A CONSTRUÇÃO DA ESCRITA POR CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN. FELDENS, Carla Schwarzbold ¹; VIEIRA, Cícera Marcelina ²; RANGEL, Gilsenira de Alcino³.



Documentos relacionados
Papo com a Especialista

Índice. 1. Metodologia de Alfabetização Aprendizagem da Escrita Aprendizagem da Leitura...6

ÁLBUM DE FOTOGRAFIA: A PRÁTICA DO LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 59. Elaine Leal Fernandes elfleal@ig.com.br. Apresentação

ENTREVISTA Alfabetização na inclusão

O professor que ensina matemática no 5º ano do Ensino Fundamental e a organização do ensino

PRAZER NA LEITURA: UMA QUESTÃO DE APRESENTAÇÃO / DESPERTANDO O PRAZER NA LEITURA EM JOVENS DO ENSINO MÉDIO

AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DA ESCRITA COMO INSTRUMENTO NORTEADOR PARA O ALFABETIZAR LETRANDO NAS AÇÕES DO PIBID DE PEDAGOGIA DA UFC

SÍNDROME DE DOWN E A INCLUSÃO SOCIAL NA ESCOLA

Guia Prático ORGANIZAÇÃO FINANCEIRA PARA BANCAR A FACULDADE

5 Considerações finais

A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E AS DIFICULDADES ENFRENTADAS POR PROFESSORES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE FORTALEZA

RESUMO Sobre o que trata a série?

PLANO DE TRABALHO TÍTULO: PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE LEITURA E ESCRITA DAS CRIANÇAS

COMO ENSINEI MATEMÁTICA

INTERVENÇÕES ESPECÍFICAS DE MATEMÁTICA PARA ALUNOS DO PROEJA: DESCOBRINDO E SE REDESCOBRINDO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

18/11/2005. Discurso do Presidente da República

DIFICULDADES ENFRENTADAS POR PROFESSORES E ALUNOS DA EJA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

LEITURA E ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA DE APRENDIZAGEM COM LUDICIDADE

Exercícios Teóricos Resolvidos

Prefeitura Municipal de Santos

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSOS E DESAFIOS

PROJETOS DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: DO PLANEJAMENTO À AÇÃO.

Modelagem Matemática Aplicada ao Ensino de Cálculo 1

MODELAGEM MATEMÁTICA: PRINCIPAIS DIFICULDADES DOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO 1

Desenhando perspectiva isométrica

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

A PRÁTICA DE JOGOS PARA A INTERIORIZAÇÃO DOS NOMES DE CAPITAIS E ESTADOS DO BRASIL NO ENSINO FUNDAMENTAL II

AS INQUIETAÇÕES OCASIONADAS NA ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN NA REDE REGULAR DE ENSINO

Profa. Ma. Adriana Rosa

MÉTODOS E TÉCNICAS DE AUTOAPRENDIZAGEM

Entre 1998 e 2001, a freqüência escolar aumentou bastante no Brasil. Em 1998, 97% das

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

OS SENTIDOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA CONTEMPORANEIDADE Amanda Sampaio França

CURIOSOS E PESQUISADORES: POSSIBILIDADES NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E EDUCAÇÃO ESPECIAL: uma experiência de inclusão

O INTÉRPRETE EDUCACIONAL DE LIBRAS: O DESAFIO DE ATUAR NO ENSINO FUNDAMENTAL I 1 Flávia Cristina V. Bizzozero UNINTER

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS N. 18/2015

Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem. (Mário Quintana).

A inclusão das Línguas Estrangeiras Modernas no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) Por Ana Paula Seixas Vial e Jonathan Zotti da Silva

Adriana Oliveira Bernardes 1, Adriana Ferreira de Souza 2

ENSINO E APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, COM A UTILIZAÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA.

Bilinguismo, aprendizagem do Português L2 e sucesso educativo na Escola Portuguesa

Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Ciência da Informação/Londrina, PR.

PRÁTICAS LÚDICAS NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESCRITA DO INFANTIL IV E V DA ESCOLA SIMÃO BARBOSA DE MERUOCA-CE

Cadernos do CNLF, Vol. XVI, Nº 04, t. 3, pág. 2451

JANGADA IESC ATENA CURSOS

IDENTIFICANDO AS DISCIPLINAS DE BAIXO RENDIMENTO NOS CURSOS TÉCNICOS INTEGRADOS AO ENSINO MÉDIO DO IF GOIANO - CÂMPUS URUTAÍ

O JOGO COMO INSTRUMENTO FACILITADOR NO ENSINO DA MATEMÁTICA

Chegou a Hora da Nossa Feira Escolar de Matemática e Ciências

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS FACILITADORAS PARA O PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA

6.1 A Simulação Empresarial tem utilização em larga escala nos cursos de Administração, em seus diversos níveis de ensino no Brasil?

