FILME: OS CROODS UMA AVENTURA DAS CAVERNAS. Análise fundamentada pelas teorias da Psicologia Cognitivo-Comportamental



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UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ UNOCHAPECÓ ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E JURÍDICAS CURSO DE PSICOLOGIA COMPONENTE CURRICULAR: FUNDAMENTOS DA TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL PROFESSORA: TATYANA ELISAN BONAMIGO MAZZIONI ACADÊMICA: JÚLIA GERHARDT FILME: OS CROODS UMA AVENTURA DAS CAVERNAS Análise fundamentada pelas teorias da Psicologia Cognitivo-Comportamental O filme Os Croods: Uma aventura das cavernas (2013) conta a história de um clã sobrevivente composto por uma família de seis membros: o pai e chefe protetor da família, Grug, a mãe e esposa, Ugga, a avó anciã, a curiosa filha mais velha, Eep, o filho atrapalhado Thunk, e a feroz caçula, Sandy. O filme se passa durante a divisão dos continentes, desfazendo a antiga Pangeia, considerado o fim do mundo pelos personagens. Os Croods que vivem se protegendo de predadores e com medo de tudo ao seu redor, quando têm sua caverna destruída (o único lugar que julgavam seguro) são obrigados a adaptar-se a uma nova realidade, diferente de tudo o que já conheceram. Mas eles contam com a ajuda de Guy, um jovem inteligente e criativo, acostumado a viver sozinho e lidar com as próprias dificuldades de modo inovador e sagaz, em total contraste à Grug, que usa da força e do medo para superproteger sua família. Eep, a filha adolescente de Grug, não tem medo assim como o pai, mas uma enorme curiosidade e sede de aventura. Ela é a primeira a conhecer Guy e ambos identificam-se um com o outro, para o desespero de Grug. Os Croods e Guy embarcam em uma aventura para fugir do suposto fim do mundo, aprendendo que o novo pode ser incrível e não somente ameaçador. Com base nos fundamentos e no olhar baseado na perspectiva da Psicologia Cognitivo-Comportamental, a análise a seguir pretende a descrição e percepção da história, cenas e personagens do filme Os Croods. Em meio ao caráter fantasioso e extraordinário da produção, relevemos os aspectos relacionados à cognição dos personagens quanto à realidade que os cerca, mesmo que não a conheçam totalmente. O patriarca do clã, Grug, ao longo dos anos viu todos os clãs vizinhos serem dizimados por alguma força da natureza: predadores ou doenças. Como expõe

2 Greenberger (1999, p. 27), as experiências provenientes do meio podem moldar fortemente as crenças e estados de humor que colorem nossas vidas. Grug fixou para si a crença no perigo que a natureza e tudo o que é novo representa, ele sente-se ameaçado constantemente, por isso impôs regras à família que limitam a liberdade e obriga todos a viverem em cavernas, lugar este que Grug considera seguro. Uma das frases marcantes e características, dita pelo personagem: Nunca deixe de ter medo. Pereira e Rangé (2011, p.23) explicam, São estas crenças centrais negativas que levam à necessidade da elaboração de regras e pressuposições que auxiliam o indivíduo a lidar com esses autoesquemas negativos. O processamento cognitivo de Grug gera pensamentos disfuncionais que afetam outros processos psicológicos: a expressão das emoções, e comportamento (NETO, 2003, p. 18). Sua crença nuclear é de que o novo é ruim, as crenças intermediárias são que qualquer atividade fora da rotina ou do planejado é perigosa, portanto a curiosidade é perigosa, por isso sente constantemente medo e se comporta de forma hostil e precavida (RANGÉ, 2011, p.26). Esta atitude acaba sendo registrada pelos outros membros da família que armazenam, codificam e rememoram de forma global este pensamento disfuncional. Segundo Greenberger (1999, p.25), nossos pensamentos e comportamentos encontram-se geralmente intimamente relacionados. Em uma situação em que os Croods se deparam com algo novo, o pensamento automático é de que o novo é ruim e perigoso, eles sentem medo e agem de forma agressiva (quebram, lutam, fogem), como, por exemplo, com a concha que Guy deu a Eep para chamalo. Assim funciona o Registro de Pensamento Disfuncional. A filha mais velha, Eep, representa o extremo oposto do que quer o seu pai. Eep não gosta do escuro, de cavernas ou de viver se escondendo, ela acredita que não há mal em viver na luz, procurar outras formas de se relacionar, e acaba questionando as regras do pai. Em um episódio em que Eep desrespeita uma regra ao sair da caverna à noite, é que ela conhece Guy. Diferente de qualquer pessoa que Eep e sua família tenham conhecido ou se relacionado, Guy é um inventor muito criativo e inteligente que chama a atenção de Eep, acaba sendo adorado pela família Crood, mas odiado pelo enciumado Grug. Guy tem uma percepção de mundo, uma cognição da realidade extremamente diferente dos Croods. Uma frase citada por Guy, que ouviu de seus pais: Não se esconda, viva! Siga o sol. É o completo oposto à principal regra dos Croods, de que se esconder é seguro.

