Palavras-Chaves: Autorretratos, Educação Infantil, diversidade



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Transcrição:

AUTORRETRATOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL TALITA PEREIRA DA SILVA (UNINOVE) talita.professoradoconde@gmail.com RESUMO: Este relato de experiência refere-se a um trabalho desenvolvido no ano de 2011. O projeto Autorretratos na Educação Infantil foi desenvolvido com alunos de 4 e 5 anos na EMEI Neusa Maria Rossi em São Paulo e surge na medida em que nota-se atitudes depreciativas das crianças com relação a sua imagem e dos colegas, principalmente das meninas que sempre achavam que deveriam ser como as princesas da Disney e se consideravam fora deste padrão estereotipado.perceber que crianças tão pequenas já possuem imagens tão negativas de si mesmas mobilizou uma ação que se transforma em um projeto mais amplo desenvolvido em um semestre. O objetivo do projeto foi o de ampliar o repertório cultural das crianças a partir de suas representações sobre si e sobre o outro, valorizando a diversidade e considerando seus pontos de vista na construção de sua identidade a partir de quatro etapas desenvolvidas: Definição do trabalho e percepção de uma autoimagem; Contextos de criação; A valorização da diversidade; Finalização do projeto com a produção de um autorretrato na tela. Essas etapas foram subdividas em atividades sequenciais que levam as crianças a refletir sobre sua imagem e a do outro, levam a um sentimento de pertencimento no grupo e ao reconhecimento das suas individualidades. Ampliar o repertório das crianças a partir dos seus pontos de vista e de suas construções permite que ressignifiquem e produzam sua própria cultura, seus modos de ser criança e para consequentemente se afirmarem perante o mundo. Legitimar as ações das crianças amplia também os nossos próprios repertórios culturais e nossa concepção sobre infância. A referência principal utilizada foi Orientações Curriculares: Expectativas de Aprendizagem e Orientações Didáticas para Educação Infantil. São Paulo, 2007. Além disso, as leituras das obras de Ana Mae Barbosa e da Susana Rangel Cunha sob a perspectiva do ensino da Arte no Brasil ajudaram a redimensionar este projeto. Palavras-Chaves: Autorretratos, Educação Infantil, diversidade 1

Autorretratos na educação infantil Desde que nascem as crianças estão em contato com o seu corpo e significam o mundo através dele. A compreensão de sua imagem conduz à construção de uma identidade sólida, ampliando seu repertório de gestos a partir de seus pontos de vista e consequentemente legitima seu olhar infantil que práticas centradas no adulto obscurecem. Ao verificar que crianças tão pequenas se preocupam e tem uma imagem negativa de si, este trabalho torna-se essencial para que as mesmas expressem seus pensamentos e sentimentos e possam comunicar suas opiniões no sentido de criar uma autoestima integrada as suas experiências. (SME.DOT-EI, 2007) Ao reconhecer a individualidade de cada criança, suas características, a forma como se expressa permite a superação de estereótipos, familiarizando-a com sua própria imagem, valorizando seu modo de ser e estar no mundo. Cunha (2012) nos alerta para o papel do adulto que trabalha com crianças. O professor é o principal referencial da criança na escola e se o mesmo possui um pensamento homogeneizador pouco permitirá que os alunos e alunas construam sua própria linguagem. É fundamental que os professores se deem conta de que suas representações visuais influem no modo como as crianças produzem sua visualidade. Para que as crianças tenham possibilidades de se desenvolver na área expressiva, é imprescindível que o adulto rompa com os seus próprios estereótipos e consiga realizar intervenções pedagógicas no sentido de trazer á tona o universo da expressão infantil (CUNHA, 2012, p.16-17). Este projeto teve o intuito de encorajar as crianças a falarem sobre si, utilizando diversas linguagens, principalmente a artística de maneira interativa para que possam reelaborar significados sobre si, sobre o mundo a sua volta e sobre a diversidade, ganhando novas possibilidades de se colocar e participar ativamente. Além disso, este 2