Sessão 2: Gestão da Asma Sintomática. Melhorar o controlo da asma na comunidade.]

RELATÓRIO PARCIAL REFERENTE À ETAPA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO...

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO FORMADOR: TRÊS ASPECTOS PARA CONSIDERAR

ANÁLISE DE UMA POLÍTICA PÚBLICA VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO: PROGRAMA BRASIL ALFABETIZADO

Breve histórico da profissão de tradutor e intérprete de Libras-Português

A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA ESCOLA: REFLEXÕES A PARTIR DA LEITURA DOCENTE

TRADUTORES-INTÉRPRETES BACHARELANDOS DO CURSO LETRAS- LIBRAS: UMA REFLEXÃO ACERCA DA INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DOCENTE E FORMAÇÃO PRECEDENTE AO CURSO

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro

O programa Ler e Escrever: guia de planejamento e orientações didáticas para o professor alfabetizador 1a série. Aula de 9 de maio de 2012

REFLEXÕES INICIAIS DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS PARA INCLUIR OS DEFICIENTES AUDITIVOS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA.

A DISLEXIA E A ABORDAGEM INCLUSIVA EDUCACIONAL

Avaliação-Pibid-Metas

Letramento e Alfabetização. Alessandra Mara Sicchieri Pedagoga e Psicopedagoga, Formada em Letras. Tutora de Pró-Letramento-MEC.

SUPERVISOR DARLAN B. OLIVEIRA

O PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA: FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA UMA PRÁTICA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA INOVADORA

AIMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA COLABORATIVA ENTRE PROFESSORES QUE ATUAM COM PESSOAS COM AUTISMO.

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

JOGOS MATEMÁTICOS: EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE DE LICENCIANDOS EM MATEMÁTICA

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

Sistemas Lineares. Módulo 3 Unidade 10. Para início de conversa... Matemática e suas Tecnologias Matemática

JOGOS PARA O ENSINO MÉDIO1

Cotagem de dimensões básicas

A Epistemologia de Humberto Maturana

CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA

Adultos: questões fundamentais da prática

Aula 4 Estatística Conceitos básicos

O ensino de Ciências e Biologia nas turmas de eja: experiências no município de Sorriso-MT 1

Trabalho 7 Fila de prioridade usando heap para simulação de atendimento

PIBID: DESCOBRINDO METODOLOGIAS DE ENSINO E RECURSOS DIDÁTICOS QUE PODEM FACILITAR O ENSINO DA MATEMÁTICA

Recomendada. A coleção apresenta eficiência e adequação. Ciências adequados a cada faixa etária, além de

FACULDADE DO NORTE NOVO DE APUCARANA FACNOPAR PLANO DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL

A COMPETÊNCIA LEITORA NOS ESPAÇOS DA COMUNIDADE DO PARANANEMA-PARINTINS/AM

NOME: Nº. ASSUNTO: Recuperação Final - 1a.lista de exercícios VALOR: 13,0 NOTA:

Narrativa reflexiva sobre planejamento de aulas

Cotagem de elementos

INTERVENÇÕES ESPECÍFICAS DO ENSINO DA MATEMÁTICA PARA ALUNOS DO PROEJA

1. Compare o PNE 2001/2010 com o projeto PNE 2011/2020 (estrutura do documento, quantidade de metas, abrangências,etc.)

ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA: TEMA, PROBLEMATIZAÇÃO, OBJETIVOS, JUSTIFICATIVA E REFERENCIAL TEÓRICO

PROVA BRASIL E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

COLÉGIO NOSSA SENHORA DA PIEDADE. Programa de Recuperação Paralela. 1ª Etapa Ano: 7º Turma: 7.1

FORMANDO PEDAGOGOS PARA ENSINAR CIÊNCIAS NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

MATEMÁTICA PARA O VESTIBULAR: Pré-vestibular de funções

Apoio. Patrocínio Institucional

7 perguntas para fazer a qualquer fornecedor de automação de força de vendas

APLICATIVOS BR OFFICE: UMA FERRAMENTA EFICAZ NO ENSINO DA ESTATÍSTICA

XI Encontro de Iniciação à Docência

A QUESTÃO DO CONHECIMENTO NA MODERNIDADE

Transcrição:

A CONSTRUÇÃO DA ESCRITA POR CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN FELDENS, Carla Schwarzbold ¹; VIEIRA, Cícera Marcelina ²; RANGEL, Gilsenira de Alcino³. ¹Bolsista do Programa de Educação Tutorial - PET Educação. carsfel@yahoo.com.br; ²Bolsista do Programa de Educação Tutorial - PET Educação. cissamevi@yahoo.com.br; ³Professora membro da Tutoria Compartilhada do Programa de Educação Tutorial; orientadora do trabalho. gilsenira_rangel@yahoo.com.br. 1. INTRODUÇÃO A presente pesquisa procura focalizar a descrição e a análise do processo de aquisição da escrita por crianças com Síndrome de Down, investigando quais são os processos e os caminhos que deverá percorrer para compreender as características, o valor e a função que a escrita possui. Esta proposta, portanto, busca explicar as formas por meio das quais as crianças com síndrome de Down conseguem aprender a escrever. O interesse em pesquisar, observar, acompanhar o processo de aquisição, construção da escrita não é atual. Essa curiosidade vem de anos e muitas pesquisas têm sido realizadas com esse intuito, destacando-se como a mais referenciada na literatura a obra de Ferreiro e Teberosky (1999) que afirmam: Abordar uma investigação no campo da leitura e da escrita, no qual já existe uma grande quantidade de estudos e de publicações, pode não parecer novidade (p. 35). No entanto, para as autoras estes estudos justificam-se por permitir-nos encarar questões até agora não resolvidas (p. 35). A síndrome de Down é uma alteração genética caracterizada pela trissomia cromossômica do par 21, isto é, há um cromossomo extra. Entre os sintomas que mais podem comprometer o processo de aquisição da escrita estão a hipotonia muscular, que acaba dificultando ou retardando ações como engatinhar e caminhar, segurar o lápis; o nível de retardo mental (leve, moderado ou severo); alguns podem apresentar problemas de fala que poderão dificultar o processo de apreensão do código escrito. O desenvolvimento da criança com Síndrome de Down é mais lento e apresenta dificuldades psicomotoras e de aprendizado, necessitando, assim, de uma maior estimulação desde o nascimento, visto que seu sistema nervoso central continua a amadurecer com o tempo. Quanto ao período escolar, acredita-se pelo que se tem constatado, em pesquisas desenvolvidas, que essas crianças podem e devem participar de uma sala

de aula comum em escolas regulares. Para ser alfabetizada, conforme MILLS (2003), a criança precisa estar em contato com a escrita, o que sustenta a proposta da inclusão em classes regulares, onde o mundo letrado está fortemente exposto. Ainda que não existam muitos estudos confirmatórios, foi possível ratificar, através de um estudo de caso, que o desenvolvimento fonológico segue as mesmas etapas constatadas para crianças normais (RANGEL, 2005). Desse modo, o desenvolvimento da criança com Síndrome de Down é semelhante ao desenvolvimento de uma criança sem a síndrome, ocorrendo de modo mais lento. Também por esse motivo não foram estipuladas idades para a coleta de dados. O que se pretende na verdade observar é essa construção da escrita em diferentes períodos da alfabetização. A aquisição da linguagem escrita se dá mesmo antes de a criança entrar para a escola, começando seu caminho para a compreensão do processo da escrita (por volta dos 4-6 anos), fazendo-se perguntas do tipo: o que podemos escrever? Como escrever uma palavra, um pensamento, uma história? Quais são as letras e como juntá-las para escrever? Ao começar a escrever, o alfabetizando vai buscando respostas para essas perguntas e, ao mesmo tempo, formulando hipóteses sobre a escrita. Desse modo, vai vencendo etapas de desenvolvimento no processo de aquisição da escrita. Os estudos empreendidos por Ferreiro e Teberosky (1999) foram de grande valia para a compreensão do processo de aquisição da escrita e da leitura em crianças e adultos não-escolarizados. Suas pesquisas constataram que, para chegar ao conhecimento da escrita, o alfabetizando organiza uma lógica, uma sequência no pensamento, formula hipóteses de como se escreve. Ao encontrar respostas para suas dúvidas, vai compreendendo que a escrita representa a fala e que há um sistema, ou seja, uma organização própria para escrever que o levará à apropriação da escrita e da leitura passando por diferentes níveis. Nas palavras de Vale (1999, p. 23), A passagem, permeada por conflitos cognitivos, de um nível ao outro do conhecimento da escrita é o momento da gênese, da origem do novo conhecimento, é a inauguração de uma nova etapa na compreensão do que é e do como escrever. Este estudo é, então, a Psicogênese da Língua Escrita, que nos aponta que o alfabetizando vai se apropriando da escrita através de hipóteses que vão ficando cada vez mais complexas. Os estágios que percorre são o pré-silábico, o silábico, o silábico-alfabético e o alfabético. 2. MATERIAL E MÉTODOS A coleta de dados atende a todos os parâmetros para a definição de estágios de aquisição da escrita definidos por Ferreiro&Teberosky (1999). Estes são obtidos através da aplicação do teste pelo professor da criança ou por um psicopedagogo, ou ainda por um pesquisador bolsista. Podem ser consideradas também escritas espontâneas. A obtenção dos testes é baseada no método clínico de Piaget em que o experimentador incentiva a criança a escrever problematizando a sua produção, com o objetivo de chegar aos processos cognitivos envolvidos no ato de leitura e escrita. Os dados apresentados nesta pesquisa foram coletados de acordo com o processo descrito acima na escola da crianças por uma pesquisadora com a saída da criança da sala de aula. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seguir, apresentaremos os dados de duas coletas de uma criança descritos em separado, comparados posteriormente, para um possível estabelecimento de generalizações quanto às etapas de aquisição e desenvolvimento da escrita. Vejamos os resultados dos testes de uma menina, com então nove anos, com Síndrome de Down, aluna da 1ª série da rede regular de ensino escola particular: Figura 1: 1ª Coleta em 03/10/2005 Figura 2: 2ª Coleta em 31/10/2005 Analisando os dados das duas coletas observa-se que a criança passa do nível silábico-alfabético para o nível alfabético da escrita em um período de 28 dias, sendo, portanto, considerado um grande avanço não só para o professor, mas para a própria criança. Contudo, este avanço não se dá de uma hora para outra, a criança vai se apropriando da escrita de forma lenta, vencendo cada etapa (conflito) que vai surgindo. Observando a Figura 1, percebemos que ela escreveu de acordo com o nível alfabético as palavras boi e cavalo, no entanto, é impossível ler as palavras burro e borboleta. Ao escrever as palavras e ser questionada sobre o que estava escrito, percebeu que errara, solicitando para apagar, sendo instruída a escrever ao lado da primeira escrita. Ainda assim, não foi possível estabelecer a correspondência letra/som ou letra/sílaba, inclusive a própria identificação das letras está complicada. Já na figura 2, vê-se o avanço em sua escrita, pois todas as palavras já podem ser lidas. Verifica-se, assim, que ela se encontra no nível alfabético de escrita, embora apresente algumas trocas de letras. Vejamos também o registro do ditado feito no dia 07 de novembro de 2005 em sala de aula:

