Notas sobre o desenvolvimento social recente no Brasil



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Transcrição:

ISSN 0103-9466 198 Notas sobre o desenvolvimento social recente no Brasil Eduardo Fagnani Nov. 2011

Notas sobre o desenvolvimento social recente Eduardo no Brasil Fagnani 1 pelo Introdução 2 prosperidade por indicador dia. Com No o de neoliberalismo, Brasil, pobreza quem arbitrado recebe o bem-estar pelo mais Banco de social Mundial: R$ 3,60 das pobre nações por dia é quem passou cruzou recebe a ser a linha até medido US$ da encerra e já pode pagar a passagem de ida do transporte público. deve pobreza. ser Nessa numa objeto Qualquer visão, única de reformas política ação: a estratégia social focalização ortodoxas que para não visando nas se atenda alcançar pessoas seu esse aniquilamento. que o requisito desenvolvimento estão beneficia abaixo Esse da seria os social linha ricos o caso, de se e realocados por exemplo, da Previdência Rural e programa Seguro-Desemprego cujos Banco benefícios universais (exceto para equivalem os programas educação ao piso de fundamental) transferência salário devem mínimo. renda ser Portanto, focados desmontados nos todos pobres e os seus eleitos programas recursos pelo Mundial. ajuste do A erradicação da pobreza prescinde do crescimento econômico, da reposição Esta salário Programa fiscal. mínimo Ações Bolsa e Família de das transferência políticas (0,4% sociais do PIB) renda universais. é muito são relativamente inferior O real ao objetivo da baratas: Previdência dessa o gasto agenda (7,5%). anual é o estar é razão É curioso que move que esse a ortodoxia indicador em continua torno da sendo opção referência pelos pobres. internacional de bem milhões social mesmo com o fracasso do neoliberalismo. de 36% Na para de brasileiros última 22% da década, população suplantaram a pobreza total. a linha no Brasil de pobreza. declinou O sensivelmente. contingente de Mais pobres de caiu 28 (1) Professor do Instituto de Economia Texto da para Unicamp Discussão. e Pesquisador IE/UNICAMP, do Cesit/IE/Unicamp. Campinas, n. 198, nov. 2011.

Eduardo Fagnani desigualdade. cresceu Outro indicador importante do progresso social recente é a redução da O 50%, que ante Entre explica 12% 2003 esse auferido e 2010 progresso? pelos a renda mais Muitas domiciliar ricos. organizações per capita dos internacionais extratos mais têm pobres uma Desenvolvimento explicação minimalista: apenas o Programa Bolsa Família. desigualdade crescimento Na divulgação relatório da Organização para Cooperação e no caírem Econômico tão depressa (OCDE) como foi ressaltado no Brasil. que Esse jamais avanço se foi viu motivado a pobreza pelo e a nula. e pelo Programa Bolsa Família, um exemplo de política social copiado iluminados crescimento mundo Mais inteiro, grave, da OCDE, e seus pregam inclusive reflexos a contribuição nova em no reforma países mundo do mais ortodoxa salário trabalho. desenvolvidos na mínimo Previdência e (Barrocal, da Seguridade e minimizam 2011). Social Para o papel foi os Nova embalagem Esse reducionismo do estado não mínimo é fruto de desconhecimento: o buraco é mais embaixo. elevá-lo solução uma astuta De ao milagrosa forma estratégia status dissimulada, de para de case marketing erradicar internacional observa-se, visando a pobreza em transformar de escala sucesso mundo. global, o a programa ser Furtivamente, o difundido desenvolvimento brasileiro em procuram todo numa de o subdesenvolvidos, mundo. Usam-no como a nova embalagem do fracassado Estado Mínimo. neoliberal. reforma A lógica aparente é impor a focalização como para todos os países frente dos Mas, regimes também, cujos Welfare sistemas pretendem State utilizá-la proteção europeus como social medida moeda foram de destruídos austeridade troca para pelo a para iminente tsunami fazer assegurar à crise fiscal. natureza O padrões objetivo máximos pode não de ser gasto assegurar social. padrões Como mencionado, mínimos de programas seguridade; dessa mas reptícia Estão ressuscitam são relativamente trocando a famigerada a embalagem, baratos como proposta mas porcentagem preservando dos três pilares PIB. o conteúdo. elaborada De pelo forma Banco sub- Texto para Discussão. IE/UNICAMP, Campinas, n. 198, nov. 2011. 2

