INVESTIGAÇÃO DOS SENTIDOS NARRATIVOS ENCONTRADOS NO DISCURSO DE AFÁSICOS PARTICIPANTES DE GRUPO DE CONVIVÊNCIA



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Transcrição:

INVESTIGAÇÃO DOS SENTIDOS NARRATIVOS ENCONTRADOS NO DISCURSO DE AFÁSICOS PARTICIPANTES DE GRUPO DE CONVIVÊNCIA Palavras chave: afasia; diálogo; sentido. O estudo tem o objetivo investigar e analisar os sentidos presentes nos discursos de afásicos, correlacionando-os com os aspectos ideológicos, sociais, econômicos e bio - psíquicos presentes na fala dos participantes. Torna-se esse estudo necessário para a busca de estratégias que facilitem a interpretação dos sentidos discursivos dos afásicos, sendo fundamental para compreensão da dinâmica, forma e funcionamento da sua linguagem. A forma como a linguagem é investigada ainda hoje, pode ser reflexo dos pressupostos teóricos e das distintas maneiras de como a linguagem é concebida. A concepção seguida neste estudo situa a linguagem como um lugar de interação humana, como o lugar de constituição de relações sociais. Nesse enfoque, a concepção interacionista da linguagem contrapõe-se às visões conservadoras da língua, que a tem como um objeto autônomo, sem história e sem interferência do social, aspectos que não são condizentes com a realidade na qual o sujeito está inserido. A abordagem discursiva da linguagem considera a língua um processo dinâmico, inacabado, que se (re)constitui e se atualiza na atividade interlocutiva, ou seja, pelo uso que os falantes dela o fazem e, por estar em circulação social, é passível de transformações, variações. (BENVENISTE, 1988). Para a Análise do Discurso, não existe a separação entre a pessoa que emite e aquela que recebe a mensagem, muito menos entre aquela que fala primeiro e o outro, que decodifica depois, porque os sujeitos estão desempenhando na mesma hora o processo de significação. Nessa linha de pensamento, define-se o discurso como sendo um efeito de sentido entre locutores (ORLANDI, 2002). O processo de Análise Discursiva tem a pretensão de interrogar os sentidos estabelecidos em diversas formas de produção, que podem ser verbais e não verbais, bastando que sua materialidade produza sentidos para interpretação (CAREGNATO, MUTTI, 2005). Não só as dimensões histórico-sociais e as ideológicas e o local de produção do discurso estão envolvidas na produção dos sentidos, como também está implicado aí o próprio sujeito que produz o discurso. Evidencia-se o sujeito e o sentido que ele atribui às palavras. Por sua vez, as palavras afetam o sujeito e ao mesmo tempo o constituem (ORLANDI, 2002). Para Ricouer (1977), não há sentido sem interpretação. E como a linguagem, através de suas diferentes materialidades, diferentes formas, significa de distintas

maneiras, os sentidos não são evidentes. O sujeito lida com o material lingüístico que tem a sua disposição, fazendo escolhas importantes para concretizar a sua proposta de sentido. A investigação desses sentidos, através do interdiscurso pode mostrar como os sujeitos afásicos trabalham a relação linguagem mundo (KOCH, 2004). No discurso do afásico, observam-se alterações no uso e funcionamento da linguagem, havendo ausência de palavras ou mesmo o silenciamento, quando quer expressar suas idéias. No entanto é possível, através da interpretação do que é dito atribuir sentidos(coudry, 1988). MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado no Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Pernambuco, onde foi formado o grupo de convivência de afásicos, para o desenvolvimento das atividades da pesquisa. O encontro com o grupo se dava semanalmente (nas segundas-feiras) em uma das salas do departamento, tendo a duração de uma hora e meia. Os participantes do estudo foram sendo integrados, ao grupo de convivência, aos poucos, a princípio os sujeitos convidados, foram os pacientes que já vinham sendo atendidos na Clínica-Escola de Fonoaudiologia da UFPE. Até o final do estudo, o grupo de convivência estava com apenas seis sujeitos, devido às desistências ocorridas e a não realização da divulgação do Grupo de Convivência, pois houve o receio da impossibilidade de comportar uma grande demanda. Foram incluídos sujeitos de ambos os sexos, sem restrições do tipo da lesão cerebral e da condição sócio-cultural. A pesquisa foi realizada no período de agosto de 2007 a julho de 2008, sendo o Grupo de Convivência iniciado em outubro de 2007. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, observacional, longitudinal, descritiva, interpretativa. Não havendo definições de variáveis, por se tratar de uma pesquisa qualitativa, onde ela é direcionada ao longo do seu desenvolvimento; não busca enumerar ou medir eventos; não emprega instrumentos estatísticos. Os diálogos dos afásicos foram coletados, através de gravações e filmagens, que formarão um banco de dados, contendo os momentos de interação e conversa espontânea, abordando temas de interesse comum aos participantes, sendo esses diálogos transcritos, utilizando-se o sistema padronizado de transcrição do NURC -Norma Universal de Transcrição-. Os dados coletados foram analisados à luz dos pressupostos da Análise do Discurso de Linha Francesa e confrontados com os dados da revisão bibliográfica. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, onde se explicava em detalhes os objetivos do trabalho, seus riscos e benefícios. Os

