Caso clínico: Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) e Síndrome Metabólica (SM)



Documentos relacionados
Tema: CPAP NA SÍNDROME DA APNÉIA E HIPOPNÉIA OBSTRUTIVAS DO SONO

CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DOS DISTÚRBIOS DO SONO AASM 2006

INTRODUÇÃO. Síndrome da Apneia e Hipopneia Obstrutiva do Sono SAHOS obstrução repetitiva das vias aéreas superiores VAS 10 seg/evento.

SÍNDROME DE APNEIA DO SONO: UM NOVO ALVO TERAPÊUTICO NO DOENTE CARDÍACO

Terapia com pressão positiva na via aérea (PAP): indicações, O Problema Complacência da Via Aérea. tipos de equipamentos e seguimento

Apnéia do Sono e Ronco Guia Rápido

DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DO SONO OBJETIVOS CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DOS DISTÚRBIOS DO SONO AASM 2006 CARLOS A A VIEGAS UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

CPAP NASAL NA SÍNDROME DA APNÉIA E HIPOPNÉIA OBSTRUTIVAS DO SONO

Programa de CPAP/BIPAP

INVENTÁRIO DE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA (AVALIADO POR CLÍNICOS) (IDS-C)

Data: 10/12/2012 Nota Técnica 47/2012 Medicamento Material Solicitante: Procedimento Juíza Juliana Mendes Pedrosa Cobertura

Ronco e Apneia Riscos, Diagnóstico e Tratamentos

Consulta de Enfermagem para Pessoas com Hipertensão Arterial Sistêmica. Ms. Enf. Sandra R. S. Ferreira

Comorbidades e Fibrose Pulmonar Idiopática

Doenças Desencadeadas ou Agravadas pela Obesidade

CAPACIDADE PULMONAR E FORÇA MUSCULAR RESPIRATÓRIA EM OBESOS

Prevenção Cardio vascular. Dra Patricia Rueda Cardiologista e Arritmologista

OS 5 PASSOS QUE MELHORAM ATÉ 80% OS RESULTADOS NO CONTROLE DO DIABETES. Mônica Amaral Lenzi Farmacêutica Educadora em Diabetes

Diagnóstico Polissonográfico.

Data: 25/11/2013. Nota Técnica: 234/2013 Solicitante: Juiz Eduardo Monção Nascimento Numeração:

EFEITO DA PRÁTICA DA ATIVIDADE FÍSICA REGULAR NO RISCO CARDIOVASCULAR EM IDOSOS HIPERTENSOS E/OU DIABÉTICOS: UMA ANÁLISE A PARTIR DO PERFIL LIPÍDICO.

Data: 07/04/2014 NTRR 67/2014. Medicamento x Material Procedimento Cobertura

TREINAMENTO FUNCIONAL PARA PORTADORES DE HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA

Caso 1: DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DO SONO: Gravidades diferentes, abordagens diferentes. O que você espera encontrar neste exame?

SÍNDROME DE LADY WINDERMERE. Identificação: 45 anos, feminina, branca, natural e procedente de São Paulo, representante comercial.

Diretrizes da OMS para diagnóstico de Dependência

ESPECTRO. ALTERAÇÕES METABÓLICAS DA OBESIDADE e DMT2 EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES Diabetes Tipo 2 em Crianças. Classificação de Diabetes em Jovens

Estudo mostra que LANTUS ajudou pacientes com Diabetes Tipo 2 a atingirem a meta recomendada pela ADA para o controle de açúcar no sangue

FUNDAMENTOS DA ESTEATOSE HEPÁTICA

TRABALHOS CIENTÍFICOS 23 DE NOVEMBRO DE H30 ÀS 10H30 TV 01

Jean Carl Silva. Declaração de conflito de interesse

Justificativa Depende dos exames escolhidos. Residência Médica Seleção 2014 Prova Clínica Médica Expectativa de Respostas. Caso Clínico 1 (2 pontos)

