A CONSULTORIA COMO METODOLOGIA DE ENSINO NA GRADUAÇÃO TECNOLÓGICA



Documentos relacionados
Curso de Graduação. Dados do Curso. Administração. Contato. Modalidade a Distância. Ver QSL e Ementas. Universidade Federal do Rio Grande / FURG

ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS - FAN CEUNSP SALTO /SP CURSO DE TECNOLOGIA EM MARKETING TRABALHO INTERDISCIPLINAR

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

FACULDADE REDENTOR NUCLEO DE APOIO EMPRESARIAL CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

Mestrado em Educação Superior Menção Docência Universitária

PROPOSTA PEDAGOGICA CENETEC Educação Profissional. Índice Sistemático. Capitulo I Da apresentação Capitulo II

GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO APRESENTAÇÃO E GRADE CURRICULAR DOS CURSOS

Gestão Estratégica de Marketing

FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃODE RECURSOS HUMANOS DA ANTT

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

PLANO DE TRABALHO Período: 2014/ CONTEXTO INSTITUCIONAL

DIRETRIZES CURRICULARES PARA OS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA UTFPR

Pedagogia Estácio FAMAP

Desenvolve Minas. Modelo de Excelência da Gestão

PROGRAMA DE INOVAÇÃO NA CRIAÇÃO DE VALOR (ICV)

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

Manual do Estagiário 2008


Estruturando o modelo de RH: da criação da estratégia de RH ao diagnóstico de sua efetividade

MANUAL DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES PARA O CURSO DE FISIOTERAPIA

FACULDADE DE CAMPINA GRANDE DO SUL. Manual de Estágio CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

Síntese do Projeto Pedagógico do Curso de Sistemas de Informação PUC Minas/São Gabriel

FACULDADE ANHANGUERA DE ITAPECERICA DA SERRA

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS - FAN CEUNSP SALTO /SP CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO COMERCIAL TRABALHO INTERDISCIPLINAR

PROGRAMA DE ACOMPANHAMENTO DE EGRESSOS DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA

PROJETO PEDAGÓGICO. Curso de Graduação Tecnológica em Marketing

PROGRAMA ESCOLA DA INTELIGÊNCIA - Grupo III ao 5º Ano

ESTÁGIO CURRICULAR. Segue descrito abaixo o Regulamento de Estágio Curricular. REGULAMENTO DE ESTÁGIO PARA INICIAÇÃO PROFISSIONAL

ESTÁGIO SUPERVISIONADO

ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS

CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO RADIAL DE SÃO PAULO SÍNTESE DO PROJETO PEDAGÓGICO DE CURSO 1 MISSÃO DO CURSO

Estimativas Profissionais Plano de Carreira Empregabilidade Gestão de Pessoas

CURSO DE GRADUAÇÃO TECNOLÓGICA EM ANÁLISE E DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS. RECONHECIDO conforme PORTARIA nº 295, de 25 de Junho de 2008.

MBA IBMEC 30 anos. No Ibmec, proporcionamos a nossos alunos uma experiência singular de aprendizado. Aqui você encontra:

Curso de Educação Profissional Técnica de Nível Médio Subseqüente ao Ensino Médio, na modalidade a distância, para:

Programa de Capacitação

PÓS-GRADUAÇÃO CAIRU O QUE VOCÊ PRECISA SABER: Por que fazer uma pós-graduação?

Administração de CPD Chief Information Office

OFICINA DA PESQUISA DISCIPLINA: COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL

AVALIAÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO-CURRICULAR, ORGANIZAÇÃO ESCOLAR E DOS PLANOS DE ENSINO 1

ANEXO AO MODELO DO PLANO DE AULA DO PROCESSO SELETIVO DOCENTE GERAL (PSD-G)

EDITAL SENAI SESI DE INOVAÇÃO. Caráter inovador projeto cujo escopo ainda não possui. Complexidade das tecnologias critério de avaliação que

K & M KNOWLEDGE & MANAGEMENT

FATORES PARA A INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO: EDUCAÇÃO, CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO DAS QUALIDADES PESSOAIS

Programa do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu MBA em Gestão de Projetos

CENTRO DE ESTUDO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROPOSTA DE CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO PARA TUTORES - PCAT

A importância da Educação para competitividade da Indústria

CONSULTORIA DE DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL

Contexto da ação: Detalhamento das atividades:

Curso de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos

A disciplina de Gestão do Conhecimento no currículo do Curso de Biblioteconomia: a experiência da UFRGS/BRASIL.