Mundial Notas sobre o desenvolvimento social recente no Brasil Desenvolvimento universalização nos anos de 19902. Nos últimos anos, o Banco Interamericano A Organização básica 3. (BID) Internacional Não passou seria melhor a do denominar Trabalho chamar (OIT) de propostas focalização elaborou dessa a para proposta todos? natureza Piso de benefício Proteção Social Básica. Em síntese, defendem que todos os países mundo brasileiro deveriam idosos, oferecer um piso básico de serviços sociais para pobres, desempregados, WODSAK, viúvos, monetário órfãos para e inválidos. famílias Também com crianças, deveriam a exemplo incluir o do pagamento que o governo um A proposta garante 2011). com inspira-se pagamento nos programas do Bolsa focalizados Família adotados (CICHON; no México, BEHRENDT; Chile, 0,4% Namíbia que brasileiro, beneficia e considerado Nepal, 46 milhões dentre o de outros. maior pessoas programa Mas com a grande um custo transferência estrela que global, equivale social sem aproximadamente em dúvida, escala é mundial o case a de do PIB. Unidas 1953, A (ONU) o despeito Piso e de Proteção recebeu ser um apoio Social retrocesso entusiástico Básico em foi relação aprovado de uma à Convenção pela multiplicidade Organização 102 organismos. OIT, das Nações datada estabilizador Com PNUD, Formou-se a crise, Unesco, uma os coalizão países Unicef, do dentre global G20 também inúmeros favorável endossam outros), que reúne a o iniciativa, FMI, diversos o Banco vista órgãos Mundial como ONU importante e o (FAO, BID. incansavelmente econômico. reproduzem No Brasil, pela o paternidade quadro não do filho é diferente. pródigo. Setores do da governo oposição também lutam Incompreensão a visão minimalista do sucesso recente. complexo e reducionismo apequenam Bolsa Família. Essas sistema visões de proteção demonstram social incompreensão brasileiro consagrado acerca das em 1988. características Além disso, do Texto para (2) o legado do ex-presidente Lula, que foi muito além do meritório Programa (3) Discussão. Consultar: Ver: Universalismo... Banco IE/UNICAMP, Mundial (2006). Campinas, (1994) e World n. 198, Bank nov. (1993). 2011. 3

Seu maior legado foi montar uma Eduardo estratégia Fagnani macroeconômica articulada com o destaque políticas desenvolvimento renda; na universais; valorização social e, no do e ancorada avanço salário das mínimo; no políticas crescimento no aumento voltadas econômico; do para gasto o combate na social; geração à no pobreza, incentivo de emprego com às e para o Bolsa Família. excludentes. convergentes. Mais que isso, superamos etapa estéril em que focalização (Estado Mínimo) caminha universalização Passamos O Programa (Estado a Brasil considerá-los Sem Bem Miséria, Estar) como recém- eram estratégias lançado vistas pelo complementares como governo paradigmas federal e O nesse sentido. se, que explica o desenvolvimento social recente? inclusão sumarizados com A êxito, social. questão a seguir. estabilidade, Mais social especificamente, foi eleita crescimento como essa um econômico, dos estratégia eixos elevação do está desenvolvimento. ancorada do emprego seis Conjugou- e renda núcleos e redução Crescimento econômico estratégia México da crescimento única, pobreza programas na é China a mais focalizados de efetiva 57% são das para limitados. políticas 14% entre sociais. Caso 1980/2005. contrário, É ele que Vistos a pobreza explica como no medíocre não alcançaria metade da sua população. uma O taxa PIB média do Brasil, anual após de 2,1% crescer (1981/2003). mais de 7% Estudos ao ano recentes (1950/1980), da Cepal caiu mostram para a China incidência brasileira inquestionável e dobrou praticamente da pobreza na Índia. correlação em ficou 19 países estagnada entre crescimento América entre 1980/2003 Latina PIB e Caribe. per enquanto capita A renda e setuplicou redução per capita na da econômica Crescimento, agenda. Após e social. Uma 25 visando anos, sinalização coordenar a partir de foi investimentos 2006 o lançamento o crescimento (públicos do econômico Programa e privados) voltou de na Aceleração a infraestrutura ter destaque do Texto para Discussão. IE/UNICAMP, Campinas, n. 198, nov. 2011. 4