Saiba quais são os diferentes tipos de diabetes

INTRODUÇÃO. Diabetes & você

Relato de Caso. Viviane Do Lago Nakazato 1 INTRODUÇÃO RESUMO. Palavras-chave: ABSTRACT. Keywords:

LUCIANA CRISTINA DE OLIVEIRA MATAROLLI SÍNDROME DA APNEIA E HIPOAPNEIA OBSTRUTIVA DO SONO E O TRATAMENTO ATRAVÉS DE APARELHOS INTRA-BUCAIS JI-PARANÁ

Distúrbios do sono e uso de soníferos Resumo de diretriz NHG M23 (julho 2014)

Martins Pereira, S. Moreira, F.; Breda, M.; Pratas, R.; Dias, L. Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial Hospital de Braga

ASSOCIAÇÃO CULTURAL EDUCACIONAL DE ITAPEVA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E AGRÁRIAS DE ITAPEVA

Sonolência Excessiva Diurna (SED)

Treinamento de Força e Diabetes. Ms. Sandro de Souza

Área: CV ( ) CHSA ( ) ECET ( )

Carne suína e dietas saudáveis para o coração. Semíramis Martins Álvares Domene Prof a. Titular Fac. Nutrição PUC-Campinas

Sessão Televoter Diabetes. Jácome de Castro Rosa Gallego Simões-Pereira

APOSTILA AULA 2 ENTENDENDO OS SINTOMAS DO DIABETES

1. A adoção da auto avaliação como

PERCEPÇÃO E REALIDADE Um estudo sobre obesidade nas Américas OUTUBRO 2014

EVOLUÇÃO & PROGNÓSTICOS

Pré diabetes. Diagnóstico e Tratamento

COLÉGIO AMERICANO DE MEDICINA ESPORTIVA Posicionamento Oficial Exercício para Pacientes com Doença Arterial Coronariana

Ambulatório de Apnéia do Sono

Cranberry. Tratamento e prevenção infecção urinária

Obesidade e variáveis polissonográficas em pacientes com apneia obstrutiva do sono

Anexo III. Alterações a incluir nas secções relevantes do Resumo das Características do Medicamento e do Folheto Informativo

predisposição a diabetes, pois Ablok Plus pode mascarar os sinais e sintomas da hipoglicemia ou causar um aumento na concentração da glicose

Ateroembolismo renal

Tópicos da Aula. Classificação CHO. Processo de Digestão 24/09/2012. Locais de estoque de CHO. Nível de concentração de glicose no sangue

Influência do peso corporal no tratamento adjuvante do câncer de mama

BELPELE. Farmoquímica S/A GEL 3 mg/g. Belpele_AR011113_Bula Paciente

PALAVRAS-CHAVE Diabetes mellitus. Aconselhamento. Glicemia.

A influência da prática de atividade física no estado nutricional de adolescentes

Administração dos riscos cardiovasculares Resumo de diretriz NHG M84 (segunda revisão, janeiro 2012)

TEMA: RESPIMAT ESPIMAT. Data: 22/04/2013 NOTA TÉCNICA 57 /2013. Medicamento x Material Procedimento Cobertura

Representa o efeito funcional de uma doença e do seu tratamento sobre o paciente, como é percebido pelo próprio paciente (Schipper, 1990)

Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono & Ronco Acupuntura

LESÕES MUSCULARES. Ft. Esp. Marina Medeiros

Imagem da Semana: Tomografia computadorizada, exame de líquor e EEG

Hipotireoidismo. O que é Tireóide?

Síndrome da apneia-hipopneia obstrutiva do sono: qualidade de vida após o tratamento com pressão positiva contínua nas vias aéreas

Tema: NIVOLUMABE EM ADENOCARCINOMA MUCINOSO DE PULMÃO ESTADIO IV

CETILISTATE GAMMA COMÉRCIO, IMPORTAÇÃO& EXPORTAÇÃO.

