BRASIL: CONSTITUIÇÃO E CONTINUAÇÃO DO CAPITALISMO DEPENDENTE



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Transcrição:

BRASIL: CONSTITUIÇÃO E CONTINUAÇÃO DO CAPITALISMO DEPENDENTE Francieli Martins Batista Licenciada em Ciências Sociais/UEM Resumo: O presente texto traz apontamentos a cerca da formação capitalista brasileira a partir do século XX com a constituição do padrão industrial no país. A formação do Brasil está intimamente ligada à conjuntura internacional e diretrizes do capital mundial. Busca-se elucidar algumas das relações estabelecidas com o capital externo, principalmente no campo econômico, na formação industrial e no processo de financeirização. Assim como, a consequente condição de dependência e subalternidade brasileira consolidada durante o século XX e aprofundando-se nos dias atuais. Palavras-chave: Brasil; Capitalismo dependente; Capitalismo financeiro; Neoliberalismo.

FRANCIELI MARTINS BATISTA INTRODUÇÃO A formação histórica brasileira alcança novos patamares, no século XX, com a consolidação da produção capitalista no país. Assiste-se ao desenvolvimento vertiginoso da indústria no Brasil estabelecida até então de maneira débil, com pouca expressão na economia e sinaliza a passagem do modelo agroexportador para o padrão industrial. O alavanque neste setor produtivo, assim como a instalação do regime capitalista na produção interna não se deu de forma espontânea ou enquanto continuidade do desenvolvimento econômico do país, uma vez que está ligado mais as condições e conjunturas externas que se colocam pelo capitalismo em seu âmbito mundial. Tais mudanças carregam o caráter particular de entificação do modo de produção capitalista brasileiro, na medida em que não aconteceu pela via clássica como também, ocorre tardiamente confrontado aos países centrais que já se encontra em outras condições, inclusive de subordinar o Brasil a seus interesses pela estrutura hegemônica consolidada. É necessário voltar-se, mesmo que ligeiramente, a esta conjuntura mais ampla para compreender em suas particularidades os prosseguimentos que acompanham e determinam o desenvolvimento econômico do Brasil neste período e seus desdobramentos políticos, sociais e econômicos posteriores que se conserva na formação social brasileira até os dias de hoje. De forma, geral, é possível identificar o caráter dependente em que se consolida o capitalismo no país e que tal condição é preservada e aprofundada ao longo de sua formação. Enquanto formação econômico-histórico-social, o capitalismo emerge suas bases sobre determinados fundamentos, contudo não em condições imutáveis a sua existência. O limiar do século XX e mesmo o período que o precede é marcado de intensas mudanças no sistema de produção capitalista que inaugurará uma fase superior do capital, o imperialismo. Fenômeno emergente nos países em que o modo de produção capitalista já está amadurecido - nos centros hegemônicos do capital -, caracteriza-se essencialmente pelo deslocamento na forma de produção até então estabelecido, o competitivo. A produção passa a ter como forma fundamental de acumulação a formação de monopólios. Estes, assinalam-se como grandes empresas que reúnem alta concentração de capital e dominam,em âmbito mundial, a produção de um, ou diversos, produtos, bem como, todo o processo de produção. O monopólio compõe-se pelo capital financeiro, predominante e dominante, no sistema capitalista, em que se estabelece a fusão entre o capital industrial e o bancário, no qual os bancos já não exercem mais apenas função de meros interlocutores de pagamentos, mas concentra em suas agências o capital dos grandes monopólios e colocam estas empresas em condição dependente por seu domínio financeiro. Este capital especulativo, fictício, agora, tem tanta força de imposição sobre o sistema econômico no seu todo assim como era possível ver nos assuntos bancários: o setor produtivo torna-se um grande oásis para deslocar os capitais ociosos. Este novo padrão de acumulação volta-se a necessidade de internacionalização do capital, pois a sua grande concentração exige que seja aplicado novamente para continuar se valorizando expansivamente. Há então, a exportação massiva de capitais para o exterior como 266

