Proposta de Investigação para o Programa Doutoral em CTI Escola ETA, ISCTE-IUL Título: A Influência das Tecnologias da Informação e Comunicação sobre o desenvolvimento da aprendizagem organizacional: um estudo de múltiplos casos em empresas brasileiras e portuguesas. Candidato: Adriana Lopes Fernandes Orientador: Bráulio Alturas Área de Especialização: Informática Aplicada à Gestão e às Ciências Sociais 1 Objectivos da Proposta. O atual cenário de crescente competitividade entre empresas e nações tem estabelecido a necessidade de introduzir e cultivar as noções de mudança e inovação nas organizações. É de importância substancial que as organizações se adaptem às modificações, caso contrário, correm o risco de serem superadas pela concorrência. Sendo assim, as organizações necessitam dispor de elementos internos que visem garantir a sua sobrevivência. Um desses elementos é a aprendizagem organizacional que vem se destacando como um diferencial competitivo sustentável e singular (STATA, 1989; LOCKE; JAIN, 1995). A formulação de estudos e conceitos sobre o tema aprendizagem organizacional surgiu na década de 60, por intermédio de estudos sobre a teoria comportamental (BELL; WHITWELL; LUKAS, 2002). No entanto, foi na década de 90 que muitas empresas passaram a ter contato com o assunto, após a divulgação das idéias de Peter Senge que invocaram a imagem de pessoas e grupos trabalhando para melhorar a inteligência, a criatividade e a capacidade organizacional. Senge (2000) afirma que as organizações que aprendem são mais competitivas, na medida em que se adaptam mais rapidamente que as suas concorrentes, garantindo práticas mais eficazes e levando a organização a um novo patamar de desenvolvimento e de conquista de sua sustentabilidade no mercado. Não há um consenso sobre o conceito de aprendizagem organizacional e nem uma única escola que defina como ela acontece. Segundo Tsang (1997) a literatura sobre aprendizagem organizacional está mais orientada para a ação e pelo uso de ferramentas metodológicas específicas para diagnosticar, avaliar e promover o desenvolvimento dos processos de aprendizagem dentro das organizações. Para melhor compreensão de como a aprendizagem organizacional ocorre, destacam-se alguns dos principais modelos, sendo:
Autores que discorrem a respeito do assunto Senge (1990) Argyris e Schon (1974) Kim (1993) Nonaka e Takeuchi (1997) Modelo apresentado Propõe uma abordagem sistêmica para a aprendizagem e uma forma para seu desenvolvimento, onde as organizações devem desenvolver cinco disciplinas para um efetivo processo de inovação e aprendizagem: domínio pessoal, modelos mentais, visão compartilhada, aprendizagem em equipe e pensamento sistêmico. Por disciplina, o autor entende um conjunto de teoria e técnica que deve ser estudado e dominado para que leve à aprendizagem organizacional. O sucesso nas organizações comprometidas, segundo ele, decorre da existência de uma comunidade diversificada de líderes capazes de sustentar o comprometimento com a mudança. (SENGE, 1990) Os autores desenvolveram modelos buscando auxiliar as pessoas a agir com comportamentos alinhados aos mapas mentais (de como planejar, implementar e analisar suas ações) que possuem, com coerência entre o discurso e a prática concebendo os conceitos de aprendizagem de circuito simples (as mudanças decorrentes da aprendizagem se limitam à correção na ação que levou a uma conseqüência, colocando o indivíduo em uma situação reativa) e aprendizagem de circuito duplo (há exame, reflexão e associação entre as ações e o que motiva a ação, que pode ser alterada, assim como as próprias ações). (ARGYRIS; SCHON, 1974) Modelo que visualiza a aprendizagem segundo uma roda girando em que durante uma metade do ciclo, enquanto se testam os conceitos e observa-se o que acontece de fato, aprende-se o como. E, na outra metade, enquanto se reflete sobre as observações e formam-se os conceitos, aprende-se