CEFAC MASTIGAÇÃO: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DE ALTERAÇÕES E ATRASOS



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Transcrição:

CEFAC CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MASTIGAÇÃO: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DE ALTERAÇÕES E ATRASOS MONOGRAFIA ESPECIALIZAÇÃO EM MOTRICIDADE ORAL ORIENTADORA: MIRIAN GOLDENBERG DE RUTH LOPES DO NASCIMENTO RECIFE 1998

Resumo A mastigação é desenvolvida a partir da sucção, que é uma atividade coordenada e inata. Inicialmente, é estimulada pela introdução da mão, de objetos e alimentos de diferentes texturas na região oral. E a erupção dos dentes é uma passagem de uma fase para outra. É a fase inicial do processo digestivo, visa a degradação mecânica do alimento. Os movimentos mastigatórios devem ser bilaterais alternados para não prejudicar a morfologia e a maturação muscular e óssea. A força mastigatória é maior em pré-molar, e menor nos incisivos. A função mastigatória apresenta-se em três estágios: Incisão, Trituração e Pulverização do alimento. Qualquer alteraçào óssea ou muscular prejudica o desempenho mastigatório. E a alteração ou atraso na aquisição desta, resulta, em consequências para o sistema estomatognático como um todo.

Dedico este trabalho a meus pais, irmãos, a meu esposo e ao meu filho que nascerá em dezembro. Agradecimentos O meu agradecimento especial a Miriam Goldenberg por ter orientado de uma forma simples e eficaz sobre a arte de pesquisar. A meu tio por ter revisado este texto. E a todos os meus pacientes que compartilharam e compartilham suas vidas comigo. Honrar um pensador não é elogiá-lo, nem mesmo interpretá-lo, mas discutir sua obra, mantendo-o, dessa forma, vivo e demonstrando em ato, que ele desafia o tempo e mantém sua relevância. (Cornelius Castoriadis)

SUMÁRIO Introdução... 01. Discussão Teórica... 02. Considerações Finais... 12. Bibliografia... 13.

Introdução O desenvolvimento de uma pesquisa sobre a função mastigatória e as conseqüências no atraso do seu desenvolvimento faz-se importante para a fonoaudiologia e áreas correlatas como a psicologia e odontologia, tendo em vista o considerável número de crianças que, embora neurologicamente normais, demoram a realizar ou não realizam a fase mastigatória durante a infância por motivos como: rejeição ao alimento sólido, preferências alimentares, acomodação materna, traumas psicológicos, ausências dentárias, entre outros. Observamos que as crianças possuem todo um desenvolvimento normal: sugam, deglutem líquidos e pastosos, falam e articulam adequadamente, tem força na mordida, mas o ato mastigatório não é ou nunca foi realizado. Colocaram-se então algumas questões sobre possíveis efeitos do atraso da mastigação: Ocorrerá alteração no desenvolvimento crânio-facial? A musculatura mastigatória, pelo desuso, se atrofiará? Haverá diminuição do tônus muscular da região orofacial? Acarreta atraso no desenvolvimento da fala? A inexistência dos movimentos mastigatórios na infância pode ocasionar a longo prazo, num déficit mental?

Esta última questão foi o elemento motivador desta pesquisa, devido ao relato da mãe de uma criança que não mastigava. Ela a levou para dois profissionais de áreas correlacionadas e ambos a informaram, de modo convincente, de que a falta dos movimentos mastigatórios acarretaria uma deficiência mental à sua filha. Preocupada, a mãe começou a obrigar sua filha a mastigar, algumas vezes de forma agressiva, traumatizando-a. Após dois meses sem qualquer sucesso, chegou a meu consultório e relatou o caso. A mastigação é um ato rítmico e usualmente automático que serve para degradar mecanicamente o alimento. É através desta função que se inicia o processo digestivo. Há muitas indagações a respeito entre os profissionais que lidam com o problema. O que leva a uma criança a não aceitar a alimentação sólida, já adequada para a sua faixa etária? Esse questionamento pode ser respondido através do estudo de sua etiologia. Não encontramos, todavia, resposta para o que pode acontecer futuramente a esta criança em decorrência da não-realização da função mastigatória na infância, nem um possível prognóstico para o caso de não se modificar dentro de um prazo determinado a consistência alimentar. O objetivo deste estudo é, portanto, investigar quais os problemas que o atraso da função mastigatória pode desencadear. Pretendemos também verificar as alterações morfo-funcionais que a ausência de movimentos pode acarretar em crianças neurologicamente normais.