O papel educativo do gestor de comunicação no ambiente das organizações

Escola de Políticas Públicas

GRADUAÇÃO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM MARKETING DENOMINAÇÃO: CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM MARKETING / ÁREA PROFISSIONAL: GESTÃO E NEGÓCIOS.

Minuta do Capítulo 10 do PDI: Relações Externas

FACULDADE ESTÁCIO MONTESSORI DE IBIÚNA ESTÁCIO FMI SÍNTESE DO PROJETO PEDAGÓGICO DE CURSO 1

Aprendizagem da Matemática: um estudo sobre Representações Sociais no curso de Administração

CURSO AIKA-GP OFICINA EM ESTRATÉGIA:

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

MANUAL DE ATIVIDADES COMPLEME MENTARES CURSO DE ENFERMAGEM. Belo Horizonte

Programa de Desenvolvimento Local PRODEL. Programa de Extensão Institucional

SÍNTESE PROJETO PEDAGÓGICO. Missão

Empresa Júnior como espaço de aprendizagem: uma análise da integração teoria/prática. Comunicação Oral Relato de Experiência

TRABALHOS TÉCNICOS Coordenação de Documentação e Informação INOVAÇÃO E GERENCIAMENTO DE PROCESSOS: UMA ANÁLISE BASEADA NA GESTÃO DO CONHECIMENTO

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO CORPORATIVA - NOR 350

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

Sárgom Ceranto Marketing e Soluções Corporativas comercial@trecsson.com.br

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

Curso de Desenvolvimento em Negócios Sociais e Inclusivos

FATEC EaD TECNOLOGIA EM GESTÃO EMPRESARIAL PROJETO INTERDISCIPLINAR SÃO PAULO 2014

MBA MARKETING DE SERVIÇOS. Turma 19. Curso em Ambiente Virtual

Projeto Político-Pedagógico Estudo técnico de seus pressupostos, paradigma e propostas

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Instituto Educacional Santa Catarina. Faculdade Jangada. Atenas Cursos

ü Curso - Bacharelado em Sistemas de Informação

CURSO DE GRADUAÇÃO PRESENCIAL SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

Planejamento Estratégico de Tecnologia da Informação PETI

2- PÚBLICO ALVO. Página 1 de 8 CURSO PRÁTICO FORMAÇÃO DE CONSULTORES EMPRESARIAIS. SESI Serviço Social da Indústria. IEL Instituto Euvaldo Lodi

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

Por que escolher a Formação de Gestor de Cadeia de Custódia do IMAFLORA? Programa de Formação de Gestor de Cadeia de Custódia FSC

Indicadores de Rendimento do Voluntariado Corporativo

Estrutura e Funcionamento do Curso Superior Tecnologia em Gestão Pública na modalidade a Distância

Sárgom Ceranto Marketing e Soluções Corporativas comercial@trecsson.com.br

PRÓ-MATATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Profissionais de Alta Performance

INTRODUÇÃO A ÃO O EMPREENDE

Marins & Molnar Business Solutions

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

CURSO DE POS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO EM FOTOGRAFIA DIGITAL

O que é Administração

R E S O L U Ç Ã O. Artigo 2º - O Currículo, ora alterado, será implantado no início do ano 2000, para os matriculados no 1º semestre.

Rafael Vargas Presidente da SBEP.RO Gestor de Projetos Sociais do Instituto Ágora Secretário do Terceiro Setor da UGT.RO

MANUAL DO CURSO SUPERIOR TECNOLOGIA EM GESTÃO COMERCIAL QP EM CONTACT CENTER

CBA. Certification in Business Administration

O que é? pode ser chamado de Recrutamento e Seleção.

