RECURSOS FISIOTERAPÊUTICOS PARA O TRATAMENTO DA ESCOLIOSE

Documentos relacionados
ALTERAÇÕES DAS CURVAS DA COLUNA VERTEBRAL

A importância do método RPG em adolescentes com escoliose.

A EFICÁCIA DO MÉTODO PILATES NO TRATAMENTO DA LOMBALGIA

FISIOTERAPIA NA ESCOLA: ALTERAÇÃO POSTURAL DA COLUNA VERTEBRAL EM ESCOLARES

A Triagem Escolar: um instrumento de detecção precoce das alterações posturais

Os benefícios do método Pilates em indivíduos saudáveis: uma revisão de literatura.

~ 5 ~ A EFETIVIDADE DAS TÉCNICAS DE ISOSTRETCHING E ALOGAMENTO ESTÁTICO NA LOMBALGIA

Deformidades Angulares dos Membros Inferiores I - Joelhos - Prof André Montillo

A reeducação postural global no tratamento da escoliose

ANÁLISE FUNCIONAL DO PILATES. Turma 13 Módulo III 17/06/2016

PILATES NO TRATAMENTO DE COLUNA: SAIBA COMO AJUDAR UM ALUNO

ÓRTESES PARA TRONCO E PESCOÇO

CADEIAS MUSCULARES E AVALIAÇÃO POSTURAL

Programa Ciclo III Biomecânica Postura e Movimento

AVALIAÇÃO FÍSICA DA CRIANÇA E ADOLESCENTE Aulas 12 e 13 AVALIAÇÃO POSTURAL. Prof.ª Ma. Ana Beatriz M. de C. Monteiro

FACULDADE FASERRA. Pós-graduação em REABILITAÇÃO EM ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA COM ÊNFASE EM TERAPIA MANUAL. Kliciane de Almeida Rêgo

Dicas de prevenção para Hérnia de Disco

Bem estar e produtividade no trabalho

Universidade Estadual do Centro-Oeste Reconhecida pelo Decreto Estadual nº 3.444, de 8 de agosto de 1997

ANÁLISE DOS MOVIMENTOS DO MÉTODO PILATES LUCIANA DAVID PASSOS

RPG. Reeducação Postural Global

Fisioterapeuta Priscila Souza

Deformidades no crescimento

Médico Cirurgia de Coluna

MOBILIZAÇÃO ARTICULAR PELO MÉTODO MAITLAND E ISOSTRETCHING PARA TRATAMENTO DE HIPERCIFOSE EM ESCOLARES

Cuidar da postura é essencial para saúde e para evitar lesões e dores pelo corpo

ÓRTESES PARA A COLUNA VERTEBRAL APOSTILA 05

DESVIOS POSTURAIS. 1. LORDOSE CERVICAL = Acentuação da concavidade da coluna cervical. - Hipertrofia da musculatura posterior do pescoço

9 Seminário de Extensão AVALIAÇÃO E PREVENÇÃO DE ALTERAÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL: UM PROGRAMA EM ESCOLARES

Dor Lombar. Controle Motor Coluna Lombar. O que é estabilidade segmentar? Sistema Global: Sistema Local:

ERROS. + comuns. durante a execução de exercícios de Pilates

Coluna Vertebral. Coluna Vertebral Cinesiologia. Renato Almeida

DESVIOS POSTURAIS. Núcleo de Atividade Física Adaptada e Saúde-NAFAS Escola de Postura - CEPEUSP Luzimar Teixeira e Milena Dutra DESVIOS POSTURAIS

Termo ergonomia. Ergonomia 25/04/2012. Palavra de origem grega. Ergo Trabalho. Nomos - Regra INTERFACE HOMEM AMBIENTE ERGONOMIA

ALTERAÇÕES DO SISTEMA MÚSCULO- ESQUELÉTICO E SUAS IMPLICAÇÕES APOSTILA 04


Reeducação Postural Global - RPG

ESCOLIOSE. Prof. Ms. Marcelo Lima

Dores na coluna Lombalgia

CLEBER ANTONIO GARCIA PAULO RODRIGO ROCHA LEITE

Lombalgia Posição do problema Fernando Gonçalves Amaral

VERTEBRAL (OUT 2016) - PORTO

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. PROGRAMA DE DISCIPLINA/ ESTÁGIO Ano: 2008 IDENTIFICAÇÃO CÓDIGO DISCIPLINA OU ESTÁGIO SERIAÇÃO IDEAL

