Bilinguismo, aprendizagem do Português L2 e sucesso educativo na Escola Portuguesa
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- Fernanda César Azevedo
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1 Bilinguismo, aprendizagem do Português L2 e sucesso educativo na Escola Portuguesa Projecto-piloto em desenvolvimento no ILTEC (Instituto de Linguística Teórica e Computacional) com financiamento e apoio da Fundação Calouste Gulbenkian Equipa coordenadora Maria Helena Mira Mateus (Presidente da Direcção do ILTEC, coordenadora principal), Dulce Pereira (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e ILTEC) Luísa Solla (Escola Superior de Educação de Setúbal e ILTEC) Investigadores do ILTEC Fabíola Santos Fausto Caels Nuno Carvalho Equipa de investigação e consultoria na área de bilinguismo e multilinguismo Consultor de ensino de Crioulo Fundamentos 1. Na escola portuguesa existe, actualmente, uma grande diversidade linguística e cultural, como é do conhecimento geral e como se mostrou no projecto Diversidade Linguística na Escola Portuguesa apoiado e financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian (2003 e 2007). A experiência do trabalho adquirida nesse projecto revelou-se uma fonte inesgotável de aprendizagem, o que levou a equipa a investigar mais no âmbito do ensino do Português em contexto linguisticamente heterogéneo. O projecto permitiu conhecer, com alguma profundidade, dificuldades no uso do Português manifestadas pelos as crianças provindas da imigração que frequentam escolas de primeiro e do segundo ciclos do ensino básico. O projecto trouxe, ainda, informação sobre questões relativas à integração dessas crianças no meio escolar. 2. O Ministério da Educação tem vindo a dar atenção à diversidade linguística e cultural presente nas escolas portuguesas através de legislação e de orientações para as escolas. No entanto, não é sua vocação o desenvolvimento de investigação que permita encontrar respostas metodológicas conducentes ao sucesso escolar dos alunos que têm línguas maternas diferentes do português, razão por que recebeu com interesse as Recomendações do projecto Diversidade
2 Linguística na Escola Portuguesa e encomendou ao ILTEC a elaboração de testes de diagnóstico para posicionamento dos alunos que não têm o Português como língua materna. A missão de desenvolver investigação cabe às instituições que podem e devem dar a sua contribuição neste domínio. Entre essas instituições se inclui o ILTEC. A experiência adquirida com o projecto Diversidade Linguística na Escola Portuguesa e as Recomendações que dele emergiram evidenciam a importância de intervir nesta área. 3. A existência da diversidade linguística tem que ser equacionada com a importância que cada vez mais se atribui à utilização, na escola, das línguas maternas dos alunos, circunstância que contribui para o desenvolvimento cognitivo das crianças e para o reforço da sua identidade cultural, sobretudo nos primeiros anos de escolaridade. É de resto recomendação do Parlamento Europeu que se formulem medidas concretas para promover a aprendizagem de línguas e a diversidade linguística, e que se criem escolas multilingues com um novo conceito de aprendizagem de línguas e de modelos integrados de ensino de línguas. 4. Correspondendo a esta recomendação, em diversos países da União Europeia existem, presentemente, escolas multilingues frequentadas por alunos provenientes da imigração, a par da população escolar do país de acolhimento. Nestas escolas, está integrado o ensino de línguas e culturas dos alunos de origem migrante. Tem--se constatado, neste contexto, que a inclusão no currículo escolar de áreas de desenvolvimento do bilinguismo tem reflexos positivos na aprendizagem das línguas e de outros conteúdos curriculares. As crianças que dominam mais do que uma língua têm probabilidades acrescidas de atingir um nível superior de desenvolvimento das capacidades linguísticas e metalinguísticas: estão mais bem preparadas para adquirir novas línguas e novas culturas, e para reconhecer a importância de dominar várias línguas. Estes benefícios aplicam-se tanto aos alunos provenientes da imigração como aos alunos do país de acolhimento. 5. A discussão de questões relacionadas com a aprendizagem de uma língua e numa língua que não é a materna, de uma parte da população escolar, em diferentes níveis de ensino, tem na literatura internacional um largo espaço de investigação e reflexão, o que não é visível ainda em Portugal. De acordo com o que acima se diz, justifica-se a existência de um projecto em que:
3 (a) se procure conhecer melhor e analisar criticamente o contexto de diversidade linguística da escola portuguesa e se desenvolvam estratégias e materiais para o ensino do Português como língua não materna (L2). (b) se leve a efeito uma experiência inovadora de ensino bilingue dirigido para o contexto da diversidade decorrente da imigração, tendo em atenção que a aprendizagem bilingue nesse contexto representa uma mais valia do ponto de vista linguístico e cognitivo. O desenvolvimento deste projecto contempla duas partes separadas mas convergentes: Criação e aplicação de estratégias e materiais conducentes ao sucesso educativo dos alunos de Português Língua Não Materna (PLNM); Implementação do ensino bilingue Português-Crioulo de Cabo Verde numa turma bilingue na escola portuguesa. Criação e aplicação de estratégias e materiais conducentes ao sucesso educativo de alunos de Português Língua Não Materna Objectivos Desenvolvimento de estratégias de ensino-aprendizagem do Português adequadas a crianças e jovens com outras línguas maternas e com outras culturas, identificando também, com essa finalidade, diferentes contextos e situações que começaram a ser já estudados no projecto Diversidade Linguística e que têm estado confundidos na designação genérica de Português Língua Não Materna. Elaboração de documentos que contribuam para a actualização científica e pedagógica dos professores no domínio em questão, e apoio às escolas para encontrarem formas eficientes de sucesso para os seus alunos de outras línguas e de outras culturas. Construção e experimentação de materiais didácticos. 3. Fases do Projecto 1. Pesquisa documental e investigação em vários domínios. 2. Formulação de um primeiro plano de trabalho. 3. Selecção das escolas e do público-alvo. 4. Caracterização sumária do contexto e elaboração dos materiais necessários à caracterização mais rigorosa do contexto. Elaboração dos materiais de apoio ao desenvolvimento do projecto.
4 Experimentação dos materiais em colaboração com os professores das escolas seleccionados Finalização dos materiais didácticos tendo em conta os resultados da experimentação junto das escolas. Descrição do trabalho a desenvolver Para se poder levar a efeito as acções adequadas à integração e apoio das crianças que não têm o Português como língua materna é necessário recolher informações sobre alunos nestas condições e procurar compreender os seus modos de aprender e as suas dificuldades. O trabalho assim desenvolvido em escolas que vivem situações de diversidade linguística e procuram encontrar respostas adequadas e inovadoras, terá, como pensamos, um reflexo positivo na actuação dos professores já que a experimentação de materiais e de metodologias de ensino contribuirá para a sua actualização científica e pedagógica. Na sequência das informações recolhidas e da sua análise, serão elaboradas propostas didácticas fundamentadas nos resultados da investigação que serão experimentadas e reformuladas, se for caso disso, para constituírem posteriormente os documentos a disponibilizar às escolas. Estes documentos poderão contribuir para estimular os professores a conhecerem e a reflectirem sobre práticas de ensino. As propostas incluirão materiais e sugestões de estratégias de ensino-aprendizagem do Português adequadas ao contexto do estudo para uso de alunos do primeiro e do segundo ciclo do Ensino Básico. Serão organizadas em pequenos módulos dirigidos a cada um dos diferentes contextos identificados, tendo em conta factores como: O ano de escolaridade e a idade dos alunos O seu posicionamento nos testes de avaliação de diagnóstico A sua língua e cultura materna Os materiais e as sugestões de ensino-aprendizagem acima referidos terão impacto a dois níveis: Na investigação, contribuindo para a actualização do conhecimento científico no que diz respeito à aquisição da língua portuguesa como língua segunda. No sistema educativo, estimulando mudanças a nível do currículo, das práticas de ensino dos professores e das práticas das escolas com as quais se vier a trabalhar.
