DIRIGENTE LOJISTA ANO 36 N 442 AGOSTO 2011 R$ 9,90 CULTURA LOGÍSTICA SINTONIA ENTRE VAREJO E FORNECEDORES, COLABORADORES PREPARADOS E TECNOLOGIAS MODERNAS SÃO DETERMINANTES PARA REDUZIR CUSTOS E PERDAS, GARANTINDO COMPETITIVIDADE AO LOJISTA ESTRATÉGIA Seguros massificados ajudam a fidelizar os clientes e aumentar as vendas TENDÊNCIA Os hábitos, comportamentos e desejos do novo consumidor brasileiro RESPONSABILIDADE Pequenas e médias empresas se unem para desenvolver programas sociais DIRIGENTE LOJISTA AGOSTO 2011 1
equação perfeita Estratégias e tecnologias ajudam os varejistas a chegar à melhor solução logística, de forma a obter o menor custo e a maior qualidade de serviço possível por CLÉIA SCHMITZ Receber o produto certo, na hora certa, na quantidade certa e no local certo. Tudo isso, claro, ao menor custo possível. Quem conhece os bastidores do varejo sabe o quanto é difícil o caminho para chegar a esta equação perfeita. Mas os esforços são necessários. A eficiência logística é um fator determinante para reduzir custos e perdas e, assim, garantir a competitividade de qualquer operação do comércio. Para vencer esse desafio, os varejistas contam com uma série de soluções tecnológicas que estão cada vez mais acessíveis, até mesmo aos pequenos empreendimentos. Saber usá-las a favor do negócio pode fazer toda a diferença. Hoje, com o advento das tecnologias de identificação, controle, manuseio e interpretação de dados, o varejo tem a possibilidade de entender todas as variabilidades dos processos e tomar decisões muito embasadas. Isso para a logística é importantíssimo porque permite melhor previsão de demanda, o que é fundamental para uma boa gestão da cadeia de suprimentos, explica o professor Nuno Fouto, diretor de pesquisas e estudos do Programa de Administração de Varejo da Universidade de São Paulo (Provar/USP). No entanto, segundo o especialista, o que se vê ainda hoje no comércio é muita decisão sendo tomada com base em intuições. Um reflexo dessa realidade é a disparidade nos níveis de produtividade dos dez maiores varejistas brasileiros em comparação com os demais. Na média, ela é 60% maior. Fouto explica que as grandes redes usam tecnologias mais eficientes e estão constantemente investindo em logística. Se pegarmos os dados do Wal-Mart, vemos que o grupo tira suas vantagens competitivas justamente no fato de ter uma logística muito superior que resulta em perdas muito menores, afirma o professor. Segundo ele, num centro de distribuição (CD) do Wal- Mart as perdas não chegam a 0,5%. Em contrapartida, é comum encontrar varejistas brasileiros cujos mesmos índices ficam em torno de 3%. Esses índices fazem toda a diferença porque as margens são baixas na grande maioria do varejo, destaca Fouto. Mas a equação para a logística eficiente é tão complicada que até mesmo grandes redes têm seus gargalos. Menos de seis meses depois de iniciar um projeto piloto para sincronização de dados com três de seus fornecedores (L Oréal, SC Johnson e Procter & Gamble), a operação do Carrefour 24 dirigente Lojista AGOSTo 2011 dirigente Lojista AGOSTo 2011 25
Marcelo Flório Log Fashion entrega peças no cabide da loja, prontas para serem vendidas no Brasil reduziu de 9% para 2% o índice de pedidos errados com esses parceiros. O resultado foi possível a partir da aplicação de uma solução de GDS (Global Data Synchronization) da NeoGrid. A marca é líder no Brasil em soluções inovadoras para a cadeia de suprimentos e demanda. O Carrefour já usa a tecnologia GDS em outros países, como Taiwan, Malásia e França. Ainda neste ano o grupo pretende sincronizar outros 1.250 fornecedores. A sincronização total deve acontecer até o final de 2012. O caso do Carrefour mostra como uma logística eficiente depende da sintonia entre todas as peças que compõem uma cadeia de suprimentos. Mais do que comprar é preciso escolher o fornecedor adequado ao Grandes investem em logística e tecnologias eficientes, o que lhes dá produtividade 60% maior seu produto ou serviço, afirma o consultor Amarildo Nogueira, especialista em logística, supply chain e operações. Para ele, o sucesso do fluxo contínuo no gerenciamento da cadeia de suprimentos depende em grande parte da pontualidade na entrega e também na qualidade dos produtos. É imprescindível que o fornecedor seja participativo no foco da melhoria logística, diz Nogueira, que também é diretor de desenvolvimento e inovação da Mega Inovação Consultoria e Treinamento. Para André Ghignatti, diretor de operações da NeoGrid, não interessa o porte da empresa, a primeira coisa a se fazer para chegar a uma logística mais eficiente é integrar o ERP (sistema de gestão) do varejo com o do fornecedor. E para que isso seja possível, o executivo destaca: É muito importante que os fornecedores entendam que ao vender para o lojista estão vendendo para o consumidor final. A cadeia tem que ser sincronizada e isso passa por uma mudança