Distúrbios da postura e da marcha no idoso

Avaliação Fisioterapêutica do Ombro

MÉTODOS EM AVALIAÇÃO POSTURAL

TERMO ADITIVO DO NÚMERO DE VAGAS REFERENTE AO EDITAL

REABILITAÇÃO ESPORTIVA APLICADA AO MÉTODO PILATES

CADEIAS LESIONAIS (JUN 2017) - LISBOA

Anatomia, cinesiologia e biomecânica

AVALIAÇÃO POSTURAL O QUE É UMA AVALIAÇÃO POSTURAL? 16/09/2014

SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ Espondilite anquilosante: revisão da literatura

Cinesioterapia II. Cinesioterapia II. Cinesioterapia II. Cinesioterapia II. Referências Bibliográficas. Cinesioterapia II. Horários Quinta-Feira 2 h/a

FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA COM ÊNFASE EM TERAPIA MANUAL

COLUNA LOMBAR 24/03/15 ANATOMIA VERTEBRAL

AVALIAÇÃO POSTURAL E FUNCIONAL NO PILATES. Denise Moura


Educação para a Saúde

OS EFEITOS DA HIDROTERAPIA E DA CINESIOTERAPIA NA HIPERCIFOSE TORÁCICA EM ADOLESCENTES 1

Ergonomia. Prof. Izonel Fajardo

Pilates Funcional. Thiago Rizaffi

Pilates e Treinamento Funcional no Tratamento da Cervicalgia

AVALIAÇÃO POSTURAL E FUNCIONAL NO PILATES. Denise Moura

NOÇÕES DO SISTEMA ESQUELÉTICO OU

Exame Físico Ortopédico

FACULDADE SÃO JOSÉ Curso de Fisioterapia CINESIOTERAPIA PROF. Vinicius Coca Exercicios de CODMAN, ROCKWOOD, WILLIANS, McKENZIE e KLAPP

Coluna lombar. Características gerais: 5 vértebras 1 curvatura lordose fisiológica

Formação treinadores AFA

Clínica Dr. Alfredo Toledo e Souza. Avenida Condessa de Vimieiros, 395 Centro, Itanhaém, SP. Fone (13) e (13)

DOENÇA ARTICULAR DEGENERATIVA ARTROSE Diagnóstico- Prevenção - Tratamento

Parecer n. 05-3/2015. Processo de consulta: Ofício nº 60/2015/GAPRE COFFITO Assunto: Reeducação Postural Global - RPG

ALTERAÇÕES POSTURAIS EM ESTUDANTES DE FISIOTERAPIA

A importância da postura

MODELO FORMATIVO. DATA DE INíCIO / FIM / HORARIO Manhã - 9:00 às 13:00 Tarde - 14:00 às 18:00

COMO CHEGAR De metro: estação Saldanha (linha amarela ou vermelha), ou estação S. Sebastião (linha Azul ou vermelha)

FACULDADE SANTA TEREZINHA - CEST COORDENAÇÃO DO CURSO DE FISIOTERAPIA PLANO DE ENSINO

CONSTRUÇÃO DE AULAS EM ESTÚDIO

Programa Ciclo IV Estratégias de Tratamento

FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA

UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA FCS/ESS LICENCIATURA EM FISIOTERAPIA

Artroplastia de Ombro TRATAMENTO POR ARTROPLASTIA NAS FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL INDICAÇÃO. partes? rachadura da

INVOLUÇÃO X CONCLUSÃO

Ortótese de Boston Ortótese de Milwaukee Corrector Postural

Prevalência de problemas posturais em adolescentes em fase escolar

Verificação do Índice de Escoliose nos Acadêmicos do Curso de Fisioterapia da UNEC Campus Nanuque/MG

Escrito por Vipgospel Sex, 06 de Dezembro de :00 - Última atualização Sex, 06 de Dezembro de :05

Utilização de órteses na reabilitação de pacientes portadores de osteoporose vertebral

CIOS REALMENTE MODIFICAM A POSTURA? OS EXERCÍCIOS POSTURA? Alterações da Estrutura Corporal. Os Exercícios Realmente Mudam a Postura?

