities e reduzir o superávit da balança comercial do país em 2012. As secas também podem impactar a produção hidroelétrica, levando à necessidade de aumento na importação de energia. A previsão da Consultoria Abeceb.com é de que o déficit no comércio de combustíveis, lubrificantes e energia atinja US$ 7 bilhões em 2012. O governo argentino anunciou cortes nos subsídios à eletricidade, gás e água na tentativa de equilibrar a situação fiscal do país. A inflação, todavia, persiste elevada (24,5%) e a expectativa para o crescimento do PIB argentino é de 4% em 2012 (contra 7,5% em 2011). Dados Macroeconômicos - Argentina Taxa de câmbio (peso/us$) (dez/11) 4,31 Risco país (dez/11) 920,7 Reservas (dez/11) US$ 46,1 bilhões Dívida Total (jun/11) US$ 176,6 bilhões Dívida Interna (jun/11) US$ 112,7 bilhões Dívida Externa (jun/11) US$ 63,9 bilhões Preços ao Consumidor (Abeceb - dez/11) 24,5% Preços ao Consumidor (Indec - nov/11) 7,8% Desemprego (set/11) 7,2 Ministério de Economia da Argentina Hernán Lorenzino, que ocupava o cargo de Secretário de Finanças, foi nomeado Ministro da Economia. Apesar de sua qualificação técnica e aceitação pelo setor financeiro, o perfil político de Lorenzino indica que as decisões econômicas continuarão centralizadas na Presidente Kirchner. Guillermo Moreno foi mantido como Secretário de Comércio Interior, além de ter aumentada sua influência na política comercial argentina. Moreno estabeleceu como meta para 2012 repetir o superávit de U$ 10,9, bilhões registrado em 2011. Foi criada a Secretaria de Comércio Exterior que passa a concentrar as atividades relacionadas à política de comércio exterior, incluindo defesa comercial e licenças não automáticas. A Secretaria absorveu competências que pertenciam aos Ministérios da Indústria e de Relações Exteriores. Beatriz Paglieri, considerada braço direito de Moreno, foi nomeada Secretária de Comércio Exterior. Paglieri participou da intervenção e reformulação do Instituto Nacional de Estatísticas e Censo (INDEC), responsável por medir a inflação na Argentina. Estrutura Resumida do Ministério Ministério de Economia Hernán Lorenzino Secretaria de Comércio Exterior Beatriz Paglieri Secretaria de Comércio Interior Guillermo Moreno 2
25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0-5,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0-5,0 Panorama do Comércio Bilateral A corrente de comércio entre Brasil e Argentina em 2011 registrou recorde de US$ 39,6 bilhões (aumento de 17% em relação a 2010). O saldo foi positivo para o Brasil, que apresentou significativo superávit de US$ 5,8 bilhões (aumento de 41% em relação a 2010). Evolução do comércio bilateral (em US$ bilhões) Exportações Importações Saldo 22,7 6,26,8 6,2 5,0 4,7 4,6 4,7 2,3-0,6-0,1-1,2-2,4 17,6 18,5 14,4 14,4 13,3 11,7 12,8 9,9 10,4 11,3 7,4 8,1 5,6 6,2 3,7 3,7 4,0 4,3 4,1 1,8 1,5 16,9 5,8 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Composição da pauta do comércio bilateral (fator agregado) Exportações Brasileiras para a Argentina (2011) Importações Brasileiras da Argentina (2011) Manufaturados 90% Básicos 8% Semimanuf. 2% Manufaturados 81% Básicos 16% Semimanuf. 3% Principais produtos da pauta do comércio bilateral Exportações Brasileiras para a Argentina (2011) Importações Brasileiras da Argentina (2011) Principais Produtos de Exportação US$ mi Part. Principais Produtos de Importação US$ mi Part. Automóveis de passageiros 3.617 16% Automóveis de passageiros 4.284 25% Partes e peças para automóveis e tratores 2.172 10% Veículos de carga 1.739 10% Minérios de ferro 1.355 6% Trigo em grãos 1.481 9% Veículos de carga 1.238 5% Naftas 1.051 6% Motores para veículos automóveis 789 3% Partes e peças para automóveis e tratores 760 4% Óleos combustíveis 750 3% Polímeros de etileno, propileno e estireno 365 2% Polímeros de etileno, propileno e estireno 531 2% Farinha de trigo 283 2% Tratores 518 2% Conservas de produtos hortícolas 227 1% Produtos lamin. planos de ferro ou aços 431 2% Produtos de perfumaria e cosméticos 214 1% Aviões 406 2% Gás butano liquefeito 214 1% Total 22.709 - Total 16.906 - Fonte: AliceWeb/MDIC 3
