INTRODUÇÃO Problema e questões de investigação

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Transcrição:

INTRODUÇÃO Problema e questões de investigação No final do século XX e início do século XXI discute-se ao nível dos sistemas educativos as formas e as modalidades de avaliação que poderão servir para melhorar o desempenho e a aprendizagem dos alunos (Allal, 1986; Abrecht, 1991; Perrenoud, 1999, 2004; Shepard, 2001). Vários estudos internacionais evidenciam que os alunos manifestam desempenhos diferentes ao nível da matemática, o que se pode atribuir às diferentes culturas de avaliação em que os sistemas educativos estão organizados. Uns baseiam-se na premissa de que a função avaliativa é a de classificar e certificar. Outros desenvolveram uma cultura de melhorar as aprendizagens, ajudarem os alunos a superarem as suas dificuldades, ou seja colocar a ênfase na melhoria e regulação do processo de ensino e aprendizagem. No domínio da avaliação reguladora, em que a avaliação deve contribuir para que os alunos desenvolvam as suas competências, se tornem autónomos, responsáveis e organizadores da sua própria aprendizagem, é necessário conhecer os processos que servem para melhorar as aprendizagens dos alunos e proporcionar uma participação activa dos mesmos. O estudo dos processos que os alunos, do ensino secundário, usam como forma de dar resposta às dificuldades, obstáculos e aos raciocínios erróneos com que se confrontam nas investigações matemáticas constitui o principal objectivo desta investigação. Assim, pretende-se dar a conhecer os processos de interpretação, os processos de desenvolvimento, os recursos, a função dos erros e a reflexão que os alunos do ensino secundário desenvolvem quando se confrontam com investigações matemáticas, num contexto de sala de aula. Para contribuir para o conhecimento desta temática procura-se responder às seguintes questões: - Qual o tipo de processos que o aluno desenvolve quando se confronta com uma investigação matemática? - Qual o tipo de recursos que o aluno procura quando sente dificuldades e como os usa? - Qual a função atribuída aos erros na concretização da tarefa? - De que modo o aluno reflecte sobre o processo desenvolvido e reorienta o seu trabalho com vista ao sucesso?

Acredita-se que a resposta a estas questões sugere o conhecimento dos processos de êxito para os alunos numa actividade de investigação matemática. O confronto entre a necessidade de responder a uma solicitação e a consciencialização de que é necessário desenvolver mecanismos de procura de resposta, promove a aprendizagem através da auto-avaliação e faz emergir a compreensão de conhecimentos e capacidades. No processo de investigação, o aluno depara-se com vários momentos em que é necessário reflectir e avaliar os níveis de concretização de um trabalho e buscar os recursos necessários à sua progressão. Quando esta intervenção ocorre no contexto da sala de aula, em investigações matemáticas, também é de acreditar que os alunos se dotam se um método de avaliação pronto a ser aplicado em qualquer momento do processo de aprendizagem. A avaliação reguladora permite que os alunos tomem consciência do ponto em que se encontram, dos resultados que terão de alcançar e das aprendizagens que terão de desenvolver para os atingir. Este estudo contribui, também, para o conhecimento sobre a harmonização entre a avaliação e o ensino, o que constitui um dos grandes desafios à comunidade de educação matemática para o século XXI. Segundo Santos (2004) existe ainda um grande fosso entre aquilo que são as orientações curriculares e os indicadores de que se dispõe sobre as práticas dos professores. A avaliação enquanto parte integrante do currículo ainda não parece ser uma realidade generalizada em Portugal. Este objectivo tem inúmeras vantagens para o processo de ensino e aprendizagem, especialmente quando se considera que a avaliação pode servir para que os professores aprendam sobre o que os alunos compreendem e o que podem fazer (Abrantes & Leal, 1991; Black & Wiliam, 1998; Bonniol, 1989; Hadji, 1994; Jorro, 2000; NCTM, 1999; Sadler, 1998; Shepard, 2001; Webb & Coxford, 1993). Pertinência e significado da investigação A integração da avaliação no processo de ensino e aprendizagem tem vindo a ganhar maior visibilidade nos documentos institucionais nos últimos anos (Ministério da Educação, 1991, 1997, 2001). Os programas de Matemática têm evoluído no sentido de considerar que os objectivos da aprendizagem incluem não só conhecimentos que os alunos adquirem, mas também as capacidades e as atitudes que desenvolvem. Também é evidente a crescente valorização da avaliação formativa, salientada quando se pretende