INSULINOTERAPIA. Aluna: Maria Eduarda Zanetti

EDITAL DO VIII CURSO DE INICIAÇÃO EM MEDICINA DO SONO ÊNFASE EM POLISSONOGRAFIA

Data: 27/03/2014. NTRR 54/2014 a. Medicamento x Material Procedimento Cobertura

Objetivos: Evitar a infecção nos não infectados ou o adoecimento nos infectados

Calcium Sandoz F. Calcium Sandoz FF NOVARTIS BIOCIÊNCIAS S.A. Comprimido Efervescente. 500mg de cálcio mg de cálcio

Sessão Televoter Diabetes

Confira se os dados contidos na parte inferior desta capa estão corretos e, em seguida, assine no espaço reservado para isso.

ENFRENTAMENTO DA OBESIDADE ABORDAGEM TERAPÊUTICA

A Meta-Analytic Review of Psychosocial Interventions for Substance Use Disorders

Diabetes - Introdução

Este capítulo tem como objetivo, tecer algumas considerações. Epidemiologia, Atividade Física e Saúde INTRODUÇÃO

Jose Roberto Fioretto

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PROF. EDGARD SANTOS- UFBA - HUPES

Introdução à Farmacoeconomia. Técnicas de análises farmacoeconômicas

Mudanças no sistema de tratamento da tuberculose do Brasil Perguntas e respostas freqüentes TRATAMENTO

FORMAS FARMACÊUTICAS E APRESENTAÇÕES - ALDACTONE

Tema: Boceprevir para tratamento da hepatite viral crônica C associada a cirrose hepática

ANÁLISE DO PROGNÓSTICO DE PACIENTES INFECTADOS COM HIV DE LONDRINA E REGIÃO DE ACORDO COM PERFIL NUTRICIONAL

Estatística na vida cotidiana: banco de exemplos em Bioestatística

DIABETES MELLITUS E RESISTÊNCIA À INSULINA

Diagnóstico Domiciliar da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono

Ficha de Controle das Alterações dos Pés de Pacientes Diabéticos. Texto Explicativo:

BERNARDI JR, LOUZADA ML, RAUBER F, GAMA CM, VITOLO MR. 11 de Junho de 2010.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO COLÉGIO PEDRO II DIREÇÃO-GERAL DIRETORIA DE ENSINO EXAME DE SELEÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE CANDIDATOS PROVA DE MATEMÁTICA 2011

Transcrição:

Caso clínico: Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) e Síndrome Metabólica (SM) Identificação: NEM 56 anos, masculino, engenheiro, procedente SP QD: Fadiga e sonolência diurna há pelo menos 5 anos HPMA: O paciente refere sempre ter roncado com piora há 5 anos e sem melhora com a perda ponderal recente de 4 kg. O ronco é intenso, diário e audível em outro cômodo da casa mesmo quando da porta fechada do quarto que dorme. Nega sufocação noturna, entretanto a esposa observa a presença de pausas respiratórias durante o sono. Queixa-se de fadiga e sonolência diurna para atividades que requerem ou não atenção tendo dormido na estrada (1 episodio) acordando com a buzina de outro carro e frequentemente dormindo em reuniões. A escala de sonolência de Epworth pontuou 16/24. Nega alterações do humor, atenção ou memória. Dorme em média 7 hs por noite durante a semana estendendo-se por mais 1 hr aos finais de semana. Nega sintomas nasais e queixas de outros distúrbios do sono. O aumento do peso foi de 15kg/15 anos referindo que com 30 anos já era obeso pois pesava 100kg. ESCALA DE SONOLÊNCIA DE EPWORTH Qual possibilidade de você cochilar ou adormecer nas Chance de cochilar - 0 a 3 seguintes situações? Situações 1. Sentado e lendo 2 2. Vendo televisão 2 3. Sentado em lugar público sem atividades como sala de espera, cinema, teatro, igreja 2 4. Como passageiro de carro, trem ou metro por 1 hora sem parar 3 5. Deitado para descansar a tarde 3 6. Sentado e conversando com alguém 2 7. Sentado após uma refeição sem álcool 2 8. No carro parado por alguns minutos no durante trânsito 0 Total 16/24 (nl: até 9) ISDA: S. Genito-urinário: nictúria 2 a 3 vezes e sem queixas de prostatismo Demais sistemas: ndn AP: Nega tabagismo, etilismo socialmente (baixo consumo e só cervejas) HAS há 28 anos e recentemente com glicemia alterada. Sedentário.