Discussão Teórica A mastigação constitui a primeira etapa do processo digestivo, que começa na boca, logo após a introdução do alimento, ocorrendo a redução do mesmo em partículas menores fáceis de serem engolidas na deglutição que segue a mastigação. O conjunto de fenômenos estomatognáticos visa à degradação mecânica dos alimentos em partículas menores que, posteriormente, misturam-se a saliva formando o bolo alimentar pronto para ser deglutido. Douglas (1998), afirma que durante a mastigação, contraem-se grupos musculares, sendo os músculos mastigatórios os mais destacados, embora também o sejam os músculos da língua e os faciais especialmente o bucinador e o orbicular dos lábios. A aposição rítmica dos dentes são dadas pelas contrações musculares, gerando uma pressão intercuspideana que se aplica nos alimentos, quebrando-os em pedaços menores. As funções estomatognáticas de sucção, deglutição e respiração são inatas. São fenômenos de natureza reflexa não-condicionada. O estímulo apropriado acarreta a resposta motora sem a necessidade de aprendizagem. Segundo Bianchini (1997), a mastigação é uma função aprendida e depende de inúmeros fatores, podendo ser conseguida apenas quando aumentar o espaço intra-oral propiciado pelo crescimento crânio-facial, possibilitando assim, o

movimento das estruturas envolvidas. Este crescimento é estimulado inicialmente pelo amamentar. Outros fatores importantes para o início da mastigação é a erupção dos dentes e a maturação do Sistema Nervoso Central controlando os movimentos e coordenando as outras funções interativas. Felício (1994), não considera a erupção dos dentes um fator muito importante pois observou movimentos mastigatórios em criança com ausência de dentes congênita concluindo que a alimentação sensória pelos dentes não é exclusiva. Os músculos da mandíbula são conhecidos como músculos mastigatórios e são mais estudados durante a função estomatognática. Estes são os elementos dinâmicos do sistema estomatognático, pois movimentam a mandíbula em diferentes sentidos de acordo com a inserção dos músculos na mandíbula e a orientação das fibras que se contraem num determinado momento. (Douglas, 1994). O início dos movimentos mandibulares são pobres e incoordenados, como os primeiro estágios de qualquer ato motor aprendido (andar, falar...). Segundo Douglas é através do amadurecimento de todo o sistema estomagnático e do desenvolvimento total da dentição que se estabelecem padrões de reflexo adquiridos pelas informações predominantes, dos mecanorreceptores da articulação têmporomandibular e dos receptores de tato e pressão da mucosa oral em geral.

Posteriormente, há um aperfeiçoamento no processo da mastigação levando a uma adaptação morfológica e funcional mais eficiente. Para Hanson (1988), a mastigação é uma atividade complexa em si mesmo: é voluntária, embora nem sempre consciente. O simples ato de colocar o alimento na boca não aciona o reflexo, mas, uma vez iniciado, ele pode continuar em nível subcortical. O controle do reflexo é centralizado numa área relativamente grande na porção médio inferior do córtex motor. Segundo Bradley ( 1981), os movimentos mastigatórios não são exclusivamente mecânicos, que requer apenas ser iniciado e detido no momento preciso, eles se encontram submetidos a um minucioso sistema de controle com seus correspondentes sistemas de retroalimentação que possibilitam sua eficiência. E no sistema nervoso central há um mecanismo que controla a mastigação, integrando as informações provenientes de áreas diversas e ativando os músculos apropriados no momento exato com o objetivo de produzir um grau adequado de contração e relaxamento. Bradley refere ainda que não há dúvidas de que a mastigação é coordenada por neurônios localizados no complexo sensoriomotor, trigeminal, localizado no tronco encefálico. Douglas (1994), afirma que a mastigação é uma atividade reflexa condicionada. No início, trata-se de uma atividade instável, pois perde-se facilmente ou pode desaparecer por um período; mas, na mastigação a associação de estímulos se repete continuamente, pode-se estabelecer ligações firmes entre as vias nervosas aferentes e motoras, de uma forma que a função nervosa se realize automaticamente subconsciente sem uma maior participação do córtex cerebral.

