3.2 Madeira e Móveis. Diagnóstico



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Transcrição:

3.2 Madeira e Móveis Diagnóstico Durante a década de 90, a cadeia produtiva de madeira e móveis sofreu grandes transformações em todo o mundo com conseqüentes ganhos de produtividade, a partir da introdução de equipamentos automatizados e da utilização de novas técnicas de gestão. As mudanças incluem o uso crescente de novas fontes de matérias-primas (pinus, eucalipto e seringueiras), já que por questões ambientais madeiras nobres encontram hoje aplicação restrita. O consumo de móveis vem se massificando, com crescente uso de produtos industrializados como o MDF (medium density fiberboard). Nos países desenvolvidos, principalmente Estados Unidos e União Européia, os consumidores passaram a priorizar maior funcionalidade e conforto dos móveis. Com exceção de casos em que se fabrica um produto diferenciado, como na Itália, a concorrência hoje se dá via preço e a eficiência é importante fator de competitividade. As tendências futuras são de móveis práticos, padronizados, de baixo custo e confeccionados a partir de madeira de reflorestamento. A produção mundial de móveis está estimada em US$ 200 bilhões os países desenvolvidos são responsáveis por 79% deste total. China, México e Polônia vêm ganhando importância. No Brasil, as indústrias de fabricação de produtos de madeira e de móveis são bastante pulverizadas. Em 2000 a cadeia tinha 24.364 estabelecimentos, mas quando se incluem os fabricantes informais o número deve chegar a 50 mil. O faturamento do setor moveleiro foi de R$ 9,7 bilhões em 2001. Os empregos gerados pelas atividades de preparação da madeira e os ligados à fabricação de móveis foram da ordem de 341 mil em 2000. A maioria das empresas da indústria de móveis é de pequeno porte, com até 20 empregados. A produção da cadeia de madeira e móveis cresceu 17,6% entre 1992 e 2000, desempenho menor que o da média da indústria brasileira no período 115

(24,2%). Entre 1994 e 1999 a produtividade do trabalho entre as empresas nacionais do ramo reduziu-se em 2,1%, indicador de baixa competitividade do setor. Em todos os segmentos, a produtividade no Brasil é menor que nos Estados Unidos. Salvo poucas exceções, a indústria nacional possui tecnologia defasada e sua mão-de-obra é pouco qualificada. A indústria brasileira de móveis está localizada, basicamente, no Sul e Sudeste do país: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro concentram 75% das empresas. O Estado de São Paulo detém cerca de 40% do faturamento do setor e responde por 80% da produção nacional de móveis de escritório. Santa Catarina é o maior exportador, responsável por aproximadamente metade das vendas brasileiras de móveis para o exterior. A redução das barreiras tarifárias impostas pelo Brasil trará impactos diferenciados sobre os diferentes centros produtores. Somente Rio Grande do Sul e, principalmente, Santa Catarina têm níveis de qualidade e competitividade compatíveis com o mercado externo. Os demais pólos do país têm deficiências ligadas à falta de qualidade, ao uso de equipamentos obsoletos, carência de mãode-obra especializada, falta de cultura exportadora, entre outras. Estes problemas não só dificultam as exportações como também indicam que pode haver problemas para a produção nacional com a entrada de itens importados no país em conseqüência da conclusão de acordos de livre comércio. Comércio internacional O comércio mundial dos produtos da cadeia produtiva de madeira e móveis vem crescendo acentuadamente nos últimos anos. Entre 1995 e 1999 o total comercializado aumentou 15%, passando de aproximadamente US$82 bilhões para US$ 94,5 bilhões. Em 1999 o comércio mundial de móveis foi da ordem de US$ 53 bilhões. Os maiores exportadores foram Itália, Alemanha, Canadá, Estados Unidos e 116