BRASIL: CONSTITUIÇÃO E CONTINUAÇÃO DO CAPITALISMO DEPENDENTE forma de expansão e da produção a ser revertido em lucro. Esta exportação se faz tanto em países sob domínio colonial como, em países que já tenham independência política, ou no caso do Brasil, que continuam subordinados ao capital externo, agora sob a forma de dominação imperialista. É importante ponderar que, mesmo que superado a forma tradicional do capitalismo competitivo, esta condição não deixa de existir, no entanto, se apresenta em outros patamares, nos quais os grandes monopólios disputam o domínio de determinadas esferas de produção e de novos mercados e assim, exportação de capital ocorre, não apenas como forma de sua expansão, mas garantia de domínio de produção em detrimento a um concorrente e de controle das atividades econômicas mundial. Na medida em que o imperialismo avança, a corrida por domínios de territórios estrangeiros com riquezas disponíveis ou em potencial desenvolvimento se intensifica e coloca estes países, sejam colônias ou semi - independentes em condição de dependência e subordinação aos centros hegemônicos e seus respectivos interesses econômicos. Constitui-se uma espécie de parasitismo em que tais monopólios adquirem seus lucros pelos valores produzidos nestes países dependentes colocando o seu desenvolvimento aquém das necessidades internas e em disposição as necessidades do imperialismo que suga a grande parcela de rendimentos. Neste sentido, o imperialismo se direciona para a internacionalização e finaceirização do capital, garantido sua inserção em várias formações sociais que se consolida durante todo o século XX. Desde o pós guerra se verifica que a internacionalização coloca-se pela necessidade da integração de mercados e a livre circulação econômica mundial. Contudo, só a partir da década de 1970 esta tese ganha força e respaldo político com a crise de superprodução sob os pilares da política econômica Keynesiana. A partir disso, o Estado Intervencionista passa a ser alvo de duras críticas e a retórica da liberalização econômica se impõe e começa a ser admitida e implementada, a princípio, pelos países centrais e no limiar da década de 1990 se expande pelo restante do globo, principalmente nas economias periféricas, como no Brasil. DISCUSSÃO Antes de adentrarmos neste processo mais contemporâneo, retomaremos a formação histórica brasileira no marco capitalista. Como já foi apontado, o desenvolvimento deste modo de produção esteve intrinsicamente atrelado a conjuntura mundial e ao capital externo, mas com determinadas particulares por sua constituição tardia no país e pelo histórico colonial que carrega. Por um lado, é necessário apreender as bases universais e essenciais em que se assentam o mundo e neste caso, a partir do modo de produção capitalista, mas, é necessário compreender as particularidades de cada formação social analisada e entender como universal e particular se relacionam reciprocamente, como se integram estes dois momentos, mas cada com relativa autonomia, como indica, Caio Prado Jr. O Brasil emerge como colônia, marcado pelo trabalho escravo e com larga exploração comercial voltada para exportação o que lhe confere um alto grau de conservadorismo 267