Notas sobre o desenvolvimento social recente no Brasil compulsórios. foram primário adotadas. Com foi reduzida. a Os crise Setores bancos internacional A estratégicos política públicos monetária ampliaram essa tiveram postura foi redução a afrouxada oferta foi de reforçada impostos. pela crédito redução e medidas A (que, meta dos praticamente, de anticíclicas juros superávit e dos agricultura dobrou em relação ao PIB). Papel central foi desempenhado pelo BNDES, cujos cadeia desembolsos crédito pessoal familiar quase foi triplicaram e direcionado para os funcionários na para segunda pequenos públicos metade empreendedores da e aposentados, década passada. urbanos, realimentando Em parte, para o a anteriores). do consumo e impulsionando o mercado interno. para líquida 8.217). PIB O A PIB cresceu arrecadação per capita a taxas cresceu subiu médias sensivelmente e anuais as contas de 5% públicas entre (o dobro 2002 melhoram e da 2010 média (relação (de das US$ décadas dívida 2.870 que /PIB crescimento declinou de deflagrou 60 para 40%) uma espiral virtuosa de geração de emprego e renda Geração realimenta o consumo, a produção e os investimentos. taxa emprego e renda mensal criados O mercado de trabalho apresentou melhoras sensíveis. Entre 2003 e 2010, a capita de cresceu dos (apenas desemprego trabalhadores 23,5% em 2010, caiu em pela subiu termos foram metade 18%; criados reais; e (de mais o 2,5 rendimento 12,4% de milhões 14 para milhões de médio 6,7%); vagas); de real o empregos rendimento a dos renda trabalhadores formais domiciliar médio foram real per e o Valorização consumo das famílias voltaram a crescer, após longos períodos de encolhimento. política do salário mínimo mínimo Outro de valorização fator relevante progressiva para a do compreensão salário mínimo. do progresso Em termos social reais, recente o salário foi a pela dobrou entre 2000 e 2011. mínimo metade Em quebraria São (1995/2010). Paulo, a previdência o custo Muitos da social. cesta iluminados Ocorreu básica como o contrário. diziam proporção que do o aumento salário mínimo do salário caiu Texto para Discussão. IE/UNICAMP, Campinas, n. 198, nov. 2011. 5

