2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS



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Transcrição:

2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS 2.1. Integração Escolar: Conceito Como já vimos anteriormente, a história do atendimento às pessoas portadoras de necessidades educativas especiais no mundo, partiu de um período em que elas eram eliminadas, em várias civilizações, passando por uma época marcada em várias civilizações, passando por uma época marcada por tímidas iniciativas de caráter filantrópico, até uma fase em que forem contempladas com o direito à educação, mas ainda marcadas pelo estigma. Essa tendência social, consequentemente, refletiu nos sistemas educacionais, excluindo, afastando da escola comum os menos aptos. ESCOLA INCLUSIVA! A condição de excepcionalidade carregava conotações de anormalidade, juntando-se a ela as idéias de marginalização, de incapacidade, de imutabilidade desta condição, levando a se ter uma visão pessimista dessas pessoas e provocando a sua rotulação, considerada indispensável no processo de seu atendimento e, consequentemente, a sua institucionalização, isto é, sua colocação em ambientes restritivos. A escola especial, principalmente, e outros ambientes restritivos.a escola especial, principalmente, e outros ambientes ainda mais segregadores eram os lugares utilizados para o treinamento daqueles que não conseguiram aprender na escola regular. E a Educação Especial, distanciou-se do seu compromisso social, esvaziando-se no seu

sentido pedagógico e se transformando num espaço eminentemente clinico. Esta visão mascarava as reais potencialidades da pessoa, pois a ênfase era colocada no que ela não possuía, no que ela falhava, confundindo-se a pessoa com sua deficiência sua condição orgânica ou psicológica sobrepunha-se anulando o sujeito. Mais tarde, estudo de ordem cientifica cultural e ideológica, denunciando a segregação a que eram submetidas essas pessoas, possibilitaram uma reflexão da sociedade sobre elas. O QUE É INTEGRAÇÃO!!!! Em fins da década de 60, a integração surgiu como palavra de ordem para os que se interessavam e estavam envolvidos com o seu atendimento. Você já deve ter ouvido falar nos princípios básicos da Educação Especial. Se não ouviu, cabe mencionar aqui. São eles: a integração, a normalização e a individualização. Vamos definir e comentar cada um deles, para que fique bem claro como tem evoluído a Educação Especial, até às idéias recentes da escola inclusiva. Mas, o que se entende por integração???? É o processo que visa ao estabelecimento de condições que facilitem a participação da pessoa portadora de necessidades educativas especiais na sociedade, obedecendo aos valores democráticos de igualdade, participação ativa e respeito a direitos e deveres socialmente estabelecidos.

Para PEREIRA (1980), existe três formas principais de integração:temporal, social e instrucional. A integração temporal ocorre quando há disponibilidade de oportunidade para que a pessoa com necessidades educativas especiais permaneça mais tempo com seus companheiras ditos normais, esperando-se que resultados positivos sejam obtidos através das ações instituições e sociais. A integração social pressupõe a existência de atendimentos de Educação Especial na escola regular de ensino, onde os alunos nela escolarizados realizam algumas atividades comuns, tais como jogos e atividades extra-escolares. A integração instrucional relaciona-se com disponibilidade de oportunidades e de condições de estímulos que este aluno encontra no ambiente da classe regular, facilitando seu processo de ensino-aprendizagem. Outrossim, é a integração funcional, assim chamada porque é vista como a redução progressiva da distancia funcional na utilização conjunta de recursos educacionais. Existem aí três níveis de integração funcional: a utilização compartilhada, onde são compartilhadas os mesmos meios, mas horário diferente; a utilização simultânea, no mesmo momento, mas de forma separada, cooperação, onde os recursos são utilizados ao mesmo tempo e com objetivos educacionais comuns. Na esfera educacional, a integração se caracteriza pela busca cada vez maior da democratização das sociedades, da garantia dos direitos humanas e de oportunidades justas à minorias com base em princípios igualitários. Educacionalmente essa busca se traduz no desenvolvimento do principio de educação para todos. O reconhecimento desses principio, por sua vez, aprofundou o repensar do papel de todos aqueles que eram, até então, excluídos, marginalizados ou segregados...como tal passam a ter resgatados, pelo menos teoricamente, seus direitos de participação social. Um outro principio é o da normalização. Isto não significa tornar o aluno com necessidades educativas especiais normal. Significa oferecer condições de vida as mais próximas possíveis de outras pessoas, a fim de que possam desenvolver ao máximo suas potencialidades.

