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Transcrição:

CONSULTA N 54/2015 Área Cível. OBJETO: Pedido de autorização judicial para exumação de urna funerária e translado de corpo Lei Estadual nº 13.031/01, que estipula o prazo de 03 (três) anos a partir da data do óbito Falecimento ocorrido há menos de 03 anos Regra que comporta flexibilização, desde que ausente risco relevante à saúde pública e presente justo motivo. INTERESSADA: 4ª Promotoria de Justiça do Foro Regional de Campo Largo da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba/PR. CONSULTA N 54/2015 1. Cuida se de consulta formulada pela Assessora Jurídica Jordana Knauber Garret, por meio de contato telefônico, em 23 de setembro de 2015, sob a orientação do d. Promotor de Justiça Diego Fernandes Dourado, em atuação na 4ª Promotoria de Justiça do Foro Regional de Campo Largo da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba/PR, a respeito da viabilidade de concessão de alvará judicial para o fim de ser autorizada a exumação de urna mortuária e o translado de corpo em prazo anterior ao fixado na Lei Estadual nº 13.031/2001. A consulta foi instruída com documentos, encaminhados pela consulente via e mail em 02 de outubro de 2015. 1

Por meio das informações fornecidas, averígua se que o caso concreto que deu ensejo ao questionamento formulado versa sobre pedido de Autorização Judicial para Exumação de Urna Mortuária, Mudança de Cemitério e Transporte Interestadual. O requerente é filho do falecido e alega ter sido ludibriado por funcionário do cemitério, que o teria induzido a promover o sepultamento de seu pai no município de Campo Largo/PR, sob o argumento de que depois seria possível transladar o corpo para a cidade de Uberaba/MG sem entraves. No entanto, os familiares foram surpreendidos com a informação de que o corpo do falecido só poderia ser removido após o decurso do prazo de 03 (três) anos, conforme previsão do art. 312 da Lei Estadual nº 13.031/2001, cuja transcrição é oportuna: Art. 312. O prazo mínimo para a abertura de túmulos e/ou remoção de restos mortais é fixado em três anos contados da data de óbito, sendo, reduzido para dois anos no caso de crianças até a idade de seis anos inclusive. 1º. Ficam excetuados os prazos estabelecidos no caput, quando ocorrer avaria no túmulo, infiltração de água nas carneiras, ou por determinação judicial, devendo ser comunicada a autoridade sanitária competente. Com fundamento no princípio da dignidade humana, previsto no inciso III do art. 1º da Constituição Federal, e também no 1º do art. 312 da Lei Estadual n 13.031/2001, citado acima, requereu se autorização para remoção da urna mortuária e transferência do corpo antes do transcurso do prazo de 03 (três) anos. 2

É, em síntese, o que se cumpre relatar. Passa se à manifestação. 2. Em pesquisa no direito positivado, observa se que a maior parte das legislações estaduais e municipais fixa um prazo de 03 (três) a 05 (cinco) anos, contados da data do óbito, para a exumação do cadáver ou abertura do túmulo. A literatura especializada esclarece que a fixação desse prazo mínimo de 03 (três) anos se dá por razões de saúde pública, uma vez que a decomposição do corpo humano produz uma substância líquida, denominada necrochorume, que pode conter micro organismos infecciosos. Confira-se: Os corpos humanos após a morte entram em decomposição e liberam substâncias tóxicas ao meio ambiente, na destruição dos corpos existe uma sequência natural de processos: mudança de coloração, gaseificação, coliquação e esqueletização (SILVA et al., 2008). No período coliquativo ou também conhecido como período humoroso, é liberado o necrochorume, trata se de uma solução aquosa, rica em sais minerais e substâncias orgânicas desagradáveis de cor castanho acinzentada, viscosa, polimerizável, de cheiro forte, e grau variado de patogenicidade (ALMEIDA; MACEDO, 2005). ( ) O necrochorume pode veicular, além de microrganismos oriundos do cadáver, restos ou resíduos de tratamentos químicos hospitalares e os compostos decorrentes da decomposição da matéria orgânica. Esses contaminantes incorporados ao fluxo de necrochorume são prejudiciais ao solo e às águas subterrâneas (SILVA; MALAGUTTI, 2009) 1. (Grifou se) Na jurisprudência nacional, localiza se decisão que corrobora a motivação sanitária da fixação de prazo para a exumação de cadáver ou abertura de túmulo. Veja se: 1Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/inic_2011/anais/arquivos/0034_0063_01.pdf>. 3