o porquê. O exercício do porquê desenvolve a consciência, e o como a capacidade de realizar ou a competência. Assim, na medida em que se assimilam os comos e os porquês, constroem-se modelos mentais imagens profundas do mundo e de como ele funciona. Os modelos mentais são formados pelos giros de roda, mas também determinam a velocidade de cada giro pela forma como assimilamos a aprendizagem. (KIM, 1993) Propõem o modelo de aprendizagem em espiral ou Espiral do Conhecimento, onde a aprendizagem ocorre por meio da interação contínua e dinâmica entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. Essa integração é moldada pelas mudanças entre diferentes modos de conversão do conhecimento que, por sua vez, são introduzidos por vários fatores. (NONAKA; TAKEUCHI, 1997)
Autores que discorrem a respeito do assunto Schein (1996) Kolb (1997) Modelo apresentado Argumenta que as condições necessárias ao estabelecimento da aprendizagem na organização estão ligadas a cultura organizacional. Uma cultura de estímulo à aprendizagem deve equilibrar os interesses de todos os envolvidos, concentrar-se nas pessoas e não nos sistemas, sendo necessário criar um idealismo sobre a natureza humana, fazer as pessoas acreditarem na possibilidade de mudar o seu ambiente e disponibilizar tempo para a aprendizagem. Acredita que os aspectos culturais da organização estão presentes como facilitadores ou inibidores da aprendizagem e por relacionar fortemente a aprendizagem com mudança organizacional. (SCHEIN, 1996) O modelo de aprendizagem vivencial que baseia-se num ciclo de quatro fases, no qual a experiência concreta é a base para as observações e reflexões que, ao serem realizadas, levam à formação de conceitos e teorias. A partir destes conceitos são concebidas novas implicações para a ação, levando a novas experiências concretas. A aprendizagem compreende, neste modelo, um processo cíclico envolvendo fazerrefletir-analisar-decidir. (KOLB, 1997) Tendo em vista os modelos existentes, a questão chave para as empresas passa a envolver então, reflexões sobre qual o melhor caminho a ser construído para que a aprendizagem organizacional ocorra, identificando as práticas que estimulem o aprendizado em cada organização. Segundo Souza e Bitencourt (2003) quanto mais interativa e social a abordagem, maior será a possibilidade de desenvolver a aprendizagem. Sendo assim, entende-se que as Tecnologias da Informação e Comunicação podem ser utilizadas como instrumento mediador e facilitador no ambiente de aprendizagem e seus recursos utilizados pelas empresas considerados a memória dinâmica de todo o processo de aprendizagem organizacional. Teixeira Filho (2003) afirma que o papel das TIC está diretamente relacionado à formulação de estratégias, ao desenvolvimento do conhecimento coletivo, e ao aprendizado contínuo, tornando mais fácil às pessoas na organização compartilharem problemas, perspectivas, idéias e soluções. É importante salientar que essas tecnologias possibilitam a aprendizagem por meio do ensaio-erro-acerto, mediante a utilização de simuladores, permitindo a construção de cenários onde o ator social pode errar, experimentando as conseqüências das decisões incorretas sem, na realidade, causar danos às organizações. Com a utilização das TIC pode-se aprender pela experiência sem na realidade experienciá-la. Após realizar a revisão da literatura concluiu-se que não há um modelo de aprendizagem organizacional que leve em consideração as melhorias introduzidas nomeadamente pela introdução da influencia das TIC. Tendo em vista o contexto apresentado a presente investigação terá o objectivo de analisar a influência das Tecnologias da Informação e Comunicação sobre o desenvolvimento da aprendizagem organizacional em empresas brasileiras e portuguesas. Como obcjetivos específicos este trabalho pretende: Mapear um processo organizacional semelhante em empresas brasileiras e portuguesas.