"A mastigação é uma atividade tanto voluntária como involuntária. Ainda que muitos estímulos periféricos, possam iniciá-la (visuais, gustativos, olfativos, tácteis...), a mastigação pode iniciar-se sem a presença de alimentos na boca. Pelo contrário, havendo alimento na boca, os movimentos mastigatórios rítmicos continuam até que apareça a decisão inconsciente de deglutir o alimento." O sistema estomatognático e constituído por músculos esqueléticos e é controlado pelo sistema nervoso central através do programa pirâmide e extrapiramidal, que controlam a atividade fásica e tônica dos músculos estomatognáticos, de acordo com a função necessária. Com relação à mastigação, o processo neural parece não ser de origem cortical, embora pode iniciar-se, modificar-se ou até mesmo se finalizar dependendo da vontade. Acredita-se que a via piramidal é responsável pelo início e controle dos movimentos mandibulares voluntários. Alguns neurônios corticais controlam o músculos mastigatórios e faciais, possibilitando os movimentos finos e precisos que são os característicos do sistema estomatognático. O resultado da integração dos impulsos cerebrais e sensoriais determina o padrão da atividade mandibular, e portanto, as diferentes posições e movimentações mandibulares. (Douglas, 1994).

Em resumo, o ato mastigatório é um processo complexo, muito dinâmico, que precisa das aferências nervosas que controlam simultaneamente a musculatura mastigatória (elevadora e depressora reciprocamente controladas), a musculatura facial e lingual (controladas); em três fases fundamentais: abertura, fechamento e oclusão, a mandíbula realiza um ciclo regulado supostamente por um centro mastigatório de atividade rítmica espontânea, mas poderosamente controlado por estímulos de origem periférica: mucosa bucal, periodonto, proprioceptores musculares e articulares, que agem alternadamente e sob o controle dos centros superiores: Piramidal e Extrapiramidal. Dessa forma, pode-se considerar a mastigação como um processo complexo e contínuo de interação entre influências de retroalimentação sensorial e comandos a partir de sistemas de controle central ou cerebral. Segundo Marchesan (1993), a mastigação é realizada pela contração muscular que leva a uma oposição rítmica dos dentes por meio de sua superfície oclusal funcional, processando-se em três fases mecânicas ou estágios consecutivos para destruir o alimento, que são: * Incisão ou mordida: inicia-se com o abaixamento e a projeção da mandíbula de modo a ativar o funcionamento conjunto dos dentes incisivos inferiores e superiores. Durante a penetração incisal do alimento ocorre a elevação da mandíbula em protrusão, apreende a comida entre as bordas incisais ficando em posição vis-a-vis. Posteriormente, a mandíbula é retropulsada, deslizando-se as

bordas incisais dos incisivos inferiores contra a face palatina dos incisivos superiores. A intensidade da contração muscular levantadora da mandíbula determina pressão entre os incisivos. O fenômeno é rítmico até que o alimento seja finalmente cortado, caindo após a mandíbula. A função da incisão é o corte de traços grandes, facilitado pela reduzida superfície oclusal dos incisivos, quase linear. Possuem ação de faca (Douglas, 1998). A língua recebe o alimento e levao até a face oclusal dos dentes posteriores para iniciar-se a segunda fase (Bianchini,1998). * Trituração é a transformação mecânica das partes grandes do alimento em menores. Ocorre principalmente nos pré-molares, uma vez que sua pressão intercuspideana é elevada, maior que a dos molares, pois sua superfície oclusal é razoavelmente grande, menor que a dos molares e maior que a dos incisivos. Sendo assim, é mais fácil moer nos pré-molares as partículas maiores que oferecem resistência. (Douglas,1998). A salivação age facilitando na eficiência desta fase.

