São Paulo/SP - Planejamento urbano deve levar em conta o morador da rua Pesquisa traz reflexões para melhorar a situação da população de rua e indica falhas nas políticas públicas. Moradores de rua na Praça da Sé, em São Paulo: uma parte dos moradores de rua não quer ou não consegue sair desta condição.valter Campanato/Agência Brasil A partir da análise urbanística da cidade de São Paulo em relação a população de rua que nela habita, a urbanista Paula Rochlitz Quintão constatou que nem todo morador de rua quer ou consegue sair desta condição e ter uma casa como seu lar. Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, Paula realizou um estudo em que propõe a inclusão de pessoas que estão nas ruas transitoriamente e as que habitam as vias permanentemente em projetos urbanos. Para as que desejam sair das ruas, é necessário oferecer meios para a inserção delas em uma vida ativa na sociedade. Para as que permanecerão, é necessário sua aceitação e inclusão no espaço urbano, recomenda a pesquisadora, ressaltando que o caminho de quem não quer sair da rua nunca é pensado. Segundo Paula, as políticas públicas, em geral, voltam-se mais à remoção das pessoas do espaço público. Ela lembra que, entre 2000 e 2009, a população de rua em São Paulo cresceu 57%, atingindo aproximadamente 14 mil pessoas. No Brasil, o contingente está em por volta de 50 mil. Para as que desejam sair das ruas, é necessário oferecer meios para a inserção delas em uma vida ativa na sociedade. Para as
que permanecerão, é necessário sua aceitação e inclusão no espaço urbano. O caminho de quem não quer sair da rua nunca é pensado, conta Paula. No estudo Morar na rua: há projeto possível?, que teve a orientação do professor Carlos Roberto Zibel Costa, Paula procurou levantar reflexões sobre a situação, sem visar uma solução única, visto que a questão pode ter diferentes faces, dependendo do lugar e das características da população. Equipamentos Entre as diretrizes propostas, está a criação de equipamentos que ajudem tanto aqueles moradores transitórios quanto os crônicos. Eles vão desde chuveiros, banheiros e locais para fazer a documentação até locais de pernoite. Assim, o morador de rua que desejasse poderia ter condições básicas para procurar empregos e tornar-se mais ativo na sociedade. Os equipamentos devem ser bem localizados e não precisam ser fixos, afirma a urbanista. Dessa maneira, seriam aptos a suprir as necessidades dos moradores, que se deslocam por algumas regiões. Segundo o estudo, os moradores de rua permanecem em locais com grande fluxo de pessoas, comércio e materiais, como na região central e próximo à Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). E não é à toa: 62% da população de rua são catadores de resíduos diversos. Entretanto, os equipamentos são algumas sugestões dentro de uma gama de possibilidades para auxiliar a população de rua a se inserir socialmente. A pesquisadora indica como uma delas, por exemplo, a preocupação obrigatória dos urbanistas no planejamento urbano com os moradores de rua, visto que eles fazem parte do espaço urbano. Urbanismo Para Paula, os urbanistas pouco entraram na questão do morar na rua. Enquanto profissionais da saúde e psicólogos, entre
outros, tentam auxiliar os moradores por intermédio da assistência social, o arquiteto deveria ser responsável pela criação de projetos importantes para essa população. O arquiteto tem que estudar, conhecer e respeitar seus clientes. Os projetos da prefeitura têm sido equivocados nesse sentido, afirma a pesquisadora. Existem albergues fora dos principais locais onde os moradores de rua são encontrados e, segundo a urbanista, é um equívoco achar que eles vão se deslocar vários quilômetros, com todos seus pertences para chegar nesses dormitórios. Devem ser analisados os dados existentes, tanto do Censo de população de rua, quanto os mapas de uso do solo, para entender os espaços preferenciais onde se localizam estas pessoas. Na pesquisa, são propostas reflexões para aspectos tanto na escala macro da cidade quanto micro, do projeto de cada local. Por João Ortega Agência USP de Notícias Fonte original da notícia Pesquisa da FAU analisa relação entre patrimônio cultural e cidade O que muda no modo de se pensar o patrimônio cultural quando o
