TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo fls. 1 Registro: 2014.0000012698 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0000652-58.2010.8.26.0360, da Comarca de Mococa, em que é apelante AMANDA PERES DA SILVA, é apelado MILENE BALBESAN LUCIO (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores NEVES AMORIM (Presidente) e JOSÉ CARLOS FERREIRA ALVES. São Paulo, 21 de janeiro de 2014. MARCIA TESSITORE RELATOR ASSINATURA ELETRÔNICA
fls. 2 VOTO Nº 1131 APELAÇÃO nº 0000652-58.2010.8.26.0360 APELANTE: AMANDA PERES DA SILVA APELADO: MILENE BALBESAN LUCIO COMARCA: MOCOCA (2ª. VARA JUDICIAL) JUIZ: GUILHERME FERNANDES CRUZ HUMBERTO RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AUTORA QUE ALEGA TER SOFRIDO HUMILHAÇÕES DECORRENTES DA DIVULGAÇÃO FEITA VIA E-MAIL EM SITES PORNOGRÁFICOS DE FOTOGRAFIAS DE CUNHO SEXUAL. SENTENÇA DE PROCEDENCIA MANTIDA, COM OBSERVAÇÃO QUANTO AO CÔMPUTO DOS JUROS DE MORA. SÚMULA 54 DO STJ. RECURSO IMPROVIDO. Trata-se de apelação interposta contra r. sentença de (fls.96/106), cujo relatório adoto, que julgou procedente a ação condenando a ré ao pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$ 6.000,00 reais, além de arcar com as custas e despesas processuais e honorários advocatícios arbitrados em 20% sobre o valor da condenação. Inconformada, apelou a ré (fls.118/123) visando à reforma do julgado. Em resumo, sustentou a fragilidade no que tange ao conjunto probatório, tendo se dado cerceamento de defesa em razão do julgamento antecipado da lide. No mais, sustenta, repetidamente, não ser a autora do e-mail contendo as fotografias, mas apenas o transmitiu a terceiros. Caso mantida a condenação, deve haver redução da verba fixada a título de indenização. (fls.132), sem apresentação de contrarrazões. O recurso foi recebido em ambos os efeitos É o relatório. Por primeiro, afasta-se a alegação de cerceamento de defesa, dado que, ante a confirmação de ter transmitido a terceira pessoa o e-mail com as fotografias pornográficas (fls. 58), tem-se APELAÇÃO Nº 0000652-58.2010.8.26.0360 - VOTO Nº 1131 2
fls. 3 por desnecessária a produção de qualquer outra prova, principalmente a testemunhal, na qual insiste a ré. Pouco importa para caracterização da conduta lesiva não tenha sido a autora do e-mail, pois o dano configura-se com a simples divulgação das fotos eróticas. Por segundo, e já abordando o mérito, o recurso não prospera. Como já mencionado, o fato de ter a ré admitido a retransmissão das fotografias eróticas conduzem à certeza de sua responsabilidade pela eclosão do resultado danoso, independentemente de ter sido a criadora do e-mail que circulou em ambiente virtual. De sua conduta resultou situação vexatória para a autora, identificada em e-mail intitulado MILENA BANCO REAL MOCOCA, de conteúdo evidentemente difamatório. No caso em análise surge cristalina a leviandade inescusável da conduta da ré, sendo inafastável o decreto de procedência da ação. No que tangem ao quantum arbitrado, de se levar em conta o que dispõe o art. 953 do CC/2002: Art. 953: A indenização por injúria, difamação ou calúnia, consistirá na reparação do dano que delas resulte ao ofendido. Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz fixar, equitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso. Não há dúvida da gravidade da conduta lesiva da ré, impondo à autora pesada humilhação ao ver sua imagem divulgada na internet associada a fotos pornográficas. Ao apreciar o recurso interposto contra sentença APELAÇÃO Nº 0000652-58.2010.8.26.0360 - VOTO Nº 1131 3
fls. 4 de procedência de ação proposta pela autora em face de outra ré, assim se pronunciou a C. 7ª Câmara de Direito Privado deste Eg. Tribunal: Configurado o dano moral sofrido, deve-se observar o nexo de causalidade e, ainda, os critérios de proporcionalidade e razoabilidade para fixação do quantum, considerando, ainda, a condição econômica da ofensora, da ofendida e o bem jurídico lesado. Convém ressaltar que a Apelada tinha conhecimento do mal que causava, mesmo sem intenção, ao repassar aquelas imagens pornográficas para terceiros com os dados da Apelada e ainda assim não hesitou em retransmitir. O valor fixado (R$ 1.000,00) não faz jus aos termos do artigo 944 do Código Civil, que dispõe que A indenização medese pela extensão do dano e, se quantificado através do número de pessoas que acessam rapidamente o conteúdo lançado no ambiente virtual, seria irrisório. Portanto, o valor da indenização deve ser majorado para R$ 10.000,00 (dez mil reais). Por se tratar de responsabilidade civil extracontratual, de fato, a irresignação quanto aos juros moratórios comporta provimento, na medida em que deverão incidir a partir da data do evento danoso (Súmula 54 do STJ). (Apelação nº 0000825-82.2010.8.26.0360 - Mococa Rel. Ramon Mateo Júnior). No mesmo sentido, em ação idêntica promovida pela autora, cujo recurso de apelação foi julgado pela C. 5ª Câmara de Direito Privado, a indenização foi majorada para R$ 20.000,00 (Ap. nº 0000824-97.2010.8.26.0360 Rel. Edson Luiz de Queiroz). Assim é que, ante a gravidade dos fatos, a extensão do dano sofrido e em conformidade com o entendimento deste Tribunal de Justiça, entendo que a quantia de R$ 6.000,00 não comporta redução, mas, ao contrário, teria sido até mesmo majorada caso tivesse havido insurgência da autora. Por fim, observo, ainda, ser o caso de aplicação da Súmula 54 do STJ, para fazer constar que os juros de mora devem ser computados a partir do evento lesivo 06/09/2009 e não da prolação da APELAÇÃO Nº 0000652-58.2010.8.26.0360 - VOTO Nº 1131 4
fls. 5 sentença. Ante o exposto, nego provimento ao recurso, com observação quanto ao cômputo dos juros de mora. MARCIA TESSITORE RELATORA APELAÇÃO Nº 0000652-58.2010.8.26.0360 - VOTO Nº 1131 5