China. Os principais importadores foram Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e Japão. A evolução das vendas do setor de móveis (em torno de 26%) foi bem maior que a do segmento de madeiras (3,8%), o que indica que os países têm procurado exportar produtos com maior valor agregado. Evolução do comércio internacional 1995/1999 (em US$ bilhões) 1995 1996 1997 1998 1999 Madeira 40,03 42,05 43,44 38,28 41,56 Móveis 42,10 45,76 47,29 50,26 52,99 Total 82,12 87,80 90,73 88,54 94,56 Fonte: Elaborado a partir de ONU-PCTAS (fornecidos por NEIT-IE-UNICAMP) Vinte países respondem por mais de 86% do comércio internacional. Cinco países são responsáveis por mais de metade das aquisições de madeira e móveis no mercado internacional: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido e França. A Itália é o maior exportador mundial de móveis. Seu sucesso deve-se ao design e à qualidade de seus produtos, além dos preços competitivos, mas o país é altamente dependente de matéria-prima importada. Os Estados Unidos, que também são grandes exportadores, são os maiores importadores de móveis: suas aquisições cresceram 96% entre 1995 e 1999. Em seguida aparecem Reino Unido, Japão e Países Baixos. O Brasil detém fatia insignificante do mercado internacional de madeira e móveis: ocupa a 18ª posição entre os maiores exportadores, com 1,54% do total em 1999. As exportações brasileiras de móveis são concentradas em poucos países. Dez deles foram o destino de mais de 85% dos embarques nacionais em 2000. Os principais compradores foram Estados Unidos (23,5% do total); Argentina (16,2%) e França (14,3%). O setor de madeira e móveis aumentou sua participação no total das exportações do país de 1,17% em 1989 para 2,7% em 2000. 117

Participação dos maiores exportadores no comércio mundial de madeira e móveis 1995 (%) 1996 (%) 1997(%) 1998(%) 1999(%) Canadá 14,87 15,98 16,48 16,36 17,54 Itália 10,86 10,98 10,29 10,61 9,56 Estados Unidos 8,21 7,92 8,68 8,48 8,10 Alemanha 7,58 7,19 6,80 7,95 7,33 Indonésia 6,10 5,95 5,23 3,09 4,27 Malásia 5,47 5,48 5,00 3,67 4,16 Suécia 4,85 4,59 4,43 4,41 3,99 França 3,84 3,70 3,56 4,01 3,79 China 2,53 2,57 3,25 3,50 4,09 Bélgica/Luxemburgo 3,13 3,00 3,00 2,99 3,09 Brasil 1,47 1,37 1,46 1,33 1,54 Total mundo* 82,1 87,8 90,7 88,5 94,5 Fonte: Elaborado a partir de ONU-PCTAS (fornecidos por NEIT-IE-UNICAMP). *Em bilhões de dólares O saldo comercial do segmento madeireiro é crescentemente positivo: as importações representaram, em 2001, aproximadamente 3,4% das exportações. Predominam as vendas de madeira para o Nafta e para a União Européia que juntos responderam por 63% das vendas do setor para o exterior em 2001. A participação relativa de outros destinos caiu pela metade desde 1989. Os embarques para o Mercosul nunca ultrapassaram 5% do total no período. Entre os produtos, os principais itens exportados são madeira serrada (55% do total em 2001) e compensados (37%). As importações brasileiras de madeira têm três origens principais. O Mercosul representou 71% das compras em 2001 e durante todo o período sempre foi o maior fornecedor do Brasil. Aladi e União Européia aparecem em seguida. Painéis de fibra representaram aproximadamente 42% das aquisições, seguidos dos painéis de aglomerados (32%) e de madeira serrada (22%). As exportações do setor moveleiro têm tido crescimento relativamente maior que as de madeira. Para isso contribuíram a melhoria da capacidade produtiva e tecnológica da indústria ocorrida no início dos anos 90, a conquista de 118