Nega cirurgias e internações. Medicações: benicar(40mg) anlodipina (10mg), metformina (1 gr/dia), sinvastatina (10 mg/dia) AF: Pai e irmãos roncadores HAS e obesidade na família Exame Físico: BEG, afebril, acianotico, anictérico e corado Peso: 110kg, Altura: 1,75 kg IMC:35,9 kg/m2; Circunferência pescoço: 48 cm, Circunferência cintura: 128 cm PA: 130 x 90 mm Hg P: 92 (R) FR: 18 BRNF s/ sopros Pulmões: MV nl sem RA Abd: globoso, indolor; fígado não palpável devido ao panículo adposo abdominal Extremidades: sem edema, pulsos: normais Exame do cavum: palato mole e úvula pouco alongadas; S. Mallampati II e discreta retrognatia Rinoscopia: sem alterações Exames gerais recentes: Glicemia jejum e 2 hs (mg/dl) : 101 e 116 ( valores anteriores ha 2 anos 115, 167 ); Hbglicada : 5,7; Colesterol (mg/dl) : total 146; HDL : 40 e LDL: 88; triglicérides (mg/dl) 90. Polissonografias

basal CPAP ( pressão efetiva: 10 cm H2O) Ef sono 85% 82% Lat sono 33 min 5 min Lat REM 82 min 72 min E 1 11, 5% 3% E 2 69% 47% E 3 /4 0% 27,3% E REM 19,7% 22,7% IAH 79,2/h 5,2/h Sat O2 vig 92% 93% média 84,5% 92 % min 63% 88% Microdesp 65/h 10/h Legenda: Ef Sono: eficiência do sono; Lat Sono: latência para o inicio do sono, Lat REM:latência para o sono REM; E1: estágio 1 do sono em porcentagem do tempo total do sono ; E2: estágio 2 do sono em porcentagem do tempo total do sono; E3/4: Estágio do sono em ondas lentas em porcentagem do tempo total do sono; EREM: estágio em sono REM em porcentagem do tempo total do sono; IAH: índice de apneia e hipopneia por hora de sono, Sat O2 vig, média, min: Sat O2 na vigília, média e min no sono, Microdesp: micro-despertares em índice por hora de sono.

GRÁFICOS POLISSONOGRAFIA BASAL POLISSONOGRAFIA COM CPAP Questão 1- O diagnóstico de SAOS baseia-se na presença de sintomas associados a presença de eventos respiratórios na polissonografia (critérios da Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono, 2005) Qual das alternativas está correta? a- Presença de roncos e apneias testemunhadas com IAH > 15 na polissonografia. b- Presença de roncos e nictúria com IAH > 5 na polissonografia. c- Presença de roncos e sonolência excessiva com IAH > na polissonografia sendo que estes sintomas não podem ser justificados por outras doenças clinicas, outros distúrbios do sono e uso de drogas. d- Presença de roncos e alterações cognitivas com IAH > 10 na polissonografia. e- Presença de roncos e sonolência com Sat O2 < 90% em 10% do tempo total de sono detectado na polissonografia. RESPOSTA c

