Refletindo sobre currículo para os bebês de 0 a 2 anos



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Transcrição:

Refletindo sobre currículo para os bebês de 0 a 2 anos SANTOS, Isabela Ferreira dos UEPB Email: isabela _ferreiradossantos@yahoo.com.br SILVA, Fernanda Alves da UEPB Email: Fernanda-alves800@hotmail.com OLIVEIRA, Wênia Katiússia Pereira Queiroz - UEPB Email: weniakatiuskaqueiroz@hotmail.com Orientadora: Profª Dra. Lenilda Cordeiro Macêdo Email: lenildamacedo@ig.com.br Resumo O presente artigo constitui-se de uma pesquisa desenvolvida em instituições que atendem crianças de 0 a 2 anos (berçário) no municíp io de Campina Grande. Nossos objetivos são: Analisar o conteúdo das propostas pedagógicas das instituições, se os mesmos estão ancorados nos princípios das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil DCNEI e analisar quais concepções de infância, criança, e currículo estão subjacentes nestas propostas. O estudo é de caráter qualiquantitavo, cujas técnicas de produção de dados são: Questionários a serem aplicados com todas as professoras das instituições pesquisadas; Análise documental (prop ostas pedagógicas das instituições); Entrevista semiestruturada com professores que atuam no berçário. A realização desta pesquisa contribuirá para a construção de um diagnóstico sobre o currículo para os bebês de 0 a 2 anos deste município, condição fundamental e prévia a qualquer ação de intervenção, sobretudo no que diz respeito às politicas e práticas educativas, que visem garantir o direito a uma educação de qualidade a essas crianças. Por estarmos em fase de desenvolvimento do estudo, ainda não temos dados conclusivos, porém, as analises bibliográficas e documentais apontam para a necessidade de se construir propostas pedagógicas que respeitem as crianças em suas singularidades, além de valorizar as culturas infantis. Palavras-Chave: Currículo, Berçário, Cuidar, Educar. ABSTRACT This article consists of a research developed in educational institutions that assist children from zero to two years old (nursery education) in the city of Campina Grande. Our objectives are to analyze the educational institutions contents of their pedagogical proposals inquiring if they are following the DCNEIs (National Curriculum Guidelines for Early Childhood Education) and analyze which concepts on childhood, child and curriculum underlie those proposals. This is a quantitative-quality study whose data production techniques are questionnaires to be applied with the teachers of the educational institutions; documental analysis (institutions pedagogical proposals) and semi structured interview with the teachers that work with nursery education. This research accomplishment will contribute to a diagnose construction on the curriculum

for babies from zero to two years old in the city mentioned above meaning a necessary and prior condition in order to take any intervention measure especially regarding educational practices and policies which may guarantee to those children an opportunity to acquire a high level education. Since the project is still in progress there are not conclusive data yet, but the bibliographical and documental analysis suggest the requirement of pedagogical proposals creation that respect and appreciate children s uniqueness and culture. KEY WORDS: Curriculum, Nursery Education, Care, Educate. Introdução No Brasil, a criança começa a ser considerada como sujeito de direitos, inclusive à educação, a partir dos aparatos legais, como a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei 8069/90). Sendo que, em nenhum desses documentos o termo educação infantil aparece explícito. O termo educação infantil aparece, pela primeira vez, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB (Lei nº 9394/96, art. 29), caracterizando esta etapa de ensino como a primeira da educação básica. A partir dessa lei, segundo Amorim (2010, p.454), [...] As instituições de Educação Infantil devem, portanto, integrar o sistema de ensino e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil DCNEI - (BRASIL, 2010) definem a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica oferecida por creches e pré-escolas, cabendo-lhe cuidar e educar as crianças de 0 a 5 anos de idade, sendo dever do estado garantir uma educação gratuita e de qualidade. Nesse sentido, no mesmo documento além da criança ser considerada como sujeito de direito, é, também, produtora de suas culturas. Concepções de currículo para crianças de 0 a 2 anos Quando a LDB tornou a educação infantil um direito das crianças, o Ministério da Educação (MEC) elaborou, em 1998, o Referencial Curricular Nacional para a Educação infantil RCNEI (BRASIL, 1998), com o intuito de orientar as instituições para que garantissem o desenvolvimento integral das crianças e incorporassem as funções de cuidar e educar de maneira simultânea. De acordo com Amorim e Dias

