Project Finance João Tiago Silveira I Curso Pós-Graduado em Corporate Finance Centro de Investigação de Direito Privado 26 de maio 2015
Sumário 1. Noção de Project Finance 2. Contratos associados ao Project Finance 3. Distinção de Parceria Público-Privada (PPP) 4. Tipos de Project Finance 5. Porquê Project Finance? 6. A experiência portuguesa 7. Contratos de Direito Público no Project Finance
1. Noção de Project Finance Método de financiamento de projetos infraestruturais de longo prazo com base em cash-flows/capacidade de projeto gerar receitas. Sucesso do projeto é fator crítico para financiamento. Financiamento privado de projetos públicos não é novidade. Ex: Renovação dos caminhos de ferro ingleses nos séculos XVIII e XIX. Mecanismo do Project Finance não é novo. Utilizado nos anos 30 para recursos naturais (extração de minério, oleodutos, gasodutos, etc). Desenvolvimento nos anos 70, na sequência da crise petrolífera e do crescimento de défices/dificuldade em realizar despesa. Anos 90: obras públicas e infraestruturas públicas (Eurotunnel; sistemas de satélites Iridium; aeroporto Berlim/Bradenburg).
1. Noção de Project Finance Forma de financiamento de projetos que envolve conjunto de contratos de natureza variada e muitos instrumentos. Elementos essenciais: Envolve a criação de um veículo: SPV Special Purpose Vehicle, cujo único objeto é o projeto. Utilizado para um novo projeto e não para um projeto já em curso. Elevada percentagem de financiamento externo do projeto (debt) face à percentagem suportada pelos acionistas (equity): 70% a 90% para 30% a 10%, respetivamente.
1. Noção de Project Finance Elementos essenciais: Não existem garantias para financiamento (non recourse finance) ou existem apenas garantias limitadas (limited rcourse finance): em regra são os cash-flows/fluxos de caixa que garantem o financiamento. Quanto mais garantias, mais o Project Finance se assemelha a uma Parceria Público-Privada com recurso ao crédito tradicional. Financiadores dependem da análise dos cash-flows previsíveis do projeto/na capacidade de o projeto gerar recursos. Não dependem do património do SPV, da análise do seu historial ou de outro tipo de análise de crédito.
1. Noção de Project Finance Elementos essenciais: Projeto tem um determinado lapso temporal de duração. Financiamentos externos devem estar integralmente pagos no final. Principal segurança para os investidores são os contratos e licenças subjacentes ao projeto. Normalmente são contratos públicos que conferem/atribuem a uma entidade o direito de realizar o projeto.
2. Contratos associados ao Project Finance Tipos de contratos habitualmente associados ao Project Finance. Duas nota prévias: O Project Agreement Contrato habilitante do projeto: Oferece ao SPV a possibilidade de construir e explorar o projeto a entidade públicas ou privadas. É habitualmente um contrato de Direito Público. Pode não ser um contrato, mas antes uma licença ou outro ato permissivo. Pode não ser um contrato celebrado com uma pessoa coletiva pública: Posição contratual em contrato com partes privadas que garanta a venda de um produto gerado pelo projecto a um preço fixado a longo prazo.
2. Contratos associados ao Project Finance Tipos de contratos habitualmente associados ao Project Finance. Contrato de construção Pode ser de tipo chave na mão para ter um preço fixo e estar pronto numa data precisa (Engineering, Procurement and Construction Contratct). Contrato de Fornecimento (Input Supply Contract): Fornecimento permanente de combustível ou outro produto necessário ao desenvolvimento do projeto no longo prazo. Contrato de Gestão (Operating and Maintenance Contract).
2. Contratos associados ao Project Finance Tipos de contratos habitualmente associados ao Project Finance. Contrato de Apoio Público ou Contratos de Atribuição (Government Support Agreement). Prevê apoios, garantias e benefícios fiscais. Contrato de Financiamento com financiadores/sindicato bancário
2. Contratos associados ao Project Finance Tipos de contratos habitualmente associados ao Project Finance. Exemplos: Construção de autoestrada, com base em Contrato Público de Concessão de Obras Públicas e posterior exploração, com pagamento por privados. Montagem e exploração de hospital, com base em Contrato Público de Concessão de Serviço Público, com pagamento do serviço pelo Estado. Construção de central elétrica, com base em Contrato Público de Compra e Venda.
3. Distinção de Parceria Público-Privada Definição de PPP (DL 111/2012, de 23/5): o contrato ou a união de contratos por via dos quais entidades privadas se obrigam, de forma duradoura, perante um parceiro público, a assegurar, mediante contrapartida, o desenvolvimento de uma atividade tendente à satisfação de uma necessidade coletiva, em que a responsabilidade pelo investimento, financiamento, exploração, e riscos associados, incumbem, no todo ou em parte, ao parceiro privado.