RETIFICAÇÃO DE ASSENTO DE ÓBITO. PEDIDO DE EXUMAÇÃO DE CORPO PARA CREMAÇÃO ANTES DO PRAZO REGULAMENTAR. IMPOSSIBILIDADE. Ausência de autorização da autoridade sanitária. Irresignação em face de sentença que, embora tenha deferido a retificação do assento, indeferiu pedido de exumação do corpo para fins de cremação do corpo. Não acolhimento. Morte por suicídio em via pública. Corpo classificado como não identificado e, então, sepultado. Filho da autora que fora dado como desaparecido. Posterior identificação do corpo. Pedido de exumação para cremação e culto de homenagem. Matéria regulada pelo Decreto Estadual nº 12.342/78. Prazo mínimo fixado para exumação por razões de ordem sanitária. Artigo 551, 3º e 4º do Decreto referido, com redação atualizada. Necessidade de autorização da autoridade sanitária, que verificará as condições em que se encontra o corpo e a possibilidade da exumação, de maneira que não haja risco à saúde pública. Eventual insatisfação em face de decisão da referida autoridade poderá ensejar as medidas judiciais cabíveis. Recurso desprovido. (TJ SP Relator(a): Carlos Alberto de Salles; Comarca: São Paulo; Órgão julgador: 3ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 10/02/2015; Data de registro: 10/02/2015). Há pesquisas a indicar que a liberação da substância necrochorume é mais intensa nos primeiros 06 (seis) a 08 (oito) meses após o óbito, sendo que o processo de decomposição completa das partes moles do corpo pode levar até 05 (cinco) anos: Três anos é o tempo estabelecido para que um corpo tenha as chamadas partes moles apodrecidas, restando apenas ossos, dentes, cabelos e unhas. Esse tempo pode variar, dependendo da idade do morto, doenças que teve (incluindo a causa mortis), tipo de remédios que tomou, drogas que ingeriu, tipo de sepultamento que teve (com pastilhas, mantas absorventes, tipo de urna e jazigo) e, também, o tipo de solo em que ocorreu o sepultamento. Durante os primeiros 6 meses, cada cadáver produz em média de 30 a 40 litros de necrochorume, sendo que o processo completo pode chegar a cinco anos em condições normais. 2 A partir dessas razões, compreende-se que o prazo previsto no art. 312 da Lei Estadual nº 13.331/2001 foi fixado com o objetivo de ser 2 ARCHANGELO, Antonio. Perigos do necrochorume são ignorados por coveiros de RC. Disponível em: <http://www.hidroplan.com.br/blog.php?cod=294>. 4

evitada a contaminação de pessoas ou do meio ambiente com resíduos da decomposição do cadáver. 2.1. Por outro lado, também da literatura especializada é possível extrair que o aguardo do prazo de 03 (três) anos não é uma condição absolutamente necessária à tutela da saúde pública. Em dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós graduação em Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), a autora Ana Paula Silva Campos investigou a toxicidade da substância necrochorume com o escopo de avaliar o potencial de poluição da atividade cemiterial. As pesquisas mencionadas pela autora dão margem ao entendimento de que o necrochorume é perigoso à saúde apenas sob determinadas circunstâncias, notadamente quando o falecimento tenha ocorrido em razão de moléstia contagiosa ou epidemia. Veja se: PACHECO et al (1993) relatam que durante o processo de putrefação, além, dos microorganismos degradadores de corpos, proliferam também agentes infecciosos, quando a morte ocorre por moléstia contagiosa ou epidemia. (p. 28). ( ) LENTZ (2002) realizou pesquisa para avaliar os riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública de restos exumatórios, com coleta e análises químicas e microbiológicas desses resíduos, em dois cemitérios distintos. Foram coletadas amostras de madeira e vestimenta de corpos exumados de diferentes idades e causa mortis, e amostra em branco de madeira de serraria, da mesma espécie utilizada em caixões, para comparação dos resultados. Como parâmetro a empresa adotou a norma técnica ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 10004 Classificação de resíduos. Em todas as amostras de exumação e da prova em branco, os valores de parâmetros químicos e microbiológicos mostravam se abaixo dos limites permitidos ou de detecção e os resíduos não foram classificados como 5