(2012, p. 130) o RCNEI passou a ser considerado como referencial/proposta curricular nacional. O reconhecimento da criança como sujeito histórico, produtor e reprodutor de culturas levou a uma ampla discussão no cenário brasileiro, que envolveu a participação de diversos movimentos populares, inclusive dos próprios profissionais de educação. Para o RCNEI, a educação infantil deve criar condições para o desenvolvimento integral de todas as crianças, levando em consideração as diferentes faixas etárias (crianças de 0 a 3 anos e de 4 a 6 anos). A LDB/96 propõe que a educação infantil seja oferecida em creches (crianças de 0 a 3 anos) e pré-escolas (crianças de 4 a 6 anos). As creches devem oferecer as condições favoráveis para que as crianças aprendam a conviver, a ser e está com os outros e consigo mesmas em uma atitude básica de aceitação, de respeito e de confiança. (BRASIL, 1998) A creche tem como função precípua educar e cuidar, portanto, é lugar de prática pedagógica fundamentada, o que exige profissionais com formação adequada e específica para atuar com crianças de 0 a 5 anos de idade. Para isto, necessitamos de práticas articuladas às experiências e saberes das crianças e para a promoção do desenvolvimento integral das crianças de 0 a 5 anos (BRASIL, 2010, p. 12). Ness a perspectiva, as instituições de educação infantil têm como função social educar e cuidar de forma indissociada (MACÊDO e DIAS, 2006). Neste sentido, o currículo direcionado a esta etapa de educação deve ser levado em consideração o cuidado com o corpo, alimentação, desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo, a diversidade, a linguagem, dentre outras questões. Diante das singularidades e peculiaridades das crianças e, especialmente, das crianças de 0 a 2 na perspectiva, de cuidar a partir de práticas educativas, se faz necessário a elaboração de um currículo que leve em consideração a criança como ser ativo na construção do seu conhecimento, que tem suas necessidades e, ao mesmo tempo, o direito de ser cuidada e educada para se constituir como cidadão. Pensadores clássicos como: Pestalozzi, Froebel, Montessori e Freinet, que há séculos estudaram as especificidades da educação da criança pequena, ainda exercem influencia nos currículos e práticas atuais. Segundo (CARDOSO E FRAGELLI, 2011) as formas de atuação de algumas professoras da Educação Infantil retratam a imagem de

mãe substituta, atribuindo as suas práticas apenas o cuidado físico. E isto tem provocado uma confusão de papeis por parte das profissionais de educação infantil, pois parece que o currículo com os bebês é compreendido apenas como cuidado físico, como uma extensão das funções da família. Sabemos que a criança é um ser capaz de interagir com o outro no meio social ao qual está inserido, portanto, segundo (RAMOS, 2012) a criança é capaz de agir no seu processo educativo e no seu próprio desenvolvimento, com os conhecimentos e recursos que dispõe, desde bebê, pois para Arce (2002, p. 56) a criança aprende desde seu nascimento, desde o momento em que seus sentidos entram em contato com o mundo. Para isto, se faz necessário que o professor, que atua no berçário proponha práticas que visem o desenvolvimento integral/pleno da criança. Proporcionando a estes um ambiente favorável para brincar, explorar, experimentar, inventar e se mexer, pois em um ambiente rico de possibilidades, de interações com o meio físico e social, que a criança elabora, segundo (RAMOS, 2012) o entendimento de si e do mundo no qual está inserida. Séculos nos separam da teoria de Pestalozzi, mas é possível verificar segundo Arce (2002, p. 174), que este já fazia sérias críticas ao ensino de sua época que não utilizava objetos concretos para o ensino aprendizagem, utilizar da abstração significa desrespeitar o desenvolvimento infantil, ferir sua natureza. Segundo (RAMOS, 2012) desde o final da década de 1980 alguns avanços da ciência em relação a criança foram notáveis ampliando a as possibilidades de um currículo na educação infantil centrado na criança, que valorize sua forma de ser e estar no mundo. A criança passou a ser vista como um ser de culturas, que estabelece relações ricas com seus parceiros explorando o mundo ao seu redor, reinventando o cotidiano e produzindo conhecimento a partir das interações com seus pares. A criança, no primeiro ano de vida, segundo (RAMOS, 2012) é subestimada por ser imatura em diversos aspectos. Necessitamos romper com tal representação e rever nossas concepções de criança, infância e educação infantil, ou seja, assumir uma nova perspectiva, resultante de pesquisas, no campo da psicologia sócio histórica (VIGOTSKY, 2007, WALLON, 1995), as quais afirmam que as crianças são seres que se constituem na cultura, são ativas, agem e promovem, com a mediação qualificada dos adultos e da cultura, o seu próprio desenvolvimento.

