Castro et al., Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal (v.12, n.2) p abr - jun (2018)

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Artigo Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal Brazilian Journal of Hygiene and Animal Sanity ISSN: 1981-2965 Padronização de coloração do ensaio de gás sulfídrico aplicado em produtos cárneos Standardization of the coloration of the sulfhydric gas test applied to meat products Bruna Godoi Castro 1*, Marise Santiago Velame 1, Lorena Natalino Haber Garcia 1, Eduardo Delbon Baldini 1, Fábio Sossai Possebon 1, José Paes Almeida Nogueira Pinto 1, Fernanda Raghiante 2, Otávio Augusto Martins 1 Resumo: O presente trabalho tem por objetivo padronizar a coloração do ensaio qualitativo da pesquisa de gás sulfídrico que avalia o estado de conservação de carnes e seus derivados. Foram utilizados os tratamentos A, B, C e D que apresentaram as seguintes concentrações 0,000 mg, 0,007 mg, 0,014 mg e 0,028 mg de solução padrão de sulfeto de sódio, respectivamente. O resultado qualitativo negativo corresponde aos valores de 0,000 mg de H 2 S e 0,007 mg de H 2 S. O resultado positivo corresponde aos valores de 0,014 mg de H 2 S e 0,028 mg de H 2 S. Concluímos que (a) a padronização do positivo para o ensaio qualitativo seja igual ou superior a 0,014 mg de H 2 S; e (b) valores iguais ou acima de 0,014 mg de H 2 S indicam que os produtos cárneos estão em decomposição. Termos para indexação: Carnes; Coloração; Gás sulfídrico; Produtos cárneos. Abstract: The present work aims to standardize the coloration of the qualitative test of the sulfhydric gas research that evaluates the state of conservation of meats and their derivatives. Treatments A, B, C and D were used, which presented the following concentrations: 0.000 mg, 0.007 mg, 0.014 mg and 0.028 mg of standard sodium sulfide solution, respectively. The negative qualitative result corresponds to the values of 0.000 mg H 2 S and 0.007 mg H 2 S. The positive result corresponds to values of 0.014 mg H 2 S and 0.028 mg H 2 S. We conclude that (a) the standardization of the positive for the qualitative is equal to or greater than 0.014 mg of H 2 S; and (b) values equal to or greater than 0.014 mg H 2 S indicate that the meat products are decomposing. Index terms: Coloration; Meat; Meat products; Sulfhydric gas. 216

Autor para correspondência: E. Mail: *e-mail: bruna_g_castro@hotmail.com Recebido em 20.02.2018. Aceito em 30.06.2018 http://dx.doi.org/10.5935/1981-2965.20180021 1 Serviço de Orientação à Alimentação Pública, Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Botucatu, São Paulo, Brasil. 2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro (IFTM), Campus Uberlândia, Minas Gerais, Brasil. Introdução O gás sulfídrico (GS) pode indicar o estado de conservação de carnes e derivados. Existem alguns aminoácidos presentes nas proteínas que têm enxofre e na decomposição de carnes podem se transformar em GS (AMOORE, 1985; MORSE et al., 1987; RAMASAMY et al., 2006). Os aminoácidos que apresentam enxofre na sua composição são definidos como aminoácidos sulfurados. Os principais aminoácidos sulfurados são cistina (CST), cisteína (Cys) e metionina (Met). A CST é um aminoácido natural, formado pela dimerização da Cys em condições oxidantes, que contém uma ligação entre dois átomos de enxofre (dissulfeto) e não é considerada um dos 20 aminoácidos. A Cys possui um grupo tiol na sua cadeia lateral. As Cys têm um papel fundamental na manutenção da estrutura terciária de proteínas. Ao formarem ligações dissulfureto entre os seus grupos tiol, aumentam a estabilidade molecular e a resistência à proteólise. A Met é um aminoácido essencial, o que quer dizer que ela não é produzida pelo corpo e deve ser ingerida através da dieta. A Met contém enxofre, substância necessária para a produção do antioxidante natural mais presente no corpo humano, a glutationa. Este aminoácido também serve de fonte de enxofre para a Cys em animais e seres humanos (WALSH, 2014; LUNDBLAD; MACDONALD, 2018; NELSON; COX, 2018; WEISSBERG, 2018). O ácido sulfídrico é um produto resultante da solução aquosa de sulfeto de hidrogênio, representado pela fórmula química H 2 S, encontrado tanto na forma líquida quanto na forma gasosa (nesse caso é chamado de GS), altamente tóxico e inflamável, irritante, queima facilmente produzindo dióxido de enxofre (SO 2 ), dá origem a substâncias explosivas quando misturado com o ar, de odor característico semelhante ao de ovos podres, solúvel em água e álcoois, mais