3. Distinção de Parceria Público-Privada PPP pode envolver, ou não, Project Finance É mais ampla: abrange outras formas de financiamento que não passem apenas pela utilização de cash-flows. Não são Project Finance: Concessão da gestão de um hospital a um privado, pagando um montante acordado. Concessão de um serviço público de fornecimento de eletricidade a um privado quanto a uma infraestrutura já existente ou que não careça de financiamento estrutural.
4. Tipos de Project Finance BOOT (Build-Own-Operate-Transfer) SPV elabora o projeto. SPV é proprietária e operadora por período de tempo. No final, transfere a propriedade. Em Portugal, sistema não é possível quanto a bens do domínio público. BOT (Build-Operate-Transfer) SPV elabora o projeto e opera durante período de tempo. Não é proprietária, mas pode ter arrendamernto ou leasing dos equipamentos. Não há transferência da propriedade no final do projeto. Também conhecido por DBFO (Design-Build-Finance-Operate). É uma solução habitual nos casos portugueses de concessão de obras públicas em Project Finance.
4. Tipos de Project Finance BTO (Build-Transfer-Operate) SPV elabora o projeto. Após a construção, transfere a propriedade para o setor público. Depois, é operadora durante um período de tempo. Não é proprietária depois da construção. No final do projeto, não transfere a propriedade. BOO (Build-Own-Operate) Propriedade mantém-se sempre na SPV. É uma solução habitual em projetos com o setor privado ou o setor público, quando seja sustentado por um contrato que garanta um preço ou fórmula para um preço num período longo.
5. Porquê Project Finance? Realização de projetos de interesse público de forma imediata, num quadro de escassez de financiamento. Rapidez ou mais tempo para a concretização do projeto? Custos mais reduzidos ou custos superiores? Estrutura complexa e onerosa, que exige tempo para a concretização. Credores acompanham de forma mais próxima (ausência de garantias) Melhor avaliação de riscos.
5. Porquê Project Finance? Tendência para preço final ser mais baixo? Num Project Finance com elevada percentagem de investimento externo, o nível de receita para obter um determinado lucro é menor que num projeto com escassa percentagem de investimento externo. Normalmente não é assim. Em regra, acionista esperaria lucro maior em projeto com elevada percentagem de investimento externo, pois implica maior risco. Mas no Project Finance a elevada percentagem de investimento externo não significa maior risco. Não é necessária uma elevada e rápida remuneração. Financiadores do Project Finance estão mais dispostos a aceitar remuneração menor que os acionsitas pelas suas entradas. Facto de percentagem do capital financiado por terceiros ser maior (70% a 90%) torna-o especialmente adequado para grandes projetos.
6. A experiência portuguesa Ponte Vasco da Gama Lusoponte (DL 168/94, de 15/6 e RCM 121-A/94, de 15/12) Concessão de obra pública para Ponte Vasco da Gama e de Concessão de Exploração de Bem do Domínio Público para Ponte 25 de Abril. Depende de condições quanto ao volume de tráfego. Limited Recourse Project Finance: Financiamento através de cash-flows previsíveis; dívida obrigacionista, garantida pelo Estado; fundos comunitários. BOT (Build-Operate-Transfer)/DBFO. Existência de caso-base. Ocorrência de várias modificações unilaterais, que levou à celebração de vários acordos de reequilíbrio financeiros: congelamento de preços de portagens; via de utilizador frequente; isenção do mês de agosto).
6. A experiência portuguesa SCUTS (DL 267/97, de 2/10) No início: concessão de obras públicas com portagem virtual, paga pelo Estado e não pelos utilizadores. Depois: concessão de obras públicas com portagem eletrónica, paga pelos utilizadores. BOT (Build-Operate-Transfer)/DBFO. Existência de caso-base.
6. A experiência portuguesa PPP em hospitais (DL 185/2002, de 20/8, subsequentemente alterado) Regime prevê a concessão a privados de uma, ou várias, das seguintes tarefas: conceção, construção, financiamento, conservação e exploração dos estabelecimentos Denomina-se contrato de gestão, mas é um tipo de concessão de serviço público, se envolver a montagem do serviço. Aceita Project Finance, mas não o implica necessariamente. BOT (Build-Operate-Transfer)/DBFO. Remuneração pelo Estado, pelos utentes ou por serviços a terceiros. Permite Caso-Base.
7. Contratos de Direito Público no Project Finance Os tipos de contrato público mais aptos para Project Finance: Concessão de obras públicas Contrato público através do qual alguém se obriga a executar/conceber obra pública, explorando-a durante período de tempo. Concessão de serviços públicos Contrato público através do qual alguém se obriga a gerir um serviço público durante um período, sendo remunerado pelos resultados da gestão ou pelo concedente.
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