Transcrição:

A CONSULTORIA COMO METODOLOGIA DE ENSINO NA GRADUAÇÃO TECNOLÓGICA FRIZZO, Débora Faculdades FTEC deborafrizzo@ftec.com.br MUNHOZ, Luis Paulo Soares Faculdades FTEC munhozftec@gmail.com Resumo Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: Não contou com financiamento Este trabalho consiste do relato de uma experiência de ensino ocorrida nos cursos de graduação tecnológica da Faculdade Ftec Bento Gonçalves/ RS, cujo objetivo foi propiciar aos alunos dos cursos tecnológicos uma aprendizagem que fosse além do mero entendimento teórico dos conceitos relativos à gestão. A graduação tecnológica caracteriza-se por ser focada na atuação profissional do aluno e é voltada para a capacitação do mesmo para o mercado de trabalho. Neste contexto, o desafio dos docentes é oportunizar experiências de aprendizagem que desenvolvam, eficazmente, as competências exigidas pelo mercado de trabalho atual, cada vez mais dinâmico e complexo. A partir deste desafio, elegeu-se como metodologia de ensino, a prática da consultoria. Uma turma de alunos exerceu o papel de clientes e, outras turmas, o papel de consultores. Os clientes foram os alunos da disciplina de Business Plans do curso de Processos Gerenciais. Nesta disciplina os alunos devem elaborar um Plano de Negócios, ou seja, montar e elaborar um empreendimento. Para tal, contaram com o auxílio dos alunos do Curso de Gestão da Qualidade, Gestão de Recursos Humanos e Análise e Desenvolvimento de Sistemas, que atuaram como consultores nas suas respectivas áreas. Interagindo ao longo do semestre no exercício destes papéis, com a constante supervisão dos professores, os alunos se apropriaram de conceitos teóricos relativos a várias disciplinas e desenvolveram habilidades comportamentais importantes para sua futura atuação no mercado de trabalho. Além disso, esta experiência propiciou uma maior integração entre acadêmicos dos diferentes cursos da instituição e o aprendizado do trabalho multidisciplinar. Palavras-chave: Graduação tecnológica. Consultoria. Didática. Introdução Este trabalho é um relato de uma experiência de ensino ocorrida no contexto da formação superior tecnológica. Os Cursos Superiores Tecnológicos, cuja duração é de 2 anos,

3752 possuem como foco a aprendizagem para o mercado de trabalho e tem como objetivo formar profissionais aptos a coordenar e realizar atividades pertinentes a função gestora, no mercado de trabalho do setor produtivo, comercial e de prestação de serviços. Este mercado, na atualidade e em virtude de todas as transformações sociais políticas, culturais e tecnológicas do mundo moderno, exige, cada vez mais, flexibilidade, excelência e competitividade dos seus gestores. Cada vez mais os profissionais são requisitados a apresentar, no desempenho de suas tarefas, múltiplas competências, tanto técnicas como comportamentais. O foco dos Cursos Superiores é, portanto, oferecer aos alunos as ferramentas conceituais indispensáveis para sua capacitação e adaptação a este cenário. Os alunos dos Cursos Superiores de Tecnologia, em sua maioria, já estão inseridos no mercado de trabalho e vêem ao curso buscando aprender sobre a resolução de problemas que enfrentam em seu cotidiano e, também, o aprimoramento de suas competências e habilidades para o trabalho. Então, a questão norteadora da experiência aqui relata foi: qual a metodologia de ensino mais eficaz para dar conta desta proposta de ensino do curso tecnológico? Este questionamento nasceu da convicção de que através das tradicionais metodologias de ensino não é mais possível alcançar os objetivos da educação tecnológica que, para ensinar a fazer, necessita lançar mão de outras metodologias de ensino além das tradicionais. As abordagens instrucionistas, calcadas na idéia de que os conhecimentos e valores são transmitidos pelo professor, que é o centro do processo, são incompatíveis com a proposta construtivista do ensino tecnológico, segundo a qual o aluno deve aprender a aprender e aprender a fazer. No ensino tecnológico, o aluno assume um papel ativo, de autor do seu processo de aprendizagem (Gadotti, 1995). A busca por respostas a esta questão norteadora passou por duas vertentes teóricas: o que e como devemos ensinar e qual o cenário onde estes alunos irão atuar. Como referem Del Prette & Del Prette (2003) é desejável que a formação de terceiro grau tenha como escopo, respeitadas as especificidades dos diferentes cursos, pelo menos três classes gerais de capacitação: a capacidade analítica: conjunto de habilidades cognitivas e meta-cognitivas que implicam o raciocínio, o pensamento crítico, o domínio de conhecimentos teóricos específicos a um determinado campo e áreas afins, bem como habilidade de lidar com a automotivação para aprender, resolver problemas e tomar decisões, procurar e organizar informações; a capacidade instrumental: domínio das técnicas específicas que caracterizam o exercício da atividade profissional, incluindo as habilidades de produção de conhecimento na área, por exemplo, a experimentação; e a competência social: conjunto de