Compreender as práticas de aprendizagem organizacional desenvolvidas no processo mapeado nas organizações investigadas; Analisar as principais características dessas práticas, identificando fatores organizacionais internos, tais como a cultura, a comunicação, o clima organizacional, que as influenciam. Analisar se as práticas utilizadas correspondem há algum dos modelos de aprendizagem organizacional e apontá-lo; Identificar os recursos das TIC e compreender como eles são utilizados no modelo de aprendizagem organizacional identificado; Descrever o modelo encontrado com as melhorias introduzidas nomeadamente pela introdução da influencia das TIC, quantificando o impacto das mesmas no desenvolvimento da aprendizagem. 2 Motivação e Contribuição Um dos motivos que orientaram este estudo foi o fato de que o conhecimento ser o ativo mais importante de qualquer organização. É o conhecimento que leva a novos tipos de modelos organizacionais e novos métodos gerenciais (STEWART, 2002). Tendo em vista esse pensamento, a questão chave para as empresas passa a envolver reflexões sobre um caminho a ser construído para que se crie conhecimento, um ambiente que estimule a aprendizagem na organização. Entende-se que a Aprendizagem Organizacional é um processo socialmente construído (EASTERBY-SMITH et al., 2001), onde o conhecimento individual e coletivo é transferido através da organização, possibilitando a aprendizagem organizacional. Um motivo, não menos relevante, é o fato de que para que a aprendizagem organizacional aconteça é necessária uma abordagem mais interativa e social tendo em vista a própria natureza do processo (SOUZA; BITENCOURT, 2003). As TIC podem auxiliar esse processo, fazendo com que o conhecimento gerado no nível individual e grupal possa ser mais facilmente compartilhado com toda a organização, favorecendo o desenvolvimento do conhecimento coletivo, gerando competitividade e intensificando ainda mais a velocidade do desenvolvimento humano e organizacional (TEIXEIRA FILHO, 2003). Uma outra questão relevante que motiva este estudo é o tímido crescimento de pesquisas que levem em consideração a relação entre a aprendizagem organizacional e as TIC. O fato pode ser notado pela escassez de publicações em periódicos e congressos nas áreas relacionadas à ciência da informação, principalmente dando foco às práticas que auxiliam o processo de aprendizagem organizacional. O intuito desta investigação é contribuir para a compreensão e descrição da influência das Tecnologias da Informação e Comunicação sobre o desenvolvimento da aprendizagem organizacional. Pretende-se entender como a tecnologia está sendo utilizada nesse processo e como ela poderia de certa forma, ajudar ainda mais no processo de aprendizagem e transmissão do conhecimento. O estudo pretende captar a percepção dos diversos agentes organizacionais envolvidos no processo de aprendizagem organizacional, de forma a esclarecer, para as empresas, como e quanto as TIC têm influenciado as práticas utilizadas pelas empresas na aprendizagem
organizacional, auxiliando e facilitando o processo, quais as práticas e os procedimentos mais adequados. Tendo em vista que não há um modelo de aprendizagem organizacional proveniente das melhorias introduzidas nomeadamente pela influência das TIC, o estudo pretende ainda descrever um esse modelo, quantificando o impacto dessa influência na melhoria do processo de aprendizagem. Pretende-se ainda fazer com que as TIC sejam vistas como um fator que auxilia e facilita o processo de aprendizagem organizacional contribuindo para que as organizações sejam mais competitivas. Levando em consideração a literatura pesquisada, entende-se que há uma necessidade de inovação e de troca de paradigmas e, ao mesmo tempo, de busca de um modelo de aprendizagem que possa dar sustentação à gestão eficiente dos processos organizacionais. 3 Abordagem Conforme a natureza dos objetivos propostos e com base nas características peculiares ao tema do trabalho, serão utilizadas para desenvolver o presente estudo as abordagens quantitativa e qualitativa. Percebe-se uma diferenciação entre estes dois tipos de investigação no que diz respeito à profundidade dos dados coletados e analisados, destacando-se, porém, que as duas abordagens não se opõem necessariamente, mas se complementam. A escolha da estratégia qualitativa se deu pelo fato da investigação ter o objetivo de compreender um processo e a visão das pessoas nele envolvidas (GODOY, 2005). A estratégia quantitativa vem complementar o estudo por possibilitar o tratamento das informações pelo meio estatístico (DIEHL; TATIM, 2004). Considera-se o tipo de pesquisa exploratório-descritiva o mais adequado por possibilitar que se alcançasse uma compreensão mais ampla acerca dos levantamentos fundamentais. Esse modelo será adotado devido à escassez de estudos e conceitos sobre a relação entre as TIC e a aprendizagem organizacional e pelo fato de não haver métodos de coleta de dados previamente definidos. Nesse tipo de pesquisa exploratória, empregar-se-á como método o estudo de caso. Essa escolha se justifica pela própria definição do estudo de caso que é uma investigação empírica que averigua um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real (YIN, 2005). O estudo irá contemplar dois casos, sendo um em uma empresa brasileira denominada CEMIG e outro em uma empresa portuguesa, ambas do setor de energia elétrica. A intenção é comparar os processos de aprendizagem, verificando os tipos de recursos das TIC utilizados e o quanto esses recursos impactam no processo, gerando informações que possam auxiliar no desenvolvimento de um novo modelo de aprendizagem. Os dados serão coletados a partir de fontes diferentes de evidências, como questionários, observação direta nos locais onde o processo ocorre, investigação documental, registros internos e exame de artefatos culturais das empresas investigadas. O fato de se utilizar diferentes fontes de coleta de dados permite a triangulação de dados, além de, na verdade, serem essas fontes altamente complementares (YIN, 2005).