DIGA NÃO À INDIVIDUALIZAÇÃO!!!! O principio da individualização é o que mais valoriza as diferenças individuais, sejam as diferenças dos portadores de necessidades especiais, quando comparados aos ditos normais, sejam as diferenças entre os portadores de necessidades educativas especiais, quando comparados entre si.esse principio pressupõe que o ensino seja individualizado em termos de recursos instrucionais, características pessoais e tempo de cada um. Enquanto integração é um processo, normalização é um objetivo. Dentro deste principio, a escola regular deve possibilitar meios de se adaptarem ao ambiente escolar, minimizando as diferenças entre os alunos portadores de necessidades educativas especiais e os demais. Em relação ao espaço físico, por exemplo, o que se vê frequentemente é a presença de barreiras arquitetônicas que impedem o aluno cego ou deficiente físico de se locomoverem com autonomia. É então, necessário alargar portas, colocar corrimãos, fazer rampas e pisos não escorregadios, eliminar obstáculos que enganem o cego. Entretanto não são apenas as barreiras arquitetônicas que dificultam a integração.pior ainda, são as barreiras atitudinais, humanas, carregadas de preconceitos e que fortalecem a exclusão do aluno com necessidades educativas especiais da escola regular. Você reparou que nesse sistema, uma criança por exemplo, se for colocada em uma classe especial estará mais integrada do que se pertencesse a uma escola especial, enquanto que uma outra, se for colocada neste tipo de escola estará mais integrada do que se estivesse numa escola residencial? Para onde você acha que eram encaminhadas os alunos com menor comprometimento? Certamente, você dirá que eles iam para os ambientes menos segregativos, menos restritivos. Na verdade muitas estratégias foram usadas na tentativa de colocar estes alunos na corrente principal, porém, um dos problemas que se observou,

foi que a integração desses alunos á escola regular teve um sentido de mão única, onde o aluno com deficiência era quem devia se adequar aos padrões da escola e não esta adequar seus padrões às necessidades das crianças. O QUE VOCÊ ACHA?????? O que você acha? São as crianças que apresentam dificuldades que devem se adequar à escola ou esta promover-se de meios para atender qualquer aluno de sua comunidade, isto é, adequar-se ao aluno? No final da década de 80 e inicio de 90, os estudos de SASSAKI (1997), mostravam: a integração social não era insuficiente para acabar com a discriminação que havia contra este segmento populacional, mas também era muito pouco para propiciar a verdadeira participação plena com igualdade de oportunidades. O autor acrescenta ainda que, no modelo integrativo, a sociedade em geral, ficava praticamente de braços cruzados e aceitava receber os portadores de deficiência desde que eles fossem capazes de moldar-se aos tipos de serviços que ela lhes oferecia e isto acontecia inclusive na escola. Assim a integração tão desejada só ocorria, geralmente, quando o aluno portador de necessidades educativas especiais, por seus próprios méritos, conseguia adaptar-se à classe regular. O acesso a ele era difícil. Mesmo nas grandes cidades, em que a maior parte d população de 7 a 14 anos já tinha garantido seu lugar no ensino básico, e o problema fundamental da escola consistia em proporcionar um ensino de qualidade, o que se observava era que apenas 10 15% dos alunos portadores de necessidades educativas especiais recebia alguma forma de atendimento educacional. Além do mais, a maioria destes alunos não

conseguia ultrapassar as séries iniciais da escola. O que se vinha constatando também é que somente um pequeno número de pessoas, que possuía recursos financeiros, podia manter seus filhos nestes programas envolvendo a Educação Especial e/ou Regular porque os serviços públicos existentes eram raros ou insuficientes. 2.2. Integração X Inclusão: Diferenças e Diversidade Quando se caracteriza um grupo de humanos e estes são identificados sob a denominação de pessoas com necessidades especiais, cria-se um dos modos de produção das diferenças, presentes nas interações humanas através do modo de pensar e sentir a cerca do outro. São manifestações que não são naturais e espontâneas, mas produzida social e culturalmente, processo que abarca um conjunto de significações que funcionam como codificadores de diversos tipos de diferenças, sejam elas físicas, afetivas no mundo de sentir, cognitivas no modo de pensar e interpretar as experiências cotidianas com o mundo, culturais no modo de produzir algo e sociais vinculadas ao modo como é organizado o que se produz. Como toda produção humana, o campo de criação das diferenças é dotado de crenças, valores, fantasias, diversos sentimentos, emoções e desejos, todos com variedades de afetos que tanto propiciam relações inclusivas quanto excludentes.portanto o histórico desse grupo de pessoas, assim como de tantos outros grupos que sofreram e sofrem diferentes formas de exclusão, são marcados por vários tipos de preconceitos que levam marca da estereotipia, tendo por conseqüência processos discriminatórios que se concretizam em diversos níveis de exclusão social.

PRODUÇÃO HUMANA!!!!!!! Assim as pessoas que estão codificadas sob essa denominação, sofreram ao longo da história diferentes formas de segregação, demarcadas e expressas em significações socioculturais construídas em torno de suas características. Nesse percurso, o termo deficiência sofreu vários deslocamentos que perpassa pela era pré-cientifica, cientifica e contemporânea. Em cada época, foram desenvolvidas significações que justificaram e justificam a forma de tratamento ao grupo de pessoas enquadradas nas características que se convencionou denominarem de deficiência. Na era pré-cientifica, diziam serem pessoas sem alma e assim justificavam a radical exclusão,manifesta pelo seu total abandono até a morte. No discurso do pensamento cristão, ganham outra identidade, são filhos de Deus e possuidores de alma, a exclusão é feita às avessas, eram tratados com ambigüidade, caridade e castigo,proteção e segregação. Como vimos toda teria produz um discurso impregnado de valores que vão moldando a realidade, assim, toda teoria produzida sobre o que se chama deficiência, possui uma matriz de produção teórica, onde os seus representantes basearam-se em diferentes concepções filosóficas do ser humano, gerando diversas conseqüências em seu desenvolvimento.

