Registro: 2013.0000253492 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0110059-40.2009.8.26.0002, da Comarca de São Paulo, em que é apelante/apelado OPÇÃO ENTREGAS RÁPIDAS LTDA, é apelado/apelante SAÚDE ABC SERVIÇOS MÉDICO HOSPITALARES LTDA. ACORDAM, em 37ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso, com determinação. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ISRAEL GÓES DOS ANJOS (Presidente sem voto), CARLOS ABRÃO E SERGIO GOMES. São Paulo, 7 de maio de 2013 PEDRO KODAMA RELATOR (Assinatura Eletrônica)
Voto nº 889 Apelação nº: 0110059-40.2009.8.26.0002 Comarca: São Paulo Fórum Regional de Santo Amaro - 5ª Vara Cível Apelante: Opção Entregas Rápidas Ltda Apelada: Saúde Abc Serviços Médico Hospitalares Ltda Juiz de 1º grau: Antonio Carlos Santoro Filho Órgão Julgador: 37ª Câmara de Direito Privado Relator: Pedro Kodama Apelação Execução - Empresa em recuperação judicial Extinção do processo sem resolução do mérito Habilitação em concurso de credores não negada pela exequente/apelante Ocorrência da novação - Novação prevista na Lei de Falências que não dá ensejo à extinção imediata da execução Suspensão do feito pelo prazo de 2 anos Admissibilidade Inteligência do artigo 61 da Lei 11.101/05 - Decisão reformada - Recurso provido com determinação. Trata-se de recurso de apelação interposto contra a sentença de fls. 301, cujo relatório adoto, que julgou extinto o processo, sem resolução do mérito, sob o fundamento de que, aprovado o plano de recuperação judicial da executada/apelada e, encontrando-se o crédito da exequente devidamente habilitado, informação que não foi contrariada, caracterizouse a ausência de interesse processual superveniente. Sustenta a apelante que a execução foi julgada extinta em razão da aprovação do prazo de recuperação extrajudicial da apelada. Menciona que consta dos autos que a apelada teve o respectivo plano aprovado em data muito posterior ao prazo de 180 dias previsto Apelação nº 0110059-40.2009.8.26.0002 0 - Eri 2
no 4º, do artigo 6º, da Lei 11.105/05. Entende que em hipótese que eventual aprovação do plano de recuperação após 180 dias não tem de per si o condão de suspender o curso de ações movidas em desfavor da recuperanda, muito menos de sustentar a sua extinção. Diz que, quando muito, era o caso de suspender, pelo período de 2 anos, a presente execução e não de extingui-la como aconteceu (fls. 303/306). da sentença. O réu apresentou contrarrazões (fls. 116/128), pleiteando a manutenção Recurso tempestivo, com anotação da gratuidade processual ao autor. É o relatório. Versa a ação de origem sobre execução de título extrajudicial. merece ser reformada. Em que pesem os argumentos do MM juiz originário, a r. sentença O artigo 59 da Lei 11.101/2005 dispõe que: O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no 1º do art. 50 desta Lei. Assim, é o caso de aplicação de mencionado dispositivo, vez há notícias nos autos acerca da homologação do plano de recuperação judicial da empresa apelada, fato que foi ressaltado pelo juiz na sentença combatida (fls. 301). Outrossim, a apelante, mesmo após instada a fazê-lo, não negou que o seu crédito foi incluído no plano de pagamento (fls. 299 e 306), o que, por si, caracteriza a sua novação. Apelação nº 0110059-40.2009.8.26.0002 0 - Eri 3
De qualquer forma, a novação prevista no artigo 59 da Lei nº 11.101/2005 não acarreta a imediata extinção da execução, até mesmo porque está condicionada ao cumprimento de determinadas obrigações pela empresa, conforme preceitua o artigo 61 de referido dispositivo legal: Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o devedor permanecerá em recuperação judicial até que se cumpram todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial. 1º Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano acarretará a convolação da recuperação em falência, nos termos do art. 73 desta Lei. 2º Decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial. A apreciar a questão atinente aos efeitos da novação prevista na Lei de