Palavras Chave: escola familia agrícola, agricultura familiar, Semiárido baiano.



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Transcrição:

739 ESCOLAS FAMÍLIA AGRÍCOLA COMO ESTRATÉGIA DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO: OS CASOS DE VALENTE, QUIXABEIRA E MONTE SANTO ¹ Késsia da Santa Cruz Conceição; Silvana Dantas Guimarães²; Pablo Rodrigo Fica Pìras ³ ¹ Bolsista PIBEX/UEFS, Universidade Estadual de Feira de Santana. Graduanda em Ciências Econômicas, e-mail: kessia.scruz@gmail.com ² Bolsista FAPESB/UEFS, Universidade Estadual de Feira de Santana, Graduanda em Ciências Econõmicas, e-mail: siil.guimaraes@gmail.com ³ Orientador, Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de tecnologia, e-mail: pafipi@uefs.br Palavras Chave: escola familia agrícola, agricultura familiar, Semiárido baiano. INTRODUÇÃO Neste trabalho é apresentada a pesquisa realizada sobre o papel das Escolas Família Agrícola (EFAs) em comunidades da região do Semiárido nordestino, no Estado da Bahia, mais especificamente escolas localizadas nos municípios de Valente, Quixabeira e Monte Santo. Além disso, faz uma análise dos modelos de cooperativas voltadas para escolas família agrícola, visando mostrar como a forma de organização socioeducativa contribui para produção economicamente e viável de alimentos de forma sustentável, ao mesmo tempo em que gera renda para as famílias envolvidas na produção. O trabalho analisa ainda a iniciativa de empreendimentos produtivos e agricultura familiar de iniciativa coletiva como alternativas econômicas. Isto se torna mais relevante se temos em conta que, na Bahia, 26,3% da população sobrevive em grupos familiares que recebem somente um salário mínimo ou menos. No Nordeste como um todo, tal situação é um pouco melhor, já no Brasil a população que sobrevive com esse nível tão baixo é menor, não passa de 14,1% (IBGE/PNAD, 2009; apud SEI, 2009). Esse tipo de empreendimentos dialoga melhor com as características do bioma caatinga e busca que atividades social e ambientalmente sustentáveis sejam difundidas na região: melhorar as condições em que a agricultura familiar se desenvolve significa melhorar a qualidade de vida no campo. A experiência da Escola se relaciona também com uma alternativa metodológica em educação, ao ponto que as atividades educacionais com os estudantes interferem também na vida cotidiana das suas famílias, contribuindo para a permanência no campo e à busca melhores condições de vida para todos. METODOLOGIA O trabalho iniciou-se com uma revisão de literatura, procurando esclarecer conceitos e teorias relacionados a associativismo, cooperativismo, educação, agricultura familiar, economia solidária e economia do Semiárido. A realização da pesquisa de campo foi em alguns casos realizada com um grupo que trabalha em tecnologias sociais, de forma que houve convivência com propostas de intervenção feitas com esse foco também. A mesma se consistiu em visitas, entrevistas e coleta de dados primários com associações de agricultores familiares, comunidades beneficiadoras de frutas e com diretores e estudantes das EFAs de Valente, Quixabeira e Monte Santo.