5 Os materiais referidos são dirigidos tanto aos professores (tipologia de situações, estratégias a aplicar em sala de aula, orientações gerais e específicas), como aos alunos dos dois primeiros ciclos do Ensino Básico. Implementação do ensino bilingue Português-Crioulo de Cabo Verde numa turma bilingue na escola portuguesa. Existem vários modelos de concretização do ensino bilingue. Uma das experiências que nos serve de referência pelos seus bons resultados é a do ensino Português-Alemão na Escola Oficial Integrada de Rudolf Roß em Hamburgo. Nesta Escola o ensino do Alemão conjuga-se, em diferentes turmas, com o ensino do Português, do Espanhol, do Italiano e do Turco, dividindo-se, sempre que possível, em partes iguais para cada língua. No caso do Português-Alemão, por exemplo, há 4 horas semanais de cada uma das línguas, sendo algumas matérias dadas nas duas línguas quando existem professores disponíveis. Para a criação de uma turma bilingue na escola portuguesa, levou-se em conta o levantamento de línguas das escolas de Ensino Básico em Lisboa, que foi feito no projecto Diversidade Linguística na Escola Portuguesa. Esse levantamento demonstrou que os alunos que falam Crioulo de Cabo Verde constituem, de entre os grupos que não têm o Português como língua materna, a população escolar mais numerosa. Para corresponder ao que é dito nos fundamentos deste projecto, formou-se e está a funcionar uma turma com alunos falantes de Português e alunos falantes de Crioulo de Cabo Verde 1, com os seguintes objectivos específicos: Objectivos Proporcionar na escola e em sala de aula a aprendizagem do Crioulo de Cabo Verde, a par do ensino do Português. Contribuir para o desenvolvimento linguístico, cognitivo, afectivo e cultural dos alunos, tanto os de língua materna portuguesa, como os de língua materna caboverdiana. Contribuir para a integração escolar dos alunos cuja língua materna é o Crioulo de Cabo Verde, valorizando a sua língua e cultura e aproveitando a contribuição que essa valorização pode trazer ao desenvolvimento intelectual e ao sucesso escolar desses alunos. 1 Na primeira apresentação do projecto estava prevista a constituição de uma segunda turma de Português-Mandarim que não pôde formar-se por razões que estão explicadas no Relatório do primeiro ano do Projecto Turmas Bilingues
6 Levar a efeito práticas de ensino bilingue no contexto da legislação portuguesa e das orientações internacionais. Descrição do trabalho a desenvolver O ensino bilingue começou a desenvolver-se numa turma do primeiro ciclo da Escola Básica n.º 1 com Jardim de Infância do Vale da Amoreira. A turma tem 22 alunos, havendo uma distribuição relativamente equilibrada de alunos de origem portuguesa e alunos de origem cabo-verdiana. A turma tem dois professores um português e outro de língua materna cabo-verdiana. Constituiu-se também uma turma de controlo com o fim de permitir uma avaliação comparativa do progresso escolar dos alunos do projecto com alunos que estejam inseridos em ensino monolingue. O ensino do Crioulo de Cabo Verde na turma bilingue teve início no presente ano lectivo, com uma carga horária de uma hora por dia e engloba também os alunos portugueses. A utilização dessa língua serve ainda para o ensino de algumas matérias curriculares. A equipa coordenadora do projecto realiza um acompanhamento e uma avaliação constantes da experiência de ensino em curso. Calendarização do Projecto Duração total: 60 meses Criação e aplicação de estratégias e de materiais conducentes ao sucesso educativo de alunos de PLNM Fase I (Setembro de 2008 a Maio de 2010) Formulação de um primeiro plano de trabalho. Pesquisa documental e investigação nos domínios da aquisição e do ensinoaprendizagem da língua não materna. Selecção das escolas para recolha de informação sobre os alunos que não são falantes nativos de português e sobre as suas dificuldades no uso da língua. Caracterização sumária do contexto sociolinguístico em que se encontram os alunos, com base nas informações recolhidas. Clarificação da complexidade do conceito Português Língua Não Materna.
7 Criação de uma primeira versão de estratégias e materiais conducentes ao sucesso educativo dos alunos de Português Língua Não Materna (PLNM). Fase II (Junho de 2010 a Maio de 2012) Continuação da pesquisa documental. Experimentação da primeira versão dos materiais em colaboração com os professores das escolas seleccionados. Finalização dos materiais didácticos tendo em conta os resultados da experimentação junto das escolas. Elaboração de módulos com o formato decidido na ocasião como o mais adequado. Em Outubro de 2009, deverá realizar-se um seminário que reúna especialistas, professores e investigadores, para discussão das estratégias em desenvolvimento e para o estudo de alguns problemas relativos à integração escolar dos alunos PLNM. Experiência de ensino bilingue FASE I e II - Preparação (Junho de 2007 a Agosto de 2008) Consultar o Relatório do primeiro ano do Projecto Turmas Bilingues sobre a preparação da experiência de ensino bilingue, a elaboração dos programas e a formação de professores. FASE III Aplicação da experiência de ensino bilingue (Setembro de 2008 a Maio de 2012) Acompanhamento do ensino que está em curso na turma bilingue com visitas à turma e reuniões regulares com os professores. Elaboração progressiva de novos materiais em conjunto com os professores e de acordo com o andamento do projecto. Aplicação periódica de testes de avaliação que permitam, nomeadamente, a comparação progressiva com as turmas monolingues de controlo.
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