denso que o ar (AMOORE, 1985; MORSE et al., 1987; RAMASAMY et al., 2006). O GS pode ser produzido naturalmente pela decomposição de matéria orgânica através da ação bacteriana, ou a partir da redução de sulfatos por micro-organismos sulfatoredutores, por meio da degradação de alguns tipos de aminoácidos (CST, Cys e Met) (AMOORE, 1985; MORSE et al., 1987; RAMASAMY et al., 2006). O H 2 S dissolvido em água comporta-se como um ácido inorgânico fraco, formado pela ionização em água. Com bases fortes, forma sais, os sulfetos. Numa solução ácida, o ácido sulfídrico é um agente redutor moderado. Este ácido tem um papel importante em análises qualitativas tradicionais, onde se precipita metais com sulfetos insolúveis (AMOORE, 1985; MORSE et al., 1987; RAMASAMY et al., 2006). Quando as carnes in natura (bovina, suína, frango, peixe e outros) e seus produtos cárneos, que são utilizados na alimentação humana, iniciam o processo de putrefação, ocorre a liberação de enxofre pela decomposição dos aminoácidos sulfurados (CST, Cys e Met) resultando o GS (LANARA, 1981). O estudo de conservação de certos produtos protéicos poderá ser avaliado por meio da reação que constata a presença de GS proveniente da decomposição de aminoácidos sulfurados que são liberados nos estágios de decomposição avançados. O GS combinado com acetato de chumbo ou plumbito de sódio produz sulfeto de chumbo, revelando uma mancha preta ou grafite espalhada em papel de filtro (IAL, 2005). O ensaio qualitativo de GS é utilizado para verificar o estado de conservação de carnes (bovina, suína, frango, peixe e outros) e seus derivados. Em muito laboratórios de físico-química de alimentos de origem animal ou de controle de qualidade de alimentos têm dificuldades em interpretar a coloração no papel de filtro indicativa do início de decomposição de carnes e derivados. Com base nessas informações, o presente artigo tem por objetivo padronizar a coloração do ensaio qualitativo da pesquisa de GS que avalia o estado de conservação de carnes e seus derivados. Materiais e métodos Tratamentos Foram realizados quatro tratamentos (A, B, C e D) em duplicata. Os tratamentos A, B, C e D apresentaram as seguintes concentrações 0,000 mg, 0,007 mg, 0,014 mg e 0,028 mg de solução padrão de sulfeto de sódio, respectivamente. 218

Foi preparada a solução padrão contendo 0,1 g de sulfeto de sódio (Na s S.9H 2 O) em um balão volumétrico de 1000 ml. 10 ml de solução padrão contendo 0,1 mg/ml de sulfeto de sódio correspondeu a 0,014 mg de GS (LANARA, 1981; IAL, 1985). Avaliação de GS 0 ml, 5 ml, 10 ml e 20 ml de solução padrão contendo 0,1 mg/ml de sulfeto de sódio foi adicionado em cada frasco de Erlenmeyer de 125 ml. Foi realizado em duplicata. Completou o volume de 20 ml com água pura e adicionou 1 ml de ácido acético glacial. Fechou a boca do frasco de Erlenmeyer com papel de filtro qualitativo embebido no centro com duas gotas de solução de acetato de chumbo a 5 % com fita crepe. Aqueceu em banho-maria por 10 min. A leitura foi realizada observando a coloração da parte interna do papel de filtro. Análise de dados A análise de dados da padronização da coloração do teste de GS consistiu em avaliar a intensidade de cor dos tratamentos realizados em duplicada. Vale salientar que a análise estatística que utiliza a metodologia da Anova complementada com o teste de Tukey não foi aplicada nesse tipo de estudo. A análise de dados utilizou Microsoft Excel 2010. Resultados Na Tabela 01 mostra que as colorações dos tratamentos A (A1 e A2) e B (B1 e B2) apresentam um resultado qualitativo negativo correspondendo aos valores quantitativos de 0,000 mg de H 2 S e 0,007 mg de H 2 S, respectivamente (Figura 01). Entretanto, as colorações dos tratamentos C (C1 e C2) e D (D1 e D2) apresentam um resultado qualitativo positivo correspondendo aos valores quantitativos de 0,014 mg de H 2 S e 0,028 mg de H 2 S, respectivamente (Figura 01). 219

Tabela 01 Resultado da coloração do ensaio de GS dos tratamentos A, B, C e D aplicados para avaliar a conservação de produtos cárneos. N * mg de H 2 S Resultado qualitativo Coloração A1 0,000 Negativo A2 0,000 Negativo B1 0,007 Negativo B2 0,007 Negativo C1 0,014 Positivo C2 0,014 Positivo D1 0,028 Positivo D2 0,028 Positivo * n = repetição em duplicada. 0,03 0,025 0,02 0,015 0,01 mg gás sulfídrico 0,005 0 A B C D Figura 01 Concentração (mg) de GS dos tratamentos A, B, C e D. A partir do tratamento C, os ensaios de GS são positivos para produtos cárneos. Discussão O presente estudo demonstrou que a padronização da coloração do papel de filtro utilizando solução padrão de sulfeto de sódio indica a decomposição de carne in natura e seus derivados. A concentração da solução padrão de sulfeto de sódio a partir de 0,014 mg de GS relaciona com a liberação dos enxofres dos aminoácidos sulfurados 220