* Pulverização: Douglas(1998) descreve como moenda final das partículas pequenas, transformando-as em elementos minúsculos que não oferecem resistência nenhuma para as superfícies oclusais ou mucosa oral. Ocorre principalmente em molares. Estas duas últimas fases não podem ser separadas rigorosamente, pois, freqüentemente o alimento que está sendo triturado nos prémolares passa aos molares, onde ocorre a pulverização, mas pode retornar aos pré-molares para reiniciar a moenda, ocorrendo dessa forma, a utilização alternada de molares e pré-molares. Durante a incisão e moenda, ocorre reflexivamente secreção salivar que auxilia na mastigação ao reduzir o alimento e, posteriormente contribui na formação do bolo alimentar. Para Douglas (1998), a atividade muscular nestas duas últimas etapas é intensa especialmente a relativa ao deslocamento mandibular, seguindo o plano vertical determinando basicamente a abertura e o fechamento da boca. Na pulverização molar, além dos movimentos verticais, acrescentam-se os horizontais, laterais, de retrusão e os de protrusão. Bianchini(1998) concorda com a variedade de movimentos nesta fase, mas afirma que são de menores dimensões em termos de amplitude e há modificação da força empregada. Não podemos esquecer que durante as duas últimas fases da mastigação, dependendo do tipo de alimento, ocorrem deglutições reflexas, pois o alimento já pulverizado vai direcionando-se para a parte posterior da boca e toca os pilares anteriores da faringe. O alimento posterioriza-se pela ação da língua e do bucinador; ao tocar nos pilares ocorre o reflexo de deglutição, enquanto a outra parte do alimento permanece sendo

pulverizado. A mastigação e a deglutição podem ocorrer quase concomitante e continuamente. É importante salientar que todas estas fases dependem da presença e conservação dos dentes, da possibilidade e liberdade dos movimentos mandibulares. Estes movimentos ocorrem devido a existência das articulações têmporomandibulares, da atuação neuromuscular e do comando neural. Em Bianchini (1998) observamos que a terminologia varia quanto à utilização de músculos mastigatórios ou músculos da mastigação. A distinção que costuma ser feita é a que se segue: Músculos Mastigatórios - são os que realizam apenas os movimentos mandibulares. São eles: temporal, masseter, pterigóideo lateral, pterigóideo medial e ventre anterior do digástrico (supra-hióideo)

Músculos da Mastigação - incluem-se também os músculos mastigatórios, os supra-hióideos (genio-hióideo, mito-hióideo, estilo-hióideo e o digástrico) e os infra-hióideos, estabilizando o osso hiódeo, músculos da língua, bucinador e musculatura da mímica, enfim, todos que participam do processo mastigatório. Estes músculos agem conjuntamente durante os contínuos e sincrônicos movimentos mandibulares. Alguns músculos contraem-se enquanto outros relaxam para poder realizar diversos movimentos. Mas, não há definição precisa de grupo muscular para determinado movimento mandibular. Faremos uma descrição sucinta da junção dos músculos mastigatórios: Músculos Elevadores possui como função básica a elevação da mandíbula, mas esses músculos participam de outros movimentos mandibulares. * Temporal - além de elevar a mandíbula, contrai os feixes anteriores na abertura máxima e os posteriores na retração da mandíbula, age no deslocamento contralateral. Seus fascículos dorsais se contraem na translação com oclusão e os ventrais na rotação com oclusão. Esse músculo é fundamental na determinação do tônus muscular e da posição postural da mandíbula. * Masseter - além de ser elevador, contribui significativamente para a projeção anterior da mandíbula, com boca fechada. * Pterigóideo medial - além da depressão, determina a projeção da mandíbula para a frente e movimentos de lateralidade, com contração unilateral (do lado ativo) e relaxamento contralateral (do lado passivo) * Digástico - faz parte dos músculos supra-hióideos. É basicamente depressor, como todos os músculos supra-hióideos, produzindo, também, retropulsão da mandíbula. Deve-se salientar que, na abertura bucal, o iniciador é o pterigóideo