Falência bem destacou o ilustre Desembargador CASTRO FIGLIOLIA: A análise sistemática dos dispositivos supratranscritos confere à novação estatuída na Lei nº 11.101/05 natureza diversa daquela prevista no Código Civil. Isto porque a novação prevista naquela lei depende de condição resolutiva, na medida em que há a previsão da possibilidade de reconstituição de direitos e garantias caso o plano de recuperação judicial não seja exitoso e a falência venha a ser decretada. Trata-se, portanto, de uma novação condicional. Neste sentido o escólio de Fábio Ulhôa Coelho: As novações, alterações e renegociações realizadas no âmbito da recuperação judicial são sempre condicionais. Quer dizer, valem e são eficazes unicamente na hipótese de o plano de recuperação ser implementado e Apelação nº 0110059-40.2009.8.26.0002 0 - Eri 4
ter sucesso. Caso se verifique a convolação da recuperação judicial em falência, os credores retornam, com todos os seus direitos, ao 'status quo ante'. Assim, a novação em comento não tem o condão de extinguir a obrigação enquanto não ocorrer o cumprimento do plano de recuperação judicial, o que deverá ocorrer no prazo máximo de 2 anos, contados da concessão da recuperação judicial. (Agravo de Instrumento nº 0034012-26.2012.8.26.0000, j.em 18/07/2012). Nestes termos, já decidiu este Colendo Tribunal: Exceção de pré-executividade. Não acolhimento da alegação de carência da ação executiva em razão de o título objeto da ação ter sido novado por aprovação de plano de recuperação judicial. Decisão mantida. A novação operada pelo plano de recuperação judicial fica sujeita a condição resolutiva, qual seja, o cumprimento do plano pelo devedor nos primeiros 2 anos contados da concessão da recuperação. Execução, no entanto, que seguirá apenas em face do garantidor do titulo. Agravo improvido, com observação. (Agravo de Instrumento nº 0367765-03.2009.8.26.0000, Relator(a): SOARES LEVADA, j.em 15/04/2010). TÍTULO EXTRAJUDICIAL. Execução. Pedido de extinção da ação em razão da homologação do plano de recuperação judicial da executada. Inadmissibilidade. Novação dos créditos aludida pelo art. 59 da Lei nº 11.101/2005 que é sempre condicional e não redunda, por si só, na extinção da obrigação pelo surgimento de outra, tal como seria de se esperar no direito civilista. Inocorrência, ademais, de falta de interesse de agir. Possibilidade não afastada de restauração de direito do credor, secundum eventum litis. Manutenção da execução em compasso de espera. Admissibilidade. Recurso não provido, com observação. Não há como extinguir um processo de execução que mais cedo ou mais tarde pode ter o direito material nele perseguido Apelação nº 0110059-40.2009.8.26.0002 0 - Eri 5
revigorado por eventual descumprimento dos termos fixados no plano de recuperação judicial pela empresa beneficiária do regime especial. (Agravo de Instrumento nº 0064026-27.2011.8.26.0000, Relator: GILBERTO DOS SANTOS, j. em 09/06/2011). EXECUÇÃO DE TITULO EXTRAJUDICIAL -Pedido de extinção da ação de execução promovida pela agravada em virtude da concessão de recuperação judicial à agravante - Inadmissibilidade - Aprovação do plano de recuperação judicial não tem o condão de extinguir as ações e execuções individuais promovidas contra a empresa recuperanda, mas apenas e tão-somente permite a sua suspensão, pelo prazo de até 2 anos de sua concessão (LF 11.101/2005, arts. 6º, caput e 4º, 49, caput e 2o, 52, III, 59, caput, 61 e 62) - Extinção da execução somente declarada no caso de cumprimento da obrigação constante do plano de recuperação judicial. Recurso desprovido. (Agravo de Instrumento nº 0355982-77.2010.8.26.0000, Relator: REBELLO PINHO, j.em 07/02/2011). Destarte, deve ser reformada a r. sentença que extinguiu a execução, devendo esta apenas ser suspensa pelo prazo de 2 anos contados da concessão da recuperação judicial. determinação. Ante o exposto, pelo meu voto, dou provimento ao recurso, com Pedro Kodama Relator (Assinatura digital) Apelação nº 0110059-40.2009.8.26.0002 0 - Eri 6