que se tomba não é um prédio ou um monumento mas sim, um bairro? É o que discute a arquiteta Juliana Mendes Prata, em sua tese defendida recentemente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. No trabalho Patrimônio Cultural e Cidade: práticas de preservação em São Paulo, Juliana analisou a mudança na relação patrimônio e cidade a partir dos pedidos de tombamento de 12 bairros da capital paulista, onde dois deles obtiveram sucesso, Jardins e Pacaembu. Os dados foram levantados a partir de documentos do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), órgão do qual a arquiteta, que é funcionária USP, foi vice-presidente entre 2007 e 2009. Como conta Juliana, os primeiros processos datam da década de 1980. O primeiro pedido é de 1983, mas é um pedido que foi logo arquivado, porque não se reconheceu ainda como um movimento. Em 1985 há a solicitação de tombamento dos Jardins, que, por ter sido aprovado, foi modelo para os outros processos, relata a pesquisadora. As reivindicações, segundo a arquiteta, surgiam principalmente diante da ameaça de alteração brusca de qualidade de vida ou do modo de viver, como alterações viárias ou de zoneamento urbano. No caso dos Jardins, por exemplo, foi a questão da transformação de algumas avenidas em vias de corredor comercial. Ela ainda acredita que toda essa movimentação se insere num contexto mais amplo: As questões que estavam postas, sobretudo no tombamento dos Jardins, eram questões que começaram a aparecer nos anos 1970, como a questão urbana, a questão ambiental, a questão da qualidade de vida e da participação da sociedade civil nesse tipo de processo. O que muda com o tombamento? Em geral, nos casos de bairro, o tombamento incide sobre o traçado urbano (das ruas e avenidas), sobre o padrão de
ocupação e sobre a vegetação, afirma Juliana. O chamado padrão de ocupação está ligado principalmente ao tamanho da construção em relação ao terreno, seja limitando a altura da construção, ou a porcentagem ocupada do terreno em relação ao tamanho total. Isso garante, por exemplo, a baixa densidade populacional nesses bairros uma vez que a construção de prédios fica impossibilitada. Em relação à vegetação, o que se demarca é a permeabilidade do terreno, que determina que uma porção mínima do terreno deve ser jardinada. Além da fixação do modo como o espaço tombado deve permanecer, há também uma mudança no modo de pensar o patrimônio na cidade a partir dos tombamentos de bairro. O conceito de patrimônio é absorvido na prática, explica a arquiteta. Há uma ampliação da noção de patrimônio. As origens do patrimônio, sobretudo no Brasil, estão ligadas ao edifício e ao monumento isolado. Com o passar do tempo essa questão vai se ampliando, acrescenta a pesquisadora. Ela ainda retoma a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial onde reconheceu-se que a importância não estava no edifício e sim no conjunto. Juliana ainda comenta sobre a mudança no conceito de valor do objeto: O valor não está no objeto, são os homens que põem valor nas coisas. A questão sai do valor puramente arquitetônico, para algo mais focado no cotidiano das pessoas. O tombamento é o melhor caminho? A arquiteta acredita que nem sempre tombar algo é a melhor opção. A preservação é algo muito maior que o tombamento. Ele é um instrumento para a preservação. Tombar e preservar não são sinônimos. Para ela, além de outras ações para proteger o patrimônio de qualquer dano, a preservação da memória também pode ser feita de diversas maneiras, como a construção de centros de memória, exposição, promoções de eventos culturais, ou seja, caminhos que enfatizem os usos e sentidos do patrimônio. Mas, de qualquer forma, ela acredita que esses processos
mudaram o modo de ver o patrimônio, trazendo uma participação maior da sociedade civil. Antes era algo muito característico do Estado dizer o que é patrimônio, hoje se tem uma participação muito maior da sociedade com um reconhecimento de que cabe a ela também a preservação. Assessoria de Imprensa da USP