O diagnóstico da SAOS no adulto segundo os critérios estabelecidos na última Classificação Internacional de Distúrbios do Sono (2005) inclui a presença de sintomas com achados da polissonografia, a saber: itens A, B e D ou C e D, conforme descritos abaixo: A. No mínimo uma queixa: sonolência, sono não reparador, fadiga ou insônia; acordar com pausas respiratórias, engasgos ou asfixia; relata ronco alto e/ou pausas respiratórias durante o sono. B. Polissonografia (PSG): 5 ou mais apneia e/ou hipopneia e/ou despertar relacionado ao esforço respiratório (DRER) por hora de sono; com evidências de esforço respiratório durante todo ou parte de cada evento. C. PSG apresentando: 15 ou mais eventos respiratórios obstrutivos detectáveis (de apneia e/ou hipopneia e/ou DRER) por hora de sono; evidência de esforço respiratório durante todo ou parte de cada evento. D. O distúrbio não pode ser melhor explicado por outro distúrbio do sono, doenças médicas ou neurológicas, uso de medicações ou distúrbio por uso de substâncias. (Ref 1) Apenas a alternativa c preenche os critérios acima referidos. Questão 2- O tratamento com o CPAP é considerado padrão ouro na SAOS de grau moderado e acentuada. Qual das afirmativas é verdadeira em relação ao tratamento com o CPAP: a- Resulta em melhora da sonolência (estudos com nível de evidencia nível 1A, 1B e recomendação A). b- Resulta em melhora da HAS com exceção da HAS resistente, caso esteja associada a SAOS. c- Resulta em melhora da hiperglicemia e resistência insulínica caso esteja associada a SAOS. d- Resulta em melhora de varias funções executivas caso esteja associada a SAOS. e- Todas estão corretas Resposta a Para pacientes com SAOS moderada a grave o tratamento de escolha da SAOS é o CPAP pois é o único tratamento capaz de normalizar o IAH e saturação da oxi-hemoglobina e reverter a fragmentação do sono com regressão dos sintomas clínicos. Estudos randomizados e controlados revelam que o CPAP é capaz de reverter a sonolência ( nível de evidencia 1A, 1B e grau de recomendação A). (Ref 2) Assim a alternativa correta é a. Estudos transversais e prospectivos incluindo grandes amostras populacionais revelam que a SAOS é fator de risco independente para a HAS incluindo a forma resistente (Ref 3,4), no entanto O CPAP parece ter efeito discreto na HAS sendo este efeito mais evidente na HAS resistente. (Ref 5-,8) Assim a alternativa b está incorreta.

Estudos também revelam que a SAOS pode ser fator de risco independente para a intolerância a glicose e DM, contudo os estudos são controversos quanto ao beneficio do CPAP nesta condição. (Ref 9-13), assim a alternativa c está incorreta. A SAOS grave também tem sido associada a alterações cognitivas. O beneficio do CPAP em longo prazo (6 meses) foi testado em estudo multicêntrico randomizado e controlado com CPAP sham levando a melhora discreta apenas na função executiva e sem beneficio na memória, aprendizado, atenção e função psicomotora. (estudo APPLES, Ref 14).A resposta d esta incorreta pois apenas a função cognitiva melhora com o CPAP. Questão 3 A SAOS está frequentemente associada a SM, cuja interação promove aumento do risco cardio-metabólico. Entre os mecanismos propostos, podemos afirmar: a- Hipóxia intermitente e fragmentação do sono levam ao aumento da atividade simpática e a hiperaldosteronismo secundário. b- Hipóxia intermitente e fragmentação do sono levam ao aumento da atividade simpática, do stress oxidativo e da atividade inflamatória. c- Hipóxia intermitente e fragmentação do sono levam ao aumento da atividade simpática e redução da atividade do eixo hipotálamo hipófise- adrenal. d- Somente hipóxia intermitente leva a aumento da atividade simpática, do stress oxidativo e da atividade inflamatória. e- As alterações na pressão intra-torácica relacionadas a obstrução da VAS não tem influencia na atividade simpática. Resposta b Os mecanismos implicados no risco cardiovascular pela SAOS decorrem da hipoxemia intermitente e da fragmentação do sono que ativam o sistema nervoso simpático e o eixo hipotálamo-hipófise- adrenal e aumentam o stress oxidativo.(ref 15-17). As oscilações da pressão intra-torácica associada a oclusão da VAS também levam ativação do sistema nervoso autônomo. Embora a hipoxemia possa ser o mecanismo mais importante implicado como o causador destes desfechos, não é o único e portanto a alternativa correta é a b. Diagnóstico: Trata-se da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono de grau acentuado e Síndrome metabólica tratada. Conduta: A terapêutica baseia-se no uso do CPAP (continuous positive airway pressure) durante o sono noturno na pressão estabelecida durante a polissonografia, que foi 10 cm H2O. O paciente foi orientado quanto ao beneficio clinico do uso deste equipamento bem como dos

possíveis efeitos adversos relacionados ao ressecamento da via aérea superior assim sendo foi sugerido o uso de umidificador aquecido acoplado ao CPAP bem como a lavagem nasal com soro fisiológico e corticoide nasal (budesonida: 50 mcg à noite). O tratamento farmacológico da SM foi mantido e foi enfatizado a mudança de estilo de vida e encaminhamento para nutricionista objetivando a perda ponderal. Evolução: O paciente evolui em 30 dias com boa adesão ao CPAP, usando-o praticamente a noite toda e como efeito adverso referiu discreto ressecamento nasal. Houve desaparecimento da fadiga e da sonolência diurna com redução dos episódios de nictúria para 1 vez/noite. Foi orientado aumentar o grau de umidificação do CPAP e otimizar o tratamento do nariz. Após 1 ano, a adesão terapêutica ao CPAP e aos medicamentos para a SM permanecia adequada com controle da sonolência, fadiga, PAS, glicemia e o colesterol Não ocorreu mudança significativa no estilo de vida já que a pratica de exercício físico era irregular e o peso permanecia o mesmo. Discussão: O paciente em questão apresentava fadiga, ronco intenso e apneias testemunhadas e no exame de polissonografia apresentava IAH> 5/h preenchendo os critérios já referidos para o diagnóstico SAOS sendo esta de grau acentuado. A gravidade da SAOS baseia-se no IAH a saber: leve se 15<IAH>5; moderada se 30<IAH>15 e acentuada se IAH >30 (Ref 1). O diagnóstico de SM, por sua vez, baseou-se no relato de HAS, Diabetes e dislipidemia (desta feita controladas com medicamentos) bem como do aumento da circunferência abdominal e preenchendo os requisitos para SM segundo a National Cholesterol Education Program (NCEP) Adult Treatment Panel III (ATPIII)- (Ref 18) O tratamento com o CPAP foi capaz de normalizar o IAH, a SatO2, os estágios do sono e eliminar os roncos e a fragmentação do sono como demonstrado na PSG para titulação do CPAP. Consequentemente já no primeiro mês de seu uso a sonolência e a fadiga reverteram com melhora da qualidade de vida estando de acordo com a literatura. Também houve redução nos episódios de nictúria oque pode ser explicado pela supressão da produção do hormônio natriurético pelo átrio direito. Durante os eventos de apneias e hipopneias devido a pressão intra-torácica se tornar mais negativa há aumento do retorno venoso para o átrio direito, distendendo-o e levando a produção deste hormônio. A adesão terapêutica foi adequada oque é mandatório para a obtenção dos benefícios clínicos. Há discussão na literatura quanto o numero de horas de uso para os bons resultados clínicos e isto varia com o desfecho avaliado, no entanto o numero mínimo aceitável para melhora da sonolência subjetiva é de 4 horas. (Ref 19) Quanto aos efeitos adversos, estes foram mínimos (ressecamente da VAS) e facilmente controlados com a umidificação da VAS e corticóide nasal.

É assunto de relevante interesse a interação da SAOS com a SM. Observa-se também que o fenótipo mais comum da SAOS é o mesmo da SM. Em pacientes com SM, a prevalência de SAOS moderada a grave é extremamente alta e está em torno de 65%.Isto pode ser explicado exclusivamente por conta da obesidade central, que é um componente central na própria definição de SM é também um dos principais fatores de risco para SAOS. Assim, Wilcox et al em 1988 propuseram que a Apneia Obstrutiva do Sono fizesse fazer parte do espectro da SM sugerindo então o nome de Síndrome Z para esta associação. (Ref 20) O grande desafio está no entendimento se a SAOS é um epifenômeno da obesidade e da SM ou se tem efeito em agravar o risco cardiometabólico da obesidade e da SM. Há evidencias experimentais e clinicas que a interação da hipoxemia intermitente com a obesidade intensifica a ativação dos mecanismos fisiopatogênicos para doença cardiovascular Neste contexto a SAOS pode levar ou agravar a HAS e a intolerância a glicose/dm com menos evidencias sobre as dislipidemias (Ref 21). Quanto ao efeito do CPAP sobre tais alterações metabólicas, alguns estudos foram positivos e outros negativos, não havendo consenso na literatura quanto ao seu uso para o tratamento destas alterações. Sobre seu efeito no peso, este não foi ainda devidamente avaliado na literatura. No referido paciente a PAS, a hiperglicemia e a dislipidemia estavam controlados com os medicamentos e não houve relato de redução destes medicamentos nem de perda ponderal com o uso do CPAP. Há mais de uma década National Cholesterol Education Program (NCEP) Adult Treatment Panel III (ATPIII) e, mais recentemente, a I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (Ref 22) consideram a realização de um plano alimentar para a redução de peso associado a exercício físico como terapias de primeira escolha para o tratamento de pacientes com SM. Ainda que o paciente não tenha perdido peso e nem modificado seu estilo de vida, tais medidas foram e devem continuar sendo fortemente recomentadas, pois melhoram não somente a SM mas também a SAOS e o risco cardiometabólico. Referencias 1- American Academy of Sleep Medicine - AASM. International Classification of Sleep Disorders 2nd Edition: Diagnostic and Coding Manual (ICSD-2). Westchester, IL, American Academy of Sleep Medicine, 2005. 2- Giles TL, Lasserson TJ, Smith B, White J, Wright JJ, Cates CJ. Continuous positive airways pressure for obstructive sleep apnoea in adults (Review). The Cochrane Library 2008, Issue 4. 3- Peppard PE, Young T, Palta M, Skatrud J. Prospective study of the association between sleep-disordered breathing and hypertension. N Engl J Med. 2000; 342:1378 1384. 4- Nieto FJ, Young TB, Lind BK, Shahar E, Samet JM, Redline S, D'Agostino RB, Newman AB, Lebowitz MD, Pickering TG. Association of sleep-disordered breathing, sleep apnea, and hypertension in a large community-based study. Sleep Heart Health Study. JAMA. 2000 12; 283(14):1829-36.

5- Faccenda JF, Mackay TW, Boon NA, Douglas NJ. Randomised placebo-controlled trial of continuous positive airway pressure on blood pressure in the sleep apneahypopnea syndrome. Am J of Respir & Crit Care Med 2001;163:344 8. 6- Bazzano LA, Khan Z, Reynolds K, He J. Effect of nocturneal nasal continuous positive airway pressure on blood pressure in obstructive sleep apnea. Hypertension. 2007; 50(2):417-23. 7- Barbé F, Durán-Cantolla J, Capote F, de la Peña M, Chiner E, Masa JF, Gonzalez M, Marín JM, Garcia-Rio F, de Atauri JD, Terán J, Mayos M, Monasterio C, del Campo F, Gomez S, de la Torre MS, Martinez M, Montserrat JM; Long-term effect of continuous positive airway pressure in hypertensive patients with sleep apnea. Am J Respir Crit Care Med. 2010 Apr 1;181(7):718-26. 8- Lozano L, Tovar JL, Sampol G, Romero O, Jurado MJ, Segarra A, Espinel E, Ríos J, Untoria MD, Lloberes P. Continuous positive airway pressure treatment in sleep apnea patients with resistant hypertension: a randomized, controlled trial. J Hypertens. 2010;28(10). 9- Reichmuth KJ, Austin D, Skatrud JB, Young T. Association of sleep apnea and type II diabetes: a population-based study. Am J Respir Crit Care Med. 2005;172:1590. 10- Togeiro SM, Carneiro G, Ribeiro Filho FF, et al. Consequences of Obstructive Sleep Apnea on Metabolic Profile: A Population-Based Survey. Obesity 2013;21(4):847-51. 11- Sharma SK, Agrawal S, Damodaran D, et al. CPAP for the metabolic syndrome in patients with obstructive sleep apnea. N Engl J Med. 2011;365:2277-86. 12- Hoyos CM, Killick R, Yee BJ, Phillips CL, Grunstein RR, Liu PY. Cardiometabolic changes after continuous positive airway pressure for obstructive sleep apnoea: a randomised sham-controlled study. Thorax. 2012;67:1081-9 13- Babu AR, Herdegen J, Fogelfeld L, Shott S, Mazzone T. Type 2 diabetes, glycemic control, and continuous positive airway pressure in obstructive sleep apnea. Arch Intern Med. 2005;165:447-452. 14- Kushida CA, Nichols DA, Holmes TH, Quan SF, Walsh JK, Gottlieb DJ, Simon RD Jr, Guilleminault C, White DP, Goodwin JL, Schweitzer PK, Leary EB, Hyde PR, Hirshkowitz M, Green S, McEvoy LK, Chan C, Gevins A, Kay GG, Bloch DA, Crabtree T, Dement WC. Effects of continuous positive airway pressure on neurocognitive function in obstructive sleep apnea patients: The Apnea Positive Pressure Long-term Efficacy Study (APPLES) Sleep 35(12):1593-602, 2012. 15- Somers VK, Dyken ME, Clary MP, Abboud FM. Sympathetic neural mechanisms in obstructive sleep apnea. J Clin Invest. 1995;96(4):1897 1904. 16- Carneiro G; Togeiro Sm, Hayashi LF ; Ribeiro-Filho FF ; Tufik s ; Zanella MT. Effect of continuous positive airway pressure therapy on hypothalamic-pituitary-adrenal axis function and 24-h blood pressure profile in obese men with obstructive sleep apnea syndrome. American Journal of Physiology Endocrinology and Metabolism, 2008, 295: E380-E384.

17- Dyugovskaya L, Lavie P, Lavie L Increased adhesion molecules expression and production of reactive oxygen species in leukocytes of sleep apnea patients. Am J Respir and Crit Care Med,.2002, 165: 934 939 18- Grundy SM, Cleeman JI, Daniels SR, Donato KA, Eckel RH, Franklin BA, Gordon DJ, Krauss RM, Savage PJ, Smith SC Jr, Spertus JA, Costa F; American Heart Association; National Heart, Lung, and Blood Institute. Diagnosis and management of the metabolic syndrome: an American Heart Association/National Heart, Lung, and Blood Institute Scientific Statement. Circulation. 2005;112(17):2735-52. 19- Weaver TE, Grunstein RR. Adherence to continuous positive airway pressure therapy: the challenge to effective treatment. Proc Am Thorac Soc 2008; 5:173 20-Wilcox I, McNamara SG, Collins FL, Grunstein RR, Sullivan CE. "Syndrome Z": the interaction of sleep apnoea, vascular risk factors and heart disease. Thorax. 1998; 53 Suppl 3:S25-8. 21-Drager LF, Togeiro SM, Polotsky VY, Lorenzi-Filho G. Obstructive sleep apnea: a cardiometabolic risk in obesity and the metabolic syndrome. J Am Coll Cardiol. 2013 13;62(7):569-76 22- I Diretriz Brasileira de Diagnóstico de Tratamento da Síndrome Metabólica. Arq Bras Cardiol. 2005; 84 (Suppl 1).