3753 desempenhos sociais que atende às diferentes demandas próprias dos vários contextos de trabalho, embora não circunscritas a estes. Paralelo a esta questão do desenvolvimento destas habilidades, existem, ainda, os preceitos da andragogia. O perfil dos alunos dos cursos tecnológicos é o de alunos em idade adulta, que já possuem uma trajetória pessoal e profissional que deve ser levada em conta no momento da aprendizagem. A aprendizagem experencial, por exemplo, é um dos preceitos da andragogia (QUINTAS, 2008), uma vez que pressupõe que a bagagem experencial do aluno é levada em conta no processo educativo e que este processo vai além da mera educação teórica. É o viver o que está sendo aprendido, para saber e saber fazer. Além destas questões, as características do cenário onde os alunos dos cursos tecnológicos irão atuar como profissionais também devem ser levadas em conta. No campo da gestão, uma tendência atual e forte é a da consultoria. Conforme relatam Donadone & Sznelwar (2004), a partir da década de 90, diante dos movimentos de reorganização das empresas, as consultorias, que contemplam os vários setores das empresas, ganham espaço no mundo da administração. Os consultores surgem como vetores de difusão e implantação de formas de gestão mais ágeis, com sua capacidade de produzir e difundir conhecimentos e implementar mudanças organizacionais. Logo, cabe a um curso tecnológico desenvolver competências para que seus alunos possam atuar como futuros consultores. De acordo com Leite (2006), a consultoria tem sido o modelo encontrado pelas organizações em resposta às necessidades do processo evolutivo da administração. Trata-se de um novo recurso que contribui para a mudança, para a criação de um olhar novo sobre a organização e adquire, cada vez mais, um papel educativo e estratégico dentro das empresas. A consultoria tem sido encarada como uma ferramenta de mudança organizacional diante das complexidades e velocidades dos cenários contemporâneos nos quais as diferentes organizações estão inseridas. Logo, cabe a um curso de formação de tecnólogos profissionais voltados essencialmente para o saber fazer nas organizações oportunizar aos seus alunos a experiência teórica e vivencial desta importante ferramenta de gestão, de modo que estes possam implantá-la efetivamente quando da sua inserção no mercado profissional. Tendo como embasamento tais considerações, as coordenações dos cursos tecnológicos da área de gestão da Faculdade Ftec - Bento Gonçalves reuniram-se e elaboraram o Projeto Integrador dos Cursos Tecnológicos. O Projeto Integrador

3754 O Projeto Integrador foi elaborado com o objetivo de promover a interação e a integração entre os alunos e os professores das unidades curriculares dos cursos tecnológicos, além de proporcionar uma experiência de construção coletiva do conhecimento e estimuladora do desenvolvimento de competências profissionais fundamentais para os futuros gestores. Através dele pretendeu-se, também, criar processos dinâmicos para a condução das aulas e oportunizar momentos de aprendizado experenciais e criativos. O Projeto Integrador agrega uma série de atividades baseadas no seguinte foco: de um lado, alunos desempenhando o papel de empreendedores, que estão constituindo uma empresa; de outro, alunos que desempenham o papel de consultores, de diferentes áreas, que assessoram os alunos empreendedores, estabelecendo-se entre eles uma parceria de prestação de serviços consultoria. A partir das necessidades emergentes do processo de criação da uma empresa (pelos alunos empreendedores), os alunos consultores devem criar e oferecer soluções inéditas e específicas nas suas áreas de atuação. Para a implantação do Projeto, dois processos foram considerados fundamentais, a comunicação entre os participantes e o acompanhamento por parte do corpo docente: - Comunicação entre professores e alunos intra-disciplina: este processo de comunicação iniciou o processo. No início do semestre, em cada disciplina participante, o professor propôs o projeto integrador e estabeleceu os pontos de controle e o sistema de motivação; - Comunicação entre os professores das várias disciplinas participantes: este processo de comunicação propiciou o início da comunicação entre os grupos de alunos das disciplinas. O professor da disciplina Business Plans iniciou o processo, passando aos professores das demais disciplinas, os requisitos iniciais das empresas a serem desenvolvidas, ou seja, um modelo do Plano de Negócios; - Comunicação entre os grupos de alunos inter-disciplinas: após o contato entre os professores, os grupos de alunos definiram quais grupos de consultores iriam prestar serviços para quais clientes e iniciou-se um processo de comunicação, presencial e virtual (emails, ambiente de aprendizagem virtual da faculdade, sites de relacionamentos) entre estes grupos, visando a prestação da consultoria e a criação de uma relação cliente/fornecedor e fornecedor/cliente. - Processo de acompanhamento e controle: durante o desenvolvimento do projeto, houve um sistemático acompanhamento da comunicação entre os grupos inter-disciplinas.