BE066 Fisiologia do Exercício. Prof. Sergio Gregorio da Silva. É a habilidade de uma articulação se mover através de sua amplitude articular

QUE PODEM MELHORAR A DOR NA COLUNA LOMBAR COM ÉRIKA BATISTA

Brazilian Journal of health Review

Faculdade da Alta Paulista

QUALIDADES FÍSICAS RELACIONADAS A APTIDÃO FÍSICA. BASES DO TREINAMENTO CORPORAL I

TORNE-SE UM PARCEIRO LICENCIADO DO INSTITUTO RV

#Fisioterapeuta, #Osteopata com Cedula, #Estudante Finalista. Inscrição Antecipada ( ) Inscrição Normal ( ) 439.

PODOPOSTUROLOGIA (NOV 2014) - PORTO

Sistema muscular Resistência Muscular Localizada Flexibilidade Osteoporose Esteróides Anabolizantes

Avaliar a postura dos alunos do ensino médio, identificar e descrever as principais alterações no alinhamento da coluna vertebral.

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE VITAL (CV) EM PACIENTES PORTADORES DE ESCOLIOSE TORÁCICA.

Transcrição:

RECURSOS FISIOTERAPÊUTICOS PARA O TRATAMENTO DA ESCOLIOSE Jader Iury de Souza Mercante Fisioterapeuta FITL/AEMS Fabio dos Santos Soler Fisioterapeuta FAI; Esp. em Terapia Manual e Técnicas Osteopáticas FAEFIJA Catarina Akiko Miyamoto Doutora em Ciências Biológicas (Bioquímica) USP; Pós-doutorado Weill Medical College of Cornell University; Docente das Faculdades Integradas de Três Lagoas FITL/AEMS RESUMO A escoliose corresponde a uma curvatura lateral da coluna vertebral em plano coronal. Normalmente, se apresenta em forma de S ou C, principalmente nas regiões torácicas e lombar, e pode ser estrutural e não estrutural. A primeira se apresenta devido a estrutura anatômica do indivíduo enquanto a não estrutural, não envolve alterações estruturais das vértebras. O diagnóstico clínico da escoliose é confirmado por meio da radiografia da coluna vertebral anteroposterior e teste de Adams. Utiliza-se a radiografia para mensuração do ângulo da curva escoliótica (ângulo de Cobb - AC) para averiguação do grau da disfunção. Classifica-se a escoliose em grau leve (AC 20 ), moderado (AC 20-40 ) e grave ( 40 ). O teste de Adams consiste na mensuração da altura da gibosidade em flexão anterior do tronco. Existem dois tipos de tratamentos, o fisioterapêutico (conservador) e o cirúrgico. O primeiro envolve diversos métodos (isostretching, osteopatia, método Klapp, pilates, reeducação postural global (RPG), método Bricot de posturologia e órteses) que tem como objetivo a correção postural e/ou alivio da dor. O tratamento cirúrgico objetiva corrigir a curvatura e evitar a progressão da mesma por meio de implantes na coluna vertebral. É indicado para AC maiores do que 40, escolioses não controladas por coletes, dores intratáveis pelo tratamento fisioterapêutico e escolioses neuromusculares. PALAVRAS-CHAVE: coluna vertebral; curvatura lateral coluna vertebral; tratamento fisioterapêutico escoliose 1 INTRODUÇÃO A coluna vertebral do ser humano envolve e protege a medula espinal, sustenta o crânio, apresenta articulações com a caixa torácica e fixa os músculos do tronco e vísceras. A mesma apresenta quatro curvaturas fisiológicas (lordose nas regiões cervical e lombar, e cifose nas regiões torácica e sacral) que proporcionam o bipedalismo, sustentação, equilíbrio e absorção do impacto (GRAAFF, 2003). A função de sustentação faz com que a coluna vertebral sofra sobrecargas que levam ao aumento significativo de alterações posturais (JUNIOR; AZATO, 2003). Estas ocorrem devido a várias causas, como má postura (pessoal e Ciências Biológicas e Ciências da Saúde 460