incluir no processo de aprendizagem aspectos como a resolução de problemas ou a comunicação: A avaliação consiste no processo regulador das aprendizagens, orientador do percurso escolar e certificador das diversas aquisições realizadas pelos alunos (Ministério da Educação, 2004, p.1934) Pretende-se que a avaliação em Matemática não se restrinja a avaliar o produto final mas também o processo de aprendizagem e permita que o estudante seja um elemento activo, reflexivo e responsável pela sua aprendizagem (Ministério da Educação, 2001, p.13) Em particular recomendamos fortemente que em cada período um dos elementos de avaliação seja obrigatoriamente uma redacção matemática (sob a forma de resolução de problemas, demonstrações, composição/reflexões, projectos, relatórios, notas e reflexões históricas, etc.) que reforce a importante componente da comunicação matemática. (Ministério da Educação, 1997, p.13) Através destas alterações institucionais promove-se a melhoria do processo de ensino e aprendizagem através da criação de oportunidades para que o aluno seja responsabilizado pela sua participação activa, melhore a sua motivação e auto-estima, tome consciência do que sabe, procure respostas e partilhe o que compreende e como o faz. Implemente uma avaliação reguladora das aprendizagens. A avaliação reguladora fornece ao professor e aos alunos o nível de concretização das aprendizagens e o que é necessário fazer para corrigi-las ou melhorálas. Permite conhecer os saberes, as capacidades e as atitudes, fazendo o ponto da situação e tornando conscientes as diferenças entre os desempenhos dos alunos e as exigências do sistema educativo, para que se possam aproximar. Levar à prática a concretização da avaliação reguladora, passa por ajustar de forma mais sistemática e individualizada as intervenções do professor e as situações didácticas, de forma a rentabilizar as aprendizagens (Bonniol, 1989; Nunziati, 1990; Perrenoud, 1998, 1999). Isto exige que a avaliação usada durante o processo de ensino e aprendizagem seja orientada para a regulação, na assumpção que todos os alunos aprendem, embora de uma forma diferenciada (Perrenoud, 1986; Hadji, 1994; Rafael, 1998). Este modelo pressupõe a recolha de informação sobre os progressos e dificuldades, a interpretação e o diagnóstico dos factores que estão na origem das dificuldades e a adaptação das actividades de ensino e aprendizagem de acordo com a interpretação das informações recolhidas (Allal, 1986; Abrecht, 1991; Machado, 1998).

No entanto, é de referir que a avaliação realizada pelo aluno, a auto-avaliação, é um conjunto de operações metacognitivas do sujeito onde este toma consciência dos diferentes momentos da sua actividade cognitiva e possibilita o seu desenvolvimento como sujeito autónomo, crítico e interveniente. O conhecimento dos diversos processos que os alunos usam na interpretação e desenvolvimento de investigações matemáticas, os recursos que procuram quando sentem dificuldades, a função que atribuem aos raciocínios erróneos e como reflectem sobre o processo investigativo e reorientam o seu trabalho com vista ao sucesso facilita a adopção de uma atitude de avaliação reguladora, uma vez que pode ser melhorada a compreensão das atitudes dos alunos, a interacção e consequentemente a actuação do professor (Perrenoud, 1988). Nas investigações matemáticas, os alunos têm oportunidade de se envolverem em tarefas matemáticas de forma diferenciada e mais profunda (Fonseca, 2000), de desenvolverem a capacidade de reflexão (Mendes, 1997) e de comunicação (Rocha, 2002a), de construírem estruturas do conhecimento matemático (Costa, 2002), de compreenderem o que é uma investigação e o papel que lhes cabe ao assumir essa actividade (Ponte, 2003), de alterarem as suas concepções acerca da matemática (Segurado, 1997) e de aprenderem matemática a fazer matemática (Santos et al., 2002). No seio da actividade investigativa, o aluno tem oportunidade de experimentar processos que, através das interacções com o professor, com os seus colegas e outros recursos, permitem identificar formas de ultrapassar dificuldades, obstáculos e raciocínios erróneos (Abrecht, 1991). Não se trata apenas de solicitar aos alunos que dêem resposta a uma proposta de trabalho, procura-se que os alunos aprendam fazendo e também reflectindo sobre o que fazem. Segundo Allal (1986), a avaliação formativa é uma alternativa que pode ocorrer em diferentes momentos do processo de ensino e aprendizagem. Pode verificar-se no início de uma tarefa ou de uma situação didáctica, ao longo do processo de aprendizagem ou após uma sequência de aprendizagens. No entanto, é necessário implementar a harmonização entre a avaliação e o ensino. Os princípios da regulação das aprendizagens, da comunicação, da coerência de objectivos, metodologias e avaliação (Abrantes & Leal, 1991) não têm sido transpostos para o processo de ensino e aprendizagem dos alunos do ensino secundário. Entre as justificações encontradas pode referir-se a sujeição à pressão que a realização de exames nacionais causa nos professores, no que respeita ao cumprimento dos conteúdos a tratar em cada período (Varandas, 2000, p.230). A continuação do elemento

