Projeto Curso Disciplina Tema Professor Pós-graduação Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável Educação Ambiental e Saúde Ética Ambiental Stéphanie A. S. Meyer Piazza Introdução Nesse tema, vamos relacionar a ética ambiental à educação ambiental. Verificaremos os princípios para a ética ambiental e qual seria a forma de relacionar a educação ambiental e a ética para uma civilização em crise, além de apresentar o paradigma cartesiano e suas consequências na relação homemnatureza. Vídeo: Para assistir ao vídeo de introdução deste tema, acesse o material didático on-line. Problematização Você é o engenheiro responsável pelas obras de um empreendimento imobiliário. Você efetuou o requerimento e recebeu toda a documentação referente ao licenciamento das atividades de instalação junto aos órgãos competentes. Em sua licença consta que é proibida qualquer supressão e intervenção nas áreas de preservação ambiental permanente (APP) localizadas ao redor da área em que você irá construir um condomínio. Porém, por um descuido de um dos seus colaboradores, houve não apenas a supressão de áreas permitidas, mas também o corte de algumas áreas que estavam dentro da APP. E agora? Que atitude deve ser tomada? Não responda agora. Vamos voltar ao conteúdo teórico do nosso tema e, ao final, retomaremos a nossa história e apresentaremos as possibilidades de solução para o problema. 1
Educação ambiental e ética para uma civilização em crise São inúmeras as definições de ética. Em sua concepção mais genérica e tradicional, a ética trata "dos costumes ou dos atos humanos, e seu objeto é a moralidade, entendendo-se por moralidade a caracterização desses mesmos atos como bem ou mal" (VÁZQUEZ, 1986). O termo costuma ser usado em seu sentido próprio, isso é, como ciência dos costumes, abrangendo os diferentes campos da atividade humana, inclusive as relações do ser humano com o ambiente e a saúde. A humanidade vive uma série de crises em todas as esferas: econômica, religiosa, política e social. Porém, na atualidade, a nova crise é sua própria existência, uma vez que o meio ambiente encontra-se ameaçado, com contaminação em todos seus elementos essenciais como a água, o solo, o ar e a vegetação. Dessa forma, visando recuperar o equilíbrio ecológico, surge a necessidade de que o homem repense suas ações e tome atitudes para melhorar e evitar sua própria extinção e toda a vida que lhe rodeia. A situação só não está pior porque alguns já começaram a se conscientizar da importância de cuidar do planeta, da preservação das matas, da água, da terra, do solo, do ar e dos seres vivos. A consciência de preservação, atrelada ao desejo de mudanças, leva a população a pensar em uma nova ética ambiental, em que são valorizados não apenas o consumo e a produção, que seriam os bens materiais, mas principalmente nosso meio ambiente, que é a fonte de tudo o que precisamos para viver. Leitura complementar: Para compreender melhor esse assunto, leia o artigo Considerações sobre as relações entre ética ecológica e educação ambiental, de Nelcéia Cairo do Amparo. http://intranet.ufsj.edu.br/rep_sysweb/file/vertentes/vertentes_29/nelcine a_amparo.pdf 2
O paradigma cartesiano e suas consequências na relação homem-natureza O paradigma cartesiano é caracterizado pela obtenção de conhecimento por meio de partes menores que se unem para formar um todo. É preciso dividilo nas partes que o integram e estudar cada uma das partes individualmente para compreender seus mecanismos de ação. Para aprender sobre o funcionamento de um carro, por exemplo, é necessário estudar suas partes como motor, roda, volante e embreagem separadamente. Dessa forma, sabendo de que forma cada peça atua, você entenderá o funcionamento do carro quando todas as peças estiverem juntas. Assim é o meio ambiente e suas interações com o homem. É necessário estudar cada aspecto do meio ambiente e de que forma esses aspectos reagem entre si. A falta de