2º CONGRESSO DA CIP E DAS ATIVIDADES ECONÓMICAS 4º PAINEL: AS NOVAS FORMAS DE FINANCIAMENTO DA ECONOMIA - CONCLUSÕES - A CIP reconhece que a nossa economia atingiu um nível de alavancagem excessivo que induziu um modelo de crescimento insustentável a prazo. Neste contexto, reconhece-se ter sido inevitável que um movimento de ajustamento e reequilíbrio tivesse passado por um esforço difícil e complexo de redução do endividamento, transversal a toda a Economia e por isso abrangendo o Estado, as Famílias e as Empresas. O que se considera é que se processam de forma demasiado rápida e descoordenada. Na nossa economia, a compreensão dos problemas de financiamento que, muito especialmente, afetam muitas das nossas PME s, passa por ter presente o ajustamento que o Programa da Troika veio impor. Como resultado o movimento de desalavancagem imposto aos Bancos teve um impacto muito profundo e complexo, quer sobre a atividade económica, quer sobre o Mercado de Crédito. Levou à redução rápida do financiamento do Setor Imobiliário e de Construção e induziu a travagem dos fluxos de crédito à generalidade das PME s. O colapso do Grupo Espírito Santo e a criação do Novo Banco vieram, neste contexto, agravar os problemas que afetam o nosso Sistema Financeiro e que estão a contribuir para travar o relançamento da atividade económica. Dada a tradicional penetração do BES no segmento das PME s, esta situação afetou muito negativamente um número apreciável destas empresas, em particular exportadoras. À luz destas dificuldades, considera-se que é crucial lançar um movimento de reorganização do nosso Sistema Financeiro, dotando este com instituições e intermediários financeiros que assegurem uma oferta diversificada de soluções de financiamento para investidores, consumidores e aforradores. Em particular e pelas razões que foram amplamente discutidas e demonstradas neste Congresso, esta questão assume uma importância crucial no caso das PME s. 1
Para além da importância do financiamento no relançamento da atividade económica e na criação de emprego, acresce que a redução do peso do crédito bancário no balanço e na estrutura financeira das PME s e a sua substituição por financiamentos de maior estabilidade ou com a natureza de quase-capital é crucial em qualquer movimento de modernização do nosso Tecido Produtivo. Acresce, naturalmente, a importância que assume o reforço dos Capitais Próprios na maioria das PME s portuguesas, fortemente subcapitalizadas. Dado o papel estratégico das PME s em termos de emprego e de contributo para o PIB considera-se que o Estado deveria lançar um Programa articulado, dirigido a uma reorganização profunda do quadro em que estas Empresas tradicionalmente se financiam. Este Programa deve ser integrado por dois tipos de ações: por um lado, deve passar pela mobilização dos instrumentos de que já dispõe, utilizando de forma mais intensa o Grupo Financeiro Público no financiamento das PME s. Por outro lado, deve configurar a nova Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD) como um instrumento dinamizador e coordenador de um processo de diversificação das fontes de financiamento e dos instrumentos à disposição das Empresas e, com particular incidência, das PME s. Quanto àquela, considera-se que, no quadro atual, o seu lançamento fora do Grupo Financeiro Público só faz sentido se colocar no centro das suas preocupações e atuação o apoio à implantação e ao lançamento de novos instrumentos de financiamento das PME s. Neste contexto, considera-se que esta deve privilegiar, na utilização dos seus recursos financeiros e técnicos, ações dirigidas: a uma adequada utilização do Capital de Risco e do Sistema de Garantia Mútua; ao apoio ao desenvolvimento de mercados especializados de financiamento de PME s papel comercial, emissão e colocação, tanto de instrumentos de dívida de médio e longo prazos, como de quase-capital e de capital; ao apoio e à articulação com entidades especializadas na tomada de participações e no lançamento de operações de redimensionamento e de reorganização de Empresas; Para além de, sempre que possível, coordenar a sua ação com o Grupo Financeiro Público, a nova Instituição deve articula-la com o Mercado de Capitais e com os Fundos Especializados que estão a assumir uma importância crescente nomeadamente no segmento das PME s. 2