lateral e o digástrico segue-o. * Geni-hióideo - é também supra-hióideo e depressor da mandíbula. Quando a boca está fechada, puxa o hióideo para cima, diminuindo o soalho da boca e facilitando a deglutição. É ainda retropulsor da mandíbula. * Milo-hióideo - favorece a deglutição, puxando o hióideo para cima como faz o geni-hióideo; deprime também a mandíbula quando o hióide está fixo. Músculos auxiliares não são considerados como músculos mastigatórios, mas participam ativamente das funções estomatognáticas. São auxiliares da mastigação, embora possam ser básicos para outras funções bucais. * Bucinador - puxa a comissura labial, comprime os lábios e bochechas, tornandose fundamental na sucção. É importante na mastigação, já que, estando a boca aberta, empurra o bolo alimentar para a superfície oclusal, que, nesta fase, permite a colocação do bolo; com a boca fechada, também fornece a maior resistência vestibular.

* Orbicular dos lábios - produz fechamento e projeção dos lábios para a frente. Importante na sucção. * Zingomático maior - junto com o zigomático menor leva a comissura labial para cima e para fora. * Zingomático menor - puxa a comissura labial e o lábio superior, em particular, para cima e para fora. Santos Jr. (1987) observa que o sistema mastigatório tem características anatômicas e funcionais atuando oral e mecanicamente em uma ação combinada dos músculos elevadores da mandíbula em ambos os lados da cabeça. Ocorrem variações com relação ao ciclo mastigatório, quanto a sua duração e freqüência, pois dependem da consistência, tipo e resistência do alimento. Não podemos estabelecer um referencial como ideal relacionado a um número de ciclos mastigatórios. Dessa forma, seria mera ilusão, pois, além da dependência do alimento existe ainda uma qualidade neuromuscular e o tipo muscular que altera o desempenho de cada indivíduo. Observamos maior vigor, potência e força mastigatória em indivíduos com face curta; já nos indivíduos com face longa, uma mastigação menos potente e menor força na mordida. (Bianchini, 1998). Existem vários parâmetros que constituem a mecânica da mastigação: A variação da intensidade da força mastigatória - determinada pela força de contração dos músculos levantadores da mandíbula, sendo maior nos indivíduos que utilizam alimentos duros durante as refeições. (esquimós) Variação da pressão mastigatória - a pressão oclusal é dada pela força mastigatória diferenciando de acordo com a área aonde age, apresenta-se maior

em áreas limitadas. Variação do número de golpes mastigatórios - o número de contatos interdentários produzidos durante a mastigação habitual depende da qualidade física do alimento. O equilíbrio mastigatório produz estímulos alternados nas diversas estruturas que compõem o sistema estomatognático. É no padrão da mastigação bilateral alternada que ocorre distribuição da força mastigatória, intercalando períodos de trabalho e repouso musculares e articulares, favorecendo a sincronia e o equilíbrio funcional e muscular. Este padrão depende de: presença de dentes e boa saúde dental, crescimento e desenvolvimento crânio facial, equilíbrio oclusal, ausência de interferências dentais ou contatos prematuros, estabilidade e saúde da articulação têmporo mandibular, maturação neuromuscular.