chuva, por exemplo, afeta o desenvolvimento satisfatório da plantação e, consequentemente, o abastecimento de alimentos para o homem. Mas também há causas antropogênicas como o crescimento da produção industrial, que além de reduzir a disponibilidade de recursos naturais, aumenta a poluição atmosférica. Esta, por sua vez, causa a chuva ácida que destrói a vegetação e acidifica os rios, causando a morte de peixes e de toda a vida aquática. Cabe destacar que, de acordo com a visão cartesiana, acredita-se que o sujeito tem controle sobre o objeto, ou seja, que o homem é um fim em si mesmo, e tudo o mais são objetos ou instrumentos a sua total disposição, pra realizar os seus desejos e promover a emancipação da humanidade (ARAÚJO, 2009). Seguindo essa visão, pensando que tudo está disponível pra lhe servir, iniciou-se o processo de consumo e produção desenfreados que afetam sobremaneira o meio ambiente. Mas tudo passa por uma fase de transição, caracterizada pela crise de um paradigma e a necessidade de um novo pensamento. Essa necessidade de mudança de atitude e pensamento está ligada ao conhecimento de como o meio ambiente necessita de medidas urgentes para não acabar sendo completamente destruído. 3
Vídeo: Confira a explicação da professora Stéphanie sobre o paradigma cartesiano no material didático on-line. Educação ambiental e a ética na saúde As características do meio em que se vive estão totalmente ligadas aos aspectos da saúde, seja ela ambiental ou pessoal. É direito de todas as pessoas viverem em um ambiente com qualidade, em que todos os recursos naturais estejam livres de contaminação, evitando a incidência de doenças. Na saúde, há uma área chamada bioética, que seria a o conjunto de reflexões éticas e morais relativas às consequências práticas da medicina e da biologia (SCHRAMM, 1992). Leitura complementar: Para compreender melhor esse assunto, leia o artigo Cuidar e respeitar: atitudes fundamentais na bioética, de Darlei Dall Agnol. http://www.saocamilo-sp.br/pdf/bioethikos/94/a2.pdf Princípios para uma ética ambiental A educação ambiental insere abordagens que vão desde a formação de hábitos de preservação da natureza até a questão ética. Na ética ambiental, o importante é desenvolver processos coletivos que permitam educar para a responsabilidade, transformando os indivíduos em consumidores moderados, criando uma consciência ambiental na qual o ser humano é parte da natureza e sua sobrevivência, como espécie, depende da relação que estabelece com ela, e, acima de tudo, despertando valores de solidariedade e respeito, convertendo a relação com o meio ambiente e com os semelhantes em uma questão ética (AMPARO, 2007). A Ética Ambiental emerge como uma ética acima de tudo política e social de primeira ordem. Ela une em suas diretrizes a racionalidade, os valores e as práticas sociais objetivas. Seus princípios básicos são: A sustentabilidade 4
A justiça social A preservação/conservação (PORTAL EDUCAÇÃO, 2013) A sustentabilidade deve estar associada ao desenvolvimento sustentável, que é aquele que não afeta as gerações futuras, pois cuida para não esgotar os recursos naturais. A justiça social deve estar presente na luta pela igualdade, promovendo acesso a todos independentemente de sua classe social. Por fim, a preservação/conservação dos recursos naturais é importante para manter o equilíbrio dos ecossistemas naturais, juntamente com ações de recuperação de áreas que foram degradadas. Dessa forma, a ética ambiental busca promover bases para inserção de uma nova cultura intelectual e social que se oponha ao modelo atual, visto que a cultura de massas está baseada no consumismo sem a preocupação ambiental. A ética ambiental, dessa forma, tem isso caracterizada como um processo de tomada de consciência para reconhecimento do valor do meio ambiente e de tudo o que nos rodeia (GUTIÉRREZ, 2008). Leitura complementar: Para compreender melhor esse assunto, leia o artigo Princípios para fundar uma ética ambiental, de Luis Alejandro Lasso Gutiérrez. https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/1677-2954.2008v7n3p9/21827 Vídeo: Para saber mais sobre os princípios para a ética ambiental, assista ao vídeo da professora Stéphanie no material didático on-line. A criação da cidade e a relação com a natureza O planejamento urbano atual busca por soluções urbanísticas para as cidades por meio da sustentabilidade. 5
