AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: PERCEPÇÕES DOS ACADÊMICOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA Nelson Princival Junior Evelline Cristhine Fontana Bruna Gisele Barbosa Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Educação Física/Irati, PR. GRANDE ÁREA E SUB-ÁREA do conhecimento: Ciências Humanas, Educação. Palavras-chave: Ensino-aprendizagem, Formação de Professores, Avaliação Escolar. Resumo: O processo de ensino-aprendizagem encontra-se diretamente relacionado com as avaliações escolares, embora ainda, a avaliação exerça um papel equivocado no âmbito escolar. Muitas vezes, o professor não tem a clareza de como e por que avaliar. A partir da década de 1980 a avaliação começou a ser abordada com uma perspectiva pedagógica e coerente com o processo de ensino e aprendizagem. Portanto, este estudo parte dos seguintes questionamentos: Os futuros professores formados na perspectiva Científica tem clareza dos objetivos da avaliação escolar? Ou ainda empregariam metodologias tradicionais? A metodologia adotada para esta pesquisa foi de caráter qualitativo, realizada na Universidade Estadual do Centro- Oeste, UNICENTRO. O grupo participante da pesquisa foi constituído por dezessete alunos do 3º ano do curso de Educação Física. As informações foram coletados na disciplina Avaliação em Educação Física Escolar, através de duas questões: Como avaliar nas aulas de Educação Física? Por que avaliar? Para compreensão dos resultados, foi escolhida a técnica de Análise de Conteúdo. Analisando os relatos foi possível perceber que a avaliação deve ser processual e não desconexa do processo de aprendizagem dos alunos, e, serve também para refletir sobre as práticas de ensino dos professores. Introdução O processo de ensino-aprendizagem encontra-se diretamente relacionado com as avaliações escolares, embora ainda, a avaliação exerça um papel equivocado no âmbito escolar. Muitas vezes, o professor não tem a clareza de como e por que avaliar. No âmbito da Educação Física, nas aulas na perspectiva tradicional esportiva, a avaliação atrelava-se a testes físicos, ao desenvolvimento motor, aptidão física, etc. Nessa perspectiva, procurava-se distinguir os melhores, os mais habilidosos, sendo atribuída a esses alunos uma melhor nota e para os que não apresentavam habilidades esperadas eram classificados como ruins e classificados com uma menor nota, os professores de Educação Física possuíam um papel de verificar e
não de avaliar de acordo com os objetivos do ensino-aprendizagem (DARIDO, 2005).. Ancorado nas palavras de Darido (2012), a perspectiva tradicional de avaliação cometeu equívocos ao considerar que avaliar nas aulas de Educação Física seria aplicar testes em prazos determinados e restritos ao domínio motor; classificar os alunos de acordo com seu desempenho físico; punir; atribuir uma nota ou um conceito, entre outros. Assim, a avaliação seria mais importante do que o ensinar, abordada de uma forma insuficiente para a compreensão do fenômeno educativo numa perspectiva mais abrangente. A partir da década de 1980, houve transformações no campo da Educação e da Educação Física. Nesse período a avaliação começou a ganhar novos contextos, sendo abordada com uma perspectiva pedagógica e coerente com o processo de ensino e aprendizagem. Essas transformações ocasionaram mudanças também na formação de professores de Educação Física, passando de uma formação Tradicional/Esportivo, em que se enfatizava o saber fazer para ensinar habilidades esportivas, as disciplinas práticas, havendo uma clara distinção entre teoria e prática, para uma formação na perspectiva Científica que tem como objetivo uma formação mais ampla, valorizando os conhecimentos científicos e conecta ao ensino-aprendizagem (DARIDO, 1995; BETTI & BETTI, 1996). Assim esse estudo teve como objetivo investigar se os futuros professores tem clareza dos objetivos da avaliação escolar ou ainda empregariam metodologias tradicionais. Materiais e métodos De acordo com a natureza do objetivo, a pesquisa foi realizada utilizando uma metodologia qualitativa. A qual foi realizada na UNICENTRO, Campus Irati-PR, após a aprovação do Comitê de Ética dessa Universidade. O grupo participante da pesquisa foi constituído por dezessete alunos do 3º ano do curso de Educação Física. O grupo participante do estudo foram acadêmicos do terceiro ano de licenciatura em Educação Física, os quais responderam por meio de questionário/entrevista duas questões: Como avaliar nas aulas de Educação Física? Por que avaliar? Para a compreensão e discussão dos resultados, foi escolhida a técnica de Análise de Conteúdo. Na Análise de Conteúdos o texto é um meio de expressão do sujeito, onde o pesquisador busca categorizar as unidades de texto (palavras ou frases) que se repetem, inferindo uma expressão que as representem (BARDIN, 1977). Por meio da análise de conteúdo, em que foram utilizados como critérios regularidades e singularidades com as concepções de avaliação escolar presentes em alguns documentos orientadores da Educação Básica, bem como, com a literatura que discute a temática, as informações coletadas foram organizadas em um documental Excel, que permitiu uma melhor visualização das informações coletadas.