ONU ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS Em 13 de dezembro de 2006, a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. No Artigo 24, a Convenção trata do direito à educação. A inclusão escolar é o processo de adequação da escola para que todos os alunos possam receber uma educação de qualidade, cada um a partir da realidade com que ele chega à escola, independentemente de raça, etnia, gênero, situação socioeconômica, deficiências etc. É a escola que deve ser capaz de acolher todo tipo de aluno e de lhe oferecer uma educação de qualidade, ou seja, respostas educativas compatíveis com as suas habilidades, necessidades e expectativas. Por sua vez, a integração escolar é o processo tradicional de adequação do aluno às estruturas física, administrativa, curricular, pedagógica e política da escola. A integração trabalha com o pressuposto de que todos os alunos precisam ser capazes de aprender no nível pré-estabelecido pelo sistema de ensino. No caso de alunos com deficiência (intelectual, auditiva, visual, física ou múltipla), a escola comum condicionava a matrícula a uma certa prontidão que somente as escolas especiais (e, em alguns casos, as classes especiais) conseguiriam produzir. Inspirada no lema do Ano Internacional das Pessoas Deficientes ( Participação Plena e Igualdade ), tão disseminada em 1981, uma pequena parte da sociedade em muitos países começou a tomar algum conhecimento da necessidade de mudar o enfoque de seus esforços. Para que as pessoas com deficiência realmente pudessem ter participação plena e igualdade de oportunidades, seria necessário que não se pensasse tanto em adaptar as

pessoas à sociedade e sim em adaptar a sociedade às pessoas. Isto deu início ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo necessidades especiais não substitui a palavra deficiência, como se imagina. A maioria das pessoas com deficiência pode apresentar necessidades especiais (na escola, no trabalho, no transporte etc.), mas nem todas as pessoas com necessidades especiais têm deficiência. As necessidades especiais são decorrentes de condições atípicas como, por exemplo: deficiências, insuficiências orgânicas, transtornos mentais, altas habilidades, experiências de vida marcantes etc. Estas condições podem ser agravadas e/ou resultantes de situações socialmente excludentes (trabalho infantil, prostituição, pobreza ou miséria, desnutrição, saneamento básico precário, abuso sexual, falta de estímulo do ambiente e de escolaridade). Na integração escolar, os alunos com deficiência eram o foco da atenção. Na inclusão escolar, o foco se amplia para os alunos com necessidades especiais (dos quais alguns têm deficiência), já que a inclusão traz para dentro da escola toda a diversidade humana. A seguir, parágrafos e letras do Artigo 24 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência serão mencionados entre colchetes após os comentários. Em primeiro lugar, a Convenção defende um sistema educacional inclusivo em todos os níveis [ 5]. Em suas linhas, percebemos que a educação inclusiva é o conjunto de princípios e procedimentos implementados pelos sistemas de ensino para adequar a realidade das escolas à realidade do alunado que, por sua vez, deve representar toda a diversidade humana. Nenhum tipo de aluno poderá ser rejeitado pelas escolas [ 2, a ]. As escolas passam a ser chamadas inclusivas no momento em que decidem aprender com os alunos o que deve ser eliminado, modificado, substituído ou acrescentado no sistema escolar para que ele se torne totalmente acessível [ 1; 2, b e c ; 5]. Isto permite que cada aluno possa aprender mediante seu estilo de aprendizagem e com o uso de todas as suas inteligências [ 1, b ]. Portanto, a escola inclusiva percebe o aluno como um ser único e ajuda-o a aprender como uma pessoa por inteiro [ 1, a ]. Para a Convenção, um dos objetivos da educação é a participação efetiva das pessoas com deficiência em uma sociedade livre [ 1, c ; 3], o

que exige a construção de escolas capazes de garantir o desenvolvimento integral de todos os alunos, sem exceção. Uma escola em processo de modificação sob o paradigma da inclusão é aquela que adota medidas concretas de acessibilidade [ 2, d e e ; 4]. Quem deve adotar estas medidas? Professores, alunos, familiares, técnicos, funcionários, demais componentes da comunidade escolar, autoridades, entre outros. Cada uma destas pessoas tem a responsabilidade de contribuir com a sua parte, por menor que seja para a construção da inclusividade em suas escolas. Exemplos: Arquitetura. Ajudando a remover barreiras físicas ao redor e dentro da escola, tais como: degraus, buracos e desníveis no chão, pisos escorregadios, portas estreitas, sanitários minúsculos, má iluminação, má ventilação, má localização de móveis e equipamentos etc. [ 1; 2, b e c ]. Comunicação. Aprendendo o básico da língua de sinais brasileira (Libras) para se comunicar com alunos surdos; entendendo o braile e o sorobã para facilitar o aprendizado de alunos cegos; usando letras em tamanho ampliado para facilitar a leitura para alunos com baixa visão; permitindo o uso de computadores de mesa e/ou notebooks para alunos com restrições motoras nas mãos; utilizando desenhos, fotos e figuras para facilitar a comunicação para alunos que tenham estilo visual de aprendizagem etc. [ 3, a, b e c ; 4]

