Direito Internacional Privado Joyce Lira www.masterjuris.com.br
PARTE I CRONOGRAMA DE CURSO 1) Direito Internacional Privado: reflexões internacionais. Aula 1 Aspectos iniciais. Aula 2 Sujeitos e conteúdo. Aula 3 Método. Aula 4 Codificações internacionais. 2) Direito Internacional Privado: reflexões sobre o Brasil. Aula 5 Codificações e Brasil. Aula 6 Fontes do Direito Internacional. Aula 7 Incorporação dos Tratados Internacionais no direito interno.
PARTE II 3) Processo Civil Internacional: reflexões sobre o Brasil. Aula 8 Competência Internacional no Brasil. Aula 9 Imunidade de Jurisdição. Aula 10 Aplicação e prova do direito estrangeiro. Caução. Aula 11 Cooperação Jurídica Internacional. PARTE III 4) O direito de família no Direito Internacional Privado. Aula 12 Casamento. Aula 13 Sucessão. Aula 14 Alimentos. Aula 15 Sequestro Internacional de Menores.
PARTE IV 5) Os negócios no Direito Internacional Privado. Aula 16 Contratos Internacionais. Aula 17 Arbitragem Internacional.
PARTE I 1) Direito Internacional Privado: reflexões internacionais. Aula 1 Aspectos iniciais. a) Direitos Humanos e Direito Internacional Privado - Redemocratização da América Latina. - Internalização do direito internacional. - Principiologia aplicada às relações privadas. - Ordem pública: o conjunto de princípios gerais de base de um sistema jurídico, os quais se apresentam como um obstáculo à aplicação da lei estrangeira, figurando, dentre eles, os direitos fundamentais do indivíduo, protegidos constitucionalmente. (Erik Jayme)
- Direitos Humanos: universalidade e indivisibilidade. - Dignidade humana e Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. - Aproximação entre Direito Internacional Público e Privado. - Fundamento da relação entre Estados e entre pessoas privadas: dignidade humana. - Dignidade da pessoa humana: valor fundamental, marco axiológico e princípio fundamental (Art. 1º, III, CRFB/88), constituindo o núcleo informador de todo o ordenamento jurídico. - Erik Jayme: double coding (o entendimento da norma sob uma dupla perspectiva, de frente, quanto à sua finalidade, e de reverso, quanto a outros pontos atingidos por ela).
- Construção de novo olhar interpretativo: aplicação de normas narrativas aos conflitos privados, com base na Constituição (menos formalismo, mais funcionalismo). - Direitos humanos: proteção especial no plano interno (bloco constitucional, inclusive os princípios) e no plano internacional (dimensão global e regional). - Metodologia de Direito Internacional Privado que valorize o ponto de vista do conflito (tópico, casuístico), menos formalista ou positivista, mais flexível. - Aplicação de normas de conflitos, considerando o princípio de proximidade (flexibilização), a partir de regras materiais que consideram a solução mais global para o conflito.
- ampliação das relações internacionais privadas no mundo - Globalização: novos mercados, expansão das fronteiras do trabalho, expansão migratória, etc. - Interferência dos direitos humanos nas relações privadas internacionais: aplicação positiva e aplicação negativa do método de solução de conflitos. - Aplicação positiva: garantia dos direitos individuais de respeito ao patrimônio jurídico que os indivíduos carregam consigo (estatuto pessoal, proteção à identidade cultural, sociedade mundial pluralista, respeito à diferença). - Aplicação negativa: quando a aplicação da lei estrangeira levar a uma violação dos direitos humanos (dificuldade de estabelecer critérios para definir a norma aplicável em caso de conflito internacional do âmbito privado). A aplicação deve ser orientada pelo respeito aos direitos humanos.
- Sistema de resolução de conflitos fundado no conceito aberto de ordem pública, que objetiva a proteção dos direitos fundamentais (âmbito constitucional) e direitos humanos (tratados internacionais), evitando abusos e autoritarismos baseados na letra fria da lei. - Ao contrário, as leis de aplicação imediata (lois de police) impedem a aplicação do método de DIPr: proteção especial pela legislação local, afastando a aplicação da norma internacional menos protetiva, ou mais abrangente. Ex.: regras locais de proteção ao consumidor. - Influência no DIPr interno dos tratados de direitos humanos (embora não contenham expressamente regra para o conflito de leis ou de jurisdição, em geral). Funcionam como orientador metodológico para a resolução do conflito, sempre fundado no valor da proteção da dignidade humana. - Nova vertente interpretativa das regras de DIPr (renovação dos métodos tradicionais).