É primordial realizar o planejamento das cidades, de forma a prever as consequências e prover recursos naturais. Cabe destacar que planejar implica ordenar, regulamentar, restringir e coibir (MONTEIRO. 2008). Dessa forma, surgiram vários modelos e estratégias que buscam integrar o planejamento urbano ao planejamento ambiental: o Plano de Gestão Ambiental (PGA), a proteção aos recursos naturais, as ações antrópicas e suas interferências no ambiente natural, a ideia de ecologia e paisagem urbana, o licenciamento ambiental e a adoção de critérios para a utilização de fontes renováveis de energia e dos recursos naturais, associados ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). O planejamento urbano atual está, mais do que nunca, vinculado ao processo de planejamento ambiental e suas ferramentas legais, exigindo do urbanista conhecimento de seu papel, como também das novas formas, métodos e aplicações de conceitos que tendem a acompanhar o dinamismo complexo da vida na sociedade atual (SILVA and WERLE, 2007). Leitura complementar: Para saber mais sobre esse assunto, leia o artigo Cidade e natureza: tecendo redes no processo de gestão ambiental, de Laís Mourão Sá e Maria de Fátima Rodrigues Makiuchi. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102-69922003000100006&script=sci_arttext Revendo a problematização Você se lembra da situação apresentada no início dos nossos estudos? Ela tratava do corte indevido de árvores em uma área de preservação ambiental. A questão lançada foi: que atitude deve ser tomada? Volte ao início desse material e releia a história, caso ache necessário. Em seguida, escolha a opção que achar mais adequada. Vamos agora analisar algumas maneiras de resolver esse problema. Opção 1: Repreender a atitude do funcionário e demiti-lo. 6
Opção 2: Informar imediatamente o órgão ambiental responsável sobre a intervenção indevida e propor ações de plantio de novas mudas de árvores de espécies nativas por meio de um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD). Opção 3: Não tomar nenhuma atitude e não alertar os demais colaboradores a tomarem o máximo de precaução para não realizar novas intervenções dentro da Área de Preservação Permanente (APP). Confira os feedbacks dessas opções no seu material digital! Síntese Neste tema aprendemos sobre a Ética Ambiental e sua relação com a Educação Ambiental. Considerando a crise ambiental, aprendemos que as consequências afetam diretamente a humanidade e que, para a nossa própria existência, precisamos repensar as nossas atitudes baseadas na ética. Existe a necessidade imediata de se implantar um programa nacional de educação ambiental de caráter global e bem estruturado, atingindo não só a população mais carente, mas, também, o poder público, político e privado, pois estes são também agentes importantes nesse processo e quase sempre estão alheios à conscientização ambiental. Vídeo: Para rever as principais características do assunto abordado, acesse o material didático on-line. 7