Outra forma de mastigação bilateral é a simultânea, aonde o alimento é distribuído homogeneamente nas superfícies oclusais dos dentes, tanto do lado direito como do esquerdo, existindo uma harmonia funcional dos diversos componentes do sistema estomatognático. Enquanto na mastigação unilateral estimula inadequadamente o crescimento e apenas as estruturas estomatognáticas do lado do trabalho, impedindo o desgaste fisiológico das cúspides dentárias do lado contrário, favorecendo o aparecimento de placas bacterianas e interferências oclusais. A causa mais freqüente de mastigação unilateral é a limitação da mobilidade articular ocasionada pela dor, outras possíveis causas são doenças periodontais, ausências de peças dentárias, interferências oclusais, cárie em um dos lados, assimetria esquelética e mordida cruzada posterior unilateral é um mecanismo de adaptação para evitar traumas para o periodonto, dentes e articulações. Neste caso, a mastigação ocorre geralmente do lado da articulação afetada pelo fato do movimento condilar ser menor e menos traumático deste lado. O grau de trituração ou moagem a que é submetido o alimento, por um número determinado de golpes mastigatórios é o que se entende por rendimento ou eficiência mastigatória. Ele é dado pela relação entre trabalho mecânico útil realizado e a energia consumida, ao final não devemos encontrar partículas grandes, apenas predominantemente partículas minúsculas para serem deglutidas. Sabemos que alguns indivíduos cuja a eficiência mastigatória não é boa, não mastigam adequadamente e por um tempo maior, dessa forma, deglutem partículas de tamanho significativo dificultando o processo digestivo.

Bradley (1981) afirma que é necessário apenas numa pequena capacidade mastigatória para que se realize a digestão dos alimentos. A mastigação auxilia a digestão quando é bem realizado, não influenciando demasiadamente no processo digestivo se ocorrer o inverso. Mas, Douglas (1998) refere que nos portadores e prótese ou patologias bucais ocorre uso de alimentos de menos consistência evitando alimentos mais duros. E nos indivíduos desdentados (total ou parciais), ocorre a diminuição da ingestão alimentar, que em anciãos ou fracos, pode conduzir a estado de subnutrição facilitando assim, alterações funcionais, como perturbações imunitárias e quadros infecciosos, além dos correspondentes transtornos digestivos. A força mastigatória depende da contração da musculatura elevadora da mandíbula, podendo ser modificado por vários fatores: Sexo e Idade o sexo é de importância irrelevante, pois a força mastigatória é um pouco maior no sexo masculino. Na idade observa-se em indivíduos jovens (15 a 20 anos) valores superiores de força mastigatória. Enquanto os valores das crianças (2 a 3 anos) e dos adultos são bastantes similares. Tipos de alimentação as pessoas que normalmente mastigam alimentos duros e fibrosos possuem maior força mastigatória do que as que alimentam-se de comidas preparadas. Classe dentárias - os valores de força mastigatórias mais elevados encontram-se no primeiro molar e os mais baixos nos incisivos. Isto é decorrência da favorável posição de inserção dos músculos levantadores, e obviamente, características de maior área de suporte dentário. Os hábitos parafuncionais prejudicam a estabilidade neuromuscular do sistema

estomatognático. Além dos hábitos de sucção digital, chupeta, língua e lábios; existem os que estão relacionados com os músculos mastigatórios que são: bruxismo ou ranger os dentes, onicofagia, apertamento dental, morder bochecha ou lábios. Estes hábitos sobrecarregam de forma anormal anormal os músculos masseteres, temporais e pterigóideos medial e lateral. Tais músculos podem futuramente apresentar dor e diminuição de sua coordenação. Os hábitos prejudiciais contribuem para alterações neuromusculares e da articulação temporomandibular. (Bianchini, 1998) Mútiplas são as causas que limitam e alteram a mastigação: dor durante a realização do ato mastigatório, periodontopatia (especialmente com a atrofia alveolar severa), cáries, uso de prótese removível e miopatias de origem neurológica. (Douglas, 1998) Algumas causas de origem psicológicas onde as crianças tem uma relação forte com a sucção (mamadeira) e não aceitam alimentos sólidos. Outras, de origem neurológica onde a informação chega aos centros, mas o ato motor encontra-se prejudicado como são os casos de paralisia cerebral. O distúrbio da articulação temporomandibular é outra causa de alterações na mastigação. As afcções bucais freqüentes, como estomatite, amigdalite, gengivite e outras são importantes indicativos de interferência na mastigação e preferências alimentares levando a restringir os ciclos mastigatórios e modificar a deglutição. Segundo Molina (1991), a mastigação tem como objetivo principal fragmentar os diversos alimentos em partículas cada vez menores preparando-as para a deglutição e digestão. Uma segunda função do ato mastigatório é fornecer uma