Métodos, técnicas e teorias. Aprendendo e aplicando os vários estilos de aprendizagem; aprendendo e aplicando a teoria das inteligências múltiplas; utilizando materiais didáticos adequados às necessidades especiais etc. [ 1; 2; 3 e 4]. Instrumentos. Adequando a forma como alguns alunos poderão usar o lápis, a caneta, a régua e todos os demais instrumentos de escrita, normalmente utilizados em sala de aula, na biblioteca, na secretaria administrativa, no serviço de reprografia, na lanchonete etc., na quadra de esportes etc. [ 3, a e c ; 4] Programas. Revendo atentamente todos os programas, regulamentos, portarias e normas da escola, a fim de garantir a eliminação de barreiras invisíveis neles contidas, que possam impedir ou dificultar a participação plena de todos os alunos, com ou sem deficiência, na vida escolar [ 1]. Atitudes. Participando de atividades de sensibilização e conscientização, promovidas dentro e fora da escola a fim de eliminar preconceitos, estigmas e estereótipos, e estimular a convivência com alunos que tenham as mais diversas características atípicas (deficiência, síndrome, etnia,

condição social etc.) para que todos aprendam a evitar comportamentos discriminatórios. Um ambiente escolar (e também familiar, comunitário etc.) que não seja preconceituoso melhora a autoestima dos alunos e isto contribui para que eles realmente aprendam em menos tempo e com mais alegria, mais motivação, mais cooperação, mais amizade e mais felicidade [ 4]. O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à idéia de eqüidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola. Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos sistemas de ensino evidenciam a necessidade de confrontar as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-las, a educação inclusiva assume espaço central no debate acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola na superação da lógica da exclusão. A partir dos referenciais para a construção de sistemas educacionais inclusivos, a organização de escolas e classes especiais passa a ser repensada, implicando uma mudança estrutural e cultural da escola para que todos os alunos tenham suas especificidades atendidas. Nesta perspectiva, o Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial apresenta a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que acompanha os avanços do conhecimento e das lutas sociais, visando constituir políticas públicas promotoras de uma educação de qualidade para todos os alunos.

EDUCAÇÃO ESPECIAL A educação especial se organizou tradicionalmente como atendimento educacional especializado substitutivo ao ensino comum, evidenciando diferentes compreensões, terminologias e modalidades que levaram à criação de instituições especializadas, escolas especiais e classes especiais. Essa organização, fundamentada no conceito de normalidade/anormalidade, determina formas de atendimento clínico-terapêuticos fortemente ancorados nos testes psicométricos que, por meio de diagnósticos, definem as práticas escolares para os alunos com deficiência. No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência teve início na época do Império, com a criação de duas instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, atual Instituto Benjamin Constant IBC, e o Instituto dos Surdos Mudos, em 1857, hoje denominado Instituto Nacional da Educação dos Surdos INES, ambos no Rio de Janeiro. No início do século XX é fundado o Instituto Pestalozzi (1926), instituição especializada no atendimento às pessoas com deficiência mental; em 1954, é fundada a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais APAE; e, em 1945, é criado o primeiro atendimento educacional especializado às pessoas com superdotação na Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff. Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com deficiência passa a ser fundamentado pelas disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN, Lei nº 4.024/61, que aponta o direito dos excepcionais à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino. A Lei nº 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao definir tratamento especial para os alunoscom deficiências físicas, mentais, os que se

encontram em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados, não promove a organização de um sistema de ensino capaz de atender às necessidades educacionais especiais e acaba reforçando o encaminhamento dos alunos para as classes e escolas especiais. Em 1973, o MEC cria o Centro Nacional de Educação Especial CENESP, responsável pela gerência da educação especial no Brasil, que, sob a égide integracionista, impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com deficiência e às pessoas com superdotação, mas ainda configuradas por campanhas assistenciais e iniciativas isoladas do Estado. Nesse período, não se efetiva uma política pública de acesso universal à educação, permanecendo a concepção de políticas especiais para tratar da educação de alunos com deficiência. No que se refere aos alunos com superdotação, apesar do acesso ao ensino regular, não é organizado um atendimento especializado que considere as suas singularidades de aprendizagem. A Constituição Federal de 1988 traz como um dos seus objetivos fundamentais promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art.3º, inciso IV). Define, no artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu artigo 206, inciso I, estabelece a igualdade de condições de acesso e permanência na escola como um dos princípios para o ensino e garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208). O Estatuto da Criança e do Adolescente ECA, Lei nº 8.069/90, no artigo 55, reforça os dispositivos legais supracitados ao determinar que os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. Também nessa década, documentos como a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994) passam a influenciar a formulação das políticas públicas da educação inclusiva. Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educação Especial, orientando o processo de integração instrucional que condiciona o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que (...) possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino

comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais (p.19). Ao reafirmar os pressupostos construídos a partir de padrões homogêneos de participação e aprendizagem, a Política não provoca uma reformulação das práticas educacionais de maneira que sejam valorizados os diferentes potenciais de aprendizagem no ensino comum, mas mantendo a responsabilidade da educação desses alunos exclusivamente no âmbito da educação especial. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências; e assegura a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar. Também define, dentre as normas para a organização da educação básica, a possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado (art. 24, inciso V) e [...] oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames (art. 37). Em 1999, o Decreto nº 3.298, que regulamenta a Lei nº 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular. Acompanhando o processo de mudança, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, determinam que: Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos. (MEC/SEESP, 2001).

As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial para realizar o atendimento educacional especializado complementar ou suplementar à escolarização, porém, ao admitir a possibilidade de substituir o ensino regular, não potencializam a adoção de uma política de educação inclusiva na rede pública de ensino, prevista no seu artigo 2º. O Plano Nacional de Educação PNE, Lei nº 10.172/2001, destaca que o grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana. Ao estabelecer objetivo e metas para que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, aponta um déficit referente à oferta de matrículas para alunos com deficiência nas classes comuns do ensino regular, à formação docente, à acessibilidade física e ao atendimento educacional especializado. A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas, definindo como discriminação com base na deficiência toda diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais. Este Decreto tem importante repercussão na educação, exigindo uma reinterpretação da educação especial, compreendida no contexto da diferenciação, adotado para promover a eliminação das barreiras que impedem o acesso à escolarização. Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução CNE/CP nº 1/2002, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, define que as instituições de ensino superior devem prever, em sua organização curricular, formação docente voltada para a atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais. A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais Libras como meio legal de comunicação e expressão, determinando que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia.

A Portaria nº 2.678/02 do MEC aprova diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do sistema Braille em todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o território nacional. Em 2003, é implementado pelo MEC o Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade, com vistas a apoiar a transformação dos sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos, promovendo um amplo processo de formação de gestores e educadores nos municípios brasileiros para a garantia do direito de acesso de todos à escolarização, à oferta do atendimento educacional especializado e à garantia da acessibilidade. Em 2004, o Ministério Público Federal publica o documento O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular, com o objetivo de disseminar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclusão, reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de alunos com e sem deficiência nas turmas comuns do ensino regular. Impulsionando a inclusão educacional e social, o Decreto nº 5.296/04 regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promoção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Nesse contexto, o Programa Brasil Acessível, do Ministério das Cidades, é desenvolvido com o objetivo de promover a acessibilidade urbana e apoiar ações que garantam o acesso universal aos espaços públicos. O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, visando ao acesso à escola dos alunos surdos, dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a formação e a certificação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos e a organização da educação bilíngüe no ensino regular. Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação NAAH/S em todos os estados e no Distrito Federal, são organizados centros de referência na área das altas habilidades/superdotação para o atendimento educacional especializado, para a orientação às famílias e a formação continuada dos professores, constituindo

a organização da política de educação inclusiva de forma a garantir esse atendimento aos alunos da rede pública de ensino. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pela ONU em 2006 e da qual o Brasil é signatário, estabelece que os Estados- Partes devem assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social compatível com a meta da plena participação e inclusão, adotando medidas para garantir que: a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino fundamental gratuito e compulsório, sob alegação de deficiência; b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em igualdade de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem (Art.24). Neste mesmo ano, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, os Ministérios da Educação e da Justiça, juntamente com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNESCO, lançam o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, que objetiva, dentre as suas ações, contemplar, no currículo da educação básica, temáticas relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem acesso e permanência na educação superior. Em 2007, é lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação PDE, reafirmado pela Agenda Social, tendo como eixos a formação de professores para a educação especial, a implantação de salas de recursos multifuncionais, a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, acesso e a permanência das pessoas com deficiência na educação superior e o monitoramento do acesso à escola dos favorecidos pelo Beneficio de Prestação Continuada BPC.

No documento do MEC, Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas é reafirmada a visão que busca superar a oposição entre educação regular e educação especial. Contrariando a concepção sistêmica da transversalidade da educação especial nos diferentes níveis, etapas e modalidades de ensino, a educação não se estruturou na perspectiva da inclusão e do atendimento às necessidades educacionais especiais, limitando, o cumprimento do princípio constitucional que prevê a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola e a continuidade nos níveis mais elevados de ensino (2007, p. 09). Para a implementação do PDE é publicado o Decreto nº 6.094/2007, que estabelece nas diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do acesso e permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo seu ingresso nas escolas públicas. O Censo Escolar/MEC/INEP, realizado anualmente em todas as escolas de educação básica, possibilita o acompanhamento dos indicadores da educação especial: acesso à educação básica, matrícula na rede pública, ingresso nas classes comuns, oferta do atendimento educacional especializado, acessibilidade nos prédios escolares, municípios com matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais, escolas com acesso ao ensino regular e formação docente para o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos. Para compor esses indicadores no âmbito da educação especial, o Censo Escolar/MEC/INEP coleta dados referentes ao número geral de matrículas; à oferta da matrícula nas escolas públicas, escolas privadas e privadas sem fins lucrativos; às matrículas em classes especiais, escola especial e classes comuns de ensino regular; ao número de alunos do ensino regular com atendimento educacional especializado; às matrículas, conforme tipos de deficiência, transtornos do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação; à infra-estrutura das escolas quanto à acessibilidade arquitetônica, à sala de recursos ou aos equipamentos específicos; e à formação dos professores que atuam no atendimento educacional especializado.