Aumento do gasto social Eduardo Fagnani em arrecadação O ciclo de crescimento aliviou os indicadores macroeconômicos. Previdência ancoradas relação ao de PIB). impostos folha Da mesma de cresceu salário forma, e a do dívida as trabalho fontes pública de formal líquida financiamento declinou foram das (de impulsionadas. políticas 60% para sociais 40% A duplicou, Esse em Urbana cenário termos voltou reais, abriu a entre espaços ser superavitária 2000 para e 2009; o crescimento em o que proporção não ocorria do do gasto PIB, desde social passou 1996. federal 12,5% que Políticas para 15,8%; o gasto per capita cresceu de R$ 1600,00 para R$ 2.800,00 (Ipea, 2011). o crescimento Outro sociais fator (e a universais geração que explica de emprego o desenvolvimento e renda) e as social políticas recente universais. são as sinergias entre social década inversa A experiência brasileira proteção social é singular. Nos anos finais da que de 1970 e até 1988, caminhamos na contramão do mundo. Seguimos a rota momento visava, que do não neoliberalismo. lutava em havia última pela solo redemocratização instância, fértil Fomos para salvos germinar a acertar pelo do a país contas momento investida construiu com neoliberal. político. a uma ditadura O agenda notável militar. de movimento mudanças Naquele social A rota forjada pelo movimento social tinha como destino a Assembleia universalidade, Nacional em 1988 inspirado Constituinte. restabeleceu a Após democracia uma árdua e consagrou marcha, a as Constituição bases de um da sistema República de aprovada proteção È verdade no seguridade que Estado entre 1990/2005 e Bem-Estar da cidadania. os Social ventos europeu liberalizantes ancorado também nos sopraram princípios por centrais4: aqui. Passada essa longa fase de tensões, a inflexão ocorrida na política econômica desenhado partir proteção a 2006 pelas restauração social, começou forças inspirado que por Estado lutavam implantar nos Democrático princípios contra o a pilar ditadura do de inconcluso Direito; Estado militar, de a construção apoiado Bem-Estar projeto em de de Social; três um reformas núcleos sistema e, a Texto para (4) Discussão. Cf. PMDB IE/UNICAMP, (1982). Campinas, n. 198, nov. 2011. 6

concepção Notas sobre o desenvolvimento social recente no Brasil econômico de com uma distribuição nova estratégia de renda. macroeconômica, direcionada para o crescimento começamos sociedade A Constituição de 1988 consagrou os dois primeiros núcleos. Todavia, a Não foi a pode construí-lo. incapaz haver de dúvidas viabilizar sobre o terceiro. o papel Com desempenhado o crescimento, pela Seguridade a partir de Social 2006, atuais sem os no atuais desenvolvimento a Previdência 20%); sem Social social ela, 70% a recente. pobreza idosos Estudos no Brasil estariam do seria Ministério abaixo superior da a linha Previdência 45% de da pobreza população indicam (ante (ante que os milhões 10%). Previdência Seguro-Desemprego Observe-se de benefícios Rural (8,4); que, (6,0). diretos, Proteção em meados assim aos distribuídos: idosos de 2011, pobres a Previdência Seguridade e pessoas com Urbana Social deficiência (16,6 concedeu milhões); (3,8); 34,8 e Seguridade contabilizarmos beneficiário O caráter Social direto os beneficia, há distributivo seus dois beneficiários direta desses e indiretamente, indiretos, programas indiretos. membros cerca fica Segundo de mais da 104 família. o evidente milhões IBGE, Dessa de se para pessoas, forma, também cada a elevação metade população do País. também crescimento. Mais contribuiu real de do 2/3 mínimo para desses o crescimento na benefícios última década equivalem do consumo duplicou ao interno, piso a do renda salário motor dessas do mínimo. recente famílias. A ciclo notável Isso de Políticas focalizadas de combate à pobreza fuga Finalmente, o sexto núcleo da estratégia de desenvolvimento social foi a pelo expansão Família. mercado para É dos empregos verdade de programas trabalho. que e salários milhões de combate mais de pessoas elevados, à pobreza, pobres aproveitando com saíram destaque dessa as condição oportunidades para Programa pela simples abertas Bolsa Texto para Discussão. IE/UNICAMP, Campinas, n. 198, nov. 2011. 7