Atividades 1. Qual das alternativas abaixo está de acordo com o paradigma cartesiano? a. Na natureza não há interação alguma, você pode tratar qualquer aspecto de maneira separada. b. O paradigma cartesiano defende a ideia de que, para um fenômeno ser entendido, é preciso compreender separadamente todas as partes menores que o compõem. c. No paradigma cartesiano, não é preciso dividir algo para compreendê-lo, pois podemos entender todo o seu mecanismo por si só. d. Dentro do paradigma cartesiano, é aceitável analisar algo fora do raciocínio lógico. 2. Selecione a(s) alternativa(s) que apresenta(m) a ética na saúde ou ambiental: I. Sua empresa é uma terceirizada, entre muitas, dentro da construção de um empreendimento. Mesmo verificando que outras empresas não realizam o gerenciamento adequado dos resíduos, você manteve seu compromisso de realizar a correta segregação dos materiais descartados em sua área de trabalho. II. Você verificou que as análises do efluente de sua indústria apresentaram parâmetros fora do limite aceitável para o lançamento, porém, mesmo assim, deixou que ele fosse lançado no corpo hídrico, acreditando na autodepuração do rio. III. Ao dar o diagnóstico de uma doença a uma mãe desesperada, você recebeu agressões físicas e verbais por parte dela, porém manteve a compostura, entendendo que a mãe estava passando por um momento difícil e não revidou, mantendo a calma. 8
IV. Durante a manipulação de alguns materiais cirúrgicos, a enfermeira verificou que um deles não estava lacrado, porém seguiu seu serviço sem descartá-lo. a. Apenas o item I. b. Apenas o item II. c. Apenas os itens I e III. d. Apenas o item IV. 3. Qual das alternativas representa a ética utilizada na charge apresentada abaixo? Autor: Angeli Disponível em: uol.com.br/angeli/papeisdeparede/papel.shl?imagem=angeli800x600_29 7.jpg&tamanho=800 a. Ética econômica. b. Ética natural ou egocêntrica. 9
c. Ética ambiental. d. Bioética. 4. Qual das alternativas abaixo apresenta os três princípios da ética ambiental? a. Justiça social, Preservação/Conservação e Sustentabilidade. b. Preservação/Conservação, Justiça social e Produtividade. c. Universalidade, Equidade e Integralidade da atenção à saúde. d. Intensificação, Economicidade e Produtividade. 5. Qual das situações abaixo representa um exemplo de planejamento urbano em conjunto com o planejamento ambiental? a. A construção de casa com madeira de araucária em vez de uma de alvenaria. b. A construção de casas em uma área de preservação permanente (APP) a fim de que as residências estejam envoltas por muitas árvores. c. A instalação de painéis de captação que transformam energia solar em eletricidade e de um sistema para a captação de água da chuva. d. A construção de casas de alvenaria para a população carente em áreas ribeirinhas. Para visualizar o gabarito das questões, acesse o material didático online. 10
Referências AMPARO, N. C. do. Considerações sobre as relações entre ética ecológica e educação ambiental. Disponível em: <http://intranet.ufsj.edu.br/rep_sysweb/file/vertentes/vertentes_29/nelcinea_a mparo.pdf>. ARAÚJO, F. R. da S. A ruptura do paradigma cartesiano e alguns dos seus reflexos jurídicos. Revista CEJ, Brasília, Ano XIII, n. 46, pp. 78-86, jul./set. 2009. Disponível em: <http://www.jf.jus.br/ojs2/index.php/revcej/article/viewfile/1100/1286>. GUTIÉRREZ, L. A. L. Princípios para Fundar uma Ética Ambiental. Ethica. Florianópolis, v. 7, n. 3, p. 9-17, dez./2008. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/1677-2954.2008v7n3p9>. MONTEIRO, C. A. de F. O Homem, a natureza e a cidade: Planejamento do meio físico. Revista Geografar. Curitiba, v. 3, n. 1, pp. 73-102, jan./jun. 2008. PORTAL EDUCAÇAO. Os princípios da Ética Ambiental: caminhos para uma teoria. Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/biologia/artigos/39542/os-principios-daetica-ambiental-caminhos-para-uma-teoria>. SCHRAMM, F.R. Ecologia, ética e saúde: o principio da responsabilidade. In ref. Leal, M.C. et al, v. 1, 1992. SILVA, G. J. A. da; WERLE, H. J. S. Planejamento urbano e ambiental nas municipalidades: da cidade a sustentabilidade, da lei à realidade. Paisagens em debate. Revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU. USP, n. 05, dez./2007. Disponível em: <http://www.fau.usp.br/depprojeto/gdpa/paisagens/artigos/2007silva-werle- PlanejamentoUrbanoSustentabilidade.pdf>. VÁZQUEZ, J.M. Ética. In ref. Silva, B. (coord.). 1986. 11