- Conferência da Haia de Direito Internacional Privado - Resolução de conflitos privados internacionais: redução das razões de Estado (perspectiva lógico-dedutiva) e ampliação da lógica do razoável para aplicação da solução justa (perspectiva retórico-argumentativa). - Brasil: LINDB (lei antiga, 1942), mas não única. Ordenamento jurídico brasileiro em DIPr renovado com o Novo CPC (Lei nº 13.105 de 2005) e perspectiva do Novo CDC, alterando a LINDB.
b) Direito Internacional dos Direitos Humanos - Pensamento jurídico mais antropocêntrico, menos focado no Estado. - Bobbio: o indivíduo está antes do Estado, e não o contrário. - Mundo pós-guerras. DUDH 1948. (Declaração Universal da ONU). - Ingo Sarlet: o elemento nuclear da noção de dignidade da pessoa humana continua a ser conduzido pela matriz kantiana, centrando-se na autonomia e no direito de autodeterminação de cada pessoa. - Complexo de deveres e direitos. Garantia do mínimo existencial. - Violação do núcleo de direitos: ultrapassagem das barreiras jurídicas domésticas. Jurisdição internacional. Mitigação da soberania.
- Hannah Arendt: ruptura com Estados totalitários gerou os indivíduos semdireitos, desprovidos de nacionalidade e proteção nacional no país de destino (apátridas), passando a ser um novo grupo integrante do direito internacional para garantia da sua proteção enquanto ser humano. - A DUDH enquanto tentativa de criação de um ambiente de hospitalidade universal, com o objetivo da paz perpétua (Kant). - Sistema normativo internacional de proteção aos direitos humanos: plano regional (Organização dos Estados Americanos - OEA) e plano global (Organização das Nações Unidas - ONU). Participação ativa do Brasil. Incorporação de normas após 1988.
- Natureza subsidiária dos instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos: garantias adicionais de proteção diante da ineficácia dos sistemas nacionais. - Responsabilidade primária dos Direitos Humanos: Estados. - Transferência da responsabilidade à comunidade internacional: omissões ou deficiências estatais. - Recepção (jurídica) dos instrumentos do Direito Internacional dos Direitos Humanos no plano interno.
- Status dos tratados internacionais no ordenamento jurídico brasileiro: - No Brasil, os tratados internacionais entram em vigor após a aprovação congressual e promulgação pelo Presidente da República, situando-se no mesmo plano hierárquico que as leis ordinárias. (Nádia de Araújo) - EC nº 45/2004: acrescentou-se o 3º ao Art. 5º da Constituição, que criou um novo degrau na hierarquia dos tratados internacionais: os de direitos humanos, equivalentes às emendas constitucionais, desde que aprovados com quorum especial de 3/5 e votação em dois turnos. - Primeira norma equivalente à emenda constitucional no Brasil: Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo (2009), incorporada por meio do Decreto nº 6.949/2009.
- método conflitual para determinar a lei aplicável a uma situação plurilocalizada: aplicação dos princípios de DIPr diante da lógica de respeito à diferença dos sistemas jurídicos. - hard-cases: conflitos internacionais em casos concretos que exigem a atuação da comunidade internacional. Utilização da lógica dos direitos humano para sua administração. - Corte Europeia de Direitos Humanos assumiu a liderança dessa nova perspectiva de excepcionar a aplicação do método conflitual (mais voltado para a lógica da lei), aplicando noções de direito internacional dos direitos humanos, focadas nos direitos fundamentais. - Ex.: (Corte Europeia) Caso Mackx - declarou-se a existência de disposições discriminatórias entre filhos na legislação belga (direito privado) como contrária aos direitos protegidos pelos artigos 8 e 14 da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.
Resumo: - Aplicação dos valores de direitos humanos nas relações privadas internacionais. - Mitigação da interpretação positivista no método conflitual e da soberania de leis nacionais (o homem no centro do debate, e não o Estado). - Abertura de espaço para interpretação fundamentada em princípios do direito internacional dos direitos humanos. - Motivação da mudança de paradigma na realidade da sociedade pós-guerras (globalização) - Horizontalização e internalização dos direitos humanos (direitos fundamentais).
Fonte: ARAUJO, Nadia de. Direito Internacional Privado: Teoria e Prática Brasileira. 1. ed. Porto Alegre: Revolução ebook, 2016.