INTRODUçAO A TEORIA DE BANDAS EM SÕLIDOS

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Transcrição:

Ciência e Natura, Santa Maria, 14:47-51, 1992. 47 INTRODUçAO A TEORIA DE BANDAS EM SÕLIDOS C. M. da Silva Departamento de Fisica - UFSM. Santa Maria.RS RESUMO As bandas de energia em metais são apresentadas qualitativa. Estas são conseqüência do efeito do periódico dos ions da rede sobre os niveis de energia de livres. de forma potencial eletrons SUMMARY DA SILVA, C. M. 1990. A QUALITATIVE VIEW OF BANDS IN SOLIDS. Ciência e Na t ura, 14: 47-51. 1992. The band theory of metals is presented in a qualitative way. The bands are a consequence of the lattice periodic potential on free electrons energy levels. O objetivo deste texto é mostrar de forma qualitativa que nos sólidos os elétrons ocupam bandas de energia. Há regi~es de energia permitida e regi~es de energia proibida. Uma explicação mais completa sobre o assunto aqui tratado pode ser encontrada nas referáncias citadas no fim do texto. Os sólidos podem ser divididos em duas grandes classes: cristalinos e amorfos. No grupo dos cristalinos, que são a maioria, os átomos encontram-se aranjados de forma regular. Neste grupo estão os metais e muitos minerais. Os sólidos cristalinos podem estar arranjados em sete sistemas formando 14 redes possiveis conhecidas como redes de Bravais. Os sólidos amorfos não tem ordem de longo alcaro e, o que ocorre nos cristalinos, a configuração ~ocal muda de atomo para átomo. Um exemplo de sólido amorfo é o vidro. Para determinação do comportamento energético dos elétrons em um sistema qualquer é necessario resolver a equação de SchrOdinger, a qual, na forma independente do tempo, é dada por: E '1'(r), (1) onde as caracter1sticas do sistema estão expressas no potencial V( r). A equação de ShrOdinger tem solução para um elétron interagindo com o núcleo atômico. Em um sólido temos a interação de um elétron com todos os núcleos e com todos os outros elétrons que comp~em o sólido. Temos assim um um problema de muitos corpos. Devido a isso para a descrição do comportamento dos elétrons em um

nt 48 s6lido são necessárias aproximaç~es. A aproximação mais simples é supor um s6lido infinito com elétrons livres e não interagentes. A equação de ShrOdinger em uma dimensão, para este caso simples é: (2) onde c é a energia do elétron no orbital n. Relembramos que a n solução da equação (2) é para um elétron, assim em um sistema de N elétrons cada um ocupa um estado que é solução para um sistema com apenas um elétron. A condição de s6lido infinito imp~e como condição de contorno ~n(o) = ~n(l), e a solução da equação (2) é dada por uma onda progressiva (3 ) 2rr onde k n = -À--- a condição de contorno implica em Subtituindo-se (3) em (2) obtemos as energias c n ' k n nrr -L-' C n ou C n [-Tr (4 ) A energia c n em função de k é representada na figo 1. O modelo de elétrons livres não á eragent e dá uma "'boa explicação para as propriedades térmicas e elétricas dos s6lidos, mas não é capaz de responder porque há materiais bons condutores e porque há materias maus condutores. Para entender porque há materiais condutores e materiais isolantes, deve-se considerar o efeito da rede sobre os niveis energéticos dos elétrons. Isso pode ser feito resolvendo-se a equação de SchrOdinger para um potencial periódico. Aqui, no entanto, será feito um tratamento qualitativo, onde sup~em-se que o comportamento dos elétrons é perturbado pelo potencial periódico causado pelos ions da rede cristalina. Como já vimos, as funç~es de onda no modelo de elétrons livres não interagentes são ondas progressivas, as quais ao se propagarem em um cristal sofrem difração, conhecida como reflexão de Bragg. A condição de Bragg para difração de uma onda é: 2 d sene n À. (5)