A partir de 2004, são efetivadas mudanças no instrumento de pesquisa do Censo, que passa a registrar a série ou ciclo escolar dos alunos identificados no campo da educação especial, possibilitando monitorar o percurso escolar. Em 2007, o formulário impresso do Censo Escolar foi transformado em um sistema de informações on-line, o Censo Web, que qualifica o processo de manipulação e tratamento das informações, permite atualização dos dados dentro do mesmo ano escolar, bem como possibilita o cruzamento com outros bancos de dados, tais como os das áreas de saúde, assistência e previdência social. Também são realizadas alterações que ampliam o universo da pesquisa, agregando informações individualizadas dos alunos, das turmas, dos professores e da escola. Com relação aos dados da educação especial, o Censo Escolar registra uma evolução nas matrículas, de 337.326 em 1998 para 700.624 em 2006, expressando um crescimento de 107%. No que se refere ao ingresso em classes comuns do ensino regular, verifica-se um crescimento de 640%, passando de 43.923 alunos em 1998 para 325.316 em 2006, conforme demonstra o gráfico a seguir: Quanto à distribuição dessas matrículas nas esferas pública e privada, em 1998 registra-se 179.364 (53,2%) alunos na rede pública e 157.962 (46,8%) nas escolas privadas, principalmente em instituições especializadas filantrópicas. Com o desenvolvimento das ações e políticas de educação inclusiva nesse período, evidencia-se um crescimento de 146% das matrículas nas escolas públicas, que alcançaram 441.155 (63%) alunos em 2006, conforme demonstra o gráfico: Com relação à distribuição das matrículas por etapa de ensino em 2006: 112.988 (16%) estão na educação infantil, 466.155 (66,5%) no ensino fundamental, 14.150 (2%) no ensino médio, 58.420 (8,3%) na educação de jovens e adultos, e 48.911 (6,3%) na educação profissional. No âmbito da educação infantil, há uma concentração de matrículas nas escolas e classes especiais, com o registro de 89.083 alunos, enquanto apenas 24.005 estão matriculados em turmas comuns. O Censo da Educação Especial na educação superior registra que, entre 2003 e 2005, o número de alunos passou de 5.078 para 11.999 alunos, representando um crescimento de 136%. A evolução das ações referentes à

educação especial nos últimos anos é expressa no crescimento de 81% do número de municípios com matrículas, que em 1998 registra 2.738 municípios (49,7%) e, em 2006 alcança 4.953 municípios (89%). Aponta também o aumento do número de escolas com matrícula, que em 1998 registra apenas 6.557 escolas e, em 2006 passa a registrar 54.412, representando um crescimento de 730%. Das escolas com matrícula em 2006, 2.724 são escolas especiais, 4.325 são escolas comuns com classe especial e 50.259 são escolas de ensino regular com matrículas nas turmas comuns. O indicador de acessibilidade arquitetônica em prédios escolares, em 1998, aponta que 14% dos 6.557 estabelecimentos de ensino com matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais possuíam sanitários com acessibilidade. Em 2006, das 54.412 escolas com matrículas de alunos atendidos pela educação especial, 23,3% possuíam sanitários com acessibilidade e 16,3% registraram ter dependências e vias adequadas (dado não coletado em 1998). No âmbito geral das escolas de educação básica, o índice de acessibilidade dos prédios, em 2006, é de apenas 12%. Com relação à formação inicial dos professores que atuam na educação especial, o Censo de 1998, indica que 3,2% possui ensino fundamental, 51% ensino médio e 45,7% ensino superior. Em 2006, dos 54.625 professores nessa função, 0,62% registram ensino fundamental, 24% ensino médio e 75,2% ensino superior. Nesse mesmo ano, 77,8% desses professores, declararam ter curso específico nessa área de conhecimento. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais, garantindo: Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior; Atendimento educacional especializado;

Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino; Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissional da educação para a inclusão escolar; Participação da família e da comunidade; Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; e Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. V Alunos atendidos pela Educação Especial Por muito tempo perdurou o entendimento de que a educação especial, organizada de forma paralela à educação comum, seria a forma mais apropriada para o atendimento de alunos que apresentavam deficiência ou que não se adequassem à estrutura rígida dos sistemas de ensino. Essa concepção exerceu impacto duradouro na história da educação especial, resultando em práticas que enfatizavam os aspectos relacionados à deficiência, em contraposição à sua dimensão pedagógica. O desenvolvimento de estudos no campo da educação e dos direitos humanos vêm modificando os conceitos, as legislações, as práticas educacionais e de gestão, indicando a necessidade de se promover uma reestruturação das escolas de ensino regular e da educação especial. Em 1994, a Declaração de Salamanca proclama que as escolas regulares com orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias e que alunos com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, tendo como princípio orientador que as escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras (BRASIL, 2006, p.330).