mobiliária), obesidade, sedentarismo, tensões musculares, condução inadequada de objetos, etc. (REGO; SCARTONI, 2008). Problemas posturais também se originam de alterações morfológicas na coluna vertebral (hemivértebras, fraturas, etc.), distúrbios neuromusculares (doenças neurológicas e/ou musculares progressivas), fatores hormonais, genéticos, crescimento assimétrico dos membros e tronco. Com isso, podem-se desenvolver desvios anormais na coluna vertebral, a hiperlordose (aumento da curvatura lombar ou cervical), hipercifose (aumento da curvatura torácica) e a escoliose (curvatura lateral da coluna em plano coronal) (SOUZA et al., 2013; REGO; SCARTONI, 2008). 2 OBJETIVOS O objetivo deste trabalho é descrever a fisiopatologia da escoliose e os recursos fisioterapêuticos disponíveis para o tratamento da mesma. 3 MATERIAL E MÉTODOS A metodologia empregada neste trabalho baseou-se em livros e artigos científicos específicos do tema, indexados em plataformas de divulgação científica como Scielo, PubMed, Lilacs. As palavras chaves utilizadas foram coluna vertebral, escoliose, fisioterapia tratamento escoliose, tratamento conservador escoliose e tratamento cirúrgico escoliose. Priorizaram-se dados recentes, embora não se excluíram publicações antigas contendo material relevante. 4 ESCOLIOSE Define-se escoliose como uma curvatura lateral da coluna vertebral em plano coronal (MARIEB, 2014). É uma das principais queixas ortopédicas entre crianças e adolescentes, com prevalência mundial de aproximadamente 3% (SHARMA, et al., 2011; PENHA et al., 2005; TAVARES et al., 2001). Normalmente, a escoliose se apresenta em forma de S ou C, principalmente nas regiões torácica e lombar. Existem dois tipos, a estrutural e a não estrutural. A primeira se apresenta devido à estrutura anatômica do indivíduo enquanto a não estrutural, não envolve alterações estruturais das vértebras, razão pela qual também é denominada funcional ou postural (KISNER; COLBY, 2016). Ciências Biológicas e Ciências da Saúde 461

4.1 Escoliose Estrutural A escoliose estrutural se caracteriza por alterações estruturais das vértebras que levam uma curvatura lateral com rotação das mesmas, portanto irreversível. A curvatura não se corrige com a variação de postura do paciente; com a flexão do tronco ocasiona a proeminência das costelas (giba) na região posterior, no lado da convexidade da curvatura (teste de Adams, descrito abaixo) (FERRIANI et al., 2000). Dentre as causas desta patologia incluem-se doenças ou distúrbios neuromusculares (paralisia cerebral, lesão medular, doenças neurológicas ou musculares progressivas), distúrbios ósseos (hemivértebra, osteomalácia, raquitismo, fratura) e distúrbios idiopáticos de causa desconhecida (KISNER; COLBY, 2016). 4.2 Escoliose Não Estrutural A escoliose não estrutural (funcional ou postural) e não está ligado a alterações estruturais, portanto é reversível. A mesma não apresenta rotação das vértebras e gibosidade acentuada; a curva desaparece com a inclinação anterior ou lateral do tronco, principalmente na inexistência um fator antálgico ou assimetria morfológica (FERRIANI et al., 2000). Dentre as causas desta disfunção postural incluem-se diferença no comprimento dos membros inferiores (estrutural ou funcional), espasmo decorrente de estímulos dolorosos na coluna vertebral e má posturas habituais ou assimétricas (KISNER; COLBY, 2016). 5 DIAGNÓSTICO CLÍNICO-LABORATORIAL O diagnóstico clínico da escoliose é confirmado por meio da radiografia da coluna vertebral anteroposterior e teste de Adams (FERREIRA et al. 2013; SOUZA et al., 2013; FERREIRA et al., 2009). O diagnóstico precoce é mais efetivo uma vez que na infância ou na adolescência exercícios físicos e o uso de órteses podem interromper a progressão da curva escoliótica, e evitar a cirurgia. O diagnóstico tardio pode resultar em deformidades severas e afetar a aparência física, a função cardiopulmonar e o bemestar psicológico do indivíduo (FERREIRA et al., 2009). Ciências Biológicas e Ciências da Saúde 462