nos produtos cárneos. A coloração do papel de filtro a partir da concentração de 0,014 mg de GS tem uma intensidade de grafite intensa. Essa intensidade da cor de grafite é aumentada e é comprobatória no papel de filtro com concentração de 0,028 mg de GS. Entretanto, nos papéis de filtro com as concentrações de 0,000 mg e 0,007 mg de GS não apresentam a cor de grafite demonstrando que não ocorre uma decomposição dos aminoácidos sulfurados (CST, Cys e Met) nos alimentos analisados. O H 2 S proveniente dos aminoácidos combinado com o acetato de chumbo produz o sulfeto de chumbo (PbS), revelando a mancha preta ou a cor grafite espalhada no papel de filtro (IAL, 2005). Portanto, as colorações dos papéis de filtro com as concentrações de 0,000 mg e 0,007 mg de GS relacionam com as amostras de carne in natura e seus derivados aptos para o consumo humano e que não estão em decomposição. RODRIGUES et al. (2012) constaram duas amostras positivas para a pesquisa de GS analisando os pescados na elaboração de sushis e sashimis de atum e salmão. No experimento de RODRIGUES et al. (2012) não especificaram a concentração de GS indicativo da positividade. A mesma forma de indicar os resultados positivos de GS foi observado no trabalho de RAGHIANTE et al. (2018) que avaliaram a qualidade das carnes consumidas em uma unidade de alimentação e nutrição institucional em Minas Gerais, Brasil. Sugerimos que os resultados dos ensaios de GS sejam confirmados nos laboratórios de rotina e de pesquisa através de uma tabela de papéis de filtro com um gradiente de tons de grafite para poder expressar de forma categórica que o teste positivo seja igual ou superior a 0,014 mg de H 2 S. Dessa forma, não ocasionará dúvidas ou questionamentos de interpretações sobre a cor positiva do ensaio de GS. Conclusão Com base neste trabalho, concluímos que: A padronização da cor do positivo (cor grafite) para o ensaio qualitativo de GS seja igual ou superior a 0,014 mg de H 2 S. Valor igual ou superior a 0,014 mg de H 2 S indica que os produtos cárneos estão em decomposição. 221

Agradecimentos Ao Laboratório de Físico-Química do Serviço de Orientação à Alimentação Pública (SOAP) no Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) no Campus de Botucatu, São Paulo, Brasil. Referências 1.AMOORE, J.E. The perception of hydrogen sulfide odor in relation to setting an ambient standard. Olfacto-Labs, Berkeley, CA: prepared for the California Air Resources board, 1985. 2. IAL. Instituto Adolfo Lutz. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz. Volume 1: Métodos químicos e físicos para análise de alimentos. 3 a ed. São Paulo: IMESP, 1985. 3. IAL. Instituto Adolfo Lutz. Métodos físico-químicos para análise de alimentos. 4 a ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 8. RAGHIANTE, F.; SANTOS, E.A.; MARTINS, O.A. Avaliação da qualidade de carnes armazenadas em uma Unidade de Alimentação e Nutrição Institucional. Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal. 12 (1): 1-10, 2018. 9. RAMASAMY, S.; SINGH, S.; TANIERE, P.; LANGMAN, M.C.; EGGO, M. C. Sulfide-detoxifying enzymes in the human colon are decreased in cancer and upregulated in differentiation. Am J Physiol Gastrointest Liver Physiol. 291 (2): G288 G296. 2006. 10. RODRIGUES, B.L.;SANTOS, L. R.;MÁRSICO, E.T.; CAMARINHA, C. C.; MANO, S.B.; CONTE JÚNIOR, C.A. Physical-chemical quality of fish used for making sushi and sashimi tuna and salmon marketed in Rio de Janeiro, Brazil. Semina: Ciências Agrárias, 33 (5): 1847-1854, 2012. 11. WALSH, G. Proteins: biochemistry and biotechnology. 2 a ed. Wiley- Blackwell, 422 p. 2014. 12. WEISSBERG, A. Biochemistry: principles and applications. Callisto Reference, 240 p. 2018. 4. LANARA. Laboratório Nacional de Referência Animal. Métodos analíticos oficiais para controle de produtos de origem animal e seus ingredientes. II Métodos físicos e químicos. Brasília: Ministério da Agricultura, 1981. 5. LUNDBLAD, R.L.; MACDONALD, F. Handbook of biochemistry and molecular biology. 5 a ed. CRC Press, 1017 p. 2018. 6. MORSE, J.W.; MILLERO, F.J.; CORNWELL, J.C.; RICKARD, D. The chemistry of the hydrogen sulfide and iron sulfide systems in natural waters. Earth- Science Reviews, 24 (1): 1-42. 1987. 7. NELSON, D.L.; COX, M. M. Lehninger Principles of Biochemistry. 6 a ed. Free download, 2018. 222