3755 Este processo foi tarefa dos professores das disciplinas, que receberam do professor de Business Plans relatórios do andamento dos trabalhos dos grupos. Os professores das unidades curriculares participantes incluíram em seus planos de ensino as atividades do Projeto, estabelecendo-o como um item de avaliação, bem como forneceram suporte aos alunos, através de supervisões semanais. Participaram do Projeto o Curso de Processos Gerenciais, que trabalha com a criação de Planos de Negócios na disciplina Business Plans. Os alunos desta disciplina desempenharam o papel de clientes. No papel de consultores estavam alunos de várias disciplinas de outros cursos, ou seja, existiram consultores de várias especialidades: gestão de pessoas, gestão da qualidade e TI. O Projeto Integrador teve seu desenvolvimento ao longo do primeiro semestre de 2009, sendo concluído no final do mês de junho. Participaram diretamente do Projeto 05 docentes e 68 alunos, sendo 22 alunos como clientes e 46 alunos como consultores das áreas de recursos humanos, tecnologia da informação e qualidade. No final do semestre aconteceu a entrega dos produtos/serviços pelos consultores nos prazos estabelecidos. Ao final, os produtos entregues pelos alunos clientes e consultores foram: Na disciplina de Business Plans, um Plano de Negócios; Na disciplina Programação WEB, a estrutura de um site; Na disciplina Redes de Computador, a estrutura de uma rede; Na disciplina Modelos Avançados em RH, um planejamento de recursos humanos; Na disciplina Projetos em Qualidade, um projeto de gestão da qualidade. Em cada disciplina foi realizada uma avaliação de todo este processo. Esta avaliação teve vários momentos: a avaliação na respectiva disciplina do aluno, uma avaliação entre os grupos e uma auto-avaliação dos professores das disciplinas participantes. O objetivo destes momentos avaliativos não foi somente atribuir uma nota quantitativa aos alunos, mas sim,estabelecer feedbacks recíprocos de modo a mapear a atividade para aprimorá-la. Tendo em vista os objetivos do projeto integrador - interação e integração entre os alunos e os professores das unidades curriculares dos cursos tecnológicos, construção coletiva do conhecimento e desenvolvimento de competências profissionais fundamentais para futuros gestores, foram levantados aspectos positivos e aspectos a serem melhorados para o próximo semestre.

3756 Dentre os aspectos a serem melhorados, destacou-se a interação e integração entre os grupos de clientes e consultores, que poderia ter sido mais intensa desde o início do semestre. A busca por soluções, pelos alunos-clientes, e a preocupação em fornecê-las, pelos alunosconsultores, intensificou-se na medida em que o semestre avançou, sendo necessária a constante estimulação e motivação dos docentes. Este é o aspecto mais relevante a ser aprimorado e acredita-se que sua origem esteja na novidade da metodologia utilizada. Talvez os alunos continuem esperando aulas tradicionais, nas quais o discente recebe passivamente um conhecimento pronto e inquestionável vindo do professor. Uma metodologia diferente, que os lança para algo novo, exige uma nova atitude que ainda precisa ser aprendida, e este parece ser justamente um dos pontos mais positivos da experiência desconstruir um papel tradicional de ensino e aprendizagem e reconstruir criativamente outro. Como refere De Masi (2000), esta criatividade e inovação deve perpassar a pedagogia dos nossos tempos. Por outro lado, em termos de desenvolvimento de competências profissionais nos alunos, a avaliação do projeto foi extremamente positiva. As demandas que a atividade apresentou aos alunos-clientes e aos alunos-consultores instigaram os mesmos a estudarem, buscarem conhecimentos teóricos (sala de aula e extra-classe), buscarem no mercado experiências reais bem sucedidas e integrar todas estas fontes, construindo um novo conhecimento. Como diz Setzer (1999), desenvolveram-se competências, que significam integrar dados, informações e transformá-las em algo real, em uma solução para o mundo real. Neste sentido, o projeto alcançou seus objetivos. A experiência de construir um conhecimento compartilhado, convivendo com colegas de diferentes especialidades, com jeitos de ser diferentes e necessitando alcançar um objetivo em comum, exigiu dos alunos o desempenho de diferentes habilidades sociais (comunicação, assertividade, auto-controle, auto-disciplina). Estas habilidades são fundamentais no repertório comportamental do profissional para que ele seja socialmente competente no mundo do trabalho (Del Prette & Del Prette, 2008). Considerações Finais A experiência, relatada neste trabalho, de utilizar o modelo de consultoria como uma estratégia de ensino que promove o desenvolvimento de competências pessoais e profissionais mostrou-se eficaz e uma alternativa viável para a dinamização de aulas. Souza (2009), ao revisar o que autores propõem sobre o papel do aluno no século XXI, refere que o mesmo deve se apropriar do seu processo de aprendizagem. Ele deve ser considerado e tratado como