5.1 Radiografia A radiografia da coluna vertebral permite a mensuração da amplitude da curva escoliótica (método de Cobb). O cálculo da amplitude do ângulo é realizado utilizando-se como referência a borda superior da vértebra cranial e a borda inferior da vértebra caudal da curva (ângulo de Cobb). Conforme este ângulo, a escoliose é classificada em leve ( 20 ), moderada (20-40 ) e grave ( 40 ). Este método é utilizado para acompanhamento, observação do quadro e avaliação da progressão da deformidade (COBB, 1948 apud GODINHO et al., 2011). 5.2 Teste de Adams Utiliza-se o teste de Adams para mensuração da gibosidade e confirmação da escoliose. Consiste na flexão anterior do tronco, e consequente protuberação da giba devido à rotação vertebral, posteriorização das costelas e/ou protusão da musculatura tóracolombar. A altura da giba é mensurada por meio de um instrumento de madeira adaptado com régua e níveis d agua (PELAI, 2014; FERREIRA et al. 2010; FERREIRA et al., 2009). 6 TRATAMENTOS O objetivo do tratamento é para aliviar os sintomas álgicos, corrigir alterações posturais e estéticas, interromper a progressão e diminuir a curvatura escóliotica. Há dois tipos de tratamento, o fisioterapêutico (conservador) e o cirúrgico. O primeiro apresenta maior eficácia em pacientes com curvaturas até 40. Recomendam-se vários métodos fisioterapêuticos (descritos abaixo) para curvaturas menores que 35 e uso de órteses entre 35-40. Entretanto, recomenda-se tratamento cirúrgico em casos de escolioses com ângulos superiores a 40 (MATTEDI et al., 2012; BORGUI, ANTONINI, FACCI, 2008; OLIVEIRAS; SOUZA, 2004). 6.1 Tratamento Conservador O tratamento conservador envolve fisioterapia, que conta com diversos métodos, como isostretching, osteopatia, método Klapp, pilates, reeducação postural global (RPG), método Bricot de posturologia e órteses (coletes). (TOLEDO et al., 2011). Ciências Biológicas e Ciências da Saúde 463

6.1.1 Isostretching Este método baseia-se nos conceitos das cadeias musculares, é uma técnica de ginástica postural que oferece contrações e tensões musculares para evitar os movimentos compensatórios, concomitante ao fortalecimento e alongamento muscular. Melhora-se a mobilidade articular, tonifica a musculatura, estimula consciência postural, aumenta a flexibilidade e expansibilidade torácica. Resulta-se no aumento da capacidade respiratória, e principalmente, na redução da angulação da escoliose, desse modo, atingindo um equilíbrio corpóreo (BORGUI; ANTONINI; FACCI, 2008; OLIVEIRAS; SOUZA, 2004). 6.1.2 Osteopatia A osteopatia baseia-se, principalmente, na busca da auto-cura; objetiva-se buscar a saúde do organismo e não somente a disfunção. Usa-se como referência para o tratamento da escoliose, a vértebra considerada starter (vértebra mais dolorosa à palpação, localizada no ápice da curva, e com maior rotação vertebral). A vértebra starter desencadeia adaptação das demais vértebras abaixo da mesma. Realizam-se manipulações articulares (vértebra starter e articulação sacroilíaca) e stretching (estiramento gradual e lento de ligamento, fáscias, músculos e tendões) de músculos da coluna vertebral (PELAI, 2014; RUIZ, 2005). 6.1.3 Método Klapp Rudolph Klapp (1940) desenvolveu o método por e observações em animais quadrupedes. Consiste em fortalecimento e alongamento da musculatura do tronco por meio de variações de posições em quatro apoios (posição em gatas), pela semelhança com os quadrúpedes. Estes animais não apresentam escoliose; em comparação com os humanos, que desenvolvem tal disfunção pela ação da gravidade na posição bípede. Utilizam-se posturas assimétricas de alongamento em posição de quatro apoios (engatinhar perto do chão, deslizamento horizontal e lateral, engatinhar lateral, arco grande, virar o braço e grande curva) que permite trabalhar também o fortalecimento dessa musculatura (IUNES et al., 2010). 6.1.4 Método Pilates O método Pilates consiste em exercícios físicos, que utilizam a gravidade e recursos mecanoterapêuticos (molas, elásticos, esteira elétrica, elíptico, ladder- Ciências Biológicas e Ciências da Saúde 464