FRANCIELI MARTINS BATISTA mesmo com o fim da escravidão e mantém sua condição de dependência e subalternidade ao capital internacional mesmo com o ganho político da independência e a constituição da industrialização. Sob as condições postas pelo imperialismo, o Brasil, apesar de independente politicamente, continua vinculado à produção colonial, pois está voltado às demandas externas fundamentalmente, fato que certamente não atinge apenas o âmbito econômico, mas politico, social e cultural. E não se restringe ao século passado, mas adentra o século XXI. Os períodos de maior crescimento industrial estiveram atrelados, substancialmente, às condições da conjuntura mundial em que se estabelecia o imperialismo e à presença do capital financeiro que estimulava direta e indiretamente os setores produtivos. Certamente tal situação colocou a economia brasileira sob bases muito frágeis e instáveis, criando o que Caio Prado Jr. chama de indústria fictícia. O primeiro grande surto de industrialização brasileira ocorre em meados da I Guerra Mundial, no qual o Brasil passa a atender as demandas externas que, em grande parte, era na solvência de produtos primários e incorporação da produção dos países que se encontravam em guerra. Isto posto, tem-se um desenvolvimento considerável da produção manufatureira que atende de forma restrita o mercado interno. Contudo, este surto não promove um desenvolvimento industrial com bases internas, pois não houve acumulação de capital necessário para investimentos contínuos na produção interna. O Brasil só volta a ter um crescimento significativo com a II Guerra Mundial, sob as mesmas condições em que ocorreram no primeiro momento, todavia o país já possui bases econômicas mais sólidas e consegue chegar a avanços mais vultosos. Neste período entre Guerras, verifica-se o crescimento das subsidiárias de monopólios que se instalam no país e ocupam função primordial na sua vida econômica. Passado a conjuntura favorável da II Guerra Mundial, o Brasil volta as dificuldades na produção industrial com desequilíbrios das contas externas e aumento de divida, inflação e instabilidade financeira. Os problemas postos, expressam a forma de produção instalada no Brasil - colonial - e mantida sob interesse imperialista na qual a produção não se desenvolve de forma ordenada e em consonância com as demandas internas, mas, faz-se a partir de conjunturas temporalmente favoráveis em que alguns setores se devolvem e outros ficam estagnados, conforme a margem de lucratividade possível ao capital externo. Em alguma medida, o Brasil avança em sua produção industrial, contudo não consegue abarcar o desenvolvimento que o país carece e fica atrelado a dependência imposta pelas hegemonias imperialistas. As associações capitalistas centralizam para si tanto os lucros, como as forças produtivas que possibilitam a manutenção e o contínuo desenvolvimento industrial, principalmente as tecnologias, que são elementos essenciais a existência do capitalismo moderno e dão suporte a sua produção. Tais recursos são produzidos e controlados pelos centros do capital e para os países periféricos resta apenas a transferência do recurso. Ou seja, a possibilidade de desenvolvimento industrial autônomo está assegurado nas mãos dos grandes capitalistas, aos quais, o interesse é justamente manter a maior parcela de países sob seu domínio, de modo que a produção nestes países não vão em direção à economia nacional, mas justamente os mantenha dependentes 268

BRASIL: CONSTITUIÇÃO E CONTINUAÇÃO DO CAPITALISMO DEPENDENTE do mercado externo. A internacionalização e exportação de capitais não garante as mesmas condições de competitividade e investimento entre os países centrais e periféricos. A questão central nessa discussão refere-se a notar que os países desenvolvidos não somente exploram suas vantagens comparativas em relação aos países desenvolvimento, mas também controlam os mecanismos competitivos, visto que, são detentores da tecnologia avançada, alta produtividade e capacidade de desterritorialização da rede produtiva, que reduz custos e facilita a comercialização e distribuição de mercadorias e ou produtos. (MATHIAS, 2011, p. 72.). Mesmo com uma economia dependente de investimentos externos, o Brasil, adota um padrão de desenvolvimento-nacional que não deixa de seguir as diretrizes econômicas mundiais, pois em grande parte do século XX, foi predominante as teses Keynesianas em favor as formações nacionais, as garantias sociais e pleno emprego. No caso dos países centrais, institui-se o Estado de Bem-Estar-Social e nos países em desenvolvimento, como no caso do Brasil, não houve garantias e avanços sociais para as classes populares, se manteve o caráter conservador desta formação através de um Estado intervencionista, centralizador e autoritário que se atrelou ao fortalecimento da produção nacional, mas sob duras consequências a grande parte da sociedade que enfrentou altas taxas de inflação, desemprego e foi excluída dos processos políticos. É preciso ponderar que, para além os momentâneos progressos da produção industrial e capitalista viu se consequências drásticas para grande parte da população brasileira. Este progresso é acompanhado de uma intensa desigualdade econômica e social, no qual grande parcela da sociedade não tem acesso aos grandes acúmulos que são produzidos por eles mesmos. Os momentos de instabilidade em que ocorrem tais avanços provocam altas vertiginosas dos produtos, contudo não provoca a valorização da mão-de-obra e dos salários, ficando estes estagnados e levam a uma precariedade da condição de vida da sociedade em geral. A grande acumulação realizada no país ocorre sob a intensa exploração da classe trabalhadora levando-os a níveis de subsistência e apenas uma pequena parcela da sociedade brasileira tem acesso aos progressos sucedidos nos país. Se por um lado temos o desenvolvimento industrial produtivo, por outro, há um avanço substancial do capital financeiro a nível mundial que é introduzido no Brasil. Considerando as formações dos Bancos Centrais enquanto instituições com certo domínio da política econômica e da movimentação de capitais das nações, podemos compreender como se estabelece a finaceirização em níveis mundiais. O histórico dos Bancos Centrais demonstra que estes assumem funções a partir da conjuntura social e econômica. No início do século XX com a predominância da economia Laissez-Faire a instituição tinha como única função a conversão de moeda em ouro, com autonomia do Estado; a partir do pós - I Guerra até década de 1970 assume uma política intervencionista voltada para o setor social estando atrelado ao Estado e submetido às teses keynesianas; na crise do Estado de Bem- 269