Apesar de não se comunicar oralmente, a criança do berçário é capaz de expressar seus interesses ou ações, pois elas se utilizam de outras linguagens, como o choro, o riso, o gesto, a mímica facial, enfim, do movimento e das emoções, como estratégias para interagir com o meio físico e social. Portanto, o professor tem um importante papel no desenvolvimento destas crianças, promovendo um ambiente de atividades diversificadas e desafiadoras. A professora do berçário deve ter como característica fundamental o olhar observador, valorizar por menor que seja, a ação da criança, e, acima de tudo, acreditar que ela é autora do seu próprio desenvolvimento, é ativa, é capaz de aprender, construir, duvidar questionar e discordar porque não? (RAMOS, 2012, p.38) Assim, o currículo do berçário precisa ser elaborado para atender as necessidades dos bebês com propostas educativas contextualizadas, para cada faixa etária, respeitando sempre o ritmo de cada uma. Nesta perspectiva, é necessário que a professora tenha conhecimento sobre o processo de desenvolvimento da criança e, também, da antropologia e sociologia da infância, para compreender que a criança, desde que nasce, inserida em uma cultura, ela não apenas é moldada por essa cultura, mas também, por ser ativa/ ator social, ela interfere no meio cultural e produz culturas singulares, denominadas de culturas infantis e dos seus direitos enquanto cidadãos produtores e reprodutores de cultura (MACÊDO, 2014). Enfim, o ingresso do bebê nas instituições de educação infantil, especificamente, no berçário, é de fundamental importância para o desenvolvimento do mesmo, desde que seja descartado o caráter assistencialista das práticas, vigente por muitos anos no Brasil, quando creche era entendida apenas como deposito de crianças. Atualmente, a partir das politicas educacionais implementadas, tendo por base os documentos oficiais supracitados e, também, a partir das pesquisas acadêmicas realizadas (MACÊDO e DIAS, 2006, RAMOS, 2012) não é mais possível entender o currículo para bebês como mera assistência e cuidados físicos. As práticas curriculares neste espaço educativo devem ser permeadas pelo cuidar/educar de forma integrada visando o pleno desenvolvimento da criança,

Em face do exposto, o objetivo das práticas curriculares no berçário deve ser o desenvolvimento integral dos bebês, em seus aspectos cognitivo, afetivo, motor e social, complementando a ação da família. Portanto, é necessário que seja um ambiente rico de possibilidades, de interações prazerosas, entre as crianças e seus pares, entre as crianças e os adultos, no qual o cuidar e o educar estejam indissociados, pois as crianças de 0 a 2 anos são seres que merecem cuidados, por serem vulneráveis, mas este cuidado deve ser entendido como cuidado da pessoa em todas as suas dimensões, buscando seu pleno desenvolvimento e autonomia. Metodologia Este texto é parte de uma pesquisa em fase inicial sobre a concepção de Educação infantil e de currículo para os bebês de 0 a 2 anos nas creches da rede municipal de Campina Grande. Elencamos como objetivos: analisar o conteúdo das propostas pedagógicas das instituições, se os mesmos estão em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil-DCNEI, como também, se há propostas especificas para esta etapa da educação infantil e quais concepções de infância, criança e currículo estão subjacentes nestas propostas. O estudo é de caráter qualiquantitavo, cujas técnicas de produção de dados são: Questionários a serem aplicados com todos os professores das instituições pesquisadas; Análise documental (Proposta Pedagógica da Secretaria de Educação para a Educação Infantil na rede municipal, propostas pedagógicas das instituições que serão pesquisadas) e de fotografias, produzidas com câmera fotográfica digital; Entrevista semiestruturada com 3 professores de cada instituição pesquisada, que atuam com as crianças do berçário, totalizando, portanto, cerca de 24 entrevistas. A análise dos dados se dará através de estatística simples e da análise de conteúdo. Por fim, socializamos aqui, apenas dados da pesquisa bibliográfica. Análise dos resultados Nossa pesquisa está em fase de desenvolvimento do estudo, por isso, não temos dados empíricos para analisar, o presente texto constitui-se da síntese de nossa pesquisa bibliográfica, cuja conclusão provisória apresentamos a seguir. Conclusão

