Grande Maldade Em dezembro de 1941, durante a evacuação do gueto de Riga, os nazistas mataram a tiros o famoso historiador judaico Simon Dubnow. Ele estava com 81 anos. Consta que suas ultimas palavras foram um conselho a seus colegas judeus: escrevam e lembrem! ( em iídiche, shreibt und farshreibt!) (Marrus, 1987, p. 17).
Grande Maldade Não é fácil estabelecer fronteiras claras para o estudo desse tema. Ficariam estas dentro dos limites do individual? Ou, necessariamente é no coletivo, no social, que o entrecruzamento de determinados fatores cria as condições para que o mal irrompa? Ou seja, onde devemos concentrar nossa atenção, nos fenômenos da subjetividade ou no espaço do intersubjetivo?
Holocausto Nós ocidentais, parece, nos sentimos órfãos das vítimas do Holocausto. É como se estivéssemos em dívida transgeracional contraída pelo que lá aconteceu, com a necessidade de buscar uma compreensão, mas sem poder contar com o indispensável registro simbólico dos fatos, tal como acontece na orfandade por perda muito precoce. Há que se lidar com a não compreensão, fruto do vazio representacional.
Barbárie x Civilizatório O mito do parricídio original e a fundação da ordem fraterna em nome da repressão instintual dão um significado possível, ao nascimento da civilização. Ao examinar essas hipóteses dentro do contexto das ideias psicanalíticas, Freud inclui na narrativa sobre o psíquico, a importância do pulsional na história da humanidade.
Freud: o bem e o mal Para Freud, Eros e a pulsão de morte são forças complementares e indispensáveis à vida. O mal e o bem transparecem nas relações entre sujeito e objeto. A consideração edípica pelo outro, o reconhecimento dos direitos do objeto enquanto entidade individualizada delimita o espaço para aquilo que se chama o bem. O seu oposto, a desmentida narcísica do objeto, abre as portas para o mal.
Freud: simbolização Segundo o vértice freudiano, a compreensão do civilizatório passa pelo reconhecimento dos efeitos da função representabilidade da pulsão na dimensão mente coletiva, ou seja, no campo cultural. Como decorrência, no social, o traumático é estar exposto ao efeito deletério da pulsão. escrevam e lembrem! Simon Dubnow
Conceito de Desmentida (Verleugnung) Em seu trabalho A divisão do Ego no Processo de defesa, Freud (1938), demonstra a universalidade da estrutura defensiva perversa. Através da clivagem do Ego e da desmentida (verleugnung) da castração, cria-se no sujeito uma zona de ambiguidades, que permite, no campo do discurso, a fetichização da verdade. Desaparecem os limites entre o certo e o errado, as diferenças entre o mal e o bem. Desmentida a verdade psíquica, o sujeito cria sua versão da realidade histórica, postiça, manipulável e permeável aos interesses narcísicos. Vórtice da Maldade
Conceito de Desmentida (Verleugnung) Em épocas de crise estabelece-se na cultura a prevalência dessa estrutura perversa. A insurreição contra o controle superegóico, efetivada pela aliança entre a instância egóica e o Ego Ideal, minimiza, ou faz desaparecer a coerência entre discurso e prática no âmbito da cultura, Desaparecendo a culpa, tudo se torna permitido. Esse movimento na estrutura, que desloca regressivamente o ético do genital para o narcísico, acompanha-se da apercepção, pela desmentida, do ritmo pulsional daquele momento histórico. Vórtice da Maldade
Vórtice da maldade: potência de destruição, insaciável e voraz. Dentro da perspectiva metapsicológica, o traumático no social gera um vazio representacional: o horror impensável do holocausto. O homem precisa tentar compreender aquilo que é sentido como inexplicável, como nas décadas do pós-guerra, quando também se observa, por outra lado, mobilização na busca por novos significantes. escrevam e lembrem! Simon Dubnow
Vórtice da maldade O holocausto exemplifica o vórtice da maldade. Age acordando o traumático e reatualiza em nossa consciência civilizatória o vazio representacional geracional. Pensado neste contexto, o vórtice da maldade funcionaria, de forma indireta, como elemento catalisador na ativação da função representabilidade da pulsão, e a seguir na semantização do campo cultural. É como se a dor do irrepresentável fosse necessária à evolução.
escrevam e lembrem! Simon Dubnow