Restrições Comerciais A tendência da política comercial na Argentina para 2012 é de agravamento das medidas de controle sobre o comércio e de escalada do protecionismo com o objetivo de resguardar a indústria doméstica e manter o superávit comercial. Declaração Jurada Antecipada de Importação (DJAI) A partir de 1º de fevereiro, a Receita Federal da Argentina (AFIP) passará a exigir informações prévias sobre todas as importações de bens para consumo. Os detalhes sobre a nova exigência ainda são excessivamente vagos, o que dificulta a plena compreensão sobre seu funcionamento e alcance. Neste sentido, o governo argentino tem mantido reuniões com o setor privado para o esclarecimento da medida. A princípio, a medida atingirá todos os produtos que tenham como destino final o mercado interno argentino, incluindo bens de capital, bens intermediários e partes e peças. As únicas exceções seriam as importações sob regimes especiais, cujo ingresso definitivo na Argentina depende de análises posteriores (ex.: admissão temporária, depósito armazém e bens em trânsito). A partir do perfil das vendas brasileiras para a Argentina em 2011, estima-se que 79% das exportações brasileiras poderão ser afetadas pela nova medida, envolvendo um universo de mais de 5.500 importadores argentinos. Estimativa do impacto da medida sobre as exportações brasileiras Regime de Importação na Argentina Exportações Brasileiras para a Argentina (2011) Participação nas exportações brasileiras Futura Aplicação da DJAI Consumo 79% Declaração obrigatória Temporária 16% Depósito Armazém 4% Trânsito 1% Declaração dispensada As importações somente serão autorizadas após a concordância da Receita e de outros órgãos intervenientes, como a Secretaria de Comércio Interior, a qual terá prazo de 15 dias úteis para a análise das informações. Em nota, o governo brasileiro, por meio de seu Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), manifestou preocupação com a medida e anunciou que realizará gestões para evitar eventuais efeitos negativos para o fluxo comercial entre os dois países. Licenças não automáticas Desde o início do novo mandato, tem-se observado o aumento no prazo para a liberação de licenças não automáticas de importação. Consulta realizada pela FIESP indica atrasos significativos na liberação de licenças para calçados, máquinas, pneus, autopeças, móveis de madeira, têxteis, fios de cobre, linha branca, unidades condensadoras, ferramentas, parafusos, componentes para ônibus e trens, dentre outros produtos. Em alguns casos, registram-se atrasos superiores a 250 dias. 4
Certificados Sanitários O Secretário Moreno anunciou a empresários sua intenção de aumentar as restrições na importação de alimentos. Desde o início de 2011, têm ocorrido atrasos na concessão de certificados sanitários para produtos perecíveis, como balas, chocolates, queijos, biscoitos e massas alimentícias. Em resposta à consulta realizada pela FIESP, entidades do setor de alimentos apontam mais de 80 pedidos de certificados sanitários pendentes, em valor superior a US$ 7,5 milhões. Em alguns casos, registram-se atrasos superiores a 300 dias. Substituição de importações O governo argentino tem sinalizado que reforçará a política de substituição de importações por bens produzidos localmente. Segundo representantes de grandes cadeias de supermercados, o Secretário Moreno determinou informalmente que as empresas deixem de importar bens de consumo com similares produzidos na Argentina, bem como mantenham equilíbrio entre suas importações e exportações (política 1 por 1). Impactos das restrições argentinas sobre as exportações brasileiras (não incluída a DJAI) Pré-crise: até setembro/2008 Pós-crise: até dezembro/2011 * Valores sobre o total das exportações para o ano de 2008 (ainda não influenciado pelas restrições de 2009) **O total não coincide com a somatória linear já que várias posições estão afetadas por mais de uma medida EQUIPE TÉCNICA Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FIESP Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior DEREX Diretor Titular: Roberto Giannetti da Fonseca Gerente: Frederico Arana Meira Área de Defesa Comercial Coordenador: Abrão Miguel Árabe Neto Consultor: Domingos Mosca Equipe: Ana Carolina Meira, Carolina Cover e Jacqueline Spolador Estagiário: Bruno Alves de Lima Endereço: Av. Paulista, 1313, 4º andar São Paulo/SP 01311-923 Telefones: (11) 3549-4449 / 4761 Fax: (11) 3549-4730 5