3757 um ser ativo, com uma bagagem vivencial que deve ser considerada. A experiência aqui relatada procurou ir ao encontro desta proposta. Com as atividades do projeto integrador a sala-de-aula se transformou num espaço que simula a realidade (no caso em tela, o mercado de trabalho) e propicia uma aprendizagem muito além da teórica. É uma experiência que, por outro lado, exige que o corpo docente, ultrapasse o papel tradicional de transmissor de informações. O papel do professor inclui acompanhamento constante dos discentes, estimulação dos mesmos, criatividade, envolvimento e avaliação constante do processo. Além disso, inclui respeito pela inovação e criatividade do aluno, pelo seu potencial criador. Por outro lado, de acordo com a percepção dos docentes participantes, os objetivos de promover o aprendizado de competências importantes para a formação profissional foram atingidos. A experiência aqui relatada não foi perfeita, obviamente. Por sua especificidade, também não se propõe a generalizações, não tem como objetivo servir de um modelo a ser copiado, até porque a proposta desta metodologia é justamente a de que não existem modelos prontos para nada, deve-se sim aprender a criar. Trata-se apenas de uma experiência que pode ser inspiradora para outros docentes, de outras instituições, para que os mesmos possam criar práticas adequadas às suas especificidades e necessidades. REFERÊNCIAS DEL PRETTE, A & DEL PRETTE, Z. A. P. No contexto da travessia para o ambiente de trabalho: treinamento de habilidades sociais com universitários. Estudos em Psicologia, v.8, n.3, p. 413-420, 2003. DEL PRETTE, A & DEL PRETTE, Z. A. P. Psicologia das relações interpessoais. Rio de Janeiro, Vozes, 2008. DE MASI, D. O ócio criativo. Rio de Janeiro, Sextante, 2000. DONADONE, J. C. & SZNELWAR. Dinâmica organizacional, crescimento das consultorias e mudanças nos contextos gerenciais nos anos 90. Revista Produção, v.14, n.2, p. 59-69, 2004. GADOTTI, M. História das idéias pedagógicas. São Paulo: Ática, 1995. LEITE, L.A.M.C., CARVALHO, I.V., OLIVEIRA, J.L.C.R. & ROHM, R. H. D. Consultoria em gestão de pessoas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. QUINTAS, H.L.M. Educação de Adultos: vida no currículo e currículo na vida. Agência Nacional para a Qualificação, I.P.1ª edição, Agosto 2008.

3758 QUINTAS, H.L.M. Educação de Adultos: vida no currículo e currículo na vida. Agência Nacional para a Qualificação, I.P.1ª edição, Agosto 2008. SETZER, V. W. Dado, informação, conhecimento e competência. Edição traduzida e ampliada da versão 6 em inglês, de 17 de fevereiro de 1999, publicada em DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação - n. zero dez/99 ARTIGO 01, disponível em http://www.dgz.org.br/dez99/f_i_art.htm. SOUZA, K. S. M. O sujeito da educação superior: subjetividade e cultura. Psicologia em estudo, v.14, n.1, p. 129-135, 2009.