certa ação bactericida sobre os alimentos colocados na boca quando são fragmentados para formar o bolo. Uma terceira função da mastigação é proporcionar a força e função indispensável para o desenvolvimento normal dos ossos maxilares. A quarta e última função está relacionada com a manutenção dos arcos dentais, com a estabilidade da oclusão e com o estímulo funcional principalmente sobre o periodonto, músculos e articulação. A função mastigatória é importante para o crescimento e desenvolvimento dentofacial porque atua como estímulo de erupção dentária e aumento das dimensões dos arcos osteodentários. O equilíbrio mastigatório deve produzir estímulos alternados nas diversas estruturas que compõem o sistema estomotognático. A mastigação é saudável e essencial para manter a vitalidade da boca, fortalecendo a musculatura antigravitacional, estimulando o posicionamento correto dos dentes num arco simétrico e incentivando a formação de um osso alveolar firme e de textura densa. (Hanson, 1988) É também uma função importante no desenvolvimento dos maxilares, nas dimensões dos ossos, tanto em espessura como em largura e altura. Foi sugerido que falta de espaço para os caninos, especialmente os superiores, podem ser resultados de dietas moles e falta de estímulo para os ossos de complexo craniofacial. Observa-se que o processo de mastigar e falar tem uma íntima relação, pois o bebê movimenta a musculatura orofacial durante a mastigação favorecendo a aquisição sonora (articulação fonêmica). A força dos músculos, especialmente os da mastigação e deglutição tem uma

participação importante no desenvolvimento da dentição no período de trocas dentárias (mista). Alimentação pobre em consistência poderá levar pouco estímulo de crescimento e desenvolvimento. Pode ser também característica do tipo facial com menor potência muscular, como é o caso dos faces longas. Desde o início do trabalho, descrevemos sobre a funcionalidade de ato mastigatório e causas que prejudicam a realização e desempenho da mesma. Demonstraremos agora o que poderá acarretar, no futuro, o atraso da referida função no indivíduo como um todo. As anormalidades que todos dizem à respeito da mastigação podem ser resultados de fatores diversos, não apenas ligados ao sistema estomatognático mas até mesmo a fatores culturais ou deseducação mastigatória, variável de indivíduo para indivíduo. (hábitos pessoais). A não-realização da função mastigatória pode ocasionar algumas alterações em nível funcional e anatômico do sistema orofacial. A inatividade impede o desgaste fisiológico das cúspides dentárias, possibilitando interferências oclusais e favorecendo a instalação de placas bacterianas (distúrbio do periodonto); reduz forças oclusais e mastigatórias. O padrão mastigatório em atraso pode induzir uma disfunção muscular (hipotenicidade e diminuição da força muscular na região orofacial). Pode ocorrer também atraso no crescimento e desenvolvimento do sistema estomatognático e crâniofacial. O hábito de não mastigar (utilizar apenas alimentos líquidos e pastosos), prejudica também a força de mobilidade da língua (Marchesan, 1997), impedindo dessa

forma a adequação da funcionalidade e da postura de língua. Afeta inclusive os músculos do ombro e região superior da coluna vertebral porque ao mastigarmos alimentos duros exige-se a participação desta musculatura. Algumas vezes pode acarretar a hipotrofia dos músculos mastigatórios, atrofia dos ossos maxilares e o retardo no desenvolvimento da dentição. Pode prejudicar também o desenvolvimento da linguagem oral e a articulacão fonêmica. A função mastigatória é estímulo para continuidade deste sistema e para a manutenção da saúde dos músculos, articulações e periodonto na fase adulta. Proporciona a estabilidade da oclusão e mantém os arcos dentais. (Felício, 1994) Não encontramos nas fontes consultadas, nenhum relato de que o atraso da função mastigatória ocasionasse um déficit mental. Geralmente observamos que indivíduos com comprometimento neurológico ou mental (paralisia cerebral, síndrome de down, autismo), apresentam alterações na realização de funções estomatognáticas (sucção, deglutição e mastigação). Mas nenhum estudo refere a ausência de movimentos mastigatórios como causa de um retardo mental.