FRANCIELI MARTINS BATISTA Estar-Social dos anos 1970 e o início da liberalização econômica os Bancos Centrais voltam a ter autonomia e suas funções restringem-se a estabilização monetária. No caso brasileiro, o Banco Central do Brasil (BCB),é fundado em 1964 e durante os anos seguintes os debates que cercam a instituição volta-se a sua independência e pela função de fomento que assume. Até os anos 1980, o BCB, em consonância com o padrão de desenvolvimento-nacional, mantém suas função de fomento e financiamento e com a crise instaurada neste período e abertura econômica na década de 1990, estas funções são recoladas e o órgão ganha autônoma e se centra na politica monetária que terá papel preponderante nas politicas estatais elaboradas a partir deste momento. As considerações arroladas até então, se dirigem ao processo de formação e concretização do capitalismo no Brasil durante o século XX, com suas particularidades e implicações na esfera econômica e social. No contexto contemporâneo, verificamos algumas mudanças, mas que não passam de remodelações e adaptações às necessidades postas pela acumulação capitalista a nível mundial, não há superação da dependência brasileira, mas sim, o aprofundamento desta condição subalterna e de fragilidade econômica. A década de 1990 é marcada no Brasil pela adoção de um novo padrão de acumulação, voltado à abertura do mercado, a liberalização econômica e desregulamentação, ou seja, o país se submete a política neoliberal, já instalada nos países centrais em décadas anteriores. Com a crise dos 1980, no qual do padrão de desenvolvimento-nacional não consegue mais se sustentar devido a vertiginosa divida externa e os altos índices inflacionário, o projeto que ganha força e se instada é o neoliberal, estabelecendo um novo patamar de dependência e subalternidade. O BCB, assume o papel de gerenciar a política monetária sendo este o aspecto fundamental da estabilidade econômica e tornando-se orientadora das politicas estatais. O Brasil assume acordos com agencias multinacionais que impõe a abertura de mercado, a desregulamentação dos capitais, a liberalização cambial e a privatização econômica, em suma, assume a total submissão ao mercado externo e ao capital. Ou seja, a abertura financeira e a maior integração da economia têm acarretado na ampliação do estoque de riqueza nacional com perfil de capital internacional, com mobilidade interfronteira, horizonte de valorização internacional e com uma relação oportunista com espaço econômico nacional. Com isso, as decisões alocadas de riqueza dos gestores de capitais internos passam a ser guiadas pelos mesmos parâmetros utilizados pelos gestores de capitais globais. (MACHADO, 2011. p. 62). Há um declínio do Estado-Nação no qual se perde sumariamente a função social do Estado e os setores sociais (saúde, educação, previdência...) são colocados a serviço da iniciativa privada em prol de geração de lucros. A chamada reforma do Estado direciona-se a implantação do Estado Mínimo no qual um projeto de desenvolvimento nacional não tem espaço. Não nos surpreende que a forma de produção esteja a alheia a realidade social de grande parte da população produzindo altos índices de desigualdade. Afirma Ianni: 270