responsáveis pela pesquisa assinaram o mesmo termo dos entrevistados, onde foi assumido e cumprido o compromisso de guardar em sigilo os nomes dos participantes, estando também ciente da retirada do consentimento do participante a qualquer momento da pesquisa. Os participantes não sofreram nenhum tipo de risco durante todo o estudo. Eles tiveram a total liberdade de eliminarem os fragmentos discursivos, cujos não se sentiram à vontade de divulgar, além disso, tiveram autonomia para cessar as gravações quando o tema discutido fosse de algo que não pretendiam difundir. RESULTADOS Ao longo do período da pesquisa, foram realizados 25 encontros, em que nem sempre todos os participantes estiveram presentes.as atividades realizadas no grupo foram divididas em três momentos: o primeiro em que conversávamos espontaneamente sobre o que havia ocorrido durante a semana, novidade para contar, notícias do jornal ou programas da TV. No segundo momento, realizávamos atividades que ajudavam a melhorar o funcionamento da linguagem oral e/ou escrita, atividades que envolviam a memória (jogos, adivinhações, realização de dramatizações, discussão de filmes, canto e interpretação de músicas). E o terceiro momento ficava reservado para a escolha das atividades para a próxima semana, levando em consideração a preferência dos participantes. Os gestos e os processos de significação não verbais parecem auxiliar na questão da incompletude, que é desconfortável tanto para os afásicos como também por sujeitos não-afásicos. Estes gestos e processos ajudam a completar a fala e auxiliam o entendimento. Vejamos o trecho retirado do encontro 14/04/08, os participantes estavam cantando uma música, com o acompanhamento da letra e do violão tocado por tec. (...) 1- ((todos tentam acompanhar, mas seu A. só observa e faz gestos com o dedo, prestando atenção na letra cantada)). 2- tec:... ((para um instante de tocar para escutar seu C. cantando)) 3- liv:... ((faz gestos com a mão para continuar tocar)) 4- MA:... ((olha para A. e vê que ele não está acompanhando e olha para tec.)) 5- ((a música termina)).

6- liv: ((bate palmas))... eu só num vi seu A. e seu Z. cantar... 7- A: ((faz gestos com a mão)) 8- Z.: ((mostra que estava olhando para o papel)) Neste episódio dialógico foi possível notar a quantidade de observações relativas a processos de significação não verbais, como os gestos efetuados, principalmente por A, realizando gestos com o dedo (linha 1) e com a mão (linha 7). O primeiro gesto pode indicar que A estava acompanhando a música, mesmo que não estivesse cantando-a, o segundo gesto pode afirmar essa hipótese, ele poderia está acompanhando com as mãos o ritmo da música. Assim como Z. que estava acompanhando a música com a letra (linha 8). Estes processos de significação não verbais, nos diálogos, podem auxiliar na compreensão dos processos de significação verbais. DISCUSSÃO É preciso pensar a linguagem como lugar de interação, de constituição das identidades, de representação de papéis, de negociação de sentidos. Nas palavras de Koch, é preciso encarar a linguagem como forma de inter-ação social (KOCH, 2004). Partindo do princípio que todo dizer é aberto, o silêncio abre espaço para possibilidades interpretativas. A falta, a ausência da palavra pode denotar algo que, nos limites da dialogia e na relação com o outro, passa a ganhar significado (ORLANDI, 2002). É possível estabelecer sentidos, em suas diversas formas de produção, que podem ser verbais e não verbais, bastando que sua materialidade produza sentidos para interpretação (CAREGNATO, MUTTI, 2005). Vale destacar que nenhum enunciado de sujeitos afásicos ou não-afásicos possui condições para interpretação unívoca. No discurso do afásico, existe a dificuldade de compreender a linguagem dos outros, como também de selecionar a palavra que pretende dizer, gerando um enunciado incompleto, o que caracteriza as alterações de processos lingüísticos, incluindo aí, aspectos gramaticais. Cabe ao outro, atribuir sentidos, tanto para o dito quanto para o não dito, pois ambos são passíveis de interpretação (ORLANDI, 2002). CONCLUSÕES Analisando os dados dos episódios dialógicos, e articulando os fundamentos teóricos

de ordem discursiva e levantando dos enunciados de sujeitos afásicos, não as suas perdas lingüísticas, mas os processos de trabalho com/sobre/na linguagem desses sujeitos, faz-se assim, sentidos expressos os seus intuitos discursivos. AGRADECIMENTOS A Profª. Drª. Maria Lúcia Gurgel da Costa, pela orientação precisa, a Ester Feijó e Lívia Luz, pelos momentos de discurssão, ajuda nas transcrições e pesquisa para construção do trabalho, aos meus pais por me apoiarem em tudo o que faço e ao PIBIC/UFPE, pela oportunidade de realizar este estudo. REFERÊNCIAS Coudry, M. I. H. 1988. Diário de narciso: discurso e afasia. Martins Fontes: São Paulo. Benveniste, E. 1988. Problemas de Lingüística Geral II. Pontes: Campinas. Caregnato, R. C. A.; Mutti R. 2006. Pesquisa qualitativa: análise de discurso versus análise de conteúdo. Texto Contexto Enfermagem: Florianópolis, out-dez., p. 679-841. Koch, I. V. 2004. Introdução à Lingüística Textual. Martins Fontes: São Paulo. Morato, E. M. 2002. Sobre as afasias e os afásicos: subsídios teóricos e práticos elaborados pelo centro de convivência de afásicos. UNICAMP: São Paulo. Orlandi, E. P. 2002. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 4. ed. Pontes: Campinas. Ricouer, P. 1977. Da interpretação: ensaio sobre Freud. Imago Editora: Rio de Janeiro.