Referências Bibliográficas BEUTTENMULLER, M. G. Reequilíbrio da Musculatura Orofacial, Editora Enelivros -São Paulo, 1989. 70 p. BIANCHINI, E.M. Mastigação e ATM, Avaliação e Terapia, In: MARCHESAN, I.Q. Fundamentos em Fonoaudiologia Aspectos Clínicos da Motricidade Oral Editora Guanabara Koogan Rio de Janeiro, 1998. 37-49. BRADLEY, R. M. Fisiologia Oral Básica Editora Panamericana São Paulo, 1981. 195 p. DOUGLAS, C.R. Tratado de Fisiologia Aplicada às Ciências da Saúde. Editora Robe São Paulo, 1994. 1422p. DOUGLAS, C.R. Patofisologia Oral: Fisiologia Normal e Aplicada a Odontologia e Fonoaudiologia Editora Pancast São Paulo, 1994. 179 p. FELÍCIO, C.M. Fonoaudiologia nas Desordens Temporomandibulares: Uma Ação Educativa Terapêutica Editora Pancast São Paulo, 1998. 657p. HANSON, M.L. Fundamentos da Miologia Oral Editora Enelivros Rio de Janeiro, 1988. 399p. MARCHESAN, I.Q.Motricidade Oral Editora Pancast São Paulo, 1993. 70p. MARCHESAN, I.Q Avaliando e Tratando o Sistema Estomatognático In Lopes O. C. Tratado de Fonoaudiologia Editora Roco São Paulo, 1997. 763-80p. MOLINA, O. F.; C. D.; M.D.; Fisiopatologia Craniomandíbular Oclusão e ATM - Editora Pancast São Paulo 2ª Edição 1991, 677p. SANTOS, J.R. J. Oclusão, Princípios e Conceitos Editora Santos São Paulo, 1987.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Iniciamos este trabalho com a proposta de realizar um estudo complexo da função mastigatória; causas e consequências de uma alteração ou atraso na realização desta função, para retirarmos algumas dúvidas relacionadas ao quadro clínico de uma criança que não mastigava e a cuja genitora informaram que a nãorealização da função mastigatória poderia implicar um deficit mental. Com relação a esta afirmativa não encontramos qualquer dado ou sugestão que pudéssemos considerá-la como realidade. A bibliografia pesquisada informa a fisiologia da mastigação, a anatomia e morfologia dos músculos mastigatórios e dos ossos crâniofaciais (é através deles que realiza-se o movimento), as causas para uma mastigação alterada e unilateral, suas consequências e importância. Mas entre todas as consequências não existe nada que determine que a criança que não mastigue favoreça o surgimento de uma deficiência mental. Descobrimos que a mastigação é estímulo para o crescimento e desenvolvimento do sistema estomatognático, para manutenção da saúde dos músculos, articulações, periodonto e dentes na fase adulta. Salientamos a importância do consumo de alimentos duros e secos para auxiliar no desgaste natural da dentição e evitar interferências oclusais.

Aprendemos que a mastigação depende de várias estruturas orofaciais para ser realizada adequadamente, como por exemplo, a oclusão e tipologia facial determinam a força e o modo de mastigar. O hábito alimentar não é só o que se come, mas sim como, quando, o tempo disponível, valores que a família dá para a alimentação, pois as descritas acima comprometem o desempenho de uma função mastigatória adequada. Durante o desenvolver da pesquiza houve controvérsias com relação aos processos digestivos, pois um autor acredita na necessidade de uma excelente qualidade mastigatória para não acarretar transtornos digestivos e o outro afirma que a força mastigatória não influencia este processo. Devemos nos lembrar que muito do que aprendemos em relação a alimentos, como causa de problemas ligados a motricidade oral, são mudanças de toda uma sociedade em relação aos seus hábitos alimentares.