Eduardo Fagnani programas Agricultura A redução sociais com da pobreza destaque também para o foi Programa fruto de Nacional uma gama de Fortalecimento enorme de outros da década o Grande PIB Familiar da parte agricultura (Pronaf). da pobreza cresceu brasileira mais que o concentra-se PIB nacional. A área queda rural. da concentração Na última mercado da renda no campo foi maior que no meio urbano. A chamada nova classe média (Previdência passou caiu pela 21% metade. para trabalho, Rural, 35% Em Benefício parte, da pelo população essa Programa de melhora Prestação rural Bolsa é (Neri, explicada Continuada, Família 2011). pelas e Em demais Pronaf, oportunidades dez anos programas dentre migração abertas inúmeros sociais rural no estratégia outros). lição Em de suma, desenvolvimento a partir social 2006 caminhamos articulada com no a sentido política econômica. construir uma Essa nova é a A que os organismos internacionais (e muitos brasileiros) deveriam aprender. internacionais agenda brasileira desse 1988, bem Definitivamente, como querem os avanços impor a agenda ao e convergências mundo. brasileira Nosso obtidos desafio não é recentemente. é aquela consolidar que as A os conquistas consolidação organismos de Primeiro, esforço No construir caso requer das mecanismos ainda políticas um sociais longo de controle caminho. universais para dois refrear desafios processos têm de de ser privatização enfrentados. Carta da gestão das políticas sociais. das do Segundo, restabelecer bases de financiamento sustentáveis consagradas na de financiamento Orçamento Receitas de 1988, da o União; que requer reforma medidas tributária complexas progressiva; tais como: aplicação extinção integral da Desvinculação dos recursos As deficiências da Seguridade Saúde crônicas e da Social Educação. na na infraestrutura Seguridade Social; urbana assegurar estão longe bases sustentadas terem sido final setores rural, enfrentadas. Texto para dos ainda Discussão. anos habitação temos Nas de 1980. últimas popular, décadas saneamento não construímos e transporte políticas público. nacionais No desenvolvimento efetivas nos IE/UNICAMP, ainda vivo Campinas, o problema n. 198, da nov. Reforma 2011. Agrária, marginalizada desde o 8

Notas sobre o desenvolvimento social recente no Brasil imensos. criado Plano Outro desafio Brasil é sem articular Miséria melhor caminha as políticas nessa focalizadas direção, mas e universais. os obstáculos O recém- são despesas mundiais O enfrentamento desses desafios também depende da maior coordenação entre em instrumentos da política macroeconômica que caminhe no sentido da redução das acaba proporção com em financeiras os taxa juros do real PIB. ou de os Se disparado, juros Macunaíma acabam e vice-líderes o maior com vivesse o no Brasil!. item ranking hoje, do certamente gasto de maiores público. diria: pagadores Somos Ou o de líderes Brasil juros ancianos Referências bibliográficas BARROCAL, BANCO y MUNDIAL. la promoción Envejecimiento del crecimiento. sin Oxford: crisis: Oxford políticas University para la Pres, proteción 1994. de los CICHON, inédita. social Carta Maior, André. 26 OCDE: out. 2011. Brasil tem avanço extraordinário e redução da pobreza IPEA. 2011. de las M.; Naciones BEHRENDT, Unidas. C.; Bonn, WODSAK, Alemania: V. Friedrich-Ebert-Stiftung, La iniciativa del piso de 2011. proteción NERI, (Comunicados Gasto Marcelo. social O meio federal: do Ipea, do campo. uma n. 108). análise Folha da de execução S.Paulo, tributária 23 out. 2011. de 2010. Brasília: Ipea, UNIVERSALISMO Washington, PMDB. PMDB, Rio Esperança de Janeiro, e mudança: Fundação uma Pedroso proposta Horta, de ano governo I, n. 4, para 1982. o Brasil. Revista do WORLD BANK. DC: Investing Banco básico: Interamericano in health. uma Oxford, nueva de Desarolo, política England: 2006. social Oxford para University América Pres, Latina. 1993. Texto para Discussão. IE/UNICAMP, Campinas, n. 198, nov. 2011. 9