projeto permitiu que as mesmas conhecessem autorretratos e ampliassem seu repertório cultural a partir de um trabalho centrado em sua imagem. O objetivo do projeto foi o de ampliar o repertório cultural das crianças a partir de suas representações sobre si e sobre o outro, valorizando a diversidade e considerando seus pontos de vista na construção de sua identidade a partir de quatro etapas desenvolvidas: Definição do trabalho e percepção de uma autoimagem; Contextos de criação; A valorização da diversidade; Finalização do projeto com a produção de um autorretrato na tela. Ao utilizarmos a linguagem artística para trabalhos com questões relativas à diversidade, amplia o sentido usual que este campo é explorado na Educação Infantil que se distancia do que é humano e tornam técnicas cristalizadas que não permitem que a verdadeira expressividade da criança apareça. Outro ponto a ser discutido é que muita vezes a expressividade da criança na linguagem artística é confundida com um fazer sem intenção e sem direcionamento. A falta de uma preparação de pessoal para entender Arte antes de ensiná-la é um problema crucial, nos levando muitas vezes a confundir improvisação com criatividade (BARBOSA, 2003, p.15). Às vezes o excesso de atividades expontaneístas, ao invés de provocar a ampliação da expressividade da criança, provoca uma falsa sensação de inovação e produz uma relação superficial das crianças com a Arte. As situações de aprendizagem devem ser planejadas e o professor deve acompanhar o processo expressivo da criança em constante diálogo. 1. O projeto e o registro É necessário esclarecer que as etapas do projeto foram definidas em constante diálogo com as crianças e isto permitiu verificar as necessidades de aprofundamento, ou não, de algumas atividades. Técnicas foram utilizadas, mas não de forma mecânica e a experimentação de cores e materiais esteve presente, não em uma abordagem espontaneísta. 1.1 Definições do trabalho e percepção de uma autoimagem 3

Há sempre a necessidade, em qualquer inicio de trabalho, de uma definição clara para as crianças. Dessa maneira sempre que tocarmos no assunto elas terão o mínimo de referência para interferir no trabalho desenvolvido e negociar suas etapas. Proposta de atividade: Conversar com as crianças perguntando a elas o que sabem sobre retratos. Após este questionamento perguntar as mesmas sobre o que seria um autorretrato. A partir da fala das mesmas definir o que seria um autorretrato. Primeiramente questionei as crianças sobre o que seriam retratos. Muitas responderam que seriam fotografias de uma pessoa. Então perguntei a elas sobre a possibilidade de se fazer um retrato com outros materiais e uma das crianças levantou a possibilidade de se fazer um retrato utilizado tinta, onde poderíamos pintar alguém. Fiquei surpresa quanto à resposta desta criança e quanto já possui de referências sobre retratos a partir de pinturas. Após este momento conseguimos chegar à conclusão sobre o que seria retratar alguém. Em seguida perguntei sobre o que seria um autorretrato. Uma criança respondeu que seria uma porta. Não compreendi a resposta, mas várias crianças concordaram com a resposta e afirmavam que autorretrato era uma porta. Pedi então que me explicassem melhor o que seria isto, então uma criança me disse que era o lugar que colocaríamos fotos. Assim compreendi o que queriam dizer e perguntei se falavam a respeito de porta-retratos e responderam afirmativamente, sendo assim, disse-lhes que não se tratava de porta-retratos e sim autorretratos. Para melhorar esta discussão fiz uma apresentação no Movie Maker do Windows mostrando diversos autorretratos de vários artistas famosos. Voltamos a conversar e perguntei-lhes como se chama uma pintura ou gravura que fazemos de nós mesmos. Muitos disseram autorretrato e assim percebi que compreenderam o que seria se autorretratar. Esta atividade demonstra a necessidade de se construir sentidos e significados sobre autorretratos já que durante as próximas atividades o termo irá se repetir (Registro da atividade- Julho de 2011). Proposta de atividade: Apresentar as crianças imagens de pinturas rupestres, onde aparecem impressões de mãos nas paredes das cavernas explicando que esta forma de pintura é um dos primeiros autorretratos da humanidade. Após esta contextualização propor que façamos impressões de mãos em folhas que imitem o fundo da caverna. 4