barrel, reformer, step-chair, cadillac) que geram resistência e auxilia o próprio movimento. Caracteriza-se por movimentos planejados para que os pacientes executem de forma que a coluna vertebral mantenha posição neutra. Deste modo, há minimização do recrutamento muscular desnecessário e prevenção da fadiga precoce e instabilidade corporal. Envolve contrações concêntricas e excêntricas, principalmente, nos músculos (abdominais, glúteos e paravertebrais lombares) que compõem a power house (centro/casa da força). A função desta é estabilizar o corpo de forma estática e dinâmica. É eficaz na diminuição da dor e das curvaturas presentes na escoliose (ARAÚJO et al., 2010). 6.1.5 Reeducação Postural Global (RPG) A RPG promove o alongamento global das cadeias musculares por meio de posturas especificas. Segue o princípio que um musculo encurtado cria compensações em músculos próximos e/ou distantes. Melhora as alterações biomecânicas, atuando não só no sistema musculoesquelético, mas também no sistema nervoso, assim, modificando a consciência corporal. As evoluções das posturas são de acordo com o controle da respiração, a capacidade de manter o alinhamento e correções necessárias, depende-se das condições apresentadas pelo paciente. Algumas posturas como rã no chão e rã no ar, fazem simultaneamente, o trabalho isométrico dos músculos estáticos, alongamento muscular ativo e contrações excêntricas dos músculos encurtados e o fisioterapeuta atua com comandos verbais e com pompagem articular na coluna cervical e lombossacra. Com isso, conclui-se sua eficácia na melhora do quadro de escoliose (TOLEDO et al., 2011). 6.1.6 Método Bricot A reprogramação postural ou posturologia de Bricot consiste em estimular o sistema tônico postural por meio de três captores ou receptores posturais, os pés (captor podal), os olhos (captor ocular) e o aparelho manducatório (captor dentooclusal). A principal ferramenta do tratamento são as palmilhas proprioceptivas, com objetivo de estimular os receptores do captor podal, conforme os tipos de pés (causativo, adaptativo, misto e pé com duplo componente), os outros captores são estimulados por meio de exercícios específicos direcionados a cada indivíduo (BRICOT, 2010) Ciências Biológicas e Ciências da Saúde 465

6.1.7 Órteses As órteses utilizadas no tratamento conservador da escoliose são coletes, que são indicados para pacientes com potencial de progressão da curvatura escoliótica e durante o crescimento. Vários tipos de coletes podem ser usados no tratamento; colete de Milwaukee (órtese cervicotoracolombossacra), utilizado em escolioses torácicas altas e hipercifose torácica; colete de Boston (órtese toracolombossacra), utilizadas em curvaturas torácicas e lombares; e colete de Charleston, de uso exclusivo noturno, enquanto as demais são de uso mais contínuo possível. O tratamento ortótico depende da colaboração do paciente préadolescência ou adolescência, nesta idade o indivíduo encontra-se em fase de formação da personalidade, preocupa-se com a estética e teme ser excluído (HAJE, et al., 2008; COSTA, 2002). 6.2 Tratamento Cirúrgico É utilizado como último recurso e indicado para curvaturas maiores que 40º, escolioses que não foram controladas pelo colete, dor intratável apesar do tratamento conservador, escolioses neuromusculares (para melhora da função respiratória e evitar perda progressiva da independência), e raramente pela estética. O tratamento cirúrgico tem como principal objetivo a correção da curvatura e evitar a progressão da mesma por meio de implantes na coluna vertebral (ALEIXO; NEVES, 2013; AVANZI et al., 2009; COSTA; SOUSA; OLIVEIRA, 2002). 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A coluna vertebral do ser humano sofre vários problemas posturais devido a sobrecargas ascendentes e descentes, além de problemas anatômicos e ambientais. Devido a esses fatores, a coluna vertebral pode desenvolver curvaturas não fisiológicas como hipercifose, hiperlordose e escoliose. Para o tratamento da escoliose existem vários recursos fisioterapêuticos além do cirúrgico. Os tratamentos fisioterapêuticos são eficientes para os casos em que o AC seja menor do que 40. REFERÊNCIAS ALEIXO, C.; NEVES, N. Escoliose degenerativa. Revista Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia, v. 21, n. 3, p: 271-284, 2013. Ciências Biológicas e Ciências da Saúde 466