mercados antes explorados por países do Leste Europeu, como Estados Unidos e Europa, e o avanço das negociações no Mercosul. Os principais destinos são: Nafta, cuja participação no total caiu de 55% em 1989 para 35% em 2001, União Européia (27%) e Mercosul (19%). As importações de móveis, embora representem um valor pequeno, aumentaram consideravelmente entre 1989 e 2001, passando de US$ 4,2 milhões para US$138 milhões. A participação do Mercosul é baixa: em 2001 representou apenas 4% das compras. Vem crescendo o peso do Nafta e da União Européia nas aquisições do setor 26% e 47%, respectivamente. Balança comercial da indústria brasileira de madeira e móveis (em US$ mil) Produtos de Madeira Móveis Total Exportação Importação Saldo Exportação Importação Saldo Exportação Importação Saldo 1989 325.874 16.277 309.579 47.591 4.172 43.419 373.466 20.449 353.017 1995 756.728 42.497 714.230 318.378 87.307 231.071 1075.106 129.804 945.302 1997 774.597 84.622 689.975 366.328 173.505 192.824 1140.926 258.127 882.799 2000 963.191 47.269 915.922 488.828 143.465 345.364 1452.019 190.734 1261.285 2001 963.469 32.202 931.268 484.278 138.163 346.115 1447.747 170.365 1277.383 Fonte: Elaborado a partir dos dados fornecidos pela NEIT/UNICAMP (Secex) Há grande potencial de crescimento das exportações brasileiras para a América Latina e para os Estados Unidos. No caso da União Européia, por causa das restrições ambientais lá existentes, essa possibilidade fica restrita a móveis de madeira de reflorestamento e os feitos com outros tipos de materiais metal, madeira aglomerada, bambu, vime, junco e estofados. Impactos das negociações com a Alca e a União Européia As alíquotas de imposto de importação praticadas pelo Brasil seguem a tarifa externa comum (TEC) do Mercosul que varia de 7,5% a 19,5% para produtos de madeira e móveis. 119

Não foram constatadas barreiras técnicas impostas às exportações brasileiras de móveis, mas a pressão da opinião pública americana contra o uso de madeiras tropicais funciona como entrave de mercado às vendas para os Estados Unidos, importante consumidor desse produto. O Brasil, na condição de país em desenvolvimento, goza de algumas tarifas preferenciais para certos produtos. Contudo, não há uma regra clara em relação à inclusão do país nos sistemas gerais de preferências (SGP). Em relação às barreiras tarifárias impostas pelos Estados Unidos, Canadá e União Européia, verificou-se que são, tanto para madeira como para móveis, mais baixas que as praticadas pelo Brasil para os produtos vindos daqueles países. Já o México adota tarifas mais altas que as nossas (em média 18% para madeira e 23% para móveis). Desta forma, com exceção do mercado mexicano, as negociações da Alca e da União Européia com conseqüente redução das tarifas brasileiras provavelmente pouco beneficiariam as nossas exportações de madeira e móveis, porque a maioria dos produtos brasileiros depara-se com barreiras tarifárias pouco relevantes. Em relação ao México, existem possíveis ganhos numa negociação bilateral que já se iniciou, uma vez que o produto nacional é mais competitivo que o daquele país. Além disso, as exportações para os mexicanos poderiam abrir as portas do mercado americano para artigos brasileiros como partes de móveis, que seriam montadas naquele país e reexportadas para os Estados Unidos. A redução tarifária poderia aumentar as compras de painéis de madeira feitas junto à União Européia, mas não traria impactos importantes sobre as importações brasileiras de madeira serrada. Já para painéis compensados, a queda das tarifas pode aumentar as trocas de comércio em ambos os sentidos, com efeitos maiores sobre as exportações. A indústria de painéis de fibra e de aglomerados seria a mais prejudicada pela liberalização comercial, já que possui investimentos de US$ 1 bilhão em andamento. A redução das tarifas a partir de 2005, com provável aumento do fluxo 120