Apresentei às crianças imagens de pinturas rupestres onde a humanidade começa a mostrar a necessidade de se autorretratar. As crianças adoraram as imagens e demonstraram um grande interesse em também fazer suas impressões. Distribui as tintas nas mãos das crianças, sempre conversando sobre as diferenças de suas mãos para as dos seus colegas. Após fazermos esta impressão apreciamos o trabalho de todos da turma. Essa experiência de fazer impressão das mãos levou as crianças a conhecerem um pouco sobre a arte das cavernas. Podemos perceber que esta atividade proporcionou interações diferentes: uma mediada pela vida cotidiana( toda criança faz impressão das mãos) e outra pelo conhecimento em artes e história. Esta interação partiu do que as crianças já fazem e amplia-se no sentido de oferecer outras compreensões sobre esta ação. (Registro da atividade- Agosto de 2011) Proposta de atividade: Colocar imagens de autorretratos de Rembrant, um dos artistas que mais se autorretratou em diversos períodos de sua vida nas paredes da sala, sem questionar ou explicar algo as crianças para perceber qual o seu interesse por essas obras. Ao colocar nas paredes da sala autorretratos, sem questioná-las despertou a sua curiosidade. Muitos me perguntaram por que fazia isto e continuei em silêncio. Observei um grupo conversando e uma das meninas dizia: é um autorretrato, você não tá vendo. No dia seguinte contei a eles que se tratava de autorretratos do artista Rembrant e que ele havia feito mais de 100 autorretratos em diversos períodos da vida: jovem, adulto e mais velho. As crianças acharam muito interessante descobrir que aqueles autorretratos eram da mesma pessoa, só que em diversos períodos da vida. Esta atividade tinha o intuito de dar mais elementos sobre o significado de se autorretratar.(registro da atividade- Agosto de 2011) Proposta de atividade: Pedir às crianças que se olhem no espelho e façam massagens em seu próprio corpo. Em seguida estimulá-las a se autorretratarem utilizando materiais já conhecidos. 5

Pedi às crianças que se olhassem no espelho da escola e se observassem. Depois que todas fizeram este exercício pedi que fizessem massagens no rosto. Muitas crianças gostaram de fazer massagens e outras demonstravam timidez ao tocar no próprio rosto, então eu mesma fui passando nos grupos auxiliando. Em seguida sugeri que fizéssemos nossos primeiros autorretratos utilizando os materiais já conhecidos pelas crianças: lápis de cor, giz de cera, caneta hidrocor, etc. Distribui folhas de papel pardo e elas começaram a fazer seus desenhos. Observei que algumas crianças iniciaram o desenho fazendo paisagens. Acredito que o hábito de fazer estes desenhos prevaleceu. Então comecei a questioná-las sobre qual era a proposta e iniciaram o movimento de se autorretratar. Observei também a necessidade delas de trazer outros elementos no desenho além de si mesmos como, por exemplo, sol, nuvens, árvores etc. A partir desta atividade sinto que muitas crianças têm dificuldades em desenhar apenas a si mesmas ou se colocar como o centro de sua produção. Espero que com o tempo possamos superar a visão de que o desenho bonito é aquele que têm muitos elementos coloridos e que possam valorizar a sua imagem retratada nele. (Registro da atividade-agosto de 2011) Proposta de atividade: Utilizando pintura de rosto, deixar que as crianças se pintem ou façam desenhos nos rostos de seus colegas. Fotografar suas produções e depois mostrar a elas em outro momento. Iniciei esta atividade conversando com as crianças sobre a proposta e as mesmas a apreciaram, mas não desejavam pintar os rostos sozinhos eles pediram a mim que os pintassem. Não neguei este pedido e assim pintei os rostos das crianças de acordo com os seus pedidos. Ao pintar o rosto e se olhar no espelho as crianças criam mais referenciais para suas produções futuras e registrar a proposta por meio de fotografias também as auxiliaram neste processo. Quanto mais elementos forem dados a elas, melhores produções surgirão com o passar do tempo. No fim combinei com elas que outro dia elas mesmas deveriam experimentar pintar o próprio rosto e os dos colegas e muitos concordaram, já que ficaram mais confiantes após verem a professora pintando o rosto de todos. Quando tiveram que pintar os próprios rostos as crianças 6

demonstraram uma curiosidade que permitiu a experimentação de cores e formas, sem se preocuparem com os desenhos que surgiam.( Agosto de 2011) 1.2 Contextos de criação Após a primeira parte do projeto, onde se conceitua autorretratos e estimula as crianças a entrarem em contato com a própria imagem, iniciam-se atividades em que as produções, a partir de uma autoimagem, são privilegiadas, assim pinturas em diversos suportes e produções com diversos materiais, além de intervenções pedagógicas fazem parte destes contextos. Proposta de atividade: Pintar um autorretrato com tintas em uma folha de cartolina, outra produção a partir de um fundo claro e outra a partir de um fundo escuro. Ao iniciar esta proposta orientei as crianças para a necessidade de pensar sobre o que será feito, planejar quais cores irão utilizar e a maneira que pintarão. Na primeira produção as crianças demonstraram dificuldades em se desenharem com tintas por esse motivo pedi que desenhassem a lápis primeiro e depois pintassem. Na próxima produção sugeri que fizessem um fundo claro a partir da mistura do branco com outras cores e após a secagem pintassem sua imagem neste fundo. A orientação quanto ao uso de cores prevaleceu nesta produção e as crianças produziram autorretratos em que a imagem ficou muito bem reconhecida, isto mostra a evolução dos mesmos nessas produções. Em seguida as crianças perguntaram se iríamos fazer um autorretrato com o fundo escuro. Não estava prevista esta produção, mas as crianças insistiram que gostariam de fazê-la. Orientei-as quanto ao uso de cores na criação de um fundo escuro e me surpreenderam ao fazerem o autorretrato, quanto à escolha de cores, o que demonstra um olhar mais crítico da própria criança sobre a sua produção. (Registro- Setembro de 2011) 7