3 As regras pintadas na caverna por Guy eram baseadas nas experiências por ele observadas, para preparar sua família, mas para a separação dos continentes (fim do mundo), os Croods não tinham regras que os preparassem. Ao longo do filme, todos os personagens emergem em uma realidade nunca antes conhecida, exceto por Guy, e o perigo e medo do fim do mundo os obriga a se adaptar a esta nova realidade, conhecendo novos perigos, mas também vivendo experiências prazerosas. Tais acontecimentos mudam a forma que os Croods acreditavam ser correta para a sobrevivência (o medo como regente dos pensamentos e do comportamento), eles aprendem que há formas de viver e não somente de sobreviver, que eles podem tirar do meio hostil não somente o alimento, mas novas formas de se relacionar. Muitas crenças e pensamentos disfuncionais são alterados e o ambiente representado em suas mentes também. Segundo a Teoria Representacionista da mente, de Maturana e Varela, o cérebro, ao obter informações sobre o ambiente externo, cria representações deste ambiente na mente (MATURANA; VARELA, 2001, apud NETO, 2003, p.28). Grug, o personagem com as crenças mais rígidas e que apesentou mais resistência à mudança, teve de lidar com estas crenças e modificá-las para mudar também o seu comportamento e se adaptar. Segundo Dobson (2001) mudanças na cognição determinam mudanças no comportamento (DOBSON, 2001, apud, RANGÉ; PEREIRA, 2011, p.22). O filme Os Croods Uma aventura das cavernas, não somente como uma excelente produção, nos permite avaliar diferentes aspectos da relação que é possível estabelecer entre o meio e entre outros contextos. As crenças que uma pessoa pode estabelecer com base em suas experiências, geram os pensamentos e comportamentos com que esta pessoa irá encarar as diversas situações na vida. Apesar de disfuncionais, não são imutáveis. O filme conta uma história fictícia e fantasiosa onde os personagens mudaram sua cognição por si mesmos, mas não levemos ao pé da letra. Qualquer pessoa que passe por tais sofrimentos, com ajuda e acompanhamento psicoterápico pode alterar tais crenças e reconfigurar pensamentos e comportamentos. Tal adaptação é necessária na vida de qualquer pessoa para que tenha uma relação saudável com seu meio, com outras pessoas e consigo mesma. Adaptar-se é ter saúde, não se devem fixar ideias provenientes de experiências desprazerosas e agir somente com base em tais pressupostos. A mudança e adaptação são possíveis e necessárias, construindo pensamentos alternativos por meio do registro de pensamento funcional.

4 Referências BECK, A. T; ALFORD, T. BRAD. O poder integrador da Terapia Cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. GREENBERGER, Dennis; PADESKY, Christine A. A mente vencendo o humor: mude como você se sente, mudando o modo como você pensa. Porto Alegre: Artmed, 1999. NEVES NETO, Armando Ribeiro das (Org.). Psicoterapia cognitivo-comportamental: possibilidades em clínica e saúde. 1. ed. Santo André: ESETec, 2003. 108 p OS CROODS. Direção: Chris Sanders e Kirk De Micco. Produção: Kristine Belson e Jane Hartwell. Roteiro: John Cleese e Kirk De Micco. Música: Alan Silvestri. (98 mim), son., color. Estados Unidos: DreamWorks Animation; 20th Century Fox, 2013. PEREIRA, M; RANGÉ, B. Terapia Cognitiva. Em RANGÉ, B. Psicoterapias Cognitivocomportamentais: um diálogo com a psiquiatria. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

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