Considera-se, ainda, que a dependência das PME s do Financiamento Bancário tem contribuído a par de um Regime Fiscal inadequado para perpetuar um Tecido Produtivo integrado por pequenas empresas, suportadas e dependentes de estruturas financeiras desequilibradas e vulneráveis. Neste contexto, acredita-se que um movimento de diversificação das fontes e dos instrumentos de financiamento, a par de um adequado ajustamento do quadro fiscal, poderá contribuir para a recapitalização das empresas, estimulando o aparecimento gradual de PME s mais robustas e competitivas. As nossas empresas beneficiariam largamente de níveis de capitalização mais elevados, o que alavancaria as suas possibilidades de investimento e crescimento, permitindo também acomodar mais endividamento e custos de financiamento a nível mais competitivo. Acresce que o desenvolvimento de um Mercado Especializado no financiamento de PME s pressupõe a crescente utilização de técnicas de rating e de scoring, capazes de agrupar estas empresas em classes de Risco, permitindo a emissão de fundos de dívida grupados de PME s. Deste modo, seriam atraídos para este mercado novos investidores, permitindo a criação de condições para a sua integração no movimento mais vasto de desenvolvimento de um Mercado de Capitais integrado, a nível da Zona Euro. 1. Propostas Enquadramento jurídico regulatório do Mercado de Capitais - ajustamento do regime de emissão e listagem em Mercados de Instrumentos de financiamento permanentes (obrigações e ações); - apoio do Sistema Nacional de Garantia Mútua à emissão de obrigações; - apoio do Sistema Nacional de Garantia Mútua a um Fundo de Investimento em obrigações de PME s; - dinamização de um Fundo de Investimento em aumentos de capital a cotar em Mercado de PME s; - utilização dos Fundos de Capitalização dos Bancos (intervencionados pelo Estado) no lançamento dos Fundos de Obrigações e de Ações; 3
- criação de mecanismos (eventualmente mutualizados) de prestação de serviços de rating e de research para PME s. - promoção de parcerias com Instituições Financeiras estrangeiras, especializadas em financiamentos alternativos a PME s; - lançamento de um programa de informação e de apoio a Empresários, relativos a fontes alternativas de financiamento (com o apoio do Portugal 2020). Enquadramento Fiscal - alteração do regime da fiscalidade (IRC) aplicável aos Fundos Próprios versus Fundos Alheios; - majoração fiscal do custo das operações de capitalização em sede de IRC; - incentivos à poupança de médio e longo prazos, em instrumentos de capitalização ou de financiamento de longo prazo, em sede de IRS. - revisão da fiscalidade dos Fundos e das Sociedades de Investimento (em particular dos REIT); - revisão do Imposto de Selo nas operações de valores mobiliários. 2. Objetivos Face ao contexto descrito, propõe-se que sejam adoptados objectivos concretos de evolução desta situação, e que sejam estabelecidas algumas metas para o horizonte 2020, de forma a permitir a sua monitorização. Estas metas devem centrar-se em dois grandes vectores: Incentivar um melhor equilíbrio da estrutura financeira das empresas, reforçando a sua capitalização; Diversificar as fontes de financiamento, nomeadamente de capitais permanentes. Neste contexto, propõem-se os seguintes objetivos: 4
1. Promover um aumento relevante do rácio ponderado de autonomia financeira das empresas portuguesas que, atualmente, é de cerca de 30%, para, pelo menos, 40%; 2. Criar condições para conseguir incrementar o número de empresas que aumentam o seu capital através da Bolsa, atingindo uma capitalização bolsista de 70 % do PIB; 3. Aumentar significativamente o número de empresas emitentes de obrigações cotadas, que atualmente são apenas em número de 14; 4. Alargar as opções de financiamento às PME e empresas de dimensão intermédia, nomeadamente através do fomento de fundos de investimento especializados em instrumentos de capital e dívida de médio e longo prazo. Lisboa, 9 de Julho de 2015 5