Proposta de atividade: Criar um autorretrato a partir de colagem de tecidos e outros materiais. Essa proposta cativou as crianças, já que deveriam utilizar tecidos colados na confecção de seu autorretrato. Primeiramente eles desenharam, em seguida recortaram tecidos e foram fazendo suas roupas e acessórios. A mobilização dos alunos foi impressionante e a natureza dos detalhes me surpreendeu. Além disso, demonstraram um comprometimento com a sua produção utilizando os diversos materiais e pensando no que poderia ser feito. (Registro da atividade- Setembro de 2011) 1.3 A valorização da diversidade Depois de trabalharmos a expressividade nas produções infantis, a próxima etapa privilegiará um trabalho com a diversidade, com o intuito de estabelecer relações respeitosas entre as crianças, além de construir sua imagem pessoal dentro do grupo valorizando suas características e dos demais colegas. Proposta de atividade: Conhecer a obra da artista Frida Kahlo observando como a mesma se autorretratou, as cores e objetos utilizados e em seguida conversar a respeito da diversidade. Apresentei às crianças, utilizando o Movie Maker do Window, uma série de autorretratos da artista Frida Kahlo. Contei-lhes um pouco sobre como a artista iniciou-se neste âmbito e quais foram suas motivações. As crianças ficaram muito interessadas sobre a sua origem e apreciaram muito a sua obra. Depois iniciei uma conversa sobre a diversidade perguntando-lhes se todos somos iguais e se fôssemos como seria? Uma criança respondeu que seria chato porque todos faríamos as mesmas coisas. Disse que todos temos coisas que gostamos em nós e coisas que não gostamos, coisas que sabemos e que não sabemos, mas cada um tem a sua individualidade que deve ser respeitada. O primeiro passo para o respeito é o diálogo.após essa conversa pedi aos mesmos que se autorretratassem inspirando-se nas obras apresentadas. (Registro da atividade- Outubro de 2011) 8

Proposta de atividade: Roda de conversa sobre diversidade. Os alunos exemplificaram situações, onde crianças são discriminadas por sua aparência, situações de comparação, onde a palavra feio e bonito aparecem constantemente e sobre situações vivenciadas na escola. Uns dos relatos que mais me chamou a atenção foi quanto ao corte de cabelo de um aluno que por chamar a atenção foi motivo de brincadeiras de mau gosto. A própria criança disse que não ligava para essas brincadeiras porque gostava de seu corte de cabelo e isto gerou no grupo uma valorização de sua aparência e as crianças que tiravam sarro ficaram muito apreensivas quanto à posição do grupo. Disse-lhes que brincadeiras das quais deixamos nossos colegas chateados não são propriamente brincadeiras. E muitas crianças lembraram situações constrangedoras. Ao final desta conversa lembrei que todos somos diferentes e temos a nossa importância dentro do grupo. (Registro da atividade-outubro de 2011) 1.4 Finalização do projeto com a produção de um autorretrato na tela No decorrer do projeto as crianças tiveram a oportunidade de produzir diversos autorretratos com diversos materiais e suportes. Para a finalização propus que as mesmas se autorretratassem em uma tela a partir do repertório construído ao longo do tempo. Primeiramente apresentei o material que seria utilizado e discutimos como o quadro seria feito. Combinamos que faríamos um fundo a partir de uma cor escolhida pelas crianças e depois faríamos o autorretrato. Em seguida dividi a sala em pequenos grupos e ao longo dos dias permiti que fizessem aos poucos sua produção sempre questionando quanto ao uso das cores e posição do corpo figurado na tela. As crianças apreciaram a possibilidade de se misturar diversas cores produzindo diversos tons de azul, amarelo, laranja etc., sempre me questionando quanto à possibilidade de clarear ou escurecer determinada cor. As crianças se comprometeram com suas produções e sentiram-se verdadeiros artistas. Este trabalho foi interessante na medida em que não há um modelo a ser seguido (o modelo é a própria criança) e não há uma cobrança para que o autorretrato seja fiel à realidade, sempre deixei claro que as produções são 9