perigosos; foram caracterizados como resíduos de classe II não inertes, com disposição indicada para aterro sanitário. Os microorganismos patogênicos encontrados nos resíduos de exumação foram os mesmos que os da madeira in natura. ( ) Nos cemitérios, os cadáveres humanos podem causar poluição não por causa de qualquer toxicidade específica que eles possuam, mas pelo incremento das concentrações de substâncias orgânicas e inorgânicas que ocorrem naturalmente em níveis suficientes para tornar as águas subterrâneas não utilizáveis ou não potáveis 3. (Grifou se) No caso em apreço, a morte decorreu de infarto 4 e não de doença contagiosa, o que pode indicar menor probabilidade de risco à saúde pública. Acrescenta se a isso, o fato de o 1º do art. 312 da Lei Estadual nº 13.031/2001 albergar exceções à regra de 03 (três) anos para a abertura de túmulo ou remoção de restos mortais. São elas: avaria no túmulo; infiltração de água nas carneiras e determinação judicial. Com base nesse ponto de vista, entende-se que não é correto afirmar que a exumação de urna mortuária e o transporte de cadáver antes do transcurso do prazo de 03 (três) anos necessariamente representem riscos. 2.2. Ponderando se as informações coletadas na pesquisa e exibidas acima, acredita se que o pedido de Autorização Judicial para Exumação de Urna Mortuária, Mudança de Cemitério e Transporte Interestadual em apreço pode ser acolhido, desde que se comprove que a pretensão do autor não representará ofensa à saúde pública, bem como que 3 CAMPOS, Ana Paula Silva. Avaliação do potencial de poluição no solo e nas águas subterrâneas decorrente da atividade cemiterial. Dissertação de Mestrado (Programa de Pós graduação em Saúde Pública). Universidade de São Paulo, 2007, p. 105. 4 Cf. certidão de óbito juntada aos autos (ev. 1.4 e p. 12). 6

esteja caracterizado justo motivo para se exceptuar a regra geral constante no caput do art. 312 da Lei Estadual nº 13.031/2001. A existência ou não de risco à saúde pública pode ser concretamente aferida por um profissional capacitado para a análise técnica. Nesse sentido, nota se que o Ministério Público já diligenciou nos autos com vistas ao esclarecimento dos perigos envolvidos na atividade de exumação e transferência do corpo (cf. ev. 19.1 Requerimento de expedição de ofício à Secretaria Estadual de Saúde). Pelo que consta nos documentos que instruíram a consulta em tela, o pedido de esclarecimentos enviado à Secretaria Estadual de Saúde aguarda resposta. No que se refere ao justo motivo, parece defensável que os fatos narrados na petição inicial em questão são suficientes para caracterizá lo. A LRP não estabelece forma determinada para a manifestação de vontade relativa ao sepultamento; aliás, o assunto sequer é abordado. Diante disso, inexistindo testamento ou documento escrito no qual conste a vontade do falecido em relação ao seu enterro, é possível aplicar o art. 12, parágrafo único, do Código Civil 5, com o efeito de 5 Art. 12. Pode se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. 7

considerar prevalecente o desejo dos seus familiares. Os parentes possuem legitimidade para tutelar os direitos da personalidade e a dignidade da pessoa falecida e devem exercê la de forma solidária, em benefício e no interesse do de cujos. Nesse talante, cita-se da doutrina e da jurisprudência: Em relação aos direitos da personalidade da pessoa falecida, a legislação brasileira confere proteção aos mesmos, legitimando seus familiares a tutelá los, por força de uma aquisição iure proprio de direitos revestidos da característica de um poder dever, que deve ser exercido consoante a solidariedade familiar em benefício e no interesse da pessoa falecida. Por conseguinte, qualquer conflito deve ser solucionado de acordo com a vontade real ou presumível do falecido. (Ana Luiza Maia Nevares, A Função Promocional do Testamento Tendências do Direitos Sucessório, Renovar). (grifou-se) ( ) na ausência de manifestação por escrito, presume se que a vontade do falecido seja aquela manifestada por seus familiares, na forma do art. 12, parágrafo único do Código Civil. Art. 12: ( ) Parágrafo único: Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. Nesse sentido, os seguintes arestos deste Egrégio Tribunal: APELAÇÃO. ALVARÁ DE AUTORIZAÇÃO PARA CREMAÇÃO. MORTE VIOLENTA OCORRIDA HÁ MAIS DE QUATRO ANOS. EXAME CADÁVERICO REALIZADO. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO POR ESCRITO DO FALECIDO. DESNECESSIDADE. 1 Morte violenta ocorrida há mais de quatro anos, com a lavratura do indispensável Auto de Exame Cadavérico, de forma a satisfazer um dos requisitos do art. 77, 2º, da Lei 6015/73. 2 A manifestação da vontade, em casos de cremação, ordinariamente ocorre por intermédio dos familiares do falecido, ressaltando se que a Lei de Registros Públicos não estabeleceu forma especial para manifestação em vida do de cujus neste sentido. 3. Ademais, o Código Civil confere legitimidade ao cônjuge sobrevivente ou a qualquer parente em linha reta ou colateral até o quarto grau, a fim de resguardar os direitos da personalidade da pessoa morta (art. 12, parágrafo único). (0026791 65.2009.8.19.0202 8

