CUIDADOR DE CRIANÇA EM SOFRIMENTO PSÍQUICO: CUIDADOS FUNDAMENTADO NA CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL PARA A PRÁTICA DE ENFERMAGEM



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Transcrição:

CUIDADOR DE CRIANÇA EM SOFRIMENTO PSÍQUICO: CUIDADOS FUNDAMENTADO NA CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL PARA A PRÁTICA DE ENFERMAGEM Kamylla Paulla Saldanha Rabelo 1 Ana Ruth Macêdo Monteiro 2 Maria Célia de Freitas 3 Natana Abreu de Moura 4 Rodrigo Jacob Moreira de Freitas 5 RESUMO: Estudo de caso clínico que objetivou estabelecer diagnósticos, resultados e Intervenções de enfermagem implementados para cuidadora de criança em sofrimento psíquico, com base na Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE ) e na Teoria do Relacionamento Interpessoal de Peplau. O local da pesquisa foi o Centro de Atenção Psicossocial infanto-juvenil do município de Fortaleza-CE. Participou do estudo uma cuidadora. Realizaram-se três encontros terapêuticos, nos quais se utilizaram a entrevista e a observação participativa. Como diagnósticos de enfermagem identificados constataram: sentimento atual de desamparo do cuidador e conhecimento em saúde diminuído do cuidador. Palavras-chave: Cuidadores. Sofrimento psíquico. Teoria de Enfermagem. INTRODUÇÃO Os familiares se configuram como importantes cuidadores de crianças atendidas pelos Centros de Atenção Psicossocial infanto-juvenil (CAPSi). Entendese a família como um sistema independente de relações interpessoais que vão além de laços biológicos, onde pode-se encontrar uma rede de relações afetivas, sociais e culturais (SILVA et al., 2012). A enfermagem como profissão que se implica no cuidar de famílias/familiares deve atender as demandas reais desse grupo. O uso de teorias, então, torna-se essencial à assistência de enfermagem, porque servirão de guia para a sua prática clínica e social (PORTO et al., 2013). Na aplicação da teoria se adota o processo de enfermagem, visto como um instrumento metodológico 1 Enfermeira. Graduada pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), e atuante na Otoclínica. 2 Enfermeira do HM/SUS. Psicodramatista. Doutora em Enfermagem, docente do Curso de Graduação em Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde da UECE, e da Faculdade Metropolitana de Fortaleza. Membro do Grupo de Pesquisa em Enfermagem, Educação, Saúde e Sociedade-GRUPEESS. Orientadora do trabalho. 3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem, docente do Curso de Graduação em Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde da UECE. Membro do GRUPEESS. 4 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde da UECE. Membro do GRUPEESS. 5 Enfermeiro. Mestrando do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde da UECE. Docente da Universidade Potiguar. Membro do GRUPEESS.

2 apropriado para organizar e proporcionar o cuidado de enfermagem, sendo nos serviços como o CAPSi equiparado à consulta de enfermagem (COFEN, 2009). Neste trabalho utilizou-se a teoria de Peplau que opta por descrever o processo de relação interpessoal da enfermagem em quatro fases: orientação, identificação, exploração e resolução. Peplau baseou-se no modelo psicodinâmico, o qual visa apreender as necessidades do cliente, identificando dificuldades e procurando ajudá-lo a superá-la por meio de um cuidado de enfermagem individualizado (PEPLAU, 1993). Ainda nesse estudo, trabalhou-se com a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE ), consolidada em âmbito mundial, como um sistema unificado da linguagem de enfermagem capaz de comunicar e comparar dados de enfermagem entre diversos contextos, países e idiomas (CUBAS et al., 2010). Desta maneira, objetivou-se estabelecer diagnósticos de enfermagem, resultados esperados e intervenções fundamentados na CIPE para cuidadora de criança em sofrimento psíquico com base na Teoria do Relacionamento Interpessoal de Peplau. METODOLOGIA Trata-se de um Estudo de caso clínico fundamentado na teoria de Peplau, baseada no modelo psicodinâmico. Como lócus da pesquisa, optou-se por um Centro de Atenção Psicossocial infanto-juvenil na Secretaria Executiva da Regional IV (SER-IV), situado na cidade de Fortaleza-CE. Este serviço atende crianças e adolescentes em sofrimento psíquico. Promoveram-se três encontros entre o pesquisador e a cuidadora. No primeiro momento, à qual a teoria denomina de orientação, ocorreu o levantamento de dados no processo de enfermagem. No segundo momento utilizamos a estratégia de entrevista com questionário semiestruturado, em busca de identificar os diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem de acordo com a CIPE 2.0. Para tanto utilizou-se tais questões: Como é para você cuidar do seu familiar? Onde você busca ajuda? Como você se sente ao cuidar do seu familiar? O que você espera do profissional de enfermagem no atendimento? Definiu-se o planejamento do cuidado clínico de enfermagem focado na cuidadora, identificado de acordo com a singularidade da entrevistada. Enfatiza-se,