O conceito de necessidades educacionais especiais, que passa a ser amplamente disseminado a partir dessa Declaração, ressalta a interação das características individuais dos alunos com o ambiente educacional e social. No entanto, mesmo com uma perspectiva conceitual que aponte para a organização de sistemas educacionais inclusivos, que garanta o acesso de todos os alunos e os apoios necessários para sua participação e aprendizagem, as políticas implementadas pelos sistemas de ensino não alcançaram esse objetivo. Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes casos e outros, que implicam em transtornos funcionais específicos, a educação especial atua de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento às necessidades educacionais especiais desses alunos. A educação especial direciona suas ações para o atendimento às especificidades desses alunos no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de apoio, a formação continuada, a identificação de recursos, serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas. A sociedade ainda precisa quebrar as amarras das barreiras arquitetônicas!

Os estudos mais recentes no campo da educação especial enfatizam que as definições e uso de classificações devem ser contextualizados, não se esgotando na mera especificação ou categorização atribuída a um quadro de deficiência, transtorno, distúrbio, síndrome ou aptidão. Considera-se que as pessoas se modificam continuamente, transformando o contexto no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, reforçando a importância dos ambientes heterogêneos para a promoção da aprendizagem de todos os alunos. A partir dessa conceituação, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental ou sensorial que, em interação com diversas barreiras, podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. 2.3. PCN da educação Especial A exigência universal de pluralidade ou a chamada discriminação positiva ( affirmative action), que consiste em dar legalmente um tratamento preferencial a favor dos grupos humanos que são vítimas de injustiças ( negros, hispânicos, mulheres, homossexuais, deficientes e outros) vem assumindo, paulatinamente, há no mínimo três décadas, o caráter de fetichização da diferença. Tal perspectiva se assenta na idéia de que, para reparar uma desigualdade, convém valorizar a diferença em relação a outra Diferença. O contexto internacional que justifica a origem e a presença de um discurso da pluralidade de tal natureza, está associado à emergência, cada vez

mais constante, de diversos fenômenos de violência, conflitos étnicos e religiosos, evidências cotidianas de racismo e múltiplos preconceitos, que têm aflorado, com maior intensidade, a partir do término do chamado período da Guerra Fria. A educação tem papel crucial nesse contexto na medida em que é tida como um poderoso instrumento para desenvolver sentimentos de tolerância e aceitação entre os indivíduos. Fala-se, nesse sentido, em uma educação para a paz. Segundo LOPES (1997), é nessa perspectiva que o discurso em defesa do pluralismo vem fazendo parte dos documentos das agências da ONU e sendo incluído nas atuais políticas de currículos nacionais em diversos países. A partir de um pressuposto pluricultural, procura-se passar, para educadoras e educadores, bem como para a opinião pública, a idéia de que a escola está aberta para atender a todos. Que o convívio social com as diferenças levará à formação de indivíduos mais tolerantes e atentos à diversidade, seja ela cultural, social, de necessidades educativas especiais. Adota-se, sobretudo, o discurso de que todos são iguais, ou melhor, todos são especiais, todos merecem atenção e ensino diferenciado. DIVERSIDADE E PLURICULTURALISMO!!!!

Assim é que nos deparamos, por exemplo, com a idéia de que a escola deve buscar o respeito às diferenças e que as mesmas não podem ser vistas como obstáculo para o cumprimento da ação educativa. Neste final de século, em países como o Brasil, os EUA, a Espanha, entre outros, verifica-se um movimento de fechamento das Escolas Especiais, identificadas como espaços segregados. No curso da elaboração e publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais PCN para o Ensino Fundamental e Médio, no final do ano de 1999, o Governo Federal publicou a versão final das Adaptações Curriculares dos Parâmetros Curriculares Nacionais para Educação de alunos com necessidades especiais. Visa-se, assim, consubstanciar a incorporação do aprendiz com necessidades educativas especiais à dinâmica pedagógica do ensino regular. Em entrevista ao Jornal do MEC, a atual Secretária de Educação Especial, Marilene Ribeiro declara que a proposta aponta para uma tendência irreversível a integração. (p.8) Assim, a estratégia sugerida pelo Ministério da Educação indica que não seja mais o portador de necessidades especiais quem precise se 2 adequar ao sistema educacional e sim ao contrário. Que os serviços educacionais especiais, embora diferenciados, não podem se desenvolver isoladamente. Argumentamos, no presente artigo, que a segregação não é um dado essencializado mas sim, fruto de uma construção social e histórica da deficiência. Neste prima, discursos igualitários, solidários, e tolerantes para com os deficientes não estariam refletindo acerca do próprio binômio normalidade/deficiência, nem tampouco discutindo acerca do próprio fundamento epistemológico que norteia as ações que visam adaptar os currículos e assim, incluir a todos. A partir desta perspectiva, este trabalho tem como objetivo traçar três ordens de considerações, à guisa de início de debate, acerca dos Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação de alunos com necessidades especiais. Num primeiro momento, buscamos refletir acerca da própria noção de deficiência e de Educação Especial que permeia o documento. Ao ocuparmos o espaço deste trabalho com reflexões sobre as representações históricas acerca da normalidade/deficiência, argumentamos que tais visões ainda constroem, mesmo que de maneira velada, as noções