certificador, concretizado através da realização de exames nacionais com efeitos na progressão dos alunos no sistema educativo, é discutida ao nível dos educadores matemáticos e da mediatização social que é dada à matemática (Rosales, 1984; Guerra, 1995; Barbosa, 1996; Leal, 1997; Perrenoud, 2001; Méndez, 2001; Casanova, 2002). A minha inquietude acerca dos processos, recursos, erros e dificuldades com que os alunos se confrontam no processo de aprendizagem e das consequências que as mesmas têm para o seu percurso escolar, levaram-me a reflectir sobre a avaliação em matemática no ensino secundário e a procurar aprofundar os meus conhecimentos acerca desta problemática. Ao questionar a minha prática, como professor do ensino secundário, levou-me a procurar explicações e a reflectir sobre a natureza dos problemas para compreender e mudar (Ponte, 2002a). A minha necessidade de mudança advém de incluir na avaliação os progressos que verifico nos alunos, ao nível das aprendizagens, a compreensão das dificuldades e dos raciocínios erróneos com que os alunos se confrontam e a valorização dos conhecimentos, capacidades e atitudes transversais que os alunos adquirem ao longo do seu percurso escolar. O problema de investigação deste estudo, o tipo de processos desenvolvidos pelos alunos que podem contribuir para ajudá-los a ultrapassar dificuldades, obstáculos e raciocínios erróneos num contexto de actividade de investigação, resultou da tomada de consciência de que era necessário aprofundar o meu conhecimento sobre os dilemas que enfrento e, também, de compreender a sua natureza. Em suma, esta investigação procura contribuir para um maior conhecimento da problemática da integração da avaliação e do currículo e poderá contribuir para aumentar o conhecimento dos seguintes aspectos do processo de ensino e aprendizagem: - o papel das interacções estabelecidas dentro da sala de aula, em particular para a harmonização entre ensino, avaliação e aprendizagem; - a relação entre as situações de trabalho com que os alunos se confrontam na sala de aula e a profundidade das aprendizagens desenvolvidas; - o contributo da compreensão sobre os processos usados pelos alunos nas investigações matemáticas no conhecimento que os professores têm da sua profissão e da forma como poderão actuar, e na formação inicial ou contínua de professores; - a mudança de práticas de avaliação, que decorrem da excessiva valorização de instrumentos tradicionais de recolha de resultados, nomeadamente testes e exames, em direcção à valorização dos processos e da diversidade;

- na procura de formas de valorizar o papel do aluno no processo de ensino e aprendizagem e na sua avaliação, desenvolvendo a sua autonomia e a sua capacidade investigativa. Organização e apresentação da investigação Este trabalho de investigação está organizado em nove capítulos. O primeiro e segundo capítulos dizem respeito à revisão de literatura. No primeiro é revista a problemática da avaliação das aprendizagens, a avaliação no ensino secundário e a avaliação formativa nos aspectos que do meu ponto de vista contribuem para a fundamentação teórica deste trabalho. No segundo capítulo é revista a pertinência das investigações matemáticas na sala de aula, através dos aspectos que favorecem o desenvolvimento da avaliação reguladora. No terceiro capítulo são apresentadas as opções metodológicas que levaram à concretização deste trabalho. Para além do método de investigação, dos participantes e dos instrumentos de recolha de dados, inclui-se a discussão sobre o desenvolvimento deste trabalho num contexto de reflexão sobre a minha prática. No quarto capítulo são descritas as experiências de aprendizagem em que os alunos participantes estiveram envolvidos, nomeadamente as tarefas e a sua implementação, assim como o desenvolvimento da actividade de investigação. Do quinto ao oitavo capítulo apresentam-se os estudos de caso. Neles são referidas as perspectivas dos alunos face ao ensino e à aprendizagem e os resultados da sua actividade de investigação. Os quatro capítulos sucedem-se, um por cada aluno, sendo que os alunos são apresentados por ordem alfabética dos nomes próprios que lhes foram atribuídos. Finalmente, no nono capítulo é feita a apresentação e discussão dos resultados, procedendo-se a uma categorização dos processos de interpretação, dos processos de desenvolvimento, dos recursos, das funções do erro e da reflexão sobre as investigações matemáticas procurando-se, deste modo, responder às questões que orientaram este estudo. Ainda, no último capítulo, é realizada uma reflexão final sobre este trabalho de investigação e são incluídas recomendações no âmbito da investigação em educação matemática.