de cultura. Seguindo esse princípio, os fornecedores não podem mais empurrar mercadorias erradas nem atolar o estoque das lojas, sob pena de estarem dando um tiro no próprio pé. Ghignatti explica que, em síntese, uma solução tecnológica com foco em logística precisa aumentar a frequência de reposição e o número de pedidos, sem impactar nos custos. Para ele, o surgimento da internet viabilizou essa questão a partir do momento que tudo pode ser controlado eletronicamente, reduzindo os erros dos processos antes feitos manualmente. Hoje, a chance de pedir laranja e receber banana é bem menor se a tecnologia for bem aplicada. Mas para garantir a eficiência logística, o varejista tem que saber muito bem o que ele precisa receber. E isso depende de uma análise eficiente dos dados disponíveis. Parece simples, mas quando se trabalha com um mix grande de produtos tem que se apoiar em computação, destaca Ghignatti. As soluções da NeoGrid estão disponíveis no modelo SaaS (software como serviço). Assim, os usuários pagam pelo que usam, facilitando o acesso de pequenos varejistas. Ghignatti explica que o maior benefício dessas soluções é tornar visíveis detalhes importantes como, por exemplo, a falta de um produto na gôndola. Quantas vendas não deixam de ser feitas por conta disso? A maior varejista on-line da Holanda, a wehkamp. nl, aumentou em 10% as vendas de Nuno Fouto O que se vê é muita decisão sendo tomada com base em intuições 26 dirigente Lojista AGOSTo 2011 dirigente Lojista AGOSTo 2011 27
Ineditismo 100% RFID, Billabong do Iguatemi Alphaville é a primeira loja inteligente do mundo Benefícios da logística eficiente Redução do lead time de produção e entrega; Visão da quantidade de produtos a serem comprados; Redução de produtos obsoletos (fora de uso); Maior veracidade dos estoques; Redução no espaço físico da loja; Redução dos custos operacionais; Maior conhecimento das operações através de controles eficazes; Aumento dos níveis de qualidade; Indicadores de desempenho para tomada de decisão. Fonte: www.amarildonogueira.com.br produtos da marca ETC como tevês, notebooks e telefones ao melhorar a disponibilidade desses itens com a utilização de um software de reposição controlada da Agentrics, marca usada pela NeoGrid na Europa, Estados Unidos e Ásia-Pacífico. O estoque foi reduzido em 40%. Loja inteligente Uma tecnologia que promete revolucionar os processos logísticos são as etiquetas de Radio Frequency Identification (RFID). Ao utilizar ondas eletromagnéticas para transmitir dados armazenados em um microchip, elas podem controlar a entrada e saída de produtos. No início de agosto, a Billabong do Shopping Iguatemi Alphaville, em São Paulo, inaugurou o que chama de primeira loja da América Latina com tecnologia 100% RFID. O projeto é uma parceria da Billabong com a VIP Systems Informática, que há 12 anos tenta difundir o conceito e o uso dessa tecnologia no Brasil. No início, ninguém acreditava, mas hoje temos a primeira loja inteligente do mundo, afirma Regiane Relva Romano, proprietária da VIP Systems. Com a aplicação da tecnologia de ondas de rádio, a loja da Billabong Alphaville consegue gerenciar em tempo real o recebimento e a expedição de produtos. O processo é feito via importação do arquivo XML da nota fiscal eletrônica, o que reduz erros porque dispensa a digitação manual das informações. Quando uma mercadoria atinge um estoque mínimo, automaticamente é disparado um aviso para a retaguarda da loja, que deverá providenciar o ressuprimento, explica Romano. A vantagem, segundo a especialista, é que ao manter os níveis de estoques otimizados, a tecnologia elimina compras desnecessárias, aumentando as margens de lucro do lojista. Não há dúvida de que a tecnologia pode aperfeiçoar muito os processos logísticos, mas especialistas ressaltam: de nada adianta investimentos em TI se os colaboradores da empresa não souberem qual a sua real importância no processo e qual a melhor forma de realizá-lo. Pessoas bem treinadas melhoram de forma significativa sua performance na execução de tarefas. E na logística, especialmente, a informação representa um recurso fundamental no processo decisório, De nada adianta investimentos em TI se os colaboradores não sabem sua real importância no processo Amarildo Nogueira É imprescindível que o fornecedor seja participativo no foco da melhoria destaca Nogueira, da Mega Inovação. O professor Nuno Fouto concorda. Pessoas são o grande desafio do Brasil, principalmente na logística. Temos uma carência muito grande de profissionais preparados para esse tipo de revolução de produtividade. Uma pesquisa encomendada ao Ibope pela Imam, promotora da Movimat, maior feira de intralogística do País, retrata a realidade do segmento. O perfil dos entrevistados mostra que mais de 44% possuem até um ano no cargo. A média da participação da atividade logística nos custos operacionais, segundo as respostas dos entrevistados, é de 16%. Porém, quando questionados sobre a estrutura de custos para chegar a esse índice, nota-se que mais de 50% não consideram processos importantes da intralogística, que envolve embalagem, movimentação, armazenagem e tecnologia. Muitos custos estão mascarados em outras atividades, explica Eduardo Banzato, diretor da Imam. O problema, segundo o especialista, é que sem esse controle fica difícil visualizar com mais clareza o retorno das soluções relacionadas à intralogística e, logo, justificar maiores inves- 28 dirigente Lojista AGOSTo 2011 dirigente Lojista AGOSTo 2011 29