3 porém; a terceira e a quarta fases do processo da teoria de Peplau, exploração e resolução, respectivamente, não se enquadram no objetivo deste estudo; portanto, não foram trabalhadas. Quanto à análise dos dados, os resultados foram descritos e organizados, sendo identificados os diagnósticos de enfermagem e em seguida o estabelecimento de resultados esperados e as intervenções de enfermagem, segundo a CIPE versão 2.0 e interpretadas com suporte na literatura revisada. Cumpriram-se os preceitos éticos de pesquisas com seres humanos foram obedecidos. Submeteu-se o projeto ao Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Estadual do Ceará UECE, aprovado com o protocolo n o 08573398-9. RESULTADOS E DISCUSSÃO O CASO CLÍNICO CL, 29 anos, sexo feminino, solteira, católica, 1 grau completo, dona de casa e residente em Fortaleza-CE. Mãe e cuidadora formal da criança, sexo masculino, idade 5 anos. Reside com o filho e uma prima que ajuda a cuidar do mesmo. Acompanha a criança no CAPSi desde julho de 2010, ao qual o filho foi encaminhado pela escola, onde estuda, em face do comportamento de agressividade. A criança tem consulta com a psiquiatra e participa de grupo. A cuidadora entrou na pesquisa por participar do grupo de família. Durante o relacionamento terapêutico indagou-se acerca de como é para ela cuidar de criança com algum sofrimento psíquico. Consoante afirmou, é ter a ação do cuidado. Ainda, como referiu o fato de cuidar sozinha da criança e a situação financeira desfavorável, por não ter uma renda fixa, são dificuldades apresentadas. No segundo questionamento feito à entrevistada sobre seus sentimentos e em quem busca ajuda, ela relatou que sente bem, pois acredita que não é o fim do mundo ter um filho doente. Também como relatou tanto o CAPSi tem lhe auxiliado, como sua prima, por conviver diariamente com ela, apoiando em algumas situações. Continuou o discurso afirmando concordar com o diagnóstico médico, segundo o qual seu filho tem depressão infantil, mas acha que o filho é mais danado do que outra coisa. Relata também não ter total esclarecimento sobre a doença.

4 Outra indagação feita foi sobre a sua relação com a equipe de enfermagem e o que espera destes profissionais para o enfrentamento das dificuldades. De acordo com a resposta, desconhece a existência destes na unidade e quanto menos da função exercida. Afirmou não saber o que a enfermeira pode fazer pra lhe ajudar, pois não sabe o que ela faz lá. Como observado, a entrevistada responde aos questionamentos sem nenhuma restrição, sendo participativa e interdependente da pesquisadora. Percebeu-se um relacionamento terapêutico normal. A cuidadora encerra a entrevista, sendo bastante receptiva ao final da conversa. Assistência de enfermagem e a teoria Peplau Na primeira fase, a orientação, buscou-se manter o contato inicial com a cuidadora, integrante do grupo de famílias, quando foi possível identificar e compreender as necessidades por ela expostas: desenvolveu-se, então, o papel de estranhas, descrito pela teoria de Peplau, no qual a escuta do profissional transmite interesse, sem pré-conceitos ou pré-juízo do discurso do paciente (PEPLAU, 1993). Conseguiu-se obter empatia, de imediato, da cuidadora, que agradeceu pela conversa. À medida que houve o avanço da relação e o estabelecimento de confiança entre ambos, passou-se à segunda fase, a de identificação. Durante esta fase, identificação, mostrou-se empenho quanto às ações de cuidado e interesse de conhecer o outro e o que ele tem a dizer. Em alguns momentos da entrevista a cuidadora evidenciou sinais de segurança, independência, ansiedade e fragilidade com os problemas que a afligiam. Ao final da fase de identificação, a última descrita neste estudo, foram identificados os diagnósticos de enfermagem baseados na CIPE versão 2.0. Com estes diagnósticos, foram destacados os mais comuns e pertinentes para ser o foco de planejamento das ações de enfermagem. Planejamento da assistência de enfermagem De posse do material coletado, pôde-se identificar como a cuidadora se porta frente à convivência com a criança em sofrimento psíquico. Com ênfase no sujeito, na doença e no julgamento, os diagnósticos de enfermagem foram elaborados utilizando-se o modelo 7 eixos da CIPE versão 2.0 1) Atual desamparo do cuidador quanto a cuidar da criança caracterizado por assisti-la sozinha, em virtude de não dispor de apoio emocional de familiares e amigos, por não ter com quem deixar a criança quando precisar e não ter explicação