BRASIL: CONSTITUIÇÃO E CONTINUAÇÃO DO CAPITALISMO DEPENDENTE Também por isso a globalização não significa nunca homogeinização, mas diferenciações em outros níveis, diversidades com outras potencialidades, desigualdades com outras forças. Nesse horizonte, a sociedade global pode ser vista como uma totalidade desde o início problemática, no sentido complexo e contraditório; atravessado pelo desenvolvimento desigual, combinado e contraditório, que se especifica no âmbito de indivíduos, grupos, classes, tribos, nações, sociedades, culturas, religiões, línguas e outras dimensões singulares ou particulares. (IANNI, 1994, p.159) CONSIDERAÇÕES As condições postas atualmente são muito mais contraditórias e agravantes do que as vivenciadas em grande parte do século XX. A sociedade civil perde totalmente seu espaço de participação no ambiente pública, não há mais lugar para ganhos sociais. A sociabilidade torna-se permeada essencialmente por determinações mercantis. Os grupos subalternos não se colocam em avanço aos seus direitos, mas em defesa dos mesmos que cada vez mais são limitados pela necessidade expansiva e contínua da acumulação capitalismo: Na época neoliberal, não há espaço para o aprofundamento dos direitos sociais, ainda que limitados, mas estamos diante da tentativa aberta infelizmente em grande parte bem sucedida de eliminar tais direitos, de desconstruir e negar as reformas já conquistadas pelas classes subalternas... (COUTINHO, 2012, p.123). Apesar, de mais de um século tenha se passado desde a constituição efetiva do capitalismo no Brasil, os desafios e contradições parecem manter-se e apenas se aprofundando. A sociedade brasileira não conhece um desenvolvimento realmente nacional e que nos limites do capitalismo, atendas as necessidades internas da grande massa populacional. Prosseguimos com uma economia atrelada aos interesses puramente privados do capital internacional, em uma produção dependente dos centros capitalistas. Assim como, as consequências sociais, politicas subalternas intensificam, o aumento da desigualdade e das contradições sociais, com uma política restrita as classes dominantes, autoritária desde sua gênese. Diante de tal situação tão desfavorável aos interesses populares é preciso, como já indicava O.Ianni, uma organização popular a nível global que se constituía com todos os grupos afetados por este sistema econômico que alcança dimensões globais, seu combate só poderá ser feito também, a nível global. No âmbito interno, é preciso colocar na ordem do dia a construção de economia em bases nacionais, com políticas econômicas que estejam em concordância com as demandas nacionais e que promova, de fato, condições sociais melhores a sobrevivência a classe trabalhadora. 271

FRANCIELI MARTINS BATISTA REFERÊNCIAS COUTINHO, Carlos Nelson. A Época Neoliberal: Revolução Passiva ou Contra-reforma?. In: Revista Novos Rumos, Marília, v.49, 2012, p.117-129. FERNANDES, Florestan. A Concretização da Revolução Burguesa. In: Org. IANNI, O. Coleção Grandes Cientistas Sociais: Florestan Fernandes. Ed. Ática, São Paulo, 1986. IANNI, O. Globalização e Neoliberalismo. In: São Paulo em Perspectiva. São Paulo, Fundação Seade, v.12, n.2, abr./jun. 1998, p.27-32. IANNI, O. Globalização: Novo Paradigma da Ciências Sociais. In: Estudos Avançados, São Paulo, v.8, n.21, 1994, p.147-163. IANNI, O. O Declínio do Estado-Nação. In: Estudos Avançados, São Paulo, v.14, n.40, 2000, p.51-58. LÊNIN. V.I. Imperialismo, Estágio Superior do Capitalismo. Ed. Expressão Popular, São Paulo, 2012. MACHADO, Fernando D Angelo. Mobilidade de Capitais e Vulnerabilidade Externa do Brasil: A nova Qualidade da Dependência Financeira. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Instituto de Economia. Programa de Pós Graduação em Ciências Econômicas, 2011. MATHIAS, Meire. Desenvolvimento e Inserção Internacional: Um Cenário de Crise e Reformas. In: Sob o Prisma dos Interesses: A Política Externa Brasileira e a Confederação Nacional da Indústria. Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Programa de Pós Graduação em Ciência Política, 2011, p. 63 99. NOVELLI, José Marcos Nayme. Burocracia, Dirigentes Estatais e Idéias econômicas: Um Estudo de Caso sobre o Banco Central do Brasil (1965 1998). Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Programa de Pós Graduação em Ciência Política, 1999. PRADO JR., Caio. História Econômica do Brasil. Ed. Circulo do Livro, São Paulo, 1976. 272