Ao analisarmos a teoria de alguns pensadores modernos percebemos que na pauta do currículo a criança sempre aparece como o centro de processo. Ademais, a proposta curricular para os bebês de 0 a 2 anos é resultante de inúmeras discussões resultantes de teorias as quais demonstraram a especificidade e singularidade da infância e sua educação. Ao longo da história a creche teve um caráter mais assistencialista do que educativo, portanto, a criança não era reconhecida em suas especificidades, pois era vista como imperfeita ou incompleta, desconsiderando-a como sujeito de direitos, produtora e reprodutora de cultura. Os marcos legais, como a Constituição Federal, a LDB/96 o RCNEI e, por fim, as DCNEI/2010, trazem uma concepção mais respeitosa para com as crianças. Como também uma concepção de currículo e prática pedagógica, que levem em consideração a criança como sujeita de direito e construtora ativa do processo educativo e do seu desenvolvimento. Em síntese, destacamos a importância de se pensar um currículo para os bebês de 0 a 2 anos mais flexível, no qual as situações de aprendizagem sejam baseadas na indissociabilidade de cuidar/educar. Enfim, um currículo que permita o desenvolvimento integral da criança e o reconhecimento de que estas são atores ativas na produção e reprodução de culturas. Em face do exposto, as analises bibliográficas e documentais apontam para a necessidade de se construir propostas curriculares que respeitem as crianças em suas singularidades, além de valorizar o papel que elas exercem nas práticas educativas e no seu próprio desenvolvimento. Para isto, se faz necessário uma organização diária do ambiente pedagógico do berçário bem como uma aprendizagem significativa para estas crianças neste momento tão delicado da vida. É de suma importância que as professoras compreendam as fases de desenvolvimento da criança de 0 a 2 anos e, também, que elas são seres ativos, que não, apenas reproduzem as culturas dos adultos, mas, que produzem suas próprias culturas. Sendo assim, é importante organizar um ambiente que permita a criança experimentar, explorar, brincar, inventar, imitar, interagir e se desenvolver de forma plena. O Currículo para bebês deve primar pela organização de um ambiente propicio a interação das crianças e, portanto, ao seu desenvolvimento pleno como pessoa humana, inserida em uma determinada cultura. Desta forma, existe uma grande necessidade de

um planejamento curricular que leve em consideração as necessidades dos bebês e o respeito ao ritmo de cada um. Referências AMORIM, Ana Luisa Nogueira de. DIAS, Adelaide Alves. Currículo e educação infantil: uma análise dos documentos curriculares nacionais. In. Espaço do currículo. v.4, n. 2, p. 125-137, Mar, 2012. Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rec. Acesso em: 30 Abr. 2014. ARCE, Alessandra. A pedagogia na era das revoluções : uma análise do pensamento de Pestalozzi e Foebel. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2002. BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Secretaria da Educação Básica. Brasília: MEC/SEB, 2010. Constituição Federal da República. Brasília: Senado Federal, 1988. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Senado Federal, 2006. CARDOSO, Luciana Cristina; FRAGELLI, Patrícia Maria. Currículo (s) e educação infantil: retrospectiva e perspectivas de trabalho. São Carlos: EdUFSCar, 2011. MACÊDO, Lenilda Cordeiro. A infância resiste à pré-escola? Tese (doutorado). Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal da Paraíba UFPB, 2014, 237f. DIAS, Adelaide Alves. O cuidado e a educação enquanto práticas indissociáveis na educação infantil. Disponível em:

http://29reuniao.anped.org.br/trabalhos/trabalho/gt07-1824--int.pdf. Acesso em: 30 Abr. 2014. RAMOS, Tacyana Karla Gomes. Os saberes e as falas de bebês e suas professoras. 2º ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012. VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente: O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 7. Edição. São Paulo: Martins Fontes, 2007. WALLON, Henri. As origens do caráter na criança. São Paulo: Nova Alexandria, 1995.