Figura 3: Ditado produzido em 07/11/2005 Com os dados do ditado, conseguimos perceber que a criança continua sua evolução encontrando-se, agora, no nível ortográfico da escrita, respeitando a correspondência letra-som e fazendo uso dos sinais gráficos de acentuação de maneira correta. Comparando os dados apresentados com os analisados por Ferreiro e Teberosky (1999, pág. 206), podemos ver a grande semelhança das escritas aqui analisadas, apresentando os mesmos estágios de aquisição da escrita que crianças sem Síndrome estudadas por Rosa (2006). 4. CONCLUSÕES Os resultados desta investigação nos indicam que as crianças com Síndrome de Down, em fase de alfabetização, passam pelos mesmos processos de aquisição da escrita que crianças que não a possuem. O primeiro contato do professor com a proposta de inclusão causa certa insegurança, contudo aos poucos é superada. Para que este consiga ajudar o aluno a vencer cada etapa, é necessário que a auto-estima da criança seja valorizada, que ele considere que a criança com Síndrome e Down tem um tempo diferente das crianças sem a síndrome, que cansam mais rápido do que as outras. Por essa razão, as atividades precisam ser adaptadas, embora com o mesmo grau de dificuldades para todos. Se o professor considerar que cada criança possui o seu tempo, perceberá a necessidade de traçar metas e definir quais são seus objetivos e onde quer chegar com o aluno. Para isso, alguns fatores carecem de consideração, como: será que avaliar ortografia numa prova de ciências é realmente necessário? Será que ditados com diferentes dificuldades ortográficas juntas são eficazes? Se tenho alunos mais adiantados na turma, por que não trabalhar com sistemas de monitoramento, no qual todos possam se ajudar, além de favorecer a socialização?. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZENHA, Maria da Graça. Construtivismo. De Piaget a Emilia Ferreiro. São Paulo: Ática, 1998. FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 2001. MILLS, Nancy Derwood. A Educação da Criança Com Síndrome De Down. In:SCHWARTZMAN, José Salomão. Síndrome de Down. 2ª ed. São Paulo: Memnon: Mackenzie, 2003. RANGEL, Gilsenira de A. Aquisição da fonologia e a Síndrome de Down. Cadernos de Pesquisas em Linguística, Vol.1. nº 1. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005. ROSA, Cristina M. Aquisição da escrita: passos psicogenéticos de crianças em alfabetização. Texto apresentado à ANPEDSul, março de 2006. VALE, Maria José. Educação de Jovens e Adultos - a construção da leitura e da escrita. Cadernos de EJA. São Paulo: IPF, 1999.