740 Foram aplicados questionários, a fim de verificar, entre outros fatores, a influência da pedagogia da alternância na produção local e da influência das atividades educativas na geração de renda das comunidades, em particular mediante tecnologias sociais aplicadas à produção agrícola na região. RESULTADOS E/OU DISCUSSÃO Os resultados obtidos, a partir das visitas e contatos com os professores e diretores das EFAs bem como com as comunidades de agricultura familiar, permitiram avaliar e confirmar o modelo cooperativo como uma alternativa eficaz para obter uma renda sustentável na região semiárida da Bahia. Tudo isso conferido em paralelo com o efeito dinamizador que os empreendimentos produtivos estimulam nas comunidades. As constatações destas relações foram evidenciadas em diversas formas. No entanto todas as dificuldades e implicações referentes a um melhor resultado é reflexo do não cumprimento das promessas do governo por pelo menos quatro anos. Sendo que à criação de novas escolas está preso nas 26 que existia há apenas quatro anos, se criou uma depois, sem apoio do governo. Apenas 19 deles estão localizados no semi-árido, onde a agricultura familiar mais precisam de investimentos. Uma falha de governo não apoiar a formação de novas escolas acrescenta anos de atraso transferências de recursos prometidos no contrato que veio com a Lei 11.352 de 2008, as iniciativas não cumpridas. 3.1 Modelo cooperativo Constatou-se que, dados os altos e baixos da pluviosidade, as colheitas estão com freqüência vulneráveis, de forma que há que semear em épocas diferentes espécies e variedades diferentes, de forma que alguma dê certo. Isto se reforça nas EFAs, onde a rotação de culturas em particular e a agroecologia em geral são pontos centrais do programa pedagógico. 3.2 EFAs As Escolas Família Agrícola foram criadas em geral com o objetivo principal de inserir os filhos dos associados em um modelo de educação voltado para a permanência no campo. Portanto, salvo algumas exceções, como primeira condição para ser aluno das EFAs, é necessário que a família esteja ligada ao campo. Mas não somente isso: também é preciso ter experiência com algum trabalho em comunidade, como igreja, associação, sindicatos ou grupo de jovens. Os Princípios pedagógicos que norteiam as escolas estão presentes no Plano de Estudos, considerado a bíblia das EFAs. Neles, são constantemente discutidos temas sobre agricultura familiar, família, sustentabilidade, práticas de convivência com o meio ambiente, saúde e tantos outros que estejam presentes no dia a dia dos jovens. Todas as EFAs praticam a Pedagogia da Alternância, método que alterna períodos na escola com períodos no seio da família. Esta vinculação alternada permite que os estudantes desenvolvam o seu processo cognitivo em três tempos: acumulem saberes experienciais no seu meio, alcancem e elaborem saberes teóricos e formais na escola, e voltem ao seu meio para experimentar e aplicar através da conversão dos saberes em ações, etapa que retroalimenta as anteriores. No que diz respeito aos desafios enfrentados pela escola, os diretores salientam a falta de infraestrutura, que impede realizar tudo o que é possível e necessário no processo

741 educatuvo. Salientaram que o principal desafio a ser conquistado é a autossustentabilidade, enfrentado por todas as EFAs pela Bahia, uma vez que o governo não tem cumprido com apoiar tais projetos. 3.2.1 Valente O surgimento da EFA de Valente está diretamente ligado à APAEB (Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira), em 1996. Com seu projeto pedagógico pautado na pedagogia da alternância, atualmente atende a 82 alunos e 76 famílias, matriculados em turmas de 5ª a oitava série. A escola não oferece turmas de ensino médio, embora espontaneamente requeridas pelos membros da comunidade, os próprios egressos principalmente. Pois, a falta de apoio do poder público impossibilita à escola de oferecer um suporte mais completo para os alunos, no sentido de atender as necessidades em sua totalidade. Com referência à contribuição da escola para a geração de renda no campo, embora constatados vários casos, os diretores chamaram atenção para a falta de políticas públicas que conjuntamente com iniciativas como as EFAs estimulem a permanência e a convivência do homem com o campo. 3.2.2 Quixabeira Em visita à EFA de Jaboticaba, no município de Quixabeira, a primeira diferenciação percebida é a oferta de cursos de Ensino Médio, que teve a primeira turma em 2005. A EFA de Jaboticaba, que está há 18 anos em funcionamento, foi originada de uma visita à EFA de Riacho de Santana, a primeira de ensino médio, depois da primeira de Brotas de Macaúbas, a primeira de todas. Atende a 156 alunos, sendo 96 de ensino médio e 70 de ensino fundamental, de 21 municípios. Conta com suporte de seis monitores que residem na escola, todos ligados à Associação dos Pequenos Produtores de Jaboticaba. A única funcionária do estado é a diretora. O poder público municipal tem apoiado muito, inclusive com os professores, 21 no total. Atualmente, jovens dos territórios Piemonte da Diamantina, Piemonte do Paraguçu, Piemonte Norte do Itapicuru, Sisal e bacia do Jacuípe realizam os cursos do Ensino Fundamental e da Educação Profissional Técnica em Agropecuária, além da participação em alguns projetos de extensão na própria escola e no território ao qual pertencem. Os filhos do prefeito do município estudam nesta escola. Apresentam ainda participação em alguns projetos de extensão na própria escola e no território ao qual pertencem, como o Projeto de Apicultura, que já produz cerca de 40 toneladas de mel por ano; Projeto de Caprinocultura, que está em fase de implantação; Projeto Procampo, que garante Formação Continuada para os professores da rede pública que atuam em unidades da zona rural; Projeto Complexo Sócio Ambiental de Capim Grosso (COSA), que produz adubo orgânico com cascas de frutas, restos de alimentos, podas de árvores, coletados no lixo da cidade. Outro fator a ser defendido na escola técnica é a empregabilidade, além dos estudantes manterem projetos de apicultura, avinocultura, capriocultura etc. como renda complementar todos são contratados para exercer atividades ligadas direta ou indiretamente ao meio rural. Referem também aprovação de alunos em universidades públicas estaduais e federais.

