140 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 1ª CÂMARA CRIMINAL HABEAS CORPUS Nº. 0063587-40.2013.8.19



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Transcrição:

1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 1ª CÂMARA CRIMINAL HABEAS CORPUS Nº. 0063587-40.2013.8.19.0000 PACIENTE: FABIO FERREIRA CHAVES DA SILVA AUTORIDADE COATORA: JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DE NILOPOLIS EMENTA HABEAS CORPUS PENAL PROCESSO PENAL CRIME DE ROUBO MAJORADO RELAXAMENTO DA PRISÃO OU REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA - EXCESSO DE PRAZO MATÉRIA DE ORDEM PROBATÓRIA - ORDEM DENEGADA O campo estreito do habeas não é o próprio para a valoração e confronto da prova, o que deve ocorrer na sentença após o término da instrução. De outro giro, não mais se controverte, até mesmo por força de expressa disposição constitucional, que toda pessoa tem o direito de ser julgada dentro de um prazo razoável (artigo 5º, LXXVIII, CF). Trata-se de corolário do devido processo legal, sendo garantido o julgamento sem dilações indevidas. Nesta linha, sem esquecer que os direitos e garantias fundamentais não podem ser desconsiderados na busca da celeridade processual, somente a demora injustificada autoriza a concessão da ordem. De efeito, o exame de eventual excesso da prisão cautelar não deve ter por base mero cálculo aritmético. Dentro da discricionariedade que detém, o julgador na análise respectiva deve examinar as circunstâncias em concreto do caso, mormente a sua complexidade e o comportamento da autoridade judicial originária, sempre atento à razoabilidade, até mesmo a quantidade da pena mínima prevista em abstrato

2 para o delito imputado. Na hipótese vertente, não ficou demonstrado qualquer comportamento desidioso do juiz apontado como coator, certo que o mínimo atraso decorreu do declínio de competência em razão do fato ter ocorrido em comarca diversa da prisão, estando a AIJ designada para data próxima que não pode ser antecipada em razão do recesso forense que se avizinha. Por último, a mantença da prisão cautelar do paciente se justifica no caso concreto, até mesmo em razão da dinâmica em concreto do fato imputado, tudo a indiciar a periculosidade dos agentes, tratandose de crime de roubo de motocicleta praticado pelos agentes com emprego de simulacro de arma. Vistos, relatados e discutidos estes autos de HABEAS CORPUS nº. 0063587-40.2013.8.19.0000, em que figura como PACIENTE: FABIO FERREIRA CHAVES DA SILVA; Acordam os Desembargadores que compõem a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por unanimidade, em denegar a ordem. RELATÓRIO Trata-se de Habeas Corpus impetrado em favor de FABIO FERREIRA CHAVES DA SILVA, sendo apontado como autoridade coatora o juízo da 1ª VARA CRIMINAL DE NILÓPOLIS. Na respectiva

3 peça de interposição, assevera o impetrante que o paciente foi denunciado pela prática do injusto do artigo 157 2º, II, Código Penal, estando preso desde 18/09/2013, reclamando do excesso de prazo da prisão cautelar que estaria a configurar manifesto constrangimento ilegal, também procurando destacar a desnecessidade da medida excepcional, além de forma tímida discutir a prova da infração. A liminar foi indeferida, as informações foram prestadas, tendo a Procuradoria se manifestado pela denegação da ordem. VOTO O paciente foi denunciado pela prática do injusto do artigo 157 2º, inciso II do Código Penal, estando preso cautelarmente desde 18/09/2013. Inicialmente, deve ser destacado que o campo estreito do habeas não é o próprio para o enfrentamento e valoração da prova, questão pacificada nos Tribunais, bastando para a deflagração da ação penal a presença de prova da infração e indícios de autoria, requisitos que estão presentes no caso concreto, cabendo ao juiz, após o término da instrução, concluir pela suficiência ou não da prova colhida sob o crivo do contraditório.

4 De outro giro, não mais se discute que a prisão cautelar é medida excepcional que somente se justifica quando demonstrada a sua necessidade, não podendo ser aplicada como forma de antecipação de pena. Da mesma forma, também não se contesta que a prisão cautelar não pode ter por base a gravidade em abstrato do crime, podendo, porém, ser decretada ou mantida quando a gravidade em concreto do fato indiciar a periculosidade dos agentes, não impedindo tal medida excepcional eventual primariedade e bons antecedentes daqueles apontados como autores da infração. No caso presente, tratando-se de roubo praticado por dois agentes, um deles menor de idade, sendo empregado um artefato de arma, em regra, a periculosidade se deduz das circunstâncias em concreto do fato, o que autoriza a mantença da prisão cautelar, questão que deve ser avaliada pelo juiz de piso que mantém contato mais próximo com os agentes, tendo melhor condição de avaliar a necessidade da medida por conveniência da instrução criminal. Por derradeiro, não há que se falar em excesso de prazo da prisão cautelar, apesar de ciente de que todos têm direito a um julgamento célere. Na verdade, o próprio texto constitucional prevê tal regra: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação (artigo 5º, LXXVIII, CF).

5 Esta regra se aplica no campo penal aos processos de réus soltos e, com muito mais razão, aos de réus presos. Todavia, também inquestionável que o exame de eventual excesso de prazo não deve decorrer de mero cálculo aritmético. O julgador tem marcante espaço discricionário na avaliação da questão, devendo considerar a conduta da autoridade judiciária e as dificuldades para a investigação do caso, mormente o número de acusados, de testemunhas, a complexidade do fato, as dificuldades probatórias, devendo estes critérios ser apreciados em conjunto, admitindo, no caso concreto, que um deles seja decisivo na aferição do excesso. Penso que descabe a alegação de excesso de prazo, pois não observei desídia do juízo a quo que desde o início da ação penal esteve atento aos prazos processuais, o que pode ser observado desde o recebimento da denúncia, não podendo ser desconsiderado que houve anterior declínio de competência em razão de a prisão ter ocorrido em comarca diversa daquela em que o crime foi praticado, estando a AIJ final designada para o inicio do próximo ano, não sendo possível a antecipação da data em razão do recesso forense que se avizinha. Por tudo que foi exposto, dirijo meu voto no sentido de denegar a ordem. É como voto.

6 Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 2013. DESEMBARGADOR MARCUS BASILIO RELATOR