5 dos profissionais de saúde do CAPSi sobre sua patologia nem sobre como lidar com esta. 2) Conhecimento em saúde diminuído, relacionado a não dar importância às suas características, à falta de interesse em aprender, identificado por comportamento alheio ao cuidador, ao descompromisso do serviço em conscientizar a família destes usuários, e ao fato de a medicação vista como a única solução. Referente ao primeiro diagnóstico adotou-se como intervenções: promover a autoestima por meio de atividades, como grupos de famílias e conversar com o cuidador no serviço. O trabalho de grupo se constitui um dos principais recursos terapêuticos nos mais diferentes contextos de assistência à saúde, como meio de promover a autoestima e apoio emocional a quem participa, sendo praticada principalmente pelos profissionais de saúde mental (PINHO et al., 2013). Na segunda intervenção, o profissional se tornará acessível ao cuidador para uma escuta sensível, além de estimulá-la a falar sobre suas aflições. Assim, no decorrer da sua fala, ele vai dando significados às suas angústias. Ao segundo diagnóstico propuseram-se as intervenções: conversar com o cuidador no serviço; promover o bem-estar; encorajar o processo sócio-familiar. Como resultado de enfermagem esperado, visa-se a obtenção do conhecimento em saúde e promoção da assimilação do cuidador através de grupos. Ao se falar do sofrimento psíquico de cuidadores, a equipe de enfermagem deve dar subsídios psicológicos, pela solidariedade, escuta terapêutica, conversa, encorajamento nas atitudes e nos relacionamentos sociais e familiares, manifestação de iniciativa entre outras coisas. No tocante ao segundo diagnóstico, o cuidador considera a medicação como a única solução para o tratamento, observou-se também o descompromisso do serviço em orientá-lo do contrário. Percebeu-se, então, ser relevante para o cuidador uma assistência voltada para o conhecimento sobre a doença, os sintomas e os efeitos, como vistas a poder vivenciar a experiência de ter um ente em sofrimento psíquico com segurança, confiança e menor pesar. CONCLUSÃO Como se depreende, os conceitos e as fases descritas na teoria de Peplau, adaptados no estudo, são claros e operacionalizáveis. Neste âmbito o

6 referencial teórico proposto por Peplau mostrou-se adequado à situação analisada, por ser uma teoria interpessoal direcionada à saúde mental, que permitiu a efetivação do relacionamento terapêutico entre o cuidador e o enfermeiro, na qual foi possível estabelecer a escuta, a busca compartilhada de problemas, de modo a produzir mudanças para o crescimento e amadurecimento de ambos. Ainda por meio do processo de enfermagem, pôde-se identificar os diagnósticos de enfermagem dos cuidadores, utilizando a CIPE Versão 2.0 e, então apresentar propostas de intervenções e resultados esperados, possibilitando o planejamento da assistência. Por fim, ressalta-se: o intuito da utilização do processo de enfermagem é propiciar aos acadêmicos e profissionais de enfermagem à aquisição da dinâmica de atuação prática, sem deixar de lado o raciocínio científico, fundamental para torná-lo aplicável ao processo do cuidar desenvolvido pela equipe de enfermagem. REFERÊNCIAS Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN n. 358 de 15 de outubro de 2009. Disponível em: <http://novo.portalcofen.gov.br/resoluo-cofen- 3582009_4384.html>. Acesso em: 30 mar. 2014. CUBAS, M.R.; SILVA, S.H. da; ROSSO, M. Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE ): uma revisão de literatura. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. v.12, n.1, p.186-94, 2010. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/v12/n1/v12n1a23.htm. Acesso em: 30 mar. 2014. PEPLAU, H.E. Relaciones interpesonales em enfermería: um marco de referencia conceptual para la enfermería psicodinámica. Barcelona: Ediciones Científicas y Técnicas, 1993. PINHO, L.B.; KANTORSKI, L.P.; WETZEL, C.; SCHWARTZ, E.; LANGE,C.; ZILLMER, J.G.V. Atividades terapêuticas: compreensão de familiares e Profissionais de um centro de atenção psicossocial. Esc Anna Nery (impr.) v.17, n.3, p.534-541, jul-set. 2013. PORTO, A.R.; THOFEHRN, M.B.; PAI, D.D.; AMESTOY, S.C.; JONER, L.R.; PALMA, J.S. Teorias de enfermagem e modelos que fortalecem a prática profissional. R. pesq.: cuid. fundam. online. v.5, n.5, p.155-61, dez.,2013. Disponível em: <http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article /view/1720/pdf_1018>. Acesso em: 10 abr. 2014. SILVA, M.L.; POLLI, R.G.; SOBROSA, G.M.R.; ARPINI, D.M.; DIAS, A.C.G. Da normatização à compreensão: caminhos construídos para a intervenção familiar. Mudanças Psicologia da Saúde, v. 20, n. 1-2, p. 13-21, Jan.-Dez., 2012.