742 3.2.3 Monte Santo A criação da Escola Família Agrícola do Sertão, no município de Monte Santo, se deu em 1998. Neste ano, agricultores, associações, sindicato e Igreja Católica iniciaram o processo de discussão e conscientização da importância de uma proposta educativa que respeitasse e valorize as características da realidade que os educandos estão inseridos, preparando-os, também, para enfrentar as dificuldades do homem do sertão. Nos primeiros anos apenas com a oferta do Ensino Fundamental, mas com o crescimento da escola houve a necessidade da incorporação das séries de ensino médio a escola, como uma demanda dos próprios jovens das escolas, que ao terminaram o ensino fundamental viam- se obrigados a dar continuidade numa escola urbana, que fugiam totalmente de todos os princípios até então aprendidos. A partir disso, com a o apoio da EFASE, a escola implantou o curso de Educação Profissional Técnico de Nível Médio em Agropecuária Integrada com o Ensino Médio. Pautada na Pedagogia da alternância, como é de princípio das Escolas Família Agrícola, a escola apresenta um grande instrumento de formação, organização e mobilização da nova geração de agricultores da região. Atualmente, a EFASE trabalha 330 alunos, 22 professores e mais de 80 comunidades em 17 municípios de diferentes territórios. 3.3 Empreendimentos produtivos Na área de influência da EFASE em Monte Santo, existem diversas comunidades produtivas. No município de Cansanção: Lagoa Grande (com estudante da EFA), Capoeiras, Caixão e Capivara. Em Monte Santo: Tapera, Itapicuru, Riacho da Onça, Lagoa do Saco, Lagoa Redonda (com um egresso da EFA), Muquém e Salgado. Tais comunidades realizam o beneficiamento das frutas nativas da região e produzem entre outros produtos, a polpa, que é usada na merenda escolar do município. Em várias dessas comunidades, foi possível conhecer alunos e egressos da EFASE que, juntamente com seus familiares, tem ido desenvolvendo empreendimentos para gerar renda, como forma de sustentar a permanecer no campo. Os estudantes da EFASE no seu terceiro ano do ensino médio passam por uma atividade chamada Fundo Rotativo, na qual recebem uma quantia de dinheiro para com ela investir em algum empreendimento relacionado com as potencialidades do local, devendo devolver o dinheiro ao cabo de um ano, para que um estudante do ano seguinte possa iniciar o ciclo. Ainda, o quarto ano do curso, de estágio, vincula os estudantes com as diferentes comunidades, focalizando-se nas atividades produtivas de locais diferentes do de origem. 4. Considerações finais Como em outros estados e regiões, é verificado na Bahia o abandono da agricultura como um estilo de vida, o que tem profundos efeitos culturais, principalmente pela migração acentuada. Há efeitos sobre a capacidade de reagir a condições meteorológicas adversas e com isso sobre a produção, o que contribui a desestabilizar a estrutura familiar. Na perspectiva proposta pelas Escolas Família Agrícola nos casos analisados, há fortes indícios desta proposta realmente contribuir para alcançar estes objetivos. Em 2008, o governo assinou a Lei 11.352, comprometendo-se a transferências de recursos, necessários ao funcionamento pleno das EFAs. No entanto, não repassou recursos para a criação de novas escolas e atrasou em todos os repasses ao longo destes quatro anos. Como corolário,