49 Em um cristal linear com parâmetro de rede a (d=a na eq. (5)) há difração para e = 90graus, implicando em comprimentos de onda (~) iguais a 2a/n, ou em termos do número de ondas (k) iguais a nn/a. A primeira reflexão ocorre para k=n/a. Portanto na região de k = ~ n/a a função de onda não será uma onda progressiva do tipo e inx / a e e- inx / a do modelo de elétrons livres. A solução para esse particular valor de k é constituida de ondas que se propagam para a direita e para a esquerda. Devido as sucessivas reflex~es de Bragg, originar-se-ão ondas estacionarias. Assim há regi~es em energia em que a solução da equação de SchrOdinger, como onda progressiva, não existe. \ 8) \ ' :; \ I ~ I,\ I: '\ / A : I -"/0 +"/0 e Fig. 1 - A linha pontilhada é a solução para elétrons livres. I I A linha continua é a solução para elétrons quase livres (potencial perturbado pelo potencial da rede). Podemos formar duas ondas estacionárias a partir de ondas p~ogressivas que se deslocam para a direita e para a esquerda: Y'( + ) 2 cos(nx/a); Y'( - ) inx/a -inx/a e - e 2i sen(nx/a). (6) As ondas estacionárias tem sinal + ou - se função par ou impar. As funç~es de onda Y'(+) e Y'(-) aumentam a densidade eletrônica em regi~es diferentes do cristal, portanto, elétrons com energias diferentes. Para ondas progressivas tipo e inx / a a densidade de probabilidade é constante, pois: p = e inx / a e- inx / a = 1, (7) Para as ondas estacionárias não ocorre o mesmo. Temos:

50 p( +) p( -) (8) A distribuição da densidade de carga é mostrada na figo 2. A função de onda ~(+) concentra cargas negativas nas regi~es de menor potencial, sobre os ions positivos, enquanto que a função de onda ~(-) concentram cargas entre os ions, regi~es de potencial maior. p Fig. 2 - Densidades de probabilidades para as funç~es de onda ~(+) e ~(-) e onda progressiva (DF). A linha continua na parte negativa de p é o potencial produzido pelos ions da rede. Calculando-se a energia média das três distribuiç~es posslveis de cargas, encol!tra-se que a energia potencial de p(+) é menor que a das ondas progressivas, enquanto que a de p(-) é maior. Esse efeito é mostrado na figo pela linha continua. Se as energiac de p(+) e de p(-) diferirem de Eg, tem-se assim um gap (separação) de energia de magnitude Eg. A função de onda abaixo do gap (ponto A) é' ~(+), e a função de onda logo acima do gap (ponto'b) é ~(-). Com essa distribuição de energia podemos entender porque há materias condutores e há materiais isolantes. Quando os elétrons ocupam uma banda de energia parcialmente, há niveis de energia muito próximos, uma pequena energia fornecida pelo compo elétrico é suficiente para que esses elétrons adquiram energia cinética, e assi~ conduzem corrente elétrica. For outro lado se não houverem niveis di~poniveis (banda cheia), a energia fornecida pelo campo não é suficinte para que os elétrons atinjam o nivel de energia superior, situado na banda acima, sendo assim um isolante. Estes efeitos estão representados esquematicamente na figo 3. Na figo 3 está também representada a estrutura de bandas de um semicondutor.

51 DDO WJJJjJjJJr;;;;;;;;jr:::::J --- ai b] ti Fig. 3 - a) Isolante; b) condutor; c) semi-condutor. Referências: 1. P. A. Tipler, Flsica Hoderna, Ed. Quanabara Dois. RJ. 1981. 2. R. Eisberg e R. Resnick, Flsica Quântica, Ed. Campus. RJ. 1978. 3. C. Kittel, Introduction to Solid States Physics, John ~iley I Sons, N. York, 1976. 4. N. W. Ashcroft e N. D. Hermin, Solid State Theory, Saund ers Co Llege, Phi lade Lphi a, 1976. 5. O. Hadelung, Introduction to SOlld State Theory, Sprlnger- -Ve rlag, Berlin, 1978.