André Ghignatti Primeira coisa a se fazer é integrar o ERP do varejo com o do fornecedor Eduardo Banzato Sem controle dos custos de intralogística, é difícil visualizar retorno timentos na área. Banzato também explica que as soluções adotadas por uma operação não podem simplesmente ser copiadas dos concorrentes. Muita gente copia porque é mais cômodo, mas hoje o mercado já oferece soluções únicas para a sua empresa. É a única forma de se tornar mais competitivo, afirma Banzato. Ele acredita que a tendência é um aumento crescente do uso de tecnologias nos processos logísticos. Aqueles que já experimentaram, perceberam que a automação trouxe retorno, mesmo sem saber mensurar os ganhos. Investimento contínuo Para a Multicoisas, rede de franquias com mais de 120 lojas no Brasil, a logística é considerada um dos pilares da empresa. Não é por menos. O mix de produtos da rede tem mais de 3,5 mil itens divididos em 37 seções, entre elas cozinha, lavanderia, papelaria, ferramentas e informática. Muitas lojas ficam em shopping centers, espaços com custos mais elevados e que precisam ser ocupados de forma muito eficiente para que nenhuma área fique ociosa, explica Claudionor Nazareth, diretor de produtos da Multicoisas. Em alguns casos não há área nem para estocagem. Isso faz com que os lojistas trabalhem com alto giro de produtos, exigindo entregas rápidas. Mais um motivo para ter um serviço eficaz, observa o executivo. Segundo Nazareth, nos últimos anos a empresa fez vários investimentos em tecnologia para garantir a melhoria dos processos. Nossas políticas e procedimentos estão todos definidos, escritos e implantados nos centros de distribuição. Isso traz padronização, ganho de escala e qualidade nos atendimentos, além de deixar os clientes bem informados de como funcionamos e como eles podem aproveitar os recursos que estão disponíveis para a rede, afirma o executivo. Ele destaca ainda o fato da empresa contar com uma equipe na área de logística com 10 a 20 anos de experiência. Treinamento e reunião de sintonia com a equipe são assuntos do nosso cotidiano. Assim, quando temos que implantar uma alteração, fica muito fácil. Muitos empreendedores estão partindo para a contratação de operadores logísticos. A pesquisa da Imam mostrou que 44% dos entrevistados já adotam a terceirização como estratégia de negócio. Para Marcelo Flório, presidente da Log Fashion, operadora especializada no segmento têxtil, a terceirização começou a ser considerada uma alternativa mais viável para os empresários da moda a partir Pilar da empresa Logística eficiente permite lojas da Multicoisas trabalharem sem áreas de estoque e com alto giro de produtos da crise financeira mundial de 2008. Foi quando muita gente começou a fazer conta, observa o executivo. Há 12 anos atuando no segmento de logística de grandes grifes como Triton, Craw ford, Siberian e Forum, Flório agora busca resolver os problemas com os quais costumava conviver, como caminhões abastecendo as lojas em horários pouco convenientes, chegando a atrapalhar as vendas. Além de entregar a mercadoria no dia e na hora certa, a Log Fashion faz o serviço completo e deixa na loja peças passadas, no cabide, ou seja, prontas para serem colocadas na arara e vendidas. Questões importantes, considerando que a maioria dos clientes da operadora é grife instalada em shopping centers espaços cada vez mais caros e com um entorno de trânsito complicado. Saímos da mesmice que faz um operador normal receber, estocar, expedir e entregar Utilizar área de estocagem para venda traz um ganho significativo sem grande investimento para oferecer um serviço com mais valor agregado, explica Flório. Por mês, mais de 1 milhão de peças são movimentadas pela Log Fashion, que atende clientes como La Martina, Hanes, Zorba e Carmim. O melhor de tudo é que os ganhos podem ser significativos sem exigir grandes investimentos do lojista. Flório conta que num de seus clientes, uma rede com 70 lojas, os serviços da Log Fashion conseguiram ampliar as vendas em 25%. Como? O principal motivo é que o segundo andar, normalmente usado para estocagem e zeladoria das peças, passou a ser usado como área de vendas. Um desperdício que não cabe mais em nenhuma operação do varejo globalizado. 30 dirigente Lojista AGOSTo 2011 dirigente Lojista AGOSTo 2011 31