1 TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS E DA PERSONALIDADE José Henrique Volpi A idéia de buscar fora da pessoa os elementos que explicassem seu comportamento e sua desenvoltura vivencial teve ênfase com as teorias de Rousseau que dizia que era a sociedade quem corrompia o homem. Outra concepção acerca da Personalidade foi baseada na constituição biotipológica, segundo a qual a genética não estaria limitada exclusivamente à cor dos olhos, dos cabelos, da pele, à estatura, aos distúrbios metabólicos e, às vezes, às malformações físicas, mas também, determinaria às peculiares maneiras do indivíduo relacionar-se com o mundo: seu temperamento, seus traços afetivos, etc. Várias teorias, discussões e controvérsias sobre a personalidade foram temas sempre presentes em toda história da filosofia, psicologia, sociologia, antropologia e medicina geral. Entre tantas tendências, destaca-se um tronco ideológico, segundo o qual os seres humanos foram criados iguais quanto sua capacidade potencial. Neste caso, a ocorrência das diferenças individuais seria interpretada como uma decisiva influência ambiental sobre o desenvolvimento da Personalidade. (Alfred ADLER, Carl ROGERS, Carl Gustav JUNG, Friederich PERLS, Sigmund FREUD, William JAMES, Wilhelm REICH). Assim, para que possamos melhor compreender as doenças mentais que necessitam de tratamento psiquiátrico e/ou psicológico, precisamos em primeiro lugar diferenciar um indivíduo saudável, ao que Reich (1995) chamava de genital, de um indivíduo neurótico ou psicótico. 1. GENITAL Segundo Reich (1995) o indivíduo genital é que alcançou a última etapa do desenvolvimento psico-afetivo, sem bloqueios e de forma totalmente equilibrada. Navarro (1995) diz que é um elefante branco porque apenas 0,01% da população apresentaria um caráter dessa magnitude.
2 2. NEURÓTICO Podemos dizer que é uma pessoa que apresenta um desequilíbrio da personalidade e do caráter. Mas nesse caso, apenas uma parte da personalidade é afetada e a realidade não é percebida de forma alterada que faz com que a pessoa tenha uma reação exagerada do sistema nervoso em relação a uma experiência vivida como desagradável. Portanto, a neurose é a maneira da pessoa ser e de reagir aos fatos da vida. 2. PSICÓTICO São pessoas que apresentam graves distúrbios da personalidade em que o funcionamento mental está alterado de tal forma que a pessoa não consegue responder às demandas da vida cotidiana. Significa um estado alterado da personalidade no qual a pessoa tem sensações que não correspondem à realidade e pensamentos que fogem ao seu controle. Sintomas: Podem ser vários, mas geralmente aparecem as alucinações auditivas, visuais ou olfativas, sensações e desconfiança de estar sendo observado, provocado, gozado, comentado, controlado, perseguido, vigiado, traído etc. Sensação de que o ambiente esta estranho. Agitação, confusão, agressividade, Não falar coisa com coisa., Insônia e inapetência. Isolamento, não querer contato com ninguém, assumir um comportamento estranho. Causas: podem ser diversas, mas geralmente são desencadeadas por algum evento estressante, traumatismos, álcool, drogas, doenças, etc. 2.1. AUTISMO Há quem diga que o autismo é o mesmo que psicose e que esquizofrenia. Mas vários autores fazem uma separação alegando uma diferença tanto na forma como a doença se manifesta e no comportamento apresentado, quanto na condução do tratamento necessário a ser empregado no tratamento de cada uma dessas doenças ou consideram o autismo uma forma precoce de esquizofrenia. Assim, a concepção de autismo como psicose
3 ou como transtorno de desenvolvimento dependerá do sistema de classificação empregado. É uma alteração cerebral que afeta a capacidade da pessoa de se comunicar, estabelecer relacionamentos e responder apropriadamente ao ambiente. Algumas crianças apesar de autistas apresentam inteligência e fala intactas; outros apresentam também retardo mental, mutismo ou importantes retardos no desenvolvimento da linguagem. Alguns parecem fechados e distantes; outros presos a comportamentos restritos e rígidos padrões de comportamento. 