APELACAO DES. MILTON FERNANDES DE SOUZA Julgamento: 10/01/2011 QUINTA CAMARA CIVEL). APELAÇÃO. ALVARÁ DE AUTORIZAÇÃO PARA CREMAÇÃO. MORTE VIOLENTA POR DISPARO DE ARMA DE FOGO OCORRIDA HÁ MAIS DE SEIS ANOS. EXAME CADÁVERICO REALIZADO. DESNECESSIDADE DE MANIFESTAÇÃO PRÉVIA POR ESCRITO DO FALECIDO. PRECEDENTES DESTE E. TRIBUNAL. SENTENÇA QUE SE REFORMA. RECURSO PROVIDO.1 Morte violenta ocorrida há mais de seis anos, com a lavratura do indispensável Auto de Exame Cadavérico, de forma a satisfazer um dos requisitos do art. 77, 2º, da Lei 6015/73.2 A manifestação da vontade, em casos de cremação, ordinariamente ocorre por intermédio dos familiares do falecido, ressaltando se que a Lei de Registros Públicos não estabeleceu forma especial para manifestação em vida do de cujus neste sentido.3 Ademais, o Código Civil confere legitimidade a qualquer parente em linha reta ou colateral até o quarto grau, a fim de resguardar os direitos da personalidade da pessoa morta (art. 12, parágrafo único).4 Recurso a que se dá provimento na forma do artigo 557, 1º A, do Código de Processo Civil. (0069079 98.2010.8.19.0038 APELACAO DES. GUARACI DE CAMPOS VIANNA Julgamento: 19/12/2011 DECIMA NONA CAMARA CIVEL). (TJ RJ, APELAÇÃO CÍVEL N º 0057606 61.2012.8.19.0001, RELATORA DESIGNADA PARA ACÓRDÃO: DESEMBARGA, j. em 25/06/2012). (destacou-se) O requerente afirma na petição inicial que a vontade do falecido era a de que o seu corpo fosse sepultado em jazido da família na cidade de Uberaba/MG, onde está enterrado o pai e até hoje reside a mãe do de cujos avós do autor do pedido de alvará. Além disso, aduz o requente esse sempre foi o desejo dos familiares do falecido, os quais autorizaram o enterro na região de Campo Largo/PR porque estavam assolados pelo sofrimento, tinham dúvidas sobre o procedimento de translado do corpo e cogitavam a cremação e o encaminhamento apenas das cinzas para Uberaba/MG, bem como porque receberam informação errônea do funcionário do cemitério no sentido de que a transferência do cadáver seria viabilizada mais tarde sem embaraço. 9

Acredita-se que as justificativas são compreensíveis e que os interessados estão imbuídos de espírito solidário em relação aos interesses do falecido, tendo em vista que a intenção é a de levar o corpo do de cujos para a cidade de origem da família e deixá-lo, sobretudo, próximo da genitora. 3. Frente ao questionamento formulado e aos dados fornecidos a esta Unidade, são essas as informações que se entende adequadas. Persistindo dúvidas ou havendo novos questionamentos, este Centro de Apoio permanece à disposição. Salienta se que o presente parecer não compõe manifestação de ordem vinculativa, pois é respeitado o princípio da independência funcional, que baliza a atuação dos membros. Espera se que o material e as reflexões encaminhadas auxiliem no deslinde do caso concreto sob a atenção do consulente. Curitiba, 06 de outubro de 2015. Terezinha de Jesus Souza Signorini Procuradora de Justiça Coordenadora Samantha Karin Muniz Assessora Jurídica Maine Laís Tokarski Estagiária de Pós Graduação 10