4 Avaliação dos resultados obtidos Os resultados obtidos serão avaliados por meio estatística multivariada, pois a análise quantitativa dos dados visa identificar e classificar a relação entre os constructos apresentados (RICHARDSON, 1989) e da constante relação com a teoria já existente sobre o assunto. Os resultados obtidos proporcionarão as empresas pesquisadas melhorias nos métodos de trabalho, produção, pesquisa e utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação com reflexo em toda a organização. Além disso, irão contribuir com o enriquecimento da literatura existente sobre pesquisas que levem em consideração a relação entre a aprendizagem organizacional e as TIC. 5 Tarefas e calendarização. Ano Período Atividade 1º Ano 1º Semestre Elaboração do projeto com o primeiro estado da arte e refinamento do problema e dos objetivos caso necessário. 2º Semestre Conclusão do estado da arte 2º Ano 1º Semestre Conclusão da metodologia, definição das empresas participantes da pesquisa e validação do instrumento de coleta de dados 2º Semestre Pré-teste do instrumento de coleta de dados; refinamento; coleta de dados 3º Ano 1º Semestre Análise dos dados 2º Semestre Conclusão da tese
REFERÊNCIAS ARGYRIS, C; SCHON, D. Theory in pratice. San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 1974. BELL, Simon J; WHITWELL, Gregory J ; LUKAS, Bryan A. Schools of thought in organizational learning. Academy of Marketing Science. Journal; Winter 2002; 30, 1; DIEHL, A.A. TATIM, D.C. Pesquisa em ciências sociais aplicadas. São Paulo: Prentice Hall, 2004 EASTERBY-SMITH, M.; ARAUJO, L.; BURGOYNE, J. Aprendizagem organizacional e organização de aprendizagem. São Paulo: Atlas, 2001. GODOY, Arilda Schmidit. Refletindo sobre critérios de qualidade da pesquisa qualitativa. Revista eletrônica de gestão organizacional. São Paulo, v.3, n.1, jan/abr., 2005. LOCKE, E. E JAIN, V. Organizational learning and continuos improvement. The International Journal of Organizational Analysis, 3(1):45-68, 1995. KIM, D. The link between individual learning and organizational learning. Sloan Management Review, v. 35, n. 1, p. 37-50, fall 1993. KOLB, D. A. A gestão e o processo de aprendizagem. In: Starkey, Ken. Como as organizações aprendem: relatos do sucesso das grandes empresas. São Paulo: Futura, 1997. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1997. RICHARDSON, R. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1989. SCHEIN, Edgar H. Three Cultures of Management: The Key to Organizational Learning, volume 38, Number 1 (Reprint 3811), Fall 1996. SENGE, P. M. The leader s new work: building learning organizations. Sloan Management Review, v. 32, n. 1, p. 7-23, 1990. SENGE, Peter. A dança das mudanças. Rio de Janeiro: Campus, 2000. SOUZA, Yeda Swirski; BITENCOURT, Cláudia Cristina. Das Práticas de Aprendizagem à Aprendizagem Organizacional. In: XXVII ENANPAD, 2003, Atibaia/ SP. XXVII ENANPAD, 2003. STATA, R.. Organizational learning - the key to management innovation. Sloan Management Review, spring, pp. 63-74, 1989. STEWART, T. A. A riqueza do conhecimento: o capital intelectual e a organização do século XXI. Rio de Janeiro: Campus, 2002. TEIXEIRA FILHO, J. Gerenciando Conhecimento. 2ª edição, Editora Senac, Rio de Janeiro, 2003.
TSANG, E.W.K. Organizational learning and the learning organization: a dichotomy between descriptive and prescriptive research, Human Relations, Vol. 50 No. 1, p. 73-89, 1997. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.