ARAÚJO, M. E. A. et al. Redução da dor crônica associada à escoliose não estrutural, em universitárias submetidas ao método Pilates. Motriz, Rio Claro, v. 16, n. 4, p. 958-966, out/dez. 2010. AVANZI, O. et al. Avaliação radiográfica da descompensação do tronco após artrodese seletia torácia em portadores de escoliose idiopática do adolescente King II (Lenke B e C). Coluna/ Columna, v. 8, n. 4, p. 376-380. 2009. BORGUI, A. S; ANTONINI, G. M; FACCI, L. M. Isostretching no tratamento da escoliose: série de casos. Revista Saúde e Pesquisa, v.1, n. 2, p. 167-171, maio/ago. 2008. COSTA, A.; SOUSA, S. G.; OLIVEIRA, A. A escoliose e pediatria. Saúde infantil, v. 24, n. 1, p. 39-45, 2002. FERREIRA, D. M. A. et al. Rastreamento escolar da escoliose: medida para o diagnóstico precoce. Rev. Bras. Crescimento Desenvolvimento Hum. v. 19, n. 3, p. 357-368. 2009. FERREIRA, D. M. A. et al. Avaliação da coluna vertebral: relação entre gibosidade e curvas sagitais por método não-invasivo. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. v. 12, n. 4, p. 282-289. 2010. FERREIRA, D. M. A.; BARELA, A. M. F.; BARELA, J. A. Influência de calços na orientação postural de indivíduos com escoliose idiopática. Fisioter Mov. v. 26, n. 2, p. 337-348. 2013 FERRIANI, M. G. C. et al. Levantamento epidemiológico dos escolares portadores de escoliose da rede pública de ensino de 1º grau no município de Ribeirão Preto. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 2, n. 1. 2000. GODINHO, R. R. S. et al. Mensuração da curva escoliótica pela técnica de Cobb intraobservadores e interobservadores e sua importância clínica. Coluna/Columna; v.10 n. 3, p. 216-20. 2011. GRAAFF, K. M. V. D. Anatomia humana. 6 ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2003. HAJE, S. A. et al. Órtese inclinada de uso continuo e exercício para tratamento da escoliose idiopática: uma nova proposta. Brasília Med, v. 45 n. 1, p. 10-20. 2008. IUNES, D. H. et al. Análise quantitativa do tratamento da escoliose idiopática com o método Klapp por meio da biofotogrametria computadorizada. Revista Brasileira de Fisioterapia; São Carlos, v. 14, n. 2, p. 133-40, mar/abr. 2010. Ciências Biológicas e Ciências da Saúde 467

JUNIOR, D. C. A. et al. Prevalência da escoliose lombar em adultos. Coluna/ Columna. 2011; 10(4): 284-285. JUNIOR, J. R. V; AZATO, M. F. K. Alterações posturais decorrentes da discrepância dos membros inferiores. Fisioterapia Brasil, v. 4, n. 3, p:173-180, maio-jun. 2003. KISNER, C; COLBY L. A. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 6º ed. Barueri, SP: Manole, 2016. MARIEB, E. Anatomia humana. 7 ed. São Paulo: Person Education do Brasil, 2014. OLIVEIRAS, A. P; SOUZA, D. E. Tratamento fisioterapêutico em escoliose através das técnicas de iso-stretching e manipulações osteopáticas. Terapia Manual, Londrina, v. 2, n.3. p 104-113, jan/mar 2004. PELAI, E. B. Efeitos de técnicas osteopáticas estruturais na postura e flexibilidade de indivíduos com escoliose idiopáticos do adoscente. 2014. 67 f. Dissertação (Pósgraduação em Fisioterapia) Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Presidente Prudente, SP. PENHA, P. J. et al. Avaliação postural em meninas de 7 a 10 anos. Clinics, v. 60, n. 1, p. 9-16, jan/fev. 2005. REGO, A. R. O. N; SCARTONI, F. R. Alterações posturais de alunos de 5ª e 6ª séries do ensino fundamental. Fitness Performance Journal, v. 7, n. 1, p. 10-15. Rio de Janeiro, jan/fev. 2008. RUIZ F. F. Cuadernos de osteopatía: cuaderno nº 1. 3 ed. Editora Dilema. Madrid, 2005. TAVARES, R. A. A. et al. Proposta de implantação do fisioterapeuta na escola, face às alterações posturais. Revista Coluna Fisioterápica, v. 1, n. 1, p. 18-21, 2001. TOLEDO, P. C. V. et al. Efeitos da reeducação postural global em escolares com escoliose. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.18, n. 4, p. 329-34, out/dez. 2011. Ciências Biológicas e Ciências da Saúde 468