capacitacionistas presentes, até hoje, do discurso da Educação chamada de Especial e mesmo, na chamada Escola Inclusiva. A perspectiva da deficiência como construção, criada e recriada nos espaços institucionais como a religião, a ciência e a escola pode nos dar subsídios refletir sobre o que é normal ou anormal e vislumbrar como essas representações permanecem arraigadas, até hoje, mesmo nas propostas educacionais que se dizem igualitárias e inclusivistas. Temos como perspectiva teórica, os estudos foucaultianos que traçam uma genealogia do conceito da deficiência, inscrevendo-o, historicamente, na emergência do chamado racionalismo moderno, momento de intensificação dos mecanismos de regulação do tempo e do espaço, contribuindo, assim, para ritualizar e formalizar procedimentos normativos, noções teleológicas e capacitacionistas. (VARELA,1996). Em seguida, focalizamos os PCN e analisamos a própria concepção de adaptação curricular a partir dos trabalhos de CHEVALLARD (1996) e PERRENOUD (2000), entre outros, argumentando a necessidade de que se alterem não apenas os conteúdos e que se diversifique metodologias e/ou tecnologias do ensino, mas que se vislumbre, se estamos falando de pluralidade de saberes a serem contemplados pelo currículo, a necessidade de mudança do próprio estatuto epistemológico em que se baseia a seleção e organização do conhecimento que é veiculado em nossas escolas inclusivas. Apontamos, também, o risco que tais adaptações correm com a possibilidade de banalizar e descontextualizar o conhecimento. Por último, concluímos com uma síntese análise das adaptações tendo como pano de fundo a educação dos aprendizes surdos. Nos limites deste trabalho, buscamos fazer uma síntese histórica de modo a contribuir com a compreensão da construção do conceito de deficiência e de sua trajetória até o momento atual. Podemos dizer que até o século XVIII, as noções acerca da deficiência aparecem fortemente ligadas ao misticismo. Como por exemplo, podemos citar, não só os egípcios que transformaram em Deuses os anões como, também, os gregos que deificaram seres hermafroditas. Já os romanos dirigiram a sua 3 veneração pelos seres considerados anorma is para a criação de circos. Primeiro a religião e depois, o próprio cristianismo, tiveram o papel de colocar

o homem como imagem e semelhança de Deus. Um ser perfeito. Os imperfeitos seriam, portanto, colocados à margem da condição humana ou mesmo, exterminados na medida em que eram entendidos como um sinal de Satanás 1. Entre os imperfeitos encontravam-se os cegos, surdos, deficientes mentais ou físicos e, até mesmo, os gêmeos. O Renascimento e suas cortes trouxeram à cena anões, corcundas e outros deficientes compondo o que seria mais um espetáculo da anormalidade2. Já o Iluminismo e o processo de consolidação da sociedade moderna introduziram e difundiram, paulatinamente, a visão de normalidade pretendida pela então visão legitimadora da ciência e promoveu uma higienização da anormalidade como espetáculo. Procede-se, assim, um enclausuramento da anormalidade com fins de reabilitação ou cura. Tal processo estendeu-se pelo século XX, impregnando a educação especial com uma visão clínica, medicamentosa da deficiência. Dito de outra forma, SOUZA (1998) nos explicita que da Antigüidade até o final do século XVI, a busca da similitude entre as coisas era o modo de tornar possível que o mundo se fizesse conhecer. A partir da modernidade os procedimentos classificatórios e avaliatórios do indivíduo e de seu corpo se consubstanciaram e se confundiram, com as práticas disciplinares, capacitacionistas e normativas. E, nos séculos XVI e XVII a análise das semelhanças era a única forma de conhecer o mundo, o cartesianismo inaugura a comparação racional e meticulosa daquilo que deveria consubstanciar e organizar o conhecimento. Ordenar e classificar eram portanto, a base da taxionomia social que distinguiam os seres. É nesse sentido que podemos dizer que a base epistemológica que caracteriza os séculos XVII e XVIII ofereceu uma matriz comum de organização abrindo para a emergência de instituições reguladoras, entre elas a escola e no nosso caso, a escola especial. Assim, podemos dizer que não só a regulamentação e a disciplinização se convertem em instrumento de poder como, também, se estabelecem marcas de hierarquia social e psíquica de um tecido social que busca a homogeneidade mas que oculta, na verdade um papel de classificação, de hierarquização e distribuição de lugares ), assinala que há uma gênese comum que articula a medicina e pedagogia especial.