743 desestimulador, a criação de novas escolas não tem sido acompanhando a constatação de necessidades, permanecendo apenas as 26 já existentes, 19 delas localizadas no Semiárido, onde a agricultura familiar passa por mais necessidades. À falta do governo em não desatar a formação de novas escolas e não consolidar as já existentes, por exemplo, ampliando em todas ensino fundamental até o fim do segundo grau técnico, soma-se o atraso ao longo de todos os anos desde 2008, nas transferências de fundos prometidos naquele contrato. Porque é evidente que as Escolas Família Agrícola fazem um aporte fundamental à geração de renda nas suas respectivas regiões de influência, que só não é maior porque as promessas do governo não estão sendo cumpridos ao longo destes últimos quatro anos. Constatou-se que os conceitos de associativismo, cooperativismo, educação, agricultura familiar e economia solidária ganham dimensões diferentes no campo, mais profundas e urgentes, pois o confronto com a realidade dura do clima, da estiagem e do solo, torna o abandono governamental mais evidente e significativo e, com isso, mais relevantes os esforços cooperativos. REFERÊNCIAS BACELAR, T. A. A questão regional e a questão nordestina. In Celso Furtado e o Brasil. 1ª ed São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2001. BACELAR, T. A.. Economia do semi árido nordestino: a crise como oportunidade. Coletiva, n. 6, Out/ Nov/ Dez 2011. Disponível no endereço eletrônico http://www.coletiva.org/site/index.php?option=com_k2&view=item&layout=item&i d=68&itemid=76. Acceso en 19 de febrero de 2012. CAVALCANTE, Ludmila O. A Escola Família Agrícola do Sertão: entre os percursos sociais, trajetórias pessoais e implicações ambientais. Dissertação (Doutorado) Universidade Federal da Bahia, 2007. IBGE INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICAS. 2009. Segurança Alimentar 2009, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Disponível no endereço eletrônico http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=ba&tema=pnad_seguranca_alime ntar_200. Acceso en 15 de abril de 2011. NASCIMENTO, C. G. A Educação Camponesa como espaço de resistência e recriação da cultura: um estudo sobre as concepções e práticas educativas da Escola Família Agrícola de Goiás EFAGO. Dissertação de Mestrado (Educação). Campinas: FE/Unicamp, 2005. PLANO Estratégico de Desenvolvimento Sustentável do Semi-Árido-PDSA. Brasília, novembro de 2005. PORTUGAL, A D. 2004. O desafio da agricultura familiar. Disponível no endereço eletrônico <http://www.embrapa.br/imprensa/artigos/2002/artigo.2004-12- 07.2590963189/>. Acceso en 12 de abril de 2011. PUDELL, V; RUPPENTHAL J E. 2005. A agricultura familiar, como propulsora do desenvolvimento nos pequenos municípios brasileiros. XII SIMPEP Bauru, SP, Brasil. SANTOS, Iracema Lima. TERRITÓRIO DE SABERES: Uma Leitura do Projeto APPJ-EFA- CONVIVER. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da Bahia, 2011. SEAGRI SECRETARIA DE AGRICULTURA, IRRIGAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA. s/d. Estimativa da população 2006 e IDH dos municípios por território de identidade. Disponível em www.seagri.ba.gov.br/populacao_idh_territorios.pdf. Accesado em 13 de abril de 2011.

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