deles e tiveram a liberdade para criar a partir da arte de se autorretratar.(registro da atividade Novembro de 2011) 2. Conclusão Este projeto foi desenvolvido nos meses de Julho, Agosto, Setembro, Outubro e Novembro do ano de 2011. As crianças desta turma inicialmente apresentavam dificuldades em aceitar sua imagem, demonstrando uma postura negativa, ou tinham dificuldades em considerar o outro em suas brincadeiras depreciando sua imagem. A organização do projeto favoreceu a conquista da expressividade como forma de solucionar conflitos. Observei grandes avanços na autoestima de várias crianças, principalmente das meninas que sempre achavam que deveriam ser como as princesas da Disney e se consideravam fora deste padrão estereotipado. Quanto às produções, as crianças, na medida em que as realizavam, iam cada vez mais explorando cores e texturas significando-as. Técnicas foram exploradas não no sentido mecânico, mas para instrumentalizar as crianças ampliando as suas capacidades expressivas. Seus desenhos, quanto à variedade e diversidade de elementos se ampliaram e as posições do corpo, cabelos e acessórios utilizados demonstram sua própria forma de expressão sem comparativos. Um dos elementos mais interessante deste projeto foi a interação professor/alunos, onde os mesmos participaram ativamente na elaboração de atividades, que não estavam prontas previamente,mas foram elaboradas de acordo com as necessidades e sugestões das crianças. A apropriação da cultura e sua produção pela criança não se dá diretamente (Corsaro, 2002). Elas interagem com o mundo dos símbolos, apropriam-se criativamente e produzem uma cultura própria de sua infância. Ampliar o repertório das crianças a partir dos seus pontos de vista e de suas construções permite que ressignifiquem e produzam sua própria cultura, seu modo de ser criança e para consequentemente se afirmarem perante ele. Legitimar as ações dos meninos e meninas amplia também os nossos próprios repertórios culturais. Quando a criança se apropria da linguagem e da sua diversidade ganha novas possibilidades de se colocar e de participar ativamente do mundo, claro se há alguém para ouví-la garantindo a sua participação. 10

Este projeto teve o intuito de dar voz e vez à criança, utilizando autorretratos como um recurso estético e funcional no que se refere à incorporação de discussões a respeito da diversidade e construção de uma imagem positiva de si perante o grupo e trazendo as percepções das crianças sobre este assunto. Aprender a relacionar-se de maneira respeitosa constitui uma das aprendizagens fundamentais para a criança pequena e ao trabalhar o reconhecimento das diferenças entre as mesmas de maneira positiva combatendo a exclusão, o preconceito e ações depreciativas desde cedo fazem com que se relacionem socialmente de uma maneira equilibrada levando para suas famílias e para a sociedade a semente da tolerância. Referências BARBOSA, Ana Mae. John Dewey e o ensino da arte no Brasil. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001. BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006. CORSARO, W. A. Sociologia da infância. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. CUNHA, S. R. V. Pintando, bordando, rasgando, desenhando e melecando na educação infantil. In: CUNHA, S. R. V. da (Org.). Cor, som e movimento. Porto Alegre: Mediação, 1999. p. 7-36, S. R. V. As artes no universo infantil. Porto Alegre : Mediação, 2012 NUNES, Maria Fernanda Resende. Educação Infantil: Instituições, Funções e Propostas in O Cotidiano na Educação Infantil. TV Escola/ Salto para o Futuro, Rio de Janeiro, Boletim 23, p. 14-27, 2006. OSTETO, Luciana Esmeralda. Educação Infantil e arte: sentidos e práticas possíveis. Caderno de Formação Unesp/Univesp, São Paulo, vol. 3,n.08, p.27-39,2011. 11

PEIXOTO, M.C.S.; AZEVEDO, L.C.S.S., Entrelaçando diferentes linguagens na educação infantil: reflexões e práticas. Caderno de Formação Unesp/Univesp, São Paulo, vol.3, n.08, p.75-90, 2011. SME.DOT EI. Orientações Curriculares: Expectativas de Aprendizagem e Orientações Didáticas para Educação Infantil. São Paulo: SME/DOT, 2007. 12