de produtos importados, dificultaria a recuperação do capital investido, o que impõe a necessidade de prazo maior para que a abertura ocorra. As tarifas impostas às exportações brasileiras de móveis, considerando os sistemas gerais de preferência dos países desenvolvidos que incluem o país entre seus beneficiários, são extremamente baixas (com exceção do México). A pequena parcela ocupada pelo Brasil no mercado externo é decorrente da falta de competitividade do produto nacional. Desta forma, provavelmente não haverá aumento de exportação de móveis decorrente da entrada do Brasil na Alca ou se for firmado acordo comercial com a União Européia. Para que as vendas cresçam será necessário enfrentar os entraves à melhoria da competitividade da indústria moveleira nacional. Por outro lado, a redução das tarifas impostas pelo Brasil aos produtos do segmento moveleiro a partir da entrada na Alca ou da conclusão de acordos com a União Européia traria aumento de importações. Em relação a Estados Unidos e Canadá, nossas escalas de produção e estrutura produtiva são menos eficientes. Desafios a serem enfrentados A característica marcante da organização industrial do setor de madeira e móveis é a grande verticalização do processo produtivo, arranjo bastante diferente do de países como a Itália, por exemplo. No Brasil ainda é comum que as empresas moveleiras assumam todas as etapas de produção desde a secagem e pré-processamento da madeira até a fabricação do móvel. A capacidade de produção anual de madeira de reflorestamento já é igual ao consumo do país. Para suprir todos os segmentos industriais são cortados cerca de 450 mil hectares/ano de pinus e eucaliptos. Como a área reflorestada anualmente tem sido de 150 mil hectares, gera-se hoje um déficit de 300 mil hectares/ano. A persistir esta tendência, a exaustão dos estoques de madeira ocorrerá na metade desta década. A situação é agravada pelo desperdício, que na Amazônia chega a 65% em média. 121

Uma barreira importante aos produtos exportados pelo Brasil pode surgir das pressões exercidas por grupos de ambientalistas e de compradores dos países desenvolvidos, especialmente Europa e Estados Unidos, que cada vez mais requererem móveis de madeira fabricados com certificação de manejo florestal sustentável e de origem da matéria-prima. A certificação florestal torna-se importante fator de competitividade não apenas para o ingresso em mercados mais exigentes como também para manter nichos já ocupados. No Brasil está sendo desenvolvido o Cerflor, um programa de certificação voluntária que segue os princípios internacionalmente aceitos, visando acordos de reconhecimento mútuo pelos demais países. Há problemas também quanto à qualidade da madeira processada, com grande carência de fornecedores especializados em preparar a matéria-prima para a indústria moveleira. A concorrência com produtores informais que trabalham, em sua maior parte, com serrarias obsoletas é um fator limitador. A informalidade existente no setor moveleiro dificulta, por exemplo, a introdução de normas técnicas para a padronização de móveis, suas partes e componentes intermediários. As empresas mais modernas, geralmente ligadas ao comércio internacional, são poucas dentro de um universo grande de estabelecimentos desatualizados tecnicamente e com baixa produtividade. As inovações tecnológicas visando aumento de competitividade exigem maior qualificação do pessoal, com necessidade também de se aperfeiçoar as condições de saúde e segurança ocupacional. A maioria dos móveis exportados pela indústria nacional são cópias modificadas dos produtos do exterior. A superação da dificuldade de desenvolvimento de um design próprio que envolve diminuição do uso de insumos, redução do número de partes e peças envolvidas num determinado produto, além da redução do tempo de fabricação pelas empresas menores poderia ser viabilizada por condomínios ou pelas associações de classe. 122

No exterior, o produtor brasileiro de móveis enfrenta dificuldades de logística de distribuição, falta de depósitos em mercados estratégicos, baixa participação em feiras internacionais, reduzida escala para exportação e ausência de cultura exportadora. Diversos dos problemas de falta de competitividade do móvel nacional começam a ser enfrentados com programas conjuntos entre governo e iniciativa privada. Dentre esses se destaca o Promóvel, que busca fortalecer as empresas nacionais. Até 2003, R$ 10 milhões devem ser investidos em modernização e capacitação da indústria. Para enfrentar estes desafios será preciso: Definir novas normas técnicas para produção de madeira e móveis; Modernizar o parque industrial de madeira e móveis; Aumentar a qualificação da mão-de-obra; Elevar a capacidade exportadora dos empresários; Abrir novos mercados e facilitar o ingresso de produtos brasileiros; Constituir consórcios de exportação de pequenas empresas, a exemplo de ações realizadas na Itália; Aumentar o banco de dados existente sobre a cadeia produtiva. 123