Resultados e Discussão Os resultados foram organizados em duas unidades temáticas: Como avaliar nas aulas de Educação Física e Por que avaliar nas aulas de Educação Física. Unidade temática: Como avaliar nas aulas de Educação Física. Estudiosos da área da educação vêm refletindo sobre as práticas da educação e a preocupação de como avaliar acompanha e inquieta constantemente os professores e mais especificamente os de Educação Física, visto que, a disciplina possui uma articulação entre teoria e prática. As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do estado do Paraná, ao se referir a Avaliação em Educação Física destaca que: Um dos primeiros aspectos que precisa ser garantido é a não exclusão, isto é, a avaliação deve estar a serviço da aprendizagem de todos os alunos, de modo que permeie o conjunto das ações pedagógicas e não seja um elemento externo a esse processo (PARANÁ, 2008). Essa orientação pode ser percebida no relato dos alunos, quando questionados como avaliar nas aulas de Educação Física?, conforme relatou um acadêmico A avaliação deve ocorrer de uma forma ampla, abrangendo tudo o que o aluno faz [...]. Nesse caso, é possível perceber que o aluno tem a concepção que a avaliação não pode ser minimizada a um mero instrumento avaliativo, mas sim utilizar formas que atendam a função educativa que a avaliação possui. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), n. 9.394/96, preconiza que a avaliação deve se caracterizar como um processo contínuo, permanente e cumulativo. Nesse sentido, observam-se os seguintes relatos: [...] a avaliação deve ocorrer desde seu momento inicial até a sua projeção maior em determinada atividade. Avaliar cada aluno individualmente, levando em consideração o que ele sabia antes das intervenções, e o que ele conseguiu adquirir, evoluir [...]. Fica evidente nas colocações dos alunos a compreensão que o processo avaliativo é contínuo e deve estar associado à aprendizagem dos alunos. A LDB (1996) enfatiza ainda que o professor de Educação Física deverá organizar e reorganizar seus trabalhos, sustentado nas mais diversas práticas corporais. Unidade temática: Por que avaliar nas aulas de Educação Física. Nos últimos anos a literatura vem se debruçando sobre essa temática, na tentativa de reformular conceitos tradicionais de avaliação. Nesse sentido, essa unidade temática pretendeu identificar se os acadêmicos do curso de licenciatura de Educação Física compreendem a importância de avaliar de acordo com a literatura. Os acadêmicos ao serem questionados sobre Porque Avaliar?, entre os relatos é possível perceber uma preocupação com o papel que a avaliação de aprendizagem assume no contexto escolar, conforme destacou um participante: [...] O porquê de avaliar deve fugir de pensar que é algo que avaliar apenas por estar nos papéis de obrigações que o professor deve cumprir..
De acordo com Darido (2005), a avaliação deve contribuir para a compreensão das etapas já vencidas, ou seja, ela permite observar o alcance de objetivos traçados previamente, e a mesma, deve ser útil para as partes envolvidas e não se tornar um instrumento de pressão e castigo. Para outro aluno do estudo: Para saber se os alunos estão aprendendo, saber se o método de ensino que você está utilizando está dando certo, para saber se está havendo progressão.. É possível perceber nesse relato, a concepção que as avaliações permitem aos professores uma reflexão de suas práticas de ensino. Conforme cita Darido (2005): A avaliação pode e deve oferecer ao professor elementos para uma reflexão contínua sobre a sua prática, no que se refere à escolha de competências, objetivos, conteúdos e estratégias. Ela auxilia na compreensão de quais aspectos devem ser revistos [...] (DARIDO, 2005, p.127). Na perspectiva dos acadêmicos é possível perceber, de forma geral, que no âmbito do discurso, a avaliação vem assumindo um caráter de verificação de aprendizagem e de reflexão das práticas pedagógicas. Hoffman (2006) chama a atenção que a reflexão proporcionada pela avaliação deve ser transformada em ação, ação essa que nos impulsiona a novas reflexões. Para os estudantes, o processo avaliativo deve proporcionar-lhes uma conscientização de suas aprendizagens, dificuldades e possibilidades. Nesse sentido, cita um acadêmico que se deve avaliar Para o indivíduo ter conhecimento do quanto evoluiu ou regrediu em determinado aspecto físico, motor ou cognitivo, sabendo se a aula o ajudou ou não. Conclusões Conclui-se que quando indagados sobre a questão: Como avaliar?, para os acadêmicos, de modo geral, a avaliação deve ser processual e não desconexa do processo de aprendizagem dos alunos. Em relação ao Por que avaliar?, os relatos chamam atenção, associando a necessidade de avaliar para acompanhar a aprendizagem dos alunos, bem como, para realizar uma reflexão de revisão das práticas de ensino dos professores. O estudo permitiu perceber que os acadêmicos de Educação Física, participantes da pesquisa, possuem uma concepção de avaliação de aprendizagem coerente com a literatura e com as orientações presentes em documentos norteadores educacionais. Referências Bardin, L. Tradução de Luis Antero Neto e Augusto Pinheiro. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. Betti, I. C.; Betti, M. Novas perspectivas na formação profissional em Educação Física. Motriz, Rio Claro, v. 2, n. 1, p. 10-15, jun. 1996. Brasil. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996.
Darido, S. C. Teoria, prática e reflexão na formação profissional em Educação Física. Motriz, v. 1, n. 2, p. 124-128, dez. 1995. Darido, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. Darido, S. C. Educação física e temas transversais na escola. Campinas, SP: Papirus, 2012. Hoffmann, J. Avaliação mediadora: uma prática em construção de pré-escola à universidade. 26. ed. Porto Alegre: Mediação, 2006. 160 p. Paraná. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Educação Física para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio. Curitiba: SEED, 2008.