PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Tanabi, em que é agravante MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, são agravados NILSON CARDOSO e ILDA MENEZES CARDOSO. ACORDAM, em 1ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Por maioria, negaram provimento ao recurso, vencido o relator. Acórdão com o 2º juiz.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores DIMAS RUBENS FONSECA, vencedor, MOREIRA VIEGAS (Presidente), vencido, MOREIRA VIEGAS (Presidente) e TORRES DE CARVALHO. São Paulo, 26 de março de Dimas Rubens Fonseca RELATOR DESIGNADO Assinatura Eletrônica

2 AG. INST. Nº COMARCA: TANABI(1ª VJ) AGVTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO AGVDOS: NILSON CARDOSO E ILDA MENEZES CARDOSO JD 1º GRAU: RICARDO DE CARVALHO LORGA VOTO Nº AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Meio ambiente. Decisão judicial transitada em julgado sob a égide do antigo Código Florestal - Lei nº 4.771/65. Aplicação das disposições do novo Código Florestal Lei nº /12 na fase de cumprimento da sentença. Possibilidade de soma da área de preservação permanente no cálculo da área de reserva legal, nos termos do art. 15 do referido Diploma. Inconstitucionalidade do dispositivo não configurada. Ausência de violação à coisa julgada pela manutenção das obrigações impostas no decisum e, inclusive, pela aplicação do princípio da isonomia. Precedentes. Recurso desprovido. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a r. decisão proferida nos autos da ação civil pública, em fase de execução, que reconsiderou pronunciamento anterior e deferiu a aplicação ao caso das disposições do Novo Código Florestal, oficiando-se ao órgão ambiental para essa finalidade (e-fls. 19). Sustentou, em síntese, que a r. decisão representa violação à coisa julgada; que não é possível a aplicação do disposto no art. 462 do CPC; que é inconstitucional o art. 15 da Lei /12, ao admitir o cômputo da área de preservação Agravo de Instrumento nº

3 permanente no percentual da reserva legal, uma vez que configura verdadeiro retrocesso em matéria de preservação ambiental (e-fls. 01/17). Às e-fls. 78 foi deferido o pedido de efeito suspensivo. Os agravados apresentaram contraminuta às e-fls. 84/93, pugnando pela manutenção da r. decisão. É o relatório. Sempre respeitosamente, ouso divergir do D. Relator, Exmo. Des. João Francisco Moreira Viegas (Voto ). Os agravados foram condenados à obrigação de instituir, demarcar, averbar e recuperar a reserva legal de vinte por cento (20%) sobre a área do seu imóvel, excluindo-se as áreas definidas como sendo de preservação permanente, não permitindo que nela se promovam atividades danosas, sob pena de multa (e-fls. 67/75). A despeito de a r. sentença ter sido proferida na vigência do antigo Código Florestal Lei nº 4.771/65, a execução da ordem judicial ocorre na vigência do novo Código Florestal - Lei nº /12, legitimando a imediata aplicação das disposições deste, dentre as quais o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do Agravo de Instrumento nº

4 ercentual da Reserva Legal (artigo 15) 1. Pontifique-se que, mesmo com a autorização para a compensação, permanecem incólumes as obrigações dos agravados de instituir, demarcar e recuperar a Reserva Legal de vinte por cento (20%) sobre a área do seu imóvel, exatamente como determinado no título judicial, o que afasta a alegação de afronta à coisa julgada pela aplicação do novo Código Florestal na fase de cumprimento da sentença. Ademais, a jurisprudência, sem discrepância, tem afirmado que as restrições ambientais, tais como a Reserva Legal e as Áreas de Preservação Permanente, configuram limitações administrativas de caráter geral que não interferem no uso da propriedade, bem como que o ato administrativo deve conformar-se à lei vigente ao tempo em que praticado, o que também elide a asserção de violação à coisa julgada. Frise-se que a incidência da nova lei 1 Artigo 15, da Lei nº /12. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel, desde que: I - o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo; II - a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; e III - o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural - CAR, nos termos desta Lei. Agravo de Instrumento nº

5 para o fim almejado prestigia o princípio da isonomia, por evitar que haja a imposição aos agravados de obrigações distintas daquelas que, atualmente, seriam por força da mesma lei exigidas de outros proprietários e possuidores em situações idênticas. Cuidando a espécie de matéria relativa ao meio ambiente, e considerando o disposto no artigo 225 da Constituição Federal, que assegura a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, de rigor reconhecer que a uniformização dos procedimentos é a melhor forma de se atingir o objetivo maior, qual seja, a preservação e a conservação ambiental, garantindose, ainda, o cumprimento das decisões judiciais. A propósito: AÇÃO AMBIENTAL. Cravinhos. Reserva legal. Recomposição em propriedade rural de cobertura florestal e averbação no Cartório Imobiliário da área de reserva legal. (...) 2. Reserva legal. Recomposição florestal. O art. 16 da LF nº 4.771/65, seguindo legislação mais antiga, reservou 20% das áreas privadas para preservação da cobertura florestal. A obrigação foi mantida na LF nº /12 e decorre da obrigação de todos de preservar e recompor o meio ambiente. 3. Reserva legal. Área de preservação permanente. A área de preservação permanente, se florestada, pode ser incluída no cômputo da reserva legal. Previsão no Código Florestal revogado (art. 16 6º), mantida Agravo de Instrumento nº

6 no novo Código (art. 17). Possibilidade reconhecida, mas sua efetivação e requisitos deverão ser analisados pelo órgão ambiental. (...) 5. Prazo. A recomposição florestal e a averbação da reserva legal obedecerão ao projeto a ser aprovado pelo órgão ambiental, no prazo estabelecido no novo Código Florestal ou outro proposto pelo órgão mediante fundamentação, de acordo com a lei. Procedência. Recurso dos réus parcialmente provido 3. Idem: Agravo de Instrumento - Ação civil pública - Determinação de averbação de reserva legal correspondente a 20% da área da propriedade rural e de reconstituição da vegetação nativa - Execução do julgado - Autorização de aplicação das disposições contidas na Lei nº /12 (novo Código Florestal) Admissibilidade - Hipótese em que deve incidir a lei nova vigente ao tempo da execução - Recurso não provido 4. Não há que se falar em inconstitucionalidade do referido dispositivo, conforme suscitou o Ministério Público, uma vez que permanece a necessidade de instituição e preservação da reserva legal e da área de preservação permanecente. 3 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça (1ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente). Apelação nº Rel. Des. Torres de Carvalho. Julgado em 02 de outubro de SÃO PAULO. Tribunal de Justiça (1ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente). Agravo de Instrumento nº Relª. Desª. Zélia Maria Antunes Alves. Julgado em 02 de outubro de Agravo de Instrumento nº

7 Sobre o tema, esta C. Câmara assim já se pronunciou: (...) não há elementos hábeis a demonstrar que a disposição do artigo 15 de mencionado Diploma Legal, permitindo o cômputo da APP na reserva legal, implique no alegado retrocesso, até porque o prejuízo ecológico não é genérico, deve ser demonstrado caso a caso 5. Ante ao exposto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso. DIMAS RUBENS FONSECA RELATOR DESIGNADO 5 São Paulo. Tribunal de Justiça. 1ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente. Apelação nº Rel. Des. Ruy Alberto Leme Cavalheiro. Julgado em 04/012/2014. Agravo de Instrumento nº