2.2. ESQUIZOFRENIA Apesar da exata origem não estar concluída, as evidências indicam mais e mais fortemente que a esquizofrenia é um severo transtorno do funcionamento cerebral de constituição multifatorial. A origem viral e traumas encefálicos não estão descartados. Pouco sabemos sobre essa doença, o máximo que conseguimos foi obter controle dos sintomas com os antipsicóticos, nem sua classificação, que é um dos aspectos fundamentais na pesquisa, foi devidamente concluído. Existem dois manuais de classificação para as doenças mentais: a) DSM. IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) b) CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças). Alguns estados e tipos de comportamento alterados aparecem precocemente durante o desenvolvimento individual sob a influência conjunta de fatores constitucionais e sociais, enquanto outros são adquiridos mais tardiamente durante a vida. Segundo o DSM-IV (1994), um Transtorno da Personalidade é um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é invasivo e inflexível, tem seu início na adolescência ou começo da idade adulta, é estável ao longo do tempo e provoca sofrimento ou prejuízo. Vejamos alguns desses transtornos segundo o DSM-IV:
4 F60.0 - Transtorno da Personalidade Paranóide é um padrão de desconfiança e suspeitas, de modo que os motivos dos outros são interpretados como malévolos. F60.1 - Transtorno da Personalidade Esquizóide é um padrão de distanciamento dos relacionamentos sociais, com uma faixa restrita de expressão emocional. F21 - Transtorno da Personalidade Esquizotípica é um padrão de desconforto agudo em relacionamentos íntimos, distorções cognitivas ou da percepção de comportamento excêntrico. F60.2 - Transtorno da Personalidade Anti-Social é um padrão de desconsideração e violação dos direitos dos outros. F60.31 - Transtorno da Personalidade Borderline é um padrão de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos, bem como de acentuada impulsividade. F60.4 - Transtorno da Personalidade Histriônica é um padrão de excessiva emotividade e busca de atenção. F60.8 - Transtorno da Personalidade Narcisista é um padrão de grandiosidade, necessidade por admiração e falta de empatia. F60.6 - Transtorno da Personalidade Esquiva é um padrão de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliações negativas. F60.7 - Transtorno da Personalidade Dependente é um padrão de comportamento submisso e aderente, relacionado a uma necessidade excessiva de proteção e cuidados.
5 F60.5 -Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva é um padrão de preocupação com organização, perfeccionismo e controle. F61 - Outros transtornos da personalidade é uma categoria que se refere aos transtornos de personalidade freqüentemente perturbadores mas que não mostram o padrão específico de sintomas que caracteriza os transtornos descritos em F60.-. Conseqüentemente, são com freqüência mais difíceis de diagnosticar do que os transtornos em F60. F62 - Modificações duradouras da personalidade não atribuíveis a lesão ou doença cerebral consiste em anomalias da personalidade e do comportamento do adulto que ocorrem na ausência de transtornos prévios da personalidade e em seguida a um "stress" dramático ou excessivo e prolongado, ou a uma doença psiquiátrica grave. Este diagnóstico só deve ser feito nos casos em que se dispõe da prova de uma alteração manifesta e duradoura dos modos de percepção, de relação ou de pensamento com relação ao ambiente ou a si próprio. A modificação da personalidade deve ser significativa e estar associada a um comportamento rígido e mal adaptado, ausente antes da ocorrência do evento patogênico. A modificação não deve constituir uma manifestação direta de um outro transtorno mental nem um sintoma residual de um transtorno mental anterior. F63 - Transtornos dos hábitos e dos impulsos é uma categoria que compreende certos transtornos do comportamento que não podem ser classificadas sob outras rubricas. São caracterizados por atos repetidos, sem motivação racional clara, incontroláveis, e que vão em geral contra os interesses do próprio sujeito e aqueles de outras pessoas. O sujeito indica que seu comportamento está associado a impulsos para agir. A causa para estes transtornos não é conhecida. Estão aqui reagrupados em razão de certas semelhanças grandes nas suas descrições e não em função de outras características comuns importantes conhecidas.
6 a) Jogo patológico: Episódios repetidos e freqüentes de jogo que dominam a vida do sujeito em detrimento dos valores e dos compromissos sociais, profissionais, materiais e familiares. Jogo compulsivo. b) Piromania: Atos ou tentativas múltiplas visando a pôr fogo em objetos e bens sem motivo aparente, associado a preocupações persistentes com relação a fogo ou incêndio. Este comportamento se acompanha freqüentemente de um estado de tensão crescente antes do ato e uma excitação intensa imediatamente após sua realização. c) Roubo patológico [cleptomania]: Impossibilidade repetida de resistir aos impulsos de roubar objetos. Os objetos não são roubados por sua utilidade imediata ou seu valor monetário; o sujeito pode, ao contrário, quer descartá-los, dá-los ou acumulá-los. d) Tricotilomania: Perda visível dos cabelos, causada por uma impossibilidade repetida de resistir ao impulso de se arrancar os cabelos. O arrancamento dos cabelos é precedido em geral de uma sensação crescente de tensão e seguido de uma sensação de alívio ou de gratificação. F64 - Transtornos da identidade sexual a) Transexualismo: Desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto. b) Travestismo bivalente: Este termo designa o fato de usar vestimentas do sexo oposto durante uma parte de sua existência, de modo a satisfazer a experiência temporária de pertencer ao sexo oposto, mas sem desejo de alteração sexual mais permanente ou de uma transformação cirúrgica; a mudança de vestimenta não se acompanha de excitação sexual. F65 - Transtornos da preferência sexual a) Fetichismo: Utilização de objetos inanimados como estímulo da excitação e da satisfação sexual. Numerosos fetiches são prolongamentos do corpo, como
7 por exemplo as vestimentas e os calçados. Outros exemplos comuns dizem respeito a uma textura particular como a borracha, o plástico ou o couro. Os objetos fetiches variam na sua importância de um indivíduo para o outro. b) Travestismo fetichista: Vestir roupas do sexo oposto, principalmente com o objetivo de obter excitação sexual e de criar a aparência de pessoa do sexo oposto. O travestismo fetichista se distingue do travestismo transexual pela sua associação clara com uma excitação sexual e pela necessidade de se remover as roupas uma vez que o orgasmo ocorra e haja declínio da excitação sexual. c) Exibicionismo: Tendência recorrente ou persistente de expor seus órgãos genitais a estranhos (em geral do sexo oposto) ou a pessoas em locais públicos, sem desejar ou solicitar contato mais estreito. Há em geral, mas não constantemente, excitação sexual no momento da exibição e o ato é, em geral, seguido de masturbação. d) Voyeurismo: Tendência recorrente ou persistente de observar pessoas em atividades sexuais ou íntimas como o tirar a roupa. Isto é realizado sem que a pessoa observada se aperceba de o sê-lo, e conduz geralmente à excitação sexual e masturbação. e) Pedofilia: Preferência sexual por crianças, quer se trate de meninos, meninas ou de crianças de um ou do outro sexo, geralmente pré-púberes ou no início da puberdade. f) Sadomasoquismo: Preferência por um atividade sexual que implica dor, humilhação ou subserviência. Se o sujeito prefere ser o objeto de um tal estímulo fala-se de masoquismo; se prefere ser o executante, trata-se de sadismo. Comumente o indivíduo obtém a excitação sexual por comportamento tanto sádicos quanto masoquistas.
8 REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. Washington D.C., 1994 BALLONE, G. Psiqweb. Disponível em <http://www.psiqweb.med.br>. Acesso: 01/03/2004 NAVARRO, F. Caracterologia pós-